Padre Delfim “Batouxas”
Quarenta e tais anos dedicados às Paróquias: Murçós, Espadanedo, Soutelo Mourisco, Cabanas, Vilar-Douro e Vouzende, e seus Paroquianos, deveriam suscitar, nas suas gentes, como ele dizia, mais consideração, respeito e dedicação, para os poucos anos que lhe restarão na companhia dos vivos.
Vindo de uma Aldeia do concelho de Moncorvo, situada no fundo da serra de Bornes, “Burga", rodeada pela magnificência da paisagem, trouxe com ele, a simplicidade, energia,
fé e comunicação material e espiritual, entre gentes com princípios e valores, apesar da grande percentagem de analfabetismo, existente nas décadas das: “ vacas magras”.
Vocacionado para o Sacerdócio, teve a sua formação, como tantos outros Sacerdotes, no Seminário de Bragança. Fisicamente de porte elevado, alto, magro, despachado, “ como se diz por cá. Residia em Soutelo Mourisco, deslocando-se a pés, para as suas Paróquias, com as intempéries invernosas rudes, rigorosas, neve, chuva e ventos, impostas pela altitude, e a Serra da Nogueira. Jamais vacilou, e nunca renunciou às suas obrigações, passando horas nas suas longas caminhadas, derivado aos percursos, os quais com seus largos e rápidos passos, devorava sem receios nem preconceitos. Tinha uma particularidade, exprimia-se com tanta rapidez que muitas pessoas não captavam tudo do que ele dizia.
Numerosas vezes o viram passar em direcção à estação de Rossas, sempre apressado nos seus largos passos, talvez apanhar o comboio numa visita à cidade ou ao Seminário. Familiarizava-se facilmente com as pessoas, entrava nas casas delas, e não se acanhava a levantar o testo do pote ao lume, para cheirar ao mesmo tempo que perguntava: que temos hoje para o almoço? Subsistia com poucos meios em relação aos colegas, que lhe chamavam: o padre pobre… pelo facto de se contentar com os magros donativos dos Paroquianos, não quebrava tostão pelos baptizados, casamentos, e algumas missas ou responsos. Só já bastante tarde, adquiriu uma moto, e depois um automóvel velho que nem a salve-rainha.
Também tinha os seus defeitos e pecados, mas, ainda hoje, em Murçós se evoca o nome do P.e Batouxas, como flexível, moderado, sempre disposto a ajudar, sem ambições desmedidas, acções repressivas e vaidosas.
Aos 10/7/ 1989 mandou edificar uma cruz gigante para comemorar o dia das comunidades, num local escolhido a condizer com o seu significado; o cruzeiro. Por aqui passavam a maior parte das pessoas que viviam nas comunidades mesmo longínquas. Infelizmente, como o Padre Delfim, também os festejos neste lugar passaram ao esquecimento… talvez porque não revertiam fundos suficientes para os cofres Diocesanos, assim, os convívios perdiam todos os interesses.
No Lar de Cabeça Boa, o Padre Delfim, envelhece cada vez mais, juntamente com as recordações de ter feito e propagado o bem, recebendo em troca, ignorância que a justiça humana fabrica ao abrigo do orgulho e da ingratidão.
Honra prestigiosa premiada com a medalha humanista e justa.