sábado, 20 de outubro de 2018

Destinos e Destinados


Destinos e destinados  de António Braz 1ªparte
Uma história de ficção científica do meu manuscrito que data dos anos 78. Vou tentar resumir com as menos páginas possíveis, o que não vai ser fácil, sabendo que engloba 6 cadernos de 120 páginas.
Não sendo considerada uma história de amor, tentei elaborar através das personagens, acontecimentos fatídicos, expandidos por terras onde a ingenuidade frágil e vulnerável, se expunha aos poderosos de bom ou mau grado, sem direitos de rebelião, e desinteresse que determinados acontecimentos viessem à tona da água.

A Fernanda, abalou um certo dia, após uma quezila com o pai, para o Porto onde uma amiga lhe arranjara uns patrões para trabalhar como criada a tempo inteiro. Tinha então dezanove anos, pouca experiencia, e a vida citadina era uma descoberta agradável para a jovem acostumada à rudez no cultivo dos campos, e às frequentes agressões verbais, por parte da paternidade. A sua formosura não obtinha o realce merecido, por culpa das vestimentas simples e pálidas, do seu cabelo ao vento, mas sobretudo porque nunca soube o que era maquilhagem… tinha uns lindos olhos verdes, face pigmentada, e boca polposa, esbelta, mas sempre com ar tristonho, como quem vive a vida por viver… nunca tinha namorado, apenas se afeiçoou por um rapaz da terra mas não era correspondida… meses depois, já bem integrada no seu rodeio, começou a notar os olhares persistentes do Carlos, filho do patrão, belo homem, e quando se deu por conta, estava completamente enfeitiçada, hipnotizada, como tantas outras vitimas deste sedutor nato, irresistível.
Filho único, de pais abastados, o Carlitos frequentou a Universidade de Direito, mas, a meio do curso achou que era uma maçada, resolveu abandonar, sem ponderar nem respeitar o desejo dos pais. Dedicava-se exclusivamente ao laxismo vaidoso com engrenagem abusiva, descomplexado, com princípios arcaicos, fundamentados em valores de superioridade e inferioridade. Não tinha beleza interior!
Oficialmente namorava com a Paula, de 23 anos de idade, loira natural, alta, magra, pele fina, esbranquiçada, que estava acabando o curso de Economia, um arranjo familiar, num jantar marcado na propriedade para o efeito, mas que o Carlitos, demonstrava afeição protocolar, para não contrariar os projetos idealizados pelos progenitores, os quais prezavam a preservação do império herdado.
A sua verdadeira namorada, aquela a quem demonstrava ter um tacanho de amor, a Júlia, vivia nos arredores do Porto, junto da casa do campo da família, onde iam frequentemente passar os fins-de-semana, andar a cavalo, dar uns mergulhos na piscina, fazer picnics, ou jogar golfo, conjuntamente com pessoas da alta sociedade. Era uma linda moça, teria sido miss Beira Alta, mas, de uma rebelião desconcertante, o que deixava muitas vezes o Carlitos desesperado, mas ao mesmo tempo, excitava-o encontrar alguém capaz de fazer frente aos seus caprichos de menino mimado… às escondidas dos olhares curiosos, discretamente, arranjava encontro com ela sempre no campo, em lugares pouco frequentados, e apesar da moça apenas ter concluído a escola secundária, aprendeu muito na escola da vida… sabia defender-se, embora tivesse um fraquinho pelo sedutor.
Este ritual de namoro proibido durou alguns meses sem que ninguém se apercebesse. Porém, o Carlitos, não era de se contentar com palavreado barato, com a troca de um sorriso passageiro, um piscar de olho rápido, o beliscar de uma nádega num canto discreto, um beijo roubado enquanto o tempo passava veloz. Só no seu quarto, pensava na maneira de armar a ratoeira…estabeleceu com todos os pormenores, a passagem aos atos machistas, não fosse perder as proas ali junto dele, à sua mercê. Na sua mente começou a ruminar astuciosamente a maneira de chegar a uma relação consumada – porque isto de passar o tempo não o carateriza – anelava num anseio desmedido, babando-se como um cão farejando a fêmea em estado de ardência! Levou pouco tempo a concretizar os seus intentos. Com a pobre Fernanda usou o assédio patronal chantageando-a com o despedimento, e numa manhã em que ela lhe levou o pequeno-almoço ao quarto, certificando-se de que não se encontrava mais ninguém em casa, fechou a porta por dentro à chave, e, mediante a estupefação trémula da moça, retira o roupão que cobria o seu corpo nu, dirige-se para ela lentamente, retira-lhe o tabuleiro das mãos, e verificando que iria desmaiar, agarra-a com os seus fortes braços, e ao mesmo tempo que lhe segredava aos ouvidos para não ter medo, deitou o corpo inerte na sua cama, poisando ao de leve os seus lábios ressequidos de desejo nos dela quase gelados, e com uma das mãos bajulou-lhe um dos seios, enquanto com a outra dava palmadinhas no rosto inanimado da vitima, reanimando aqueles olhos tristes e temerosos, sem uma palavra, sem um remorso, apenas um desejo feroz de possuí-la, não atendendo aos gritos, lamurio, nem ao postular intenso que a levou à rouqueira, à perdição da sua virgindade e da dignidade. Quando desceu para a cozinha a cambalear pelas escadas em soluços, sentiu-se suja, desesperada, sem saber o que fazer, de uma vida que deixara de ser a sua, de um corpo encapetado, sem alma, sem forças para fugir… fugir, fugir


