domingo, 29 de novembro de 2015

Os azeitoneiros 2015

Novo ano de abundante azeitona, cuja recolta começou mais cedo, primeiro porque o tempo permitia, segundo porque o verão veio quente, e por conseguinte caía, mal começava a estar preta. O segundo melhor olival do mundo! – Comentávamos eu e o Vítor (poulo) que veio de baixo mais uma vez visitar o lugar onde tem raízes profundas, e ao mesmo tempo apanhar a azeitona – o olival dele é o 1º do mundo – que ficou adiada para Segunda-Feira lá para os lados das covas ou vale de raposo, segundo critérios. Voltando ao Vítor, creio ser do melhor que se criou em Murçós, tanto em humildade como simpatia… uma pessoa íntegra, capaz de ajudar o próximo sem qualquer espécie de pretensão interesse ou coisa que se valha… nunca chega de mãos vazias; um agrado para ele vale todo o ouro do Mundo…  desta vez foi o pão-de-ló que
serviu para a sobremesa, e o vinho do porto para os aperitivos… porque o nosso jovem rancho, apesar de trabalhar, foram 60 sacas a baixo, brinca, canta, diverte-se com as “piadas” de hoje ou de outros tempos, onde a harmonia prevalecia sobre o cansaço, a união fazia a força, tanto para  “derrubar” oliveiras”, como se diz lá para Ferreira, como para qualquer outro trabalho, que é o que não falta em Murçós, terra quente e fértil onde a faina cotidiana consequentemente, acabaram as castanhas começou a azeitona, a seguir vem as podas, sementeiras, arranca de batatas, vindimas e tudo o mais, desordenado no meu relato, e como se costuma dizer: - Há sempre que fazer, embora mal recompensado, pois a agricultura de pequeno “gabarito” onde o tradicional se sobrepõe ao modernismo mecanizado, devido ao terreno acidentado e às pequenas parcelas, anda pelas horas da amargura… quase é trabalhar
 para aquecer… o esgotamento dos produtos fica-se por uma pequena cooperativa na sede do concelho, cujos preços baixos servem apenas e somente o interesse de quem lá trabalha e recebe um ordenado no final do mês… mas, voltando ao nosso rancho de azeitoneiros, e ao tempo maravilhoso de sol que se vive neste momento, é uma alegria saudável, para o corpo e espirito… as paisagens são de um esplendor primoroso… pelos campos ouvem-se máquinas manuais a roncar por todo o lado, e pessoas que nesta época invadem os campos carenciados de movimentos durante o resto do ano… boas merendas assadas e comidas na virgindade da natureza, mãe dos prazeres ópticos, e dos sabores biológicos, dos suores correntes ocultos por serras, vegetação que nos alimenta de oxigénio revitalizando o que outros tentam destruir com maldades mundanas, mentiras, falsidades, hipocrisia muita… vale a pena? Sim vale
 
mesmo a pena… tenham os citadinos todas as riquezas mundanas acessíveis e as comodidades confortáveis, que os arrastam para a avareza, que os incentivam ao isolamento de onde saem carregados de doenças psicológicas, e serão arrastados para uma cova como todos nós, e mais depressa que imaginamos… contam os mais idosos as belas histórias como se vivia antigamente nos locais rurais, e se divertiam depois do trabalho com meios restritos… é esta sanidade que dá alento aos persistentes que voltam de tempos, a tempos, ou definitivamente. Um pôr de sol como o que se vê nas fotos que servem a ornamentação só por terras puras… traçam no céu azul os aviões rotas que levam talvez ao progresso, mas os passageiros olham

 para baixo e invejam-nos… os azeitoneiros, sujos e pequenos, não os ouvem… esqueceram as impurezas mundanas para se concentrarem na luta convencional entre as frutíferas árvores  que retribuem em frutos os sacrifícios e alguns euros gastos.
E o grupo ri e canta porque o trabalho se realizou, e o sol baixa cada vez mais até se pôr… missão cumprida… fomos os últimos a sair e os primeiros a voltar para casa… e a ginjinha que o Mesquita trouxe, produto artesanal exclusivo seu, serve para brindar à força e união, assentados junto da casa do Manuel, no repouso bem merecido, acabando com o resto do

pão-de-ló. Uma família como tantas outras… um trabalho como tantos outros… mas… Uma harmonia inesquecível que nos presenteia com a integridade coletiva. Na Segunda-Feira ´há mais, no melhor olival do mundo, o do Vítor, onde não faltará boa merenda e outro pão-de-ló, que até pode ser comido pela cadela Maguy como já aconteceu noutro ano com António Brás Ana, Ângela, Filipe, Vítor, Mesquita, Manuel






