domingo, 27 de julho de 2014

Recordações

  Segada Tradicional em Palácios (Alta Lombada) Bragança.
RECONSTITUIÇÃO FOTOGRAFA AO VIVO pelo meu amigo ORLANDO NASCIMENTO.
Podem ver mais fotos aqui.

As segadas, acarrejas e malhas; prevalecem vivas e constantemente presentes na memória dos que as viveram, mesmo sendo um dos trabalhos mais árduos da agricultura. Todos temos a nossa historiazinha para contar; os sabores do “mata-bicho” almoço e merenda, levados ao local nas   alforges d’um burrito, ou em grandes cestos de
 verga que as valentes mulheres transportavam à cabeça, hirtas e orgulhosas, enquanto os segadores esfomeados pelo esforço mais o calor abrasador, esperavam com grande ansiedade, “avistar” lá no altinho a silhueta da salvadora momentânea da exaustão. Os cânticos entoavam à desgarrada incentivando os manejadores das afiadas seitouras a levar o esforço ao de lá, das possibilidades facultativas e humanísticas…
A ornamentação é uma reconstituição das memórias de um povo humilde, simples, honesto e trabalhador, que hoje recorda nostalgicamente, mas com orgulho.
Deixo alguns dos comentários na página do meu amigo que se dedica  habilmente a fotografar eventos e locais de beleza singular, com os meus parabéns… fica também a ligação para outras fotos relacionadas com a segada. https://www.facebook.com/photo.php?fbid=672110842859360&set=pcb.672112362859208&type=1&theater

·         


quarta-feira, 23 de julho de 2014

Tiradores de cortiça

 A extração manual da cortiça em Murçós, é mais uma atividade, que se vem desenvolvendo com grande intensidade, devido à propagação dos sobreiros, que, com as subidas climatológicas, e o solo fértil, se veem nascer e crescer, por entre a diversificada vegetação, em quase todo o “termo” da Freguesia. A minha visita de hoje, foi lá para os lados da Ribeira, Reboreda, e Lusio, lugares bem conhecidos dos filhos desta terra, que há quarenta anos, frequentavam diariamente, de onde traziam grande quantidade de meios que contribuíam para a subsistência, nomeadamente as uvas de boa casta e alta graduação, através de caminhos sinuosos, (carreirões) trabalhos árduos, que alguns ainda recordam, com certa nostalgia…
 Esta prática requer engenhosidade na conduta da extração, devido às “mazelas” que podem afetar gravemente as árvores, e um poder intrépido das alturas, cujas proteções restritas apenas ao equilíbrio do tirador, que nem sequer pode retirar do corpo as esfomeadas formigas, picando sem dó nem piedade, enquanto com a machada arredondada traçam o golpe vertical e horizontal, para depois as “trancas” descolarem, à força dos músculos, os “canelos”, creio ser assim chamados, as frações da cortiça. Outra contrariedade que afeta penosamente os tiradores de cortiça, são os acessos às árvores, situadas maioritariamente em lugares afastados dos caminhos rodoviários, sendo transportada centenas de metros, às costa, por trajetos onde nem as cabras entram! Nas redondezas houve já numerosos acidentes mortais; porém, creio ser uma indústria rentável, sobretudo para os intermediários…
 A cortiça é vendida à arroba, ou seja 15kg. Os preços diferem, segundo diversificados critérios, relacionados com: verde ou seca, espessura, dimensões, etc.
Como toda a gente sabe é uma rentabilidade para os proprietários isenta de custos, embora limitada de nove em nove anos…, tal como o carrasco, e outras árvores, são protegidas, e as sanções aplicadas pelos vigilantes equipados com binóculos de capacidade longínqua, ao cargo da GNR (os verdes) são dissuasivas dado o montante das coimas. São riquezas que a natureza vai oferecendo de tempo a outro aos humildes agricultores ajudando o País no comércio das exportações. Não há proprietários de grandes quantidades desta preciosidade, mas, os que possuem alguns, é a cereja no cimo do bolo!
  Hoje, na ribeira, ainda a descer a grande encosta, já se ouviam vozes humanas… o ruido das machadas, o estalar da cortiça, os rires dos corticeiros brigando, enquanto bem próxima, a ribeira corria lentamente, imperturbável, ladeada pelas espécies meio selvagens meio atraentes, e as suas límpidas águas cristalinas, expressavam orgulhosamente o amor intenso dedicado à natureza, em benefícios dos sortudos que podem usufruir, de lugares de pureza natural e de incondicional beleza, sossego paz e harmonia. A visita das cabras do Toneco, única desde havia tanto tempo, começava a pesar… bem-haja aos tiradores de cortiça: Carlos, Reis e Zé… foi como se tivesse havido festa lá para os lados da Ribeira… 









