Destinos e destinados de António Braz 1ªparte
Uma história de ficção científica do meu manuscrito que data
dos anos 78. Vou tentar resumir com as menos páginas possíveis, o que não vai
ser fácil, sabendo que engloba 6 cadernos de 120 páginas.
Não sendo considerada uma história de amor, tentei elaborar
através das personagens, acontecimentos fatídicos, expandidos por terras onde a
ingenuidade frágil e vulnerável, se expunha aos poderosos de bom ou mau grado,
sem direitos de rebelião, e desinteresse que determinados acontecimentos
viessem à tona da água.
A Fernanda, abalou um certo dia, após uma quezila com o pai,
para o Porto onde uma amiga lhe arranjara uns patrões para trabalhar como
criada a tempo inteiro. Tinha então dezanove anos, pouca experiencia, e a vida
citadina era uma descoberta agradável para a jovem acostumada à rudez no
cultivo dos campos, e às frequentes agressões verbais, por parte da
paternidade. A sua formosura não obtinha o realce merecido, por culpa das
vestimentas simples e pálidas, do seu cabelo ao vento, mas sobretudo porque
nunca soube o que era maquilhagem… tinha uns lindos olhos verdes, face
pigmentada, e boca polposa, esbelta, mas sempre com ar tristonho, como quem
vive a vida por viver… nunca tinha namorado, apenas se afeiçoou por um rapaz da
terra mas não era correspondida… meses depois, já bem integrada no seu rodeio,
começou a notar os olhares persistentes do Carlos, filho do patrão, belo homem,
e quando se deu por conta, estava completamente enfeitiçada, hipnotizada, como
tantas outras vitimas deste sedutor nato, irresistível.
Filho único, de pais abastados, o Carlitos frequentou a
Universidade de Direito, mas, a meio do curso achou que era uma maçada,
resolveu abandonar, sem ponderar nem respeitar o desejo dos pais. Dedicava-se
exclusivamente ao laxismo vaidoso com engrenagem abusiva, descomplexado, com
princípios arcaicos, fundamentados em valores de superioridade e inferioridade.
Não tinha beleza interior!
Oficialmente namorava com a Paula, de 23 anos de idade, loira
natural, alta, magra, pele fina, esbranquiçada, que estava acabando o curso de
Economia, um arranjo familiar, num jantar marcado na propriedade para o efeito,
mas que o Carlitos, demonstrava afeição protocolar, para não contrariar os
projetos idealizados pelos progenitores, os quais prezavam a preservação do
império herdado.
A sua verdadeira namorada, aquela a quem demonstrava ter um
tacanho de amor, a Júlia, vivia nos arredores do Porto, junto da casa do campo
da família, onde iam frequentemente passar os fins-de-semana, andar a cavalo,
dar uns mergulhos na piscina, fazer picnics, ou jogar golfo, conjuntamente com
pessoas da alta sociedade. Era uma linda moça, teria sido miss Beira Alta, mas,
de uma rebelião desconcertante, o que deixava muitas vezes o Carlitos
desesperado, mas ao mesmo tempo, excitava-o encontrar alguém capaz de fazer
frente aos seus caprichos de menino mimado… às escondidas dos olhares curiosos,
discretamente, arranjava encontro com ela sempre no campo, em lugares pouco
frequentados, e apesar da moça apenas ter concluído a escola secundária,
aprendeu muito na escola da vida… sabia defender-se, embora tivesse um
fraquinho pelo sedutor.
Este ritual de namoro proibido durou alguns meses sem que
ninguém se apercebesse. Porém, o Carlitos, não era de se contentar com
palavreado barato, com a troca de um sorriso passageiro, um piscar de olho
rápido, o beliscar de uma nádega num canto discreto, um beijo roubado enquanto
o tempo passava veloz. Só no seu quarto, pensava na maneira de armar a
ratoeira…estabeleceu com todos os pormenores, a passagem aos atos machistas,
não fosse perder as proas ali junto dele, à sua mercê. Na sua mente começou a ruminar
astuciosamente a maneira de chegar a uma relação consumada – porque isto de
passar o tempo não o carateriza – anelava num anseio desmedido, babando-se
como um cão farejando a fêmea em estado de ardência! Levou pouco tempo a
concretizar os seus intentos. Com a pobre Fernanda usou o assédio patronal chantageando-a
com o despedimento, e numa manhã em que ela lhe levou o pequeno-almoço ao
quarto, certificando-se de que não se encontrava mais ninguém em casa, fechou a
porta por dentro à chave, e, mediante a estupefação trémula da moça, retira o
roupão que cobria o seu corpo nu, dirige-se para ela lentamente, retira-lhe o
tabuleiro das mãos, e verificando que iria desmaiar, agarra-a com os seus
fortes braços, e ao mesmo tempo que lhe segredava aos ouvidos para não ter
medo, deitou o corpo inerte na sua cama, poisando ao de leve os seus lábios ressequidos
de desejo nos dela quase gelados, e com uma das mãos bajulou-lhe um dos seios,
enquanto com a outra dava palmadinhas no rosto inanimado da vitima, reanimando
aqueles olhos tristes e temerosos, sem uma palavra, sem um remorso, apenas um
desejo feroz de possuí-la, não atendendo aos gritos, lamurio, nem ao postular
intenso que a levou à rouqueira, à perdição da sua virgindade e da dignidade.
Quando desceu para a cozinha a cambalear pelas escadas em soluços, sentiu-se
suja, desesperada, sem saber o que fazer, de uma vida que deixara de ser a sua,
de um corpo encapetado, sem alma, sem forças para fugir… fugir, fugir