 



































































segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Atentado em Paris

A noite foi sangrenta… os bárbaros sugadores de sangue humano voltaram ao lugar do crime, onde alguns deles nasceram, para matar, matar; tal como predadores selvagens para mostrar ao mundo a capacidade ingénua de garotos sem cérebro, que até nem foram criados em guetos, nem têm ideologias religiosas ou politicas, são uns pobres mafarricos, que depois de terem provado drogas, encharcado no álcool, jogar ao “ caïd” do bairro como pura exibição, procuram sensações aterrorizantes com armas, que superiores lhe colocam nas mãos de putos vulneráveis ordenando armadilharem-se morrendo como mártires por uma causa sem fundamento justificável… ser Muçulmano islão, com caracter jihadista não implica degolar a sangue frio exibindo as vitimas como ignóbil chantagem, tratando-se de inocentes, isentos, seres humanos, chorados pelos seus que ficam cá mas marcados para sempre. Como não poderá haver ódio, raiva, sede de vingança?
Desta vez escolheram a cidade que tanto prezo, lugares conhecidos onde na minha juventude nos encontrávamos Sábados pela noite para conviver, dançar, pois nesse tempo, era ainda, o Bataclan
, um dancing onde atuavam ao vivo bandas, e centenas de jovens de origem Espanhola e Portuguesa vinham divertir-se, Boulevard Voltaire, junto da praça da Republica Francesa, que nos acolheu a todos de braços abertos, ainda que num miscigenado sem racismo nem xenofobia. Como podem os filhos de uma mãe que os embalou, acariciou, nutriu, apontar as armas para os netos da mesma, e, a sangue frio, disparar com atroz ferocidade, sem pena nem remorsos?

Mesmo não possuindo um coração capaz de lhes proporcionar outro sentimento que não fosse o do ódio, e tendo a alma contaminada com a raiva, o espirito moribundo com a lavagem de cérebro, tiveram a cobardia de vê-los cair como “pantins” aterrorizados, alguns por certo suplicando que não os matassem… Partiu-se-me o coração há meia-noite do dia 13 de Novembro de 2015, ao receber as primeiras noticias do drama ocorrido num lugar de paz alegria e divertimento que serve hoje como acolhimento aos fãs de revistas e outros espetáculos. Vivi profundamente o luto deste horrível atentado, onde mais de 130 perderam a vida, e milhares de outras as chorarão para sempre… como gostaria poder depositar uma rosa branca, símbolo da paz, na campa de cada um…tal como a solidariedade demonstrada em todo o mundo, onde as cores bleu blanc rouge estiveram em realce sobre monumentos representativos de la liberté égalité fraternité três palavras que simbolizam um povo com o qual aprendi tanto, e que tantas vezes li na faxada da Assemblée Nationale, do lado de lá du pont de la Concorde, rive gauche.
A tour Eiffel apagou-se, para em silêncio chorar os seus mortos e feridos…l’Arc du Triomphe comunicou às treze avenidas que o rodeiam a indignação de quem abriga o tumulo do soldado desconhecido… Nôtre Dame isolada na Ille de Saint Louis, perdoa e através do pai de uma das vítimas responde aos atrozes malfeitors: - Vous naurez pas ma haine… e no Louvre onde as obras de arte convidam à visita de milhares apaixonados, soltou da pirâmide a cólera que levou até à Síria a mensagem de guerra, que por certo fará mais vitimas inocentes. Mas… como prender os culpados se como os ratos se escondem ao abrigo das suas barbaridades?
Também le Petit Cambodge junto ao hospital bichat sofreu as consequências maquiavélicas destes terroristas. Para todos os que partiram, familiares e amigos os meus sentido pêsames.
O Estádio de França, apesar da perca de um compatriota, e uma senhora, merece os elogios de quem controla as entradas e conseguiu evitar uma tragédia ainda maior. Que a paz e harmonia reine no mundo dos vivos