quarta-feira, 16 de julho de 2014

taxi driver ii


Pelas ruas de Paris II
A aprendizagem prática foi-se adequando lentamente com passagens desagradáveis e outras que fariam “mijar” de rir os mais carrancudos do Universo. Já com cinco anos de serviço, um dos mais antigos na casa, confiavam-me os carros novos, sempre de marca Peugeot, salvo o último que era um Citroen. Apesar das consequências agravantes que os engarrafamentos proporcionavam, o cansaço, e o calor que no verão assava uma sardinha, no interior do carro sem os “gadgets” existentes agora, tais como o ar condicionado, as funcionalidades automáticas, mas sobretudo o GPS, bastante útil para calmar aqueles clientes mais “chatos”, e eram numerosos, escolhi trabalhar em horário diurno, receando os frequentes ataques dos delinquentes, bêbedos, drogados, e “tesos” que saiam dos cabarets sem um tostão para pagar, ameaçando, agredindo e até matando, com armas de fogo, brancas e outras estratégias, alguns dos colegas, recusando-se a pagar. Paris é uma das cidades mais lindas do mundo visitada de dia, e quente de noite, porque frequentada pelas mais diversas personagens do showbiz Ness, dos estrangeiros que vem divertir-se nos numerosos cabarets tais como: O moulin rouge, lido, folies bergères, casino, não esquecendo os valiosos teatros, operas, l’Olimpia,Chez Maxim´s, Saint Germain des Près e o café au flore, Camps Élisés para além dos conhecidos monumentos: T our Eiffel, Arc du Trionphe, Sacrée Coeur, Louvre, Baubour, Trocadero etc.
Voltando ao táxi driver dos anos 80 que se deslocava agora dentro de Paris como “peixe na água, e que entre dois clientes, enquanto atravessava “les Invalides” vazio, cantava um fado, só no seu carro, de Fernando Farinha, Amália, Teresa Tarouca, Alfredo Marceneiro, e até “Carmencita” de Isabel de Oliveira… No seu carro entraram numerosas personalidades, de Platini, Johnny Hallyday,Enrico Macias, Alain Delon, Abbé Pierre, e tantos outros com os quais conversei de coisas e d’outras, alguns deles notaram que era estrangeiro, mas sempre respeitando o motorista e a profissão.
Numerosas e extravagantes foram certas passagens de uma clientela diversificada, tais como:
- Subia a av. de Clichy, numa manhã fria de neve, quando alguém levanta o braço do outro lado do passeio. Parei e a pessoa, entrou, deu os bons-dias, e disse: - Bois de Boulogne SVP.
A meio do caminho olhei pelo retrovisor e estupefacto reparei que o homem se tinha transformado em mulher, coberta com porcas roupas. Um travesti brasileiro!
Numa manhã, junto da Place de la Bastille, uma linda moça meio adormecida, lançou-se contra o meu carro, obrigando-me a uma travagem brusca. Entrou e pediu-me para a levar a Mantes- -la-Jolie. Respondi não pois já estava fora do nosso circuito, para além de não conhecer bem o caminho. Insistiu e cedi. Foi-me indicando o caminho, e já na localidade, reparei que já tínhamos passado várias vezes pela mesma rua. Aventurei-me a perguntar o que se estava passando, quando numa fração de segundos me ordenou para parar, surgindo de imediato um “lafrau” com uma grande chave de fendas que logo me apontou ao pescoço. Pediram-me para desligar o carro, e entregar as chaves juntamente com o dinheiro que tinha em caixa. Despejaram-me e foram estacionar o carro a 300m dali, e eu sem dinheiro, só me restou dirigir-me para um posto de policia que me foi indicado do qual telefonei para os patrões contando-lhe o sucedido.
No hotel Georges V apanhei um cliente americano para levar ao Aeroporto Charles de Gaulle. À chegada, o individuo puxa por um grande maço de notas de cem francos e começa a passa-las para a minha mão perante a minha grande estupefação. Contou até 10, e Ergeu os olhos para mim ao mesmo tempo que dizia. – Não tenho mais… chega?
Sorri, ao mesmo tempo que lhe entregava nove destas notas dizendo: - Esta chega.
No seu sorriso vi os agradecimentos pela honestidade que existia em todas as profissões.

sábado, 12 de julho de 2014

A lenda...

