sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Menino triste

O MENINO TRISTE Vi um menino descalço e triste De roupas sujas, rasgadas As lágrimas lavavam-lhe rosto Caindo-lhe dos olhos verdes como as águas Porque choras menino triste Perguntei pegando sua mão Tenho fome e tenho frio … respondeu Lá em casa não há pão Perante tão cruel realidade Que me fez doer por dentro Com um aperto no peito Sem saber o que dizer Peguei o menino pela mão E lhe dei uma refeição Dos seus olhos brotavam gotas Fecundadas pela miséria Um anjo puro inocente De olhar doce e cativante Uma alma que viaja sem maldade Um ser humano, pequeno e frágil Vítima da crueldade Deste mundo atroz infame Percorrendo aquelas ruas Com lágrimas num olhar triste Desconhece a felicidade E sozinho sofre…resiste Todos os dias eu corria No mesmo sítio ali estava O menino de olhos verdes como as águas À mesma hora por mim esperava Quando me via sorria O seu olhar transparecia alegria Porque a fome eu lhe matava E de voz rouca e mansa agradecia Se cada um de nós estendesse A mão a uma pobre criança Deixaria de haver miséria Passaria a haver mais esperança Acredito num mundo ideal Com homens de amor mais profundo Cuidemos de todas as crianças Que são o melhor do mundo Lurdes Rebelo

sábado, 24 de setembro de 2022

OUTONO

Outono São folhas de seda Caindo sobre mim E trazem no ventre Cheiros de alecrim São ventos que sopram Levando consigo Ternuras carinhosas Por caminhos que sigo Oh senhor! De terras bravias Serras nuas que não são de ninguém Onde vivem rochas amaldiçoadas Que foram um dia choradas por alguém De branca neve vestidas Que a lua com seus raios de luz faz brilhar Pedindo, rezando e clamando Para as andorinhas um dia voltar Despe-se sem vergonha a natureza Choram as nuvens no cinzento céu Tocam os sinos, uivam os lobos O que terá sido que aconteceu Porque só as viúvas vestem de negro E a chuva desapareceu AB

