Herénia,
nasceu de um acidente sexual, entre um homem casado e uma moça de dezassete
anos. Coibida pelos progenitores desde a sua mais tenra idade, vivia um
sequestro parental, e seguida para onde quer que fosse passo a passo e rédea curta,
porque, conservadores católicos, desejavam – diziam eles – levar a sua pérola
rara, ao altar, virgem como a Santíssima. Porém, a moça carregava hormonas
fisiológicas atípicas, e quando completou os seus onze anos, recorria
frequentemente a métodos específicos para satisfazer os seus desejos intensos
no alapar da indiscrição, gemendo e contorcendo-se como uma tempestade incomum.
Numerosas vezes, em estado de êxtase, com a porta do quarto fechada por dentro
a sete chaves, sentiu junto da fechadura, um respirar afagado, talvez do pai ou
da mãe, o que a levava a restringir o elenco dos neurônios com um estresse
metabólico. Nas aulas, procurava as companhias de rapazes desinibidos, mais
velhos, e de uma fisionomia machista, mas, vigiados pela pide do colégio das
freiras, as hipóteses de ter relações com um deles, como tanto desejava,
tornavam-se impossíveis.
- Toda a
gente peca, e é nosso dever confessarmo-nos.
- Lá isso é
verdade… mas porquê agora se te confessaste ainda há apenas um mês?
Va lá mãe…
não vou fugir com o Sr. Padre?! E não quero ninguém na Igreja a guardar-me
porque me incomodam… que esperem cá fora.
- Se tal é o
teu desejo… vou dar ordens para…
-- Obrigada
Vestiu as suas roupas interiores cor-de-rosa,
um vestido elegante meio transparente preto, calçou sapatos de salto alto, e pôs
um batom caramelo, que fazia sobressair o seu olhar brilhante mas tímido, e o
coração palpitava a duzentos por hora. Receava que o seu plano abortasse,
depois de tão ponderado e pensado ao pormenor.
Adagalmir,
casado, dois filhos com 32 anos de idade, esperava o autocarro todas as manhãs
que aquela moça passava para as aulas e lhe lançava um olhar matreiro
acompanhado de um leve sorriso. Limitava-se a sorrir-lhe, até que um certo dia
viu cair junto dele um papel mano escrito que dizia o seguinte: Gosto de si,
mas não lhe posso falar porque os meus pais tem-me sequestrada desde que nasci.
Desejo-o com respeito pelo que seja, pelo que é e por tudo que se pode desejar
no mundo… porém só existe uma maneira de consumar a minha extroversão que me
mina e me destrói por dentro e por fora se por acaso recusar. Ofereço-lhe a
minha virgindade em troca de uma traição se por acaso for casado. Apareça no
dia 13 deste mês pelas 15 horas na igreja da comunidade do coração reciclado.
Entre para o confessionário, puxe a cortina, e deixe a porta aberta até que eu
chegue. Se é um homem faça o que lhe peço, depois nunca mais ouvirá falar de
mim.
Adagalmir
ficou estupefacto, perplexo, desarmado como uma criança sem saber o que fazer
com o papel que recebeu de uma moça menor desconhecida que lhe pede como quem
chama ao socorro, e ele pobre diabo, foi o sorteado para uma missão que se
revelava maléfica.
Ponderou
durante toda noite e quando chegou o dia x lá foi ele pé entre pé como se se
tratasse de uma armadilha. Mas não era, e tal como escrito esperava-o uma moça
esbelta, feliz por o ver ali entregando-se de corpo e alma, a um desconhecido,
envolvidos pelo pecado, esquecendo que mais alguém existia no mundo. Foi assim
que ficou nomeada: a pecadora da qual nasceu 9 meses depois Herénia a filha do
pecado.