 Conta a lenda que certa mulher pobre com uma criança ao colo, passou diante de uma caverna e escutou uma voz misteriosa que lá dentro lhe dizia : 
" Entre e apanhe tudo o que desejar, mas não se esqueça do principal. Lembre-se, porém, de uma coisa: Depois de sair, a porta fechar-se-á para sempre. Portanto, aproveite a oportunidade, mas não se esqueça do principal..." 
A mulher entrou na caverna onde encontrou muitas riquezas. Fascinada pelo ouro e pelas joias, colocou a criança no chão e começou a juntar, ansiosamente, tudo o que podia no seu avental. A voz misteriosa disse novamente: "A partir de agora, só lhe restam oito minutos." 
Esgotados os oito minutos, a mulher carregada de ouro e pedras preciosas, correu para fora da caverna e a porta fechou-se... Lembrou-se, então, que a criança ficara dentro e a porta estava fechada para sempre! A riqueza durou pouco e o desespero, sempre...
O mesmo acontece, por vezes, connosco. Temos uns oitenta anos para viver neste mundo, e uma voz sempre nos adverte: "Não se esqueça do principal!" E o principal são os valores espirituais, a vida, as amizades, o amor !!! Mas a ganância, a riqueza, os prazeres materiais fascinam-nos tanto que o principal vai ficando sempre de lado... 
Assim, esgotamos o nosso tempo aqui, e deixamos de lado o essencial: "Os tesouros da alma!" Que jamais nos esqueçamos que a vida, neste mundo, passa breve e que a morte chega de inesperado. E quando a porta desta vida se fechar para nós, de nada valerão as lamentações.
Teremos corrido a vida inteira de um lado para o outro, o tempo todo, esperando descobrir a chave da felicidade... 
...Mas é necessário abrir os olhos e pensar que as coisas boas estão dentro, onde os desejos não precisam de razão, nem os sentimentos de motivos. Enquanto tivermos alguma coisa a fazer, alguém para amar e alguma coisa a esperar, seremos felizes!

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Falecimentos



Faleceu o Sr. Francisco, marido da D. Maria Antónia, residentes em Passos de Ferreira, cujo funeral se realiza hoje, Quarta-feira 9 de Julho de 2014, ignoro a hora, nesta localidade.
Era um homem bom, simpático e respeitável… sempre que passava por Murçós de onde é natural a esposa, era com grande prazer e humilde satisfação que conversava com os moradores, e se dispunha a ajudar no que fosse necessário.
A todos os seus familiares, apresentamos os nossos sentidos pêsames

Paz à sua alma

domingo, 6 de julho de 2014

De regresso


Foi um final de férias particularmente doloroso. Estávamos no mês de Setembro de 1972. Logo no dia seguinte à festa dos chãos, que se realiza no 14 deste mês, onde, por todos os meios, inclusive o atestado médico, para justificar a ausência ao trabalho, eu sempre tentei estar presente… já a noite começava a cair e os pássaros procuravam, num chilrear apressado, um lugar seguro para passar a noite, ao abrigo do fresco orvalho que caía discretamente, encontramo-nos naquele lugar escondido dos olhares curiosos, ladeados por duas paredes “surdas e mudas”, vegetação selvagem indiferente aos acontecimentos, para o : “adeus até p’ró ano”… Foram tão poucas as palavras! Apenas um balbuciar de lábios molhados, pelos olhares lacrimosos, um sufoco que nos unia e a obrigação que nos distanciava, cruelmente, mas sem culpas nem responsabilidades.
 Estava dividido pelo destino entre duas paixões, que me martirizavam o corpo e a alma, não me deixando tomar a decisão certa, se realmente existia uma decisão certa? Embora tal decisão já tivesse sido tomada, influenciado pelas circunstâncias, quase obrigado para auferir de uma liberdade total.
Durante o mês de Agosto do mesmo ano, desloquei-me a Lamego, ao quartel onde trabalhava o 1º sargento Eduardo Pereira, a quem me dirigi recomendado por familiares seus, no caso de precisar de qualquer ajuda… registaram a minha apresentação como “compelido”, e pouco tempo depois fui chamado para ser inspecionado no Hospital Militar do Porto, cuja aptidão foi declarada. No dia 16 de Setembro parti para Paris, onde me esperava o trabalho e as diversas atividades culturais e desportivas, cuja integração prezava. Era membro ativo da associação Santulhanensse, uma comunidade empreendedora, simpática, vizinha, onde jogava futebol,
 
