terça-feira, 31 de janeiro de 2023

Ultimo adeus

Adeus minha irmã querida Com tuas asas leves e singelas, cobriste-nos irmãos sobrinhos filhos e netos, onde o carinho fez seu ninho, e os afetos nos acariciavam com a ternura que te caracterizava num belo sorriso atraente quando as palavras não sabiam dizer o que pensavas, púdicas ou talvez receosas, porque a simplicidade abstrata comia contigo à nossa mesa preocupada com as maldades mundanas, e uma inquietação colossal com a saúde dos outros, conduziu-te a uma depressão que ias controlando, lá longe, sem apoios, as noites eram medonhas repletas de insónias de doenças que te foram minando por dentro e por fora e sabias que de nada servia lançar um SOS, a crueldade condenou-te e o destino executou a sentença sem se sociar se era justa ou injusta. Trocamos tantas vezes palavras gastas através do telefone onde carinhosamente dizias: Meu filho! E no dia fatal antes do último suspiro, já sem forças nem alento, disse-te o quanto te amávamos o que foste e valias para nós: Balbucias-te com muita dificuldade duas pequenas frases, que apesar de incompreensivas eu sabia o que querias dizer. A tua luta foi tão desigual em todas as circunstâncias que sucumbir dignifica-te ainda mais. Pedi para que te trouxessem para a terra que te deu a vida, sei que era esse o teu desejo, e também o meu aquele a quem dizias “meu filho”. Amanhã vais fazer companhia à mãe e ao pai que tanto te amaram também. A nós resta-nos chorar-te continuando a amar agora a tua imagem, estejas onde estiveres, serás eternamente a nossa querida irmã. DESCANSA EM PAZ Gratidão para todos os que contribuíram nas diversa e complicadas tarefas, inclusive o Sacerdote. O funeral realiza-se na quinta-feira dia 2/22023 em Rebordainhos

sábado, 28 de janeiro de 2023

A dedicação. O tempo que te dedico É um tempo infinito Em que apenas acredito No absoluto bendito. Pudesse eu dedicar... O tempo que mais não tenho Seria decerto amar Para além do que detenho. Sofro, por te ver sofrer Como quem sofre por gosto Assim, e sem querer Carrego sofrimento no rosto. Um dia...irei contar A quem quiser ouvir Há uma nova forma de amar Em que só é preciso sorrir. Ibraim Barbosa ( 2022 ) Todos os direitos reservados