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Naqueles tempos, onde e quando tudo escasseava, e os meios eram mais que restritos, a imaginação chamou-nos a um canto de rua para nos segredar marchas e o teatro de ruas improvisados. Eramos jovens, porém, dentro de alguns de nós, mexia um bichinho improvisado, para alegrar tristezas que não pagavam dividas, com poucos meios, rebuscados nos confins de lugares sem nome, já sem esperança de um dia voltarem a servir orgulhosos com os aplausos dos numerosos presentes, porque era dia de carnaval e festa é festa. O elenco prestigioso, que mais abaixo tentarei citar pedindo desde já per dão aos esquecidos, por terem já passado mais de 50 anos, onde já nem a memória de elefante consegue lá chegar, de juventude que ali nasceu, filhos de pobres e de ricos, conhecedores do que o povo gostava para passar um dia bem passado. Os ensaios ocorriam em noites gélidas na casa dos da Eira onde a Aninhas e uma prima de Meles tentavam meter na cabeça de principiantes, junto à lareira que ardia alegremente, cantigas trazidas não se sabe de onde, enquanto o resto dos familiares sumia para não transtornar. Aprendia-se primeiro, e durante muitas noites, a letra e a música, e só depois entrava a cooreografia naquela grande cozinha, de piso irregular porque o tabuado tinha destas manias, ralhando com as colegas e querer subir mais umas que as outras… tropeçar fazia rir ou corar, mas as mestras colocavam logo toda a gente no seu lugar. Saíamos muitas vezes passava da meia noite, e os cavalheiros acompanhavam sempre as donzelas aos seus domicílios. Ao mesmo tempo a Augusta encenava a sessão de tarde na antiga casa do povo onde se realizaria o evento, tendo como palco dois reboques de trator ornamentados com zelo e gosto, trabalho e esforço dos que consideravam a sua maneira de participar. Assentado no centro um fardado com galões de capitão confecionados com serpentinas e o empréstimo das vestimentas de alguém que estava no exército. Já repleto de público aguardando as cenas, saíam lenga, lengas cantares e imitações e o povo alegre e contente gostava. Finalmente o ato mais esperado; Entrei eu vestido de capitão e assentei-me junto à escrevaninha, para formolizar a inspeção de mancebos com capacidade de exercer o serviço militar. Apresentou-se o 1º, o meu irmão Carlos, numa marcha digna dos guardas da rainha de Inglaterra, e batendo com uma bota na outra ao mesmo tempo que fazia a continência de braço estendido e mão bem colada à testa perguntou: Dá licença, meu capitão? Licença para quê? Ir a baixar as calças? Estás a ser inspecionado rapaz e só os fardados estão autorizados a fazer o que fizeste bastante mal. Como te chamas? Vasco ou morcão… respondeu o outro atrapalhado... Mau? Ou és vasco ou morcão? O meu pai é vasco, e os meus irmos também. Então a tua casa está cheia de básicos? Num é bem assim… também nos chamam morcões, menos as raparigas e a minha mãe que não dava… elas são lambisgoias. Família complicada… ah ah ah! Já compreendi. Marcão… claro. Vamos ao que interessa. Quanto medes pesas e idade? -respondeu sei lá! Olha vasco se te mandasse levantar os testículos o que levantavas? – ergueu os braços, enquanto o capitão balbuciava: de facto sois todos bascos. A cena terminou com podes ir. Seguidamente veio a Augusta com a cena das bolinhas do nariz e cantou-se a despedida tinham passado duas horas. No prado exibiam-se com cantares e lindas danças a rapaziada das Cabanas, aplaudidas e acariciadas como gente de honra e consideração, antes de começarem as nossas marchas, preparadas no palheiro do Sr. P.e. Dois a dois iam saindo com os seus pares e o mastro ao centro do qual saiam fitas de todas as cores que enquanto se cantava os pares trocavam, desenrolando, ao longo de dez metros, ondeando ao baixar-se e levantarem-se, uma maravilha coreográfica. Das canções lembro-me apenas de uma desgarrada com a Jacinta onde o cavalheiro (eu) vestido a rigor se dirigia a umã aldeã esbelta e bonita cantando: Adeus ó minha menina Peço que me dê atenção Gostava de saber o seu nome Porque é da minha afeição Tem uns olhos tão bonitos que ferem meu coração Resposta: Não me venha com essas palavras Porque é tempo perdido Ainda não sei namorar Porque sou muito novinha Mas o meu nome é Maria E vivo com minha madrinha - Não tenha medo menina Por tudo o que me está a fala tudo aquilo que não souber A madrinha lhe vais ensinar Dê-me só um beijinho E comigo vai casar (rouba-lhe um beijo) e ambos saem de cena com os aplausos O adeus era assim. Rebordainhos terra branquinha Ao pé da serra brilhante Olhas o céu com ternura E para os pobres confiante Refrão: Aqui viemos Com fé em Deus Senhores e senhoras dizemos-lhe Adeus Do elenco faziam parte António, Carlos, Moisés, Fernanda, Jacinta, Adília, Mavilde, António Pires, Augusta, Maria Augusta, Pedro, José Maria e que me perdoem os que esqueci