terça-feira, 2 de outubro de 2018

O fim de um sonho lindo


O fim de um sonho lindo
Por: António Braz

Abdicar da única esperança de concretizar os sonhos de menino não foi tarefa fácil para o puto… ruminara na sua mente, durante tanto tempo, a possibilidade de aparecer um coração bondoso que lhe proporciona-se, um meio, fosse qual fosse, de estudar, partir para outros horizontes, conhecer tantas maravilhas que por certo existiam longe daquele buraco de ratos engaiolados, e chegada a hora dessa grande oportunidade, sentia-se na obrigação de recusar, magoado, ferido no mais intimo do seu ser, mas, a honestidade bradava-lhe aos ouvidos repetidamente: não podes enganar pessoas tão generosas e bondosas se te julgas sem vocação para o sacerdócio…
A razão falou mais alto e veio paliar o que durante tanto tempo ruminou naquela cabecita inocente, desnorteada, talvez até com excesso de desvairo? Verificou-se também uma enorme deceção no olhar daquela maravilhosa Senhora cujo gesto de generosidade era também simbolizado por um forte desejo de realizar uma grandiosa ação para com Deus. Nunca poderia ser padre.
Mas a vida continuou e a roda girando veloz, através de um emaranhado de peripécias contundentes sem concessões mas com propósitos indefinidos, porque o puto nascera assim… dotado de uma linda voz mas nunca foi cantor… jogava bem à bola mas não obstante para ser um bom futebolista… com critérios de comediante incipientes… seria o seu destino aquele que o norteou enveredando por outros caminhos? Prevaleceu durante longos anos a dúvida do ego, a definição concreta do seu verdadeiro ser ou não ser? Porém, mesmo vivendo o dia-a-dia, prezava-o aquela cupidez, gozando de uma felicidade peculiar, dissoluta, respeitando sempre os valores e princípios que trazia na bagagem, e não esquecendo nunca a sua verdadeira família, que apesar de pobre eram o bem mais precioso que lhe foi atribuído pelo todo-poderoso.
Enquanto adolescente, para além dos numerosos relacionamentos, apaixonou-se por uma boneca, um dia, uma noite, quem sabe quando e porquê? Aquele primeiro beijo, ao cair da noite, implementou nele, um malévolo eterno. Amaram-se tão profundamente! Mas, estava escrito que nunca chegariam a ser marido e mulher, apesar das lágrimas derramadas, dos desejos consumados, das tentativas de fuga, dos momentos inesquecíveis passados no refúgio dos olhares indiscretos. Nunca prometeram o que quer que seja um ao outro durante esses dez anos de ruturas e reconciliações. Unidos pela magia de um poder sobrenatural pertenceriam para sempre um ao outro mesmo seguindo por caminhos diferentes…
E o puto tornou-se um jovem imaturo, mas, sabia o que queria, pelo que foram numerosas e pertinentes as tentativas, atendendo aos magros meios que possuía, par subir a grande escada sem contar com a ajuda dos que tinham o braço comprido… sentia-se realizado mesmo não tendo protagonizado um ideal e jamais ter ambicionado projetos a longo prazo… perpetrou secretamente o adultério, acatou o aborto, foi banzado pela perícia da homossexualidade numa consulta de rotina com o Dr. Nodet, assediado por um marido impotente, convidado para “partouzes” (relação a três) com casais da alta sociedade, oferta de pagamento, na cama, o taxímetro, conviveu com travestis, transportou personagens importantes, saindo do cabaret drogados, cantores, atores, homens do “show business”, almoçou com magnatas do petróleo, levou a casa o Abbé Pierre, tomou um café convidado pelo “Michou” viveu intensamente a vida Parisience sem desencarrilar, avaliando ponderadamente cada situação das quais saiu sem desdouro; será que se pode considerar uma aberração?