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

A terra dos avós in destinos 521

Destinos e destinados: 521 por AB De volta às suas casas, com um menino nos braços, as mulheres não sendo vítimas de poligamia, porque efetivamente só houve um casamento oficial, sentiram o peso das responsabilidades que por força das circunstâncias adviriam mais tarde ou mais cedo, e ao mesmo tempo o maravilhoso sentimento de serem mães, o carinho, afeto, de quem pare e lambe as crias tornadas seres vivos. Imperou nestas circunstâncias a superintendência pessoal de um homem desobrigado, cuja conduta irresponsável, levou estas mulheres ao desalento, um incondicional machista, afetado psicologicamente pela superioridade de ser o moleiro mais carregado de moedas, o galo superior da capoeira, a malvadez encarnada num corpo hircoso, o baboso que não merece consideração. Fernanda foi a primeira das três mulheres a dar à luz, um lindo menino, com quatro kg de peso e 52 cm de altura. Entretanto durante os nove meses de gravidez, houve grandes mudanças na sua vida pessoal. Casara com o Sr. Félix pelo civil, para que o seu filho à nascença fosse registado com apelido, e, porque se sentia só, embora naquela casa não lhe faltasse nada. Amava aquele homem, ao qual nunca deixou de chamar Sr., de uma maneira especial, carinhosamente, como se fosse seu pai, e respeitava-o dignamente com fervor. Foi também nesta ocasião que o Sr. Doutor meteu férias sem prazo, para ajudar a sua protegida no que fosse necessário. Saíam de manhãzinha passear, antes dos raios de sol terem aquela agressividade que poderia ser prejudicial ao bebé que começava a movimentar-se no ventre da mãe, visitavam frequentemente o jardim de Arca de Água onde reinava a paz de espírito, e os passarinhos chilreavam quando os progenitores lhes traziam os “cibacos” num vaivém desenfreado, fazendo meditar a rapariga no que teria sido a sua vida se não tivesse encontrado aquele anjo da guarda? E o Sr Félix não gostava de a ver com aquele ar apreensivo procurando de uma maneira ou de outra, fazê-la sorrir e esquecer por momentos, o que lhe pesava no coração, e que jamais desapareceria por completo. Viviam o casamento, aparentemente como qualquer casal, e quando a noite chegava, subiam cada qual para o seu quarto e antes de entrar beijavam-se na face que estremecia dizendo: - Boa noite… dorme bem. E a resposta eram sempre a mesma… porém, agora havia um menino que chorava porque queria comer… estava molhado e necessitava que lhe mudassem a fralda, e, no quarto contíguo, o Sr. Félix não dormia com a preocupação. Ao mínimo sinal, levantava-se e ia aquecer o leite ao puto, mudava-lhe a fralda, e voltava para o seu quarto com os olhos vermelhos de felicidade. Aquele filho, mesmo não sendo de sangue, foi um dom de Deus que chegou no momento certo, aliviando mentalmente ideias que magicavam naquela cabeça exausta de pensar na infelicidade pela perca da sua esposa que tanto amava, e num corpo que seguia ao Deus dará, sem rumo nem entusiasmo. Voltava a ter uma família que amava profundamente, naquela casa voltou a haver alegria independentemente das contrariedades, que mais se podia desejar? O detetive que o Sr. Félix contratou para bisbilhotar nos podres de Carlos e envolventes, constituiu um “dossier” com todos os pormenores, e de tempos a tempos entregava-o ao médico que desta maneira estava ao corrente de tudo secretamente e sem interferências de qualquer espécie. Fernanda mortificava-se por não ter notícias dos seus pais, e apesar da rejeição, amava-os e gostaria tanto de poder ser perdoada! Mas como poderia apresentar um neto bastardo a uns pais conservadores, que nunca mais tentaram ter notícias suas? Foi mais uma vez o Sr. Félix quem teve uma ideia de génio para tentar reconciliar a família. Tinha já feito os seus 3 anos Fernando, era um miúdo saudável e irrequieto: Acompanhava o médico para todo o lado, a quem chamava pai, e já no infantário, notava-se nele uma inteligência fora do comum que surpreendia toda a gente. - Hoje vamos todos para a tua terra para que Fernando conheça e se vá acostumando àquelas gentes, isto é, se concordares? -Ummmm… pode não ser uma boa ideia: - Deixa comigo. No dia seguinte Domingo; prepararam o necessário, meteram-se no automóvel, também já idoso, mas com poucos km, e lá foram. Pediu informações sobre os locais frequentados pelos pais de Fernanda, e, foi no largo da Aldeia, à sombra de um carvalho francês, que os dois visitantes foram sentar-se também, ficando Fernanda a observar a uns metros dali. O Sr. Félix tinha a certeza que o miúdo iria ter com os aldeões e lhe faria perguntas. Dito e feito. O puto dirigiu-se ao casal e perguntou? - Aqui não se joga à bola? Estranharam a ousadia do puto, mas responderam: -Aqui joga-se tudo” petiz” … - Quer vir dar uns pontapés comigo? - Olha! Eu já não tenho idade… - E a avô? -Sou eu a avô? Qual avó’ - Só para fingir… - Pois, mas as avós não jogam à bola, pequeno… - Então vamos jogar os três a coisa… já sei às cartas. - Olha que o raio do puto não nos deixa! Porque não vais jogar com os teus pais? - Com os pais já joguei muitas vezes agora tem de ser com os avós… - Quais avós? Nós somos teus avós? -Podiam ser nê? E o marido começou a rir às gargalhadas… estamos a levar um baile deste fedelho, essa é que é essa. - Olhem jogamos se eu ganhar são meus avós se perder é porque não tenho avós. E o jogo começou. E o puto ganhou. E o casal perguntou: - Que fazemos agora? - Chamamos a minha mãe e o meu pai e beijamo-nos todos. Tá’ O Sr, Félix foi o primeiro a chegar. E o casal contou-lhe dizendo que tinha um filho com língua comprida e que os queria obrigar a serem seus avós… O nosso filho é o fruto do amor e da amizade e está falando verdade. Vocês são mesmo seus avós. Já vi que conseguiu cativá-los e sinto-me imensamente feliz; e dizendo isto chamou por Fernanda. Foi uma cena emocional onde o ódio deixou lugar ao carinho e à felicidade que invadiu aquela família cujo destino estava escrito.

