Uma festa, romaria, feira, pega de touros mas sobretudo a Eucaristia celebrado pelo bispo Cordeiro, e uma procissão extraordinária, não esquecendo as copiosas merendas à sombra dos
freixos. LOCAL SAGRADO.
segunda-feira, 17 de setembro de 2018
segunda-feira, 10 de setembro de 2018
sábado, 1 de setembro de 2018
O crepúsculo metafórico
O crepúsculo metafórico Por António Braz
O comboio tinha partido; sem ele, porque não tinha bilhete… nem destino e
a parca coragem para pelejar petrificou-o naquele cais vazio e silenciosamente
medonho, desnorteado, deprimido… olhava para a
serra e via um oceano intransponível, um muro como o de Berlim, uma muralha
como a da china. Nos seus ouvidos ecoavam os silvos daquela máquina a carvão
remota, provavelmente penetrando aquele túnel infinito sem retorno. E sentiu na
pele o atroar macabro arrastando-o para o abismo sem reminiscências como uma
paveia de farrapos velhos desdenhados. Mas era tão jovem! Jovial mesmo em
circunstâncias adversas! Vai à luta – gritava-lhe uma
voz meiga e suave que só ele podia ouvir. Após a noite vem sempre o dia…
E o dia chegou radioso, envolvente, coberto com um manto de uma
brancura indescritível trazendo na bagagem aquela esperança antes desvanecida,
o pensamento positivo que nos dá alento, a coragem que o abandonara num momento
carenciado de fragilidade.
Ajudou o Pe. João na celebração da eucaristia semanal, e, no final
entraram juntos na sacristia. Enquanto se desparamentava, encarou o puto olhos
nos olhos e sem rodeios, ofereceu-lhe a sua casa de acolhimento, em troca de
uns recadinhos… mas, não precisas de responder já – concluiu – pergunta aos
teus pais se concordam?
Radiante, correu para casa como um louco ou talvez como um sujeito a
quem acabava de sair a sorte grande…
Os pais não só concordavam como agradeciam aquele gesto tão
generoso, e mais ainda conveniente, concluindo que teriam em casa uma boca a
menos para comer o que tanto escasseava naquele lar.
Nesta casa de abundancia, respeito, carinho e amor, entrou o puto
com pezinhos de lã, e, com a família que lá morava, viveu como um paxá durante
seis anos, que permanecerão vivos com gratidão no seu coração até ao fim da sua
vida. Do nada passou a ter tudo que um adolescente precisa para se reiterar e
acreditar na possibilidade de um futuro feliz com soberania, autónomo, livre
como um passarinho nas suas primeiras saídas do ninho onde talvez se tenha
sentido adulterado enquanto esperava com grande ansiedade o cibaco que os pais
se esforçavam para encontrar. Um novo viver que lhe caía do céu como uma
deliciosa prenda de Deus que vinha compensar o muito que nunca teve, e que na
sua cabeça de menino dava voltas sem fim sem encontrar as verdadeiras razões
imposta pelo destino.
A integração no âmbito daquela maravilhosa família foi deslizando
lentamente até atingir o âmago que conduz à extroversão. A precocidade dos seus
relacionamentos amorosos era o complemento direto de uma alma para um corpo, projetando-o
ao de lá do óbvio, no qual meditava profundamente num secretismo absoluto e
pessoal. O seu primeiro relacionamento ocorreu na simplicidade ocasionada em
volta de uma lareira, tinha apenas 9 anos, com uma companheira mais nova, cujo
pedido original, foi escrito numa das pedras da cozinha com um carvão! Isolados
num recanto da grande casa onde por muita sorte não foram apanhados em flagrante…Dos numerosos flirts
que se seguiram secretamente, enquanto adolescente, guardava o puto a ternura
magica do desejo surgindo do nada, de um encontro, do agrado, da naturalidade
dos factos, mas que tempos depois o obrigaram a abdicar do seu grande e
maravilhoso sonho por honestidade.
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