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

In dia de sorte

Dia de sorte 54 por AB Francisco desceu quando ouviu o automóvel partir, furioso por fora e magoado por dentro. Tinha conseguido tudo do melhor que a vida pode dar, com a ajuda daqueles que expulsa, o pai sem culpa nenhuma, e a mãe que o amamentou, lhe mudou as fraldas e o levou ao jardim onde brincou até à exaustão, com outros miúdos aparentemente como ele, até que se começou a revelar a adolescência trazendo na bagagem o inesperado, porque ninguém nasce perfeito. Naquele mesmo dia, depois do pequeno almoço, saiu de casa depois de beijar os avós, cuja saúde tinha decaído consideravelmente, e lhe martirizava o pensamento provocando o receio que mais tarde ou mais cedo aconteceria. Tentou limpar essa imagem do seu cérebro, e como um perdulário explorador percorreu a quinta de uma extremidade à outra notado pormenores sem relevância coelhos que se escondiam, ratos que brincavam perto da toca, rolas com o seu cantar de adormecer, amoras silvestres que comia em miúdo, os patos e os lfaisans banhando-se no lago e levantando voo sacudindo as asas, o gorjeio dos passarinhos, de todas as cores e tamanhos, o rouxinol que na ponta daquela árvore crescida que parecia querer atingir as nuvens que tinham viajado para outros lugares deixando um azul claro ao firmamento. O paraíso que o libertava da podridão mundana, das invejas e preconceitos, daquele veneno de moer lentamente. Era meio dia, como o tempo passava rápido! Um criado depois de muito o procurar, veio chamá-lo porque o avô não se sentia bem. Subiram os dois para o cavalo, e em poucos minutos estavam junto do moribundo. Francisco não perdeu tempo, enrola dois cobertores, e com os seus fortes braços conduziu-o imediatamente ao hospital mais próximo, sentindo penetrar-lhe o coração aqueles choros já quase sem alento da avó a quem lhe foi recusado o acompanhamento. - Eu volto para a levar quando o avô estiver entregue nas mãos dos médicos. Foi imediatamente internado e o primeiro diagnóstico revelava o fulminar de um ataque cardíaco, pelo que foi ligado ás máquinas úteis e sedado com fármacos que em vinte e quatro horas ditariam o resultado. Francisco ajoelhou diante de um médico e com voz trémula pediu que salvassem o avô por amor de Deus… - Fica tudo dependente dessa esperança, nós já fizemos o que nos é possível. Correu para o automóvel e foi buscar a avó desesperada em casa. Quando voltaram, embora debilitado, o doente estava consciente, mas não era aconselhável cansá-lo com perguntas. Assentaram-se os dois em cada lado da cama, segurando-lhe uma mão, como quem não quer deixar partir, e aquele olhar terno vagueava de um para o outro, de onde corria uma lágrima de adeus àqueles que tanto amava. Porém, os médicos reconfortaram aqueles amores com uma notícia, da sua reação aos efeitos medicais. Os batimentos são ainda muito baixos, contudo o seu estado estabilizou pelo que podem voltar para casa, comer e dormir porque deus é grande.

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

O por do sol. Por Ab Quando presenciamos, agarrados a sonhos perdidos, desilusões que perderam o afeto, onde a família era constituída, considerada, respeitada afetuosamente durante gerações, por detrás da serra que vigia permanentemente o grito de uma criança desacorrentada na excisão do cordão umbilical que ligou durante nove meses, a mãe, aquela que lhe deu vida, sofrendo e chorando por amor, e a dor de um velhinho abandonado num quarto de miséria, deitado numa cama que cala as desgraças, com fome e frio, e o desejo de morrer antes de ser comido pelas ratazana, suplicando o Deus crucificado num rosário de penas, que um dia, quando ainda a sua esposa vivia, pendurou na cabeceira diante do qual se ajoelhava e dava graças, antes de adormecer, a pensar já no dia que se seguia. Tinha uma família pela qual sacrificou um viver doloroso, dando-lhes tudo, acariciando-os, nas noites geladas junto à lareira, aqueles cabelos de seda, beijando com suavidade e muito amor os rostos dos netos que lhe pareciam frágeis. Estudavam nas grandes cidades, onde viviam com os pais, desterrados por razões sociais e económicas, porque da terra já não se extraíam centavos para “fazer tocar um cego”. Vinham passar todas as férias com os avós, naquela modesta casa que lhes dava carinho, amor, sustento para o corpo e para a alma, rindo e brincando através de montes e vales onde não havia restrição para a liberdade. Aquele pequeno rio lavava todas as impurezas que traziam com eles e o sol ou a neve fascinavam aqueles cérebros vulneráveis profundamente, enquanto as idades foram aumentando para todos. Começaram aparecendo uma vez por ano, e a demora era de poucos dias. O casal sofria imenso com a ausência daqueles que davam vida às suas vidas. Não era de carros caros e bonitos que necessitavam nem de vindas esporádicas, nem saber que eram engenheiros, médicos ou comerciantes de coisas banais, faltava-lhes o amor e carinho que lhes roubaram, aqueles gritos que faziam estremecer as paredes agora silenciosas e frias. Depois chegou aquele relâmpago de AVC que levou aquela que sempre foi mais que uma companheira, e o castelo foi-se desmoronando, aumentando a apatia a justificação de viver. As crianças eram agora adultos com febre de grandezas desdenhando lugares e pessoas aqueles que um dia ouviram o grito do seu nascimento da mesma cama que hoje a falta de sentimentos martiriza, moendo lentamente até já não ver aquela pequena luz ao fundo do túnel.