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Quando as rosas florirem E meus olhos cansados se abrirem Vem ter comigo àquele jardim sagrado Para juntos abraçarmos O tempo que por lá gastámos No que se tornou num passado Que no desvaneio apertámos Contra dois corações a bater Duas almas gémeas nascidas Por entre as rosas floridas E o perfume do teu olhar, Voltaremos a respirar Vem que esperarei enquanto for dia E o sol deixar ao longe de brilhar Ab

Dia de sorte 73

Dia de sorte73 por AB Francisco tinha o tempo todo preenchido em viagens e conferencias, e quando passava por casa era só para dormir umas horas. Fred, apesar da boa integração na sua nova escola, sentia falta de amor e carinho, mesmo acostumado à instituição onde tinha sido criado, sentia-se só e abandonado pelos pais que cometeram erros e era ele quem os cobrava. Porém não ousava manifestar o desalento refugiando-se no silêncio estudava dia e noite, verificando que de tempos a outros, uma amarga lágrima caía-lhe rolando pelo rosto até se desfazer na página do livro aberto. Os criados notaram nele aquela profunda tristeza que justificavam com a mudança de ares. Era domingo. Levantou-se tristonho tomou o banho quente e perfumado que todos os dias o esperava, vestiu-se e desceu para tomar o pequeno almoço. Para sua grande surpresa, o pai assentado na grande mesa esperava-o. Trocaram rápidos olhares enquanto dava os bons dias. Francisco não comia e o aspeto temeroso fez aumentar a timidez do filho. Naquele silêncio medonho onde reinavam a discórdia e o infortúnio que vinham constantemente à tona da água, Fred desejou pela primeira vez estar longe de tudo e de todos ocorrendo-lhe pensamentos maléficos que o iam atirando para o abismo, teria de ser o único inocente a sofrer as consequências dos atos adultos? Não tinha a que se agarrar para não deslizar e cair naquele buraco sem fundo. Tinha avaliado mal a sua ida para os estados unidos viver junto de um desconhecido que já não via nem ouvia ao longo de vários meses. Também não tinha conseguido amizades sendo considerado estrangeiro a quem os nativos não confidenciavam suas vivencias, exceto a Mary sua defensora generosa, linda e com grande coração. Finalmente Francisco propôs ao filho um giro a cavalo dizendo ter grandes saudades da quinta dos avós onde praticava à rebeldia sendo um excelente cavaleiro. O rapaz aquiesceu com a cabeça, levantou-se e foi mudar de roupa. Dois alazões um branco o do pai os outros castanhos esperavam-nos à saída prontos para montar. Fred parecia hesitante receando não estar à altura do outro cavaleiro. Vamos rapaz dos diabos. Não me digas que tens medo? Não, não tenho e saltou para cima do cavalo, Lado a lado galopando com o ar fresco a penetrar-lhe as entranhas, aliviou completamente trocando palavras de incentivos com aquele homem metamorfoseado sentiu até um bater de coração mais acelerado do qual não sabia o significado, que era sem dúvida amor.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Contentamo-nos com migalhas

Recentemente apareceu esta postagem e a pergunta: Quem conhece? - respondi da seguinte maneira:Alteração, mais uma no lugar errado, um projeto que foi arquitectado por jogadores de legos, já existia um lavadouro, embora não coberto, não me digam que não havia lugares na aldeia mais bem situados para a construção da junta de freguesia? Podia mostrar-lhes exemplos vistosos, mas não creio que valha a pena... Os mandões sempre fizeram da população a ingenuidade pendente para o lado dos interesses pessoais... Seja feita a vossa vontade.
A quem lhe passaria pela cabeça construir uma junta de fregesia sem espaço e arrasando uma antiguissima fonte de mergulho e um lavadouro descoberto? Só nesta terra se pensa destruir e não conservar, sujeitos a que pessoas deficientes ou comm pouca mobilidade, não possam subir o escadario ficando por baixo o lavadouro sem sal nem adubo, arquitectura de construtores de legos, que só pensaram em deitar abaixo sem consultar ninguém porque eles é que sabem e o povinho dedicado segu-os até ao inferno. Ignorancia ou aberração? conseguiram transformar uma linda aldeia numa terra sem amor. Junto anexo para comparação consrução de funta de freguesia com espaço e brilho assim como os lavadouros atraentes e vistosos para os eleitores dignos e respeitados.
Aqui pode aparecer a pergunta quem conhece?

