segunda-feira, 12 de abril de 2021

A Rita e a prima


 

A gota de água

Foi talvez a que fez transbordar o vasa, porque foi enchendo lentamente, discretamente, sem que alguém reparasse no poder sobrenatural que ela poderia vir a ter rebentando construções tentando sempre furar mais longe e mais profundamente sem objetivo mas com a força da natureza

 

Eu sou a árvore

Quando o sol abrasador nos queima a pele molhada de suor e o cansaço nos torna exaustos, quem não gosta repousar à sombra de uma velha amiga frutífera? Fala amiga fala...

 

O tio bento

O tio Bento tem uma olaria onde se fazem lindos bonecos de barro.

à saída da escola os meninos gostam muito de brincar!

 O tio Bento dá um pedaço de barro a cada um e eles fazem: lindos bonecos de barro...

Barro barreira
 

domingo, 11 de abril de 2021

Eu


 Eu sou a que no mundo anda perdida,

Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...
Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!

Poema de Florbela Espanca

quinta-feira, 8 de abril de 2021

A hipocresia

Ter mentido é ter sofrido. O hipócrita é um paciente na dupla aceção da palavra; calcula um triunfo e sofre um suplício. A premeditação indefinida de uma ação ruim, acompanhada por doses de austeridade, a infâmia interior temperada de excelente reputação, enganar continuamente, não ser jamais quem é, fazer ilusão, é uma fadiga. Compor a candura com todos os elementos negros que trabalham no cérebro, querer devorar os que o veneram, acariciar, reter-se, reprimir-se, estar sempre alerta, espiar constantemente, compor o rosto do crime latente, fazer da disformidade uma beleza, fabricar uma perfeição com a perversidade, fazer cócegas com o punhal, por açúcar no veneno, velar na franqueza do gesto e na música da voz, não ter o próprio olhar, nada mais difícil, nada mais doloroso. O odioso da hipocrisia começa obscuramente no hipócrita. Causa náuseas beber perpetuamente a impostura. A meiguice com que a astúcia disfarça a malvadez repugna ao malvado, continuamente obrigado a trazer essa mistura na boca, e há momentos de enjoo em que o hipócrita vomita quase o seu pensamento. Engolir essa saliva é coisa horrível. Ajuntai a isto o profundo orgulho. Existem horas estranhas em que o hipócrita se estima. Há um eu desmedido no impostor. O verme resvala como o dragão e como ele retesa-se e levanta-se. O traidor não é mais que um déspota tolhido que não pode fazer a sua vontade senão resignando-se ao segundo papel. É a mesquinhez capaz da enormidade. O hipócrita é um titã-anão.

Victor Hugo