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Fui ao mar perdi o lugar

Fui ao mar e perdi o lugar.: por AB O jogo de miúdos amplificado e jogado hoje, permanentemente pelos adultos, no dia a dia, em casa ou nas ruas desertas e solitárias das Aldeias que em tempos acolheram mendigos, e artistas nas artes manuais que foram desaparecendo, (como as notas de 500) dos lugares provisórios onde se instalavam encostados entre duas paredes, debaixo de árvores que levaram com elas estórias cantadas ou recitadas como em teatros de rua, cuja encenação improvisada surgia de uma frase despegada, de um conto improvisado, da penúria e da miséria que perseguia os que nasceram para ser desgraçados, em tempos gelados e famintos, em tardes abrasadoras de verão quando o sol se zangava lançando raios que penetravam os ossos de corpos quase esqueléticos, como está acontecendo em África que ninguém vê nem ouve o choro já inaudível sem fôlego, e o socorro não chega, porque ninguém o chamou, porque foi por todos ignorado, em lugares onde os milhões se acomodam num prurido de desidratados rastejando numa lentidão horripilante para jamais alvejar o que o destino traçou. Lugar perdido, lugar sem tino. São tantos os cães que anseiam roer o osso e esperam na fila horas de desespero receando não chegar a sua vez, após horas de espera, de barriga vazia, cansaço que as velhas pernas já mal aguentam: cai-lhes a água até aos cantos da boca e não descola os lábios que escondem as gengivas. Engolem em seco e a dor torna-se mais aguda, mas não se queixam. Longe vão já tantas vivencias onde existiram mais baixos que altos, e os sacrifícios eram o pão nosso de cada dia. Lugar amado aqui te deixo aqui te trago. Ser jovem é a maior prenda do destino. No seu primeiro carro um jovem é rei. Esteja onde estiver, aquela coroa pertence-lhe… foram tão longos os tempos de espera! Tempos intermináveis fechado naquele quarto a estudar até ter dores no rabo, para não dececionar os progenitores, e transportar uma bagagem repleta de sonhos realizados para o viver que o espera. Terá agora mais tempo para dedicar aos amigos, namorar e amar os filhos que vão nascer. A sua família, onde os carinhos e afetos ocuparão aquele vazio que de longe vê florescer a felicidade. Quem nunca passeou nestes jardins coloridos e perfumados terá sido escravo do seu ego. E o tempo passa tão rápido! É caminhando na boa direção que se chega ao destino. O ARREPENDIMENTO É DO QUE NÃO SE FEZ

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Cartas de amor quem as não teve? Por AB A carta que o Alfredo escreveu á namorada dizia assim: I Maria ando atarantado que nem posso…já pensei ir ao médico, mas a vergonha é tanta! Para saberes só te posso dizer: sabes onde fica Bragança e Vila Real, pois o mal é em Mirandela. Compreendes o que quero dizer? Resposta: Então seu esfomeado foste às p…. agora sobes a serra e rascas as nádegas pelas carquejas. II A Maria Rita louça fina a preço barato ia à fonte quando o Tobias carrancudo lhe entregou um envelope de papel fino. Escondeu-o nos seios depois de verificar que não havia por ali olhares indiscretos, e por detrás da fonte do Espinheiro começou a ler: Minha pachorrinha. Li a carta que me mandaste, mas como não entendia népia pedi au casulo para ma ler. Comecei aos saltos quando ele me explicou que aquiescer era aceitar. III A Paula, já crescida e gorda não cabia nela quando viu passar a mala do correio que um burrito transportava sob uma chuva torrencial que até as orelhas do animal quase chegavam ao chão. Namorava fora com um mancebo de Miranda do Douro, que um dia veio à terrinha entregar uma charrua CB3, e se cruzou com ela num velho armazém, não perdendo tempo para lhe pedir namoro enquanto os familiares não chegavam. Ficou vaidosa como uma madalena, pois não era para todas namorar fora, aceitou imediatamente. Recebeu a 1ª carta dias depois que dizia assim: Estamos tramados com este namoro a tão grande distância. Não podias pedir ao teu pai para ir a bragança que eu tenho lá um quartito alugado para podermos “furnicar” à vontade. A fome é tanta! Como a inocência permanecia anos nas virgindades, a rapariga perguntou ao pai o que era “furnicar”. A resposta imediata foi o cabo da espalhadoura nas costas até partir. Então não queres lavar o louça e já queres f….. vais f….. todas as noites com os potes grandes, ai vais. IV A Aninhas envolvida na cristandade até ao pescoço, tinha já uma idade avançada sem nunca namorar. Não era bonita e aqueles pelos no queixo faziam fugir os rapazes à légua. Passava a maior parte do seu tempo na igreja a arranjar os altares, os paramentos do P.e e as flores que pedia a uma ou outra na eucaristia do Domingo. O padre já velho beijava-a ainda com ganas de quem quer comer, mas como a fisga estava sempre voltada para o chão, contentava-se com um obrigado lambido. Pouco tempo depois as artroses obrigaram-no a deixar a paróquia e foi para o lar de S. Bartolomeu. Veio um novo e reguila substitui-lo e um dia na sacristia apertou-lhe as nádegas com as duas mãos. Levou uma chapada que quase caia de cu, e dali para a frente a Aninhas só entrava à sacristia se não estivesse lá mais ninguém, Casou já com 40 anos com um mancebo vindo do estrangeiro e ainda tiveram uma filha
Cartas De Amor Tony Matos Como jurei, Com verdade o amor que senti Quantas noites em claro passei A escrever para ti Cartas banais Que eram toda a razão do meu ser Cartas grandes, extensas, iguais Ao meu grande sofrer Cartas de amor Quem as não tem Cartas de amor Pedaços de dor Sentidas de alguém Cartas de amor, andorinhas Que num vai e vem, levam bem Saudades minhas Cartas de amor, quem as não tem Porém de ti Nem sequer uma carta de amor Uma carta vulgar recebi Pra acalmar minha dor Mas mesmo assim Eu para ti não deixei de escrever Pois bem sabes que tu para mim És todo o meu viver Cartas de amor Quem as não tem Cartas de amor Pedaços de dor Sentidas de alguém Cartas de amor, andorinhas Que num vai e vem, levam bem Saudades minhas Cartas de amor, quem as não tem. Fonte: LyricFind Feedback