sábado, 14 de janeiro de 2023

Dia de sorte30 por Ab Há decisões e reações surpreendentes que nos desarmam atirando-nos para uma perplexidade duvidosa quando atos maquiavélicos danificam os sentimentos, consideração e indignação, surgem lado a lado, mas jamais poderão conviver, mesmo para pagar dividas. O professor era com certeza um homem “sage” ponderando na destruição de um lar, construído pedra a pedra, com imensas contrariedades pelo caminho superadas pela confiança que num momento de fragilidade, cedeu à tentação da carne num impulso inesperado onde o arrependimento e o perdão foram mais robustos que a traição. Francisco apesar de ofendido, tinha uma grande consideração por aquela família, que como tantas desencarrilham distraídas ou tentadas por um demónio à solta. Não lhe ocorriam palavras que justificassem o passado, mas estava convicto de que aquela família generosa necessitava de uma para voltar ao que sempre foi honrada e honesta para florescer novamente a felicidade até aqui presa num ato errado. Abraçou o professor em lágrimas, agradecendo o fato de se deslocarem para apresentar as condolências, daqueles que sabiam ser a sua família que tanto amava. Quanto ao incidente de que foi vítima, voltou-se para a esposa e de olhos nos olhos apenas disse: não volte a trair um marido bom e generosa nem a sua filha que em si depositou os seus valores e princípios. A minha gratidão será o perdão que me minava por dentro e esta noite poderei dormir de consciência tranquila. Fred que se encontrava de pé no salão sofria como o pai sofreu, sem balbuciar palavra, convicto das impurezas que a vida tem cujas vítimas são sempre as mesmas. Era injusto – pensava para consigo, mas infelizmente também ele era produto de impurezas, como lidar com a situação? Só no dia seguinte, quando almoçavam no grande salão com os convivas foi apresentado como sendo seu filho, cuja história os Miller conheciam de A a Z. Educadamente foi cumprimentá-los, e no decorrer da conversa ficaram a saber que vinha viver com o pai, e estudar dadas as circunstâncias que não tinham agradado minimamente a Francisco na sua passagem por Portugal. Quando os convivas partiram Francisco ordenou que estivesse o chofer e o carro à sua disposição para uma saída com o filho. Foi apresenta-lo à escola que frequentaria a partir do dia seguinte ordenando à direção para não haver favores só porque era do seu sangue. Durante o percurso reservado onde as palavras podem ferir, passaram por uma das suas empresas e convidou-o a acompanhá-lo, ou que aguardasse no automóvel se a situação não o prezava. Saiu imediatamente batendo com jeito a porta e seguiu o pai até aos elevadores. Subiram ao vigésimo segundo andar, onde por detrás de portas em vidro se verificava a movimentação de centenas de pessoas e uma sala gigantesca que impressionou o rapaz cada um testava as peças de computadores parecendo alheios ao que se passava em redor salvo quando passaram e se levantaram para os saudar brevemente. Francisco via no filho o entusiasmo e admiração, e sem dizer palavra entraram num espaçoso escritório vazio que era o seu. – É aqui que eu trabalho. – disse. O rapaz ficou embasbacado, e só quando ouviu perguntar se desejavam um refresco voltou a terra.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