participava nos numerosos convívios, bailes, peças teatrais, torneios, - n’um dos quais conheci pessoalmente o agora famoso Tony Carreira, vocalista no grupo musical “ os irmãos 5”, - sobretudo nos fins-de-semana.
O tempo passava veloz como o vento, arrastando, a “contracorrente” a minha jovialidade vulnerável, o complemento de uma adolescência atribulada e condescendente… metáfora de esquecimentos e lembranças, de anseios, de sonhos.
Esperava-me no meu humilde quarto do 6º andar, uma carta vinda de Portugal, onde era solicitada a minha apresentação no quartel de Lamego, em tempo útil de 15 dias, caso contrário passaria a ser refratário… Caiu-me a “alma aos pés, com esta notícia… sabia que iria ser chamado, mas,… porquê tanta pressa? Agora era o meu coração que estava dividido em dois… abandonar os meus amigos, aquela terra acolhedora e maravilhosa onde por não sei qual ordem milagrosa se expandiram tantos desejos manifestos de felicidade?
Participei no escritório da fábrica Citroên onde trabalhava, a minha obrigatoriedade de deixar periodicamente o emprego explicando as razões, ficando tudo registado para no caso de querer voltar após o serviço militar, a admissão era obrigatória. Despedi-me também à presa de alguns dos meus próximos e amigos, meti os escassos haveres em duas malas, e triste como a noite, entrei para um táxi que me levou à estação de caminhos-de-ferro com ligação para Portugal.
Durante a viagem, num compartimentos de 8 pessoas, senti-me tão só, desamparado, à medida que, de olhar fixo no vazio da noite estrelada e fresca, refletia sobre as razões que me obrigavam a deixar o lugar e as coisas de que tanto gostava, entregando-me cegamente às peripécias desastrosas de uma guerrilha sem fundamento que não era de todo minha… enfiar uma farda durante tantos anos para defender o quê? Poderia ser mobilizado para o Ultramar, e de lá voltar com lesões profundas físicas ou morais, doenças infeciosas graves, ou até mesmo num caixão, como foi o caso de alguns rapazes nossos vizinhos. Estes pensamentos faziam-me arrepiar os cabelos, e revoltar-me contra mim próprio, arrependido por ter tomado tal decisão, quando podia esquivar-me a tudo isto. Um ato Patriótico, cívico que merece reverencia – diriam aqueles cujo interesse passava em primeiro lugar!
Abria-se então outra janela no meu pensamento, de onde via os meus entes queridos, a terra e as pessoas que tanto amava às “escapulas” como um fugitivo que apesar de não cometer nenhum crime, não me era permitida a passagem nas fronteiras, nem a permanência livre no País onde nasci, e sem esta liberdade jamais poderia viver feliz…
Adormeci profundamente, cabeça contra o vidro da janela, através da qual já não se enxergava nada da paisagem, apenas a escuridão da noite, caindo num sonho medonho, horroroso com seres humanos, mutilados, armas de fogo a disparar em todas as direções, granadas a rebentar junto de mim e de colegas que gemiam desmedidamente já quase sem vida, e eu que tentava libertar-me da trincheira onde caíra, rastejando, enquanto se ouvia ao longe a voz de Fernando Farinha cantar: - O soldado nas trincheiras…
Um vizinho de viagem tocou-me levemente no ombro perguntado: - Ça ne va pas?
Acordei em suor, e envergonhado com a pergunta, apenas acenei positivamente com a cabeça.
Entravamos em Irum, para trás ficavam as belas recordações de um Emigrante como tantos outros, que deixou o País para poder desfrutar da felicidade que lhe proporcionavam noutro lugar, sem complexos nem preconceitos, acarinhado e respeitado pelos seus valores e princípios, qualquer que fosse a sua profissão quando exercida condignamente.


quarta-feira, 2 de julho de 2014

Só por um momento






Por um momento apenas...


 ...Quero um pedacinho de tempo para poder descansar esse peso do mundo que carrego sobre os meus ombros...Um tempo onde não me perguntem nada, nem me peçam nada, apenas me permitam o direito de dar vazão ao pranto que venho engolindo com o café-da-manhã, enquanto visto a máscara de "olhem como sou valente e forte" ....
Quero ser a criança que pode chorar livremente até que me ponham no colo, restabelecendo assim, o equilíbrio que necessito para dormir em paz.
Quero aventurar-me na busca dos sonhos, sem ter que vê-los pintados com as cores do desânimo, ou coloridos com as cores do impossível... e quero poder brincar com meus sonhos como se fossem massinha de modelar ilusões .... lambuzar neles meus dedos, até 
 decidir quando precisam desfazer-se ...
Quero ter companheirismo também nas horas em que tudo parece ter- se perdido, e encontrar apenas um ombro onde possa repousar meu cansaço, um ombro que seja silêncio e carinho. 
Quero deixar que me invada toda a dor do mundo neste instante, porque ela é minha, real e única, e que como tal seja aceite e compreendida ... mesmo que eu ainda não saiba lidar com ela ...
E quero poder dizer : 
- Está doendo sim ! 
Sem assustar ninguém, causando uma revolução tão grande que meu mundo pareça ainda mais desabitado . Seria possível?
Daqui a pouco tudo vai parecer diferente e novo, eu sei. Vou secar os olhos e vou à luta outra vez 
e da dor hei de ressurgir mais forte... Porque sou noventa e nove por cento matéria que dificilmente se desintegra.
Então, por favor, por um momento apenas, neste meu pequeno momento humano, neste "por cento" de fragilidade, quero ser igual a todo mundo e chorar...
Desconhecido.