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

O livro que jamais escreverei por AB São folhas brancas como a neve, que um vento veloz despedaçou, rascunhos de noites à vela procurando na imaginação fugitiva, o enfeite da credibilidade, ou o molde transformador de sonhos e desejos, capaz de capturar o leitor e mantê-lo ligado por laços invisíveis á história que o narrador tentou idolatrar com apego e mestria, informando-se, pedindo pareceres, manipular palavras transformá-las em romances poéticos, sejam eles autobiográficos ou de ficção científica. Este livro acompanhar-me-á quando o coração deixar de bater, os olhos se fecharem pele última vez e o corpo gelar. Comigo levarei o esvaiu de um viver intenso onde reinou a alegria, a esperança que sempre me acompanhou, o amor e a felicidade, o carinho que sempre dediquei aos mais vulneráveis, idosos e crianças, conquistas e desilusões sem nunca abdicar dos valores e princípios, tentando erguer-me quando tropeçava e caía, ou na ajuda dos que careciam dela. Levarei comigo folhas soltas, escritas e rasgadas, como as nuvens pelos aviões, porque não se pode dizer tudo sem que as consequências interfiram ferindo suscetibilidades, como rasto de víboras, ou as pegadas de um menino deixadas na neve. Um livrinho pode ser escrito por toda a gente. Um livro é diferente. Para atingir o título de obra são necessários anos e um trabalho árduo juntamente com imaginação fértil, onde as palavras nascem na ponta da caneta para serem transformadas significativamente em pérolas raras. A consideração, respeito e fanatismo só se atingem após imensos exames e provas sem fim. Se é verdade que para ser grande escritor é necessário escrever, editar e publicar, também é verdade que remar contra a maré é uma perca de tempo. Alguns ficam pelo caminho por falta de auxílio. As editoras mais reputadas selecionam, os autores já conhecidos, aqueles que vendem. As que pedem aos escritores para arranjar cinquenta ou sessenta compradores, que paguem adiantado, são aquelas que não confiam no que vão imprimir, e são os leitores a pagar a desconfiança. Existe ainda outro sistema que é de perguntar o Nº de exemplares, com ou sem ilustração que deseja editar, o Nº de páginas redigidas e corrigidas (às vezes mal) com cortes dos supervisores e a aprovação do escritor em troca de um pagamento, já com direitos de autor, com entrada de três quartos e o resto no final. Não tem livrarias próprias pelo que se limitam a colocar um ou dois exemplares no site onde podem fazer encomendas, quebrando 1,50 como comissão. Dizem que fazem a publicidade e que propõem às livrarias o que é falso No meu livro levarei a falsidade encarnada no ser humano, a corrupção que jamais será libertada, o adultério em religiões desacreditadas, a hipocrisia surda e muda, a avareza que é o que mais me pena. A PALAVRA É DE PRATA, O SILENCIO É DE OURO