Porque me apareceu nas memórias

A vida das mulheres Porque razão nós as mulheres não somos felizes, quer dizer até podemos ser felizes mas não somos felizes felizes e muito menos felizes felizes felizes, também não somos infelizes, é um estado de alma assim assim que o facto de termos uma família vai compondo, uma família, a casa paga, os electrodomésticos pagos, tudo pago O que me aconteceu que não me apetece fazer amor com o meu marido? As minhas amigas garantem que ao fim de cinco anos de casada é inevitável, a ideia vai deixando de exaltar-nos, até se continua a ter prazer mas não é a mesma coisa, se em vez do meu marido fosse outro qualquer era igual, o tempo mata o entusiasmo e o desejo mas, em compensação, aparecem outras alegrias, sobretudo o facto de ter uma família, uma certa paz, uma rotina no fim de contas agradável, um sentimento de estar protegida, de segurança, de estabilidade embora com os homens nunca se saiba, tão infantis, tão à mercê de entusiasmos, caprichos, qualquer par de pernas os transtorna, as raparigas mais novas põem-nos a ferver mas a segurança e a estabilidade, ainda que precárias às vezes, existem de facto, claro que há separações, divórcios, etc., porém a estabilidade e a segurança, uma certa estabilidade e uma certa segurança existem de facto e depois, uma vez a meio da semana e outra ao fim de semana, lá vem a mãozinha, a perna, o corpo todo, é agradável sem ser muito bom, aquela paz do depois sossega a gente e, para além do sossego, o alívio de saber que por uns dias teremos descanso, jantares com amigos, a televisão, o jornal, a vida é isto, quanto ao fazer amor umas ocasiões é agradável, outras nem tanto, a partir de um certo tempo em comum as coisas tendem a passar-se mais ou menos da mesma maneira, não há grandes variações, não há acrobacias, acabam e levantam-se logo com a desculpa do chichi, do copo de água, das crianças que podem ouvir (ouvir o quê se acabou?) parecem aborrecidos connosco, parecem fartos, não respondem, resmungam, não conversam, ficam calados no sofá ou telefonam a um colega do emprego para combinar um jantar a quatro, há quantos meses não jantamos sozinhos, há quantos meses não me beija sem segundas intenções, só por beijar, não me diz nada terno, não me pega na mão, na semana passada perguntei-lhe - Gostas de mim? respondeu - Estou aqui não estou? parecia que admirado com a pergunta, se ponho um vestido novo anima-se um bocado porque me tornei outra e é a outra que lhe interessa, não eu, a mesma reacção com brincos grandes, mais maquilhagem, saltos altos, a quem é que apetece fazer amor afinal, a mim, a ele, é evidente que não me interessam outros, nem olho, o actor de uma série de televisão mas isso um entusiasmo vago, um - Como seria se que conforme aparece se esfuma, quando vamos no carro já me aconteceu pensar no actor, uma espécie de pergunta, porque não chega a pergunta - Como se seria se e passa, o meu marido não gosta de conversar enquanto conduz ele que ao princípio conversava imenso - Não me desconcentres que só temos seguro contra terceiros pergunto-me se o actor me daria atenção ou ao cabo de cinco anos o mesmo, suponho que o mesmo ou antes tenho a certeza que o mesmo, pelo que oiço não há-de haver muitas diferenças entre eles, porque razão nós as mulheres não somos felizes, quer dizer até podemos ser felizes mas não somos felizes felizes e muito menos felizes felizes felizes, também não somos infelizes, é um estado de alma assim assim que o facto de termos uma família vai compondo, uma família, a casa paga, os electrodomésticos pagos, tudo pago, chegarmos juntos para comer nos meus pais que nem sonham que não me apetece fazer amor com o meu marido, até continuo a ter prazer mas não é a mesma coisa, nem pensam nisso em relação a mim, detestam pensar nisso em relação a mim porque continuo a ser menina para eles, se a minha mãe - Está tudo bem entre vocês? respondo logo que está tudo bem, não se preocupe, nunca esteve tão bem e depois os miúdos graças a Deus são óptimos, tive imensa sorte, sabia, não trocava o que tenho nem por uma mina de ouro, a minha mãe, desconfiada (aquele instinto das mulheres que ela, apesar dos setenta e três anos, ainda não perdeu) - Palavra de honra? enquanto o meu pai e o meu marido jogam às damas e nós na cozinha, em voz baixa, vejo-os daqui debruçados para o tabuleiro, no caso de perguntar à minha mãe e não pergunto, é evidente - Está tudo bem entre vocês? ela de súbito quieta, da minha idade e quieta, idêntica a mim - Está tudo bem, não te preocupes e não está tudo bem pois não, diga lá, nunca esteve tudo bem e agora é tarde para recomeçar a vida, filha, repara no meu corpo, no meu cabelo, nas minhas pernas, na minha cara, na minha pele, repara como envelheci, nem acredito quando me vejo ao espelho, ao nasceres pensei - Acabou-se e desisti, percebes, desisti, mas aparte ter desistido tudo bem, viste o actor daquela série da televisão, filha, talvez não acredites mas já me aconteceu que, não ligues, era uma conversa parva, o que é que me deu hoje, há alturas em que me torno uma adolescente tonta, que ridículo, uma adolescente de setenta e tal anos, que palermice, há alturas, lá ia eu continuar com a conversa, o que me preocupa é que tu estejas bem, a única coisa na vida que me preocupa é que tu estejas bem, o resto não tem importância, que tu estejas bem por mim que não espero seja o que for, passou muito tempo, entendes, demasiado tempo e não há tempo para mim hoje em dia, chega acontecer, vê só a estupidez, chega a acontecer imaginar-me morta e não é inteiramente desagradável, calcula, porque, pensando um bocadinho nisso, desde que me tornei mulher quando é que foi bom viver????? António Lobo Antunes

