DEIXA-ME SEGUIR PARA O MAR
Tenta esquecer-me…. Ser lembrado é como evocar-se um
fantasma…
Deixa-me ser o que sou, o que sempre fui. Um rio que vai
fluindo…
Em vão, em minhas margens cantarão as horas, me recamarei de
estrelas como um manto real, me bordarei de nuvens e de asas, às vezes virão em
mim as crianças banhar-se…
Um espelho não guarda as coisas refletidas,
E o meu destino é seguir… é seguir para o Mar, as imagens
perdendo no caminho…
Deixa-me fluir, passar, cantar…
Toda a tristeza dos rios é não poderem parar!
Quem escreve sem
tremer e quem treme para não ver, caminhar pelo caminho traçado, descalço,
despido obrigado, como quem nasce condenado, a viver a vida sem brilho, sem
pedir para nascer. Ergue aquele olhar já cansado, e de coração desesperado,
caminha uns passos mais, mas tão grande é o devaneio que aqueles pés tanto
odeiam, já sem forças cai no chão como um ninho de pardais. Quem nasce assim
desgraçado, não tem sonhos, não tem nada, somente a poeira da estrada, e uma
parca caminhada, que a mente vai alimentando, com migalhas desmioladas, pelos
que nunca lhes faltou a mesada.
Por tantos caminhos
incertos, corre este rio para o mar, como correm os humanos, até onde puderem
chegar.