terça-feira, 6 de setembro de 2022

À porta AB Deixa lá fora as vestimentas cheias de nódoas, que ambos manchámos, não precisas bater à porta, sobe as escadas quando o sol se esconder por detrás das nuvens que criámos, e de olhos fechados tenta adivinhar onde nos escondíamos para crescer, no silencio das imposições que tantas vezes umedeceram olhares discretos que nos envolviam em soluços profundos, penetrantes, e nos amarravam a um porto que não nos pertencia, a sonhos impossíveis, onde navegávamos parados à espera daquele milagre que tardava, tardava tanto a surgir! Alguém ordenou que jamais se realizasse e nós continuávamos a esperar, não tínhamos pressa, era o desejo a sufocarmos, o desalento a confirmar que a nossa luta vã se perderia num destino sem promessas num presente desvanecido e moribundo num futuro sem “lendemain” que acabaria como começou, Nunca na vida…

sábado, 3 de setembro de 2022

O burro

O burro do Malino por AB Comprou-o na feira d Cãos a um dos ciganos laregos, n’um dia de feira, para emparelhar com o russo da Portela, porque um dá sempre menos despesa que dois, e as boas propriedades agrícolas eram dos donos, contentando-se os compadres lavrar por volta da fraga grande da ladeira e do lado de lá da ribeira onde os pobres animais mal se seguravam em pé e o centeio nascia por milagre, franzino e a espiga só dava o que tinha que não era grande coisa. Um ou outro valido também incluíam as propriedades que o estado atribuía aos que retirassem o monte com a enxadão, carquejas, e silvas num solo argiloso que não cobiçava aqueles que apresentavam nas eiras “medas” de mil ou duas mil pousadas. Durante o trajeto que separava a Aldeia da feira, de rédeas na mão, e uma cabeçada novinha (dizia o larego) quando se efetuou o pagamento em notas de vinte escudos, exigência do vendedor, que segundo o seu dizer já tinha visto pagamentos com notas de 100 escudos falsas, o Malino apressava o passo, mas o burro puxava para trás, parecendo uma dessas danças: ó pra trás, ó pra frente. Tentou montar sem albarda que não estava incluída no preço, mas num abrir e fechar de olhos, o burro levantou as patas de trás e o montador “emboligou” a camisa lavadinha e passada a ferro pele esposa na lama do caminho. – Vais pagá-las! E dizendo isto torceu ligeiramente o pescoço para a capela das Santas Agracias como a pedir que o desculpasse, por uma vez? Finalmente quando chegou ao destino com outras peripécias à mistura, foi imediatamente chamar o dono do burro velho e russo para lhe mostrar a compra, estava roendo uma palha cheirosa quando os dois entraram na estrebaria. -Bela compra, ã disse o malino com um sorriso nos lábios. – Sabe lavrar? -Perguntou o outro -Claro! Achas que eu comprava um burro manhoso por 5 notas de vinte? - E deixa-se montar? -Deixar que remédio vai ter… eu trato-lhe da saúde. - Não me digas que… - Mesmo em frente da capelinha! Que vergonha! - Pois caro sócio, ati chamam-te malino e ele como se chama? - Não sei, mas confia em mim vou-lhe arranjar um nome. Devias tirar-lhe a cabeçada e dar uma olhadela à boca para te certificares que ainda tem bons dente. - Achas? Claro, não é assim que se vê a idade dos burros? Temeroso, receoso o malino nunca dava parte de fraco. Dirigiu-se para o animal e quando passava perto, um couce desferido por surpresa apanhou-o ligeiramente num membro superior atirando-o para uma palha suja e molhada de urina. Furioso com tão grande humilhação, pegou num pau que estava à mão e desatou a bater no burro que se defendia com as patas. Tirou-lhe a cabeçada e o animal quando se sentiu liberto, veio mostrar os dentes ao dono mordendo-o num ombro que começou a sangrar continuamente enquanto seguiram os dois homens para a casa mais próxima para fazer curativo com o que existia. Maldito cigano murmurava o malino… disse-me que era mansinho e que fazia tudo, e os outros assinavam. Quando o vir não sei o qua lhe faço