domingo, 8 de janeiro de 2023

IN Destinos 512 por AB A terra continua a girar, independentemente dos acontecimentos inconstantes que nos cerram e nos obrigam a ser escravos do tempo, que vai passando indiferente a glorias ou desgraças surgindo do imprevisível randômico nas clareiras esbugalhadas pelos sintomáticos aparecimentos que se remetem a sentenças divinais, para os crentes, ou ao manifesto repudio instaurado em desabafos, servindo apenas para enganar o que a realidade ditou. Três filhos paridos por mães diferentes no mesmo ano que não se conheciam, e um progenitor que aquele acidente tornou invisual, sobrevivendo com os mínimos meios, legado do pai que antes de falecer mandou abrir uma conta bancária ordenando ao gestor de nunca deixar que lhe faltasse nada ao filho e neto seus herdeiros legais. Possuía um património abastado, que o neto desmoronou como um castelo de cartas, nos tempos de más frequências, desleixo de um menino mimado, refugiando-se em drogas e álcool, logo após a morte da mãe, culpando o pai para jamais lhe perdoar. Quando se sentiu órfão da mãe e dos avós, pediu ajuda numa instituição de toxicodependente, onde permaneceu durante dois anos. Podia ter continuado os estudos superiores, mas optou por uma profissão de mecânica, onde se sentia bem renegando um passado infeliz onde caiu e pensou numa mais se levantar. Frenando A tinha concluído o mestrado em oftalmologia, paixão que o pai adotivo lhe deixou antes de falecer de uma doença infeciosa respiratória quando ainda frequentava a universidade de Coimbra, onde um dos seus amigos, (irmão) que não conhecia, estudava otorrinolaringologia, bom aluno e excelente companheiro. No seu legado constava também o seu consultório com tudo o que continha para além da conta bancária cuja gestão entregou à mãe, No testamento constava também um ficheiro que aquele detetive privado constituiu. Fernando A ficou um dia inteiro fechado no seu quarto a tentar juntar as pontas soltas que lhe fugiam. Os seus olhos derramaram lágrimas de gratidão e de repudio, porem, no final em letras maiúsculas estava escrito: NUNCA DEIXES QUE O TEU CORAÇÃO CEDA À VINGANÇA. AMA E SERÁS AMADO

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Rebordainhos dia de reis

Dia de Reis por AB O dia surgiu estofado de branco em toda a superfície da Aldeia dormente, com os pés quentes e a pouca vontade de deixar os cobertores saborear ignorando os que dormiram ao relento cobertos com cartões de papelão que serviam de lençóis baratos. Vi aquela mulher abrir a porta com um lenço de cabeça nas mãos, que imediatamente colocou como se estivéssemos no Alasca. Os bons dias fugitivos e uma careta que resumia o estado do tempo. Foi buscar lenha para acender o lume, e quando voltava da minha caminhada matinal a cheminé fumegava pelos cantos, as duas pequenas cadelas que tentaram acompanhar-me desistiram aos 20 metros, com certeza lhe cheirou a lareira, melhor que a aventura do nariz gelado tentando alargar o passo. No cruzamento da escola um carro vermelho apitou e eu voltei-me para ver quem era. – Que anda você por aqui a fazer com tanto frio? – perguntou-me o condutor enquanto os saudava juntamente com a esposa. Estavam chegando com 779 quilómetros nas rodas vindos de Bilbau onde trabalham e residem O Jaime Fernandes e a esposa. Nos espelhos laterais viam-se ainda as sequelas do percurso com sincelos pendentes que ornamentavam o automóvel. Na casa certamente já bem quente esperava-os o irmão Zé para um matabicho à maneira dos transmontanos. Chouriça e alheira assadas e quentinhas com um naco de pão e uma malga (tigela) de café para ajudar a esquecer um percurso rude, mas que alegra o coração quando por entre o nevoeiro se começam a enxergar as primeiras casas, da terra amada onde nasceram e se criaram com dificuldades, mas paz e alegria. Dois dias antes a minha esposa ordenou-me a colheita das laranjas pois o nevoeiro aproximava e rapidamente as gela. Foi uma recolta menor que os anos precedente por termos tido um verão demasiado quente. As mandarinas só deram para não faltar ao dever, e uma tangerineira secou talvez com raios radioativos vindos da Rússia, sabe-se lá?
Hoje era um dia muito importante na terra onde nasci. O cantar dos reis a quatro vozes percorrendo todas as casas da paróquia, com missa solene e rezas onde se mencionava o nome dos antepassados, e dos donos da casa. Era uma tradição que supostamente jamais deixariam perder, mas nada é absolutamente garantido e os nossos reis pelas almas perderam-se, muito pela falta de vontade, porque cantores não faltavam ainda que tivessem de vir encomendados de Taiwan… lamento imenso e não concebo um desleixo tão prejudicial às nossas tradições, com neve e frio, cantando às portas dos senhores honrados como diz o verso: em tais festas, como estas, cantam-se os reis aos fidalgos, também nós os cantaremos, a estes senhores horados, 3x.Conheço as estrofes todas de cor e sempre me disponibilizei para qualquer uma das quatro vozes, mesmo que a de superano exigia-se bastante esforço
de vir encomendados de Taiwan… lamento imenso e não concebo um desleixo tão prejudicial às nossas tradições, com neve e frio, cantando às portas dos senhores honrados como diz o verso: em tais festas, como estas, cantam-se os reis aos fidalgos, também nós os cantaremos, a estes senhores horados, 3x.Conheço as estrofes todas de cor e sempre me disponibilizei para qualquer uma das quatro vozes, mesmo que a de superano exigia-se bastante esforço. No final janta-se em casa dos mordomos que brindávamos com várias cantilenas. Tudo tem um fim alguns precoces por falta de empenho e zelo que me deixa triste, impotente, manifestando o meu descontentamento. Pelos reis e pelas almas cantarei sozinho na minha mente

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Aquele dia… AB Foi num desses dias, naquela estrada que tantas vezes vimos, ladeada de acaliptos direitinhos, por onde o sol entrava e com seus raios nos cobríamos, de mãos dadas e apertadas por tudo e por nada riamos, o amor segredava-nos aos ouvidos e com beijos os cobríamos para por ninguém serem roubados nem mesmo presenciados, era o nosso mundo selvagem que a felicidade abrangente escureceu e de repente, já bem perto, as chamas galgavam consumindo o que apanhavam e em cinzas se transformavam, como se do inferno viessem, trazer o pânico semear o medo, aos que por entre o arvoredo tentavam fugir ao degredo, deixando para trás o que amavam que num canto escuro se refugiavam, e os desesperado coitados tentavam fugir para todos os lados, mas só se viam automóveis embraseados e dentro deles corpos calcinados, acudam gritavam alguns já meio sufocados, procurando por todos os lados águas que pudessem vencer um mafarrico á solta ou encomendado. Já não tinham lágrimas para derramar nem alento para continuar, era um combate vencido, porque as armas que não tinham, e tantas esperanças perdidas, martirizavam suas cabeças enlouquecidas, em cada passo que davam, erguiam os olhos ao céu e suplicavam, que os deixassem pelo menos viver, depois de tudo perder. Tudo cheirava a fumo, à morte que os alcançou, à descrença que os condenou, tornando-os mártires daquele dia sem abrigo e sem nada somente o pó da estrada, que o vento dum dia varreu, mas a borracha não apagou tanto sofrimento grande desgraça esquecimento do que passaram, que jamais alguém poderá compreender O QUE SE CHAMA SOFRER