domingo, 15 de novembro de 2015

navegando

Vista espectacular do alto da serra mourisca


















Murçós banhado de nebulosidade a baixa altura, anunciando a azeitona

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Dons

Nascer com um verdadeiro dom, é um presente, vindo não se sabe de onde, nem quem é o remetente, prevalecendo o mistério por desvendar, relativamente ao facto de entre a galinha e o ovo, qual deles nasceu primeiro? Sabemos qual é a cor do cavalo branco de Napoleão… incógnita sobre o privilégio de uns, os quais já nasceram em berços doirados, superdotados nas diversas e variadas caminhadas da vida, enveredando por caminhos largos e floridos… com sorte? Enquanto outros são perseguidos pelo azar, do nascimento até à morte, transportando a cruz que lhes caiu sobre os ombros, ordenada não se sabe por quem, segundo a crença de cada religião, mas que, por mais esforços que façamos, boa vontade e otimismo, esperança e desespero, não se passa da: “cepa torta”.
Se nos cingirmos à religião cristã cujos pragmatismos revelam a criação do Mundo e da humanidade, diz-se que somos irmãos, filhos de um só pai, mas diferentes durante o período de vida… a morte essa não faz a diferença entre as variadas etnias, as cores que suportamos, as religiões da nossa crença, e sobretudo entre pobres ricos ou remediados…
Sempre fui pretensioso, e sinto enorme frustração por ter nascido com fragmentos de vários dons, mas concretamente nenhum capaz de me diferenciar, de um “bon à rien”como se costuma dizer em terras gaulesas, por onde andei perdido mas usufruindo de enorme felicidade, durante trinta anos, os mais maravilhosos da minha singela vida. Quis ser poliglota, e para além do Português, linguagem da minha naturalidade, sinto o Francês nas entranhas como uma sonata de Vivaldi, que penetra a escuridão e se prolonga pela noite fora até aos mais maravilhosos sonhos embalados num leito confortável e acariciados pelos lençóis de uma alvura singular. Já com o Inglês, apesar dos vários esforços realizados na aprendizagem, continuo como uma sopa sem sal nem adubo, lendo como um aluno de 2º ano, e oralmente, considero que falam tão rápido como o TGV o que me dificulta ao máximo a captação. A propósito aconteceu-me uma cena com um cliente quando exercia a profissão de táxi driver em Paris, e, no aeroporto Charles Degaule, carreguei o ditoso cliente para a Gare de Lyon. Durante o trajeto que separa o aeroporto da cidade, tentamos comunicar em inglês com grande dificuldade da minha parte, e o meu inglês afrancesado. Reparando que o cliente desejava perguntar-me algo referente á cidade, e como não conseguia responder-lhe, sugeri-lhe que me fizesse a pergunta em Italiano. - Vorrei dare qualche giro i posti più belli di Parigi fino a quando arriva il momento il mio treno può essere?
-Ah!  Sì, lo capisco. Avanti
Quando voltei à noite e contei o acontecido aos meus colegas de trabalho, juntos rimos como perdidos… valeu a pena os cursos de inglês que paguei, aprendi mais com a patroa do bar ao lado da garagem, de origem Italiana, onde íamos tomar o aperitivo no final do trabalho!
O espanhol era outra linguagem que prezava, pelo facto de conviver com muitos Espanhóis jovens, que frequentava enquanto praticava o desporto do futebol. Havia nesta equipa patrocinada pela Citroen onde trabalhavam muitos Espanhpois dos diversos cantos de Espanha, e o Francisco, sabendo que eu gostava de ler, emprestou-me uma grande quantidade de livros escritos em Castelhano que trouxe da sua biblioteca quando finalizou o curso, que nos tempos vagos, sobretudo à noite, lia.
Quatro linguagens de povos diferentes, mas que eu, teria gostado aprender, primeiro porque me seria útil na profissão, segundo por julgar ter o dom, que afinal não tinha…
Comediante foi mais um dos fragmentos do dom que sempre julguei ter pelas representações teatrais de rua, marchas populares, participações em comédias improvisadas enquanto miúdo até à adolescência, e uma louca paixão que surgiu mais tarde quando já vivia em Paris e sempre que me era possível assistia a peças teatrais, e ia frequentemente ao cinema. Foi um destes filmes que me marcou profundamente ao ponto de tentar aceder aos cursos das belas artes. O titulo – Mourir d’aimer - http://www.interfilmes.com/filme_230394_Morrer.de.Amor-(Mourir.d.aimer).html, interpretado por Anie Girardot  32 anos, divorciada, com dois filhos, é  professora de uma escola em Rouen em meio aos tumultos de Maio de 1968, ... evolveu-se numa aventura amorosa com um dos seus alunos, menor, pelo qual se apaixonou, e perante a impossibilidade de dar seguimento à profundidade deste amor, já consumido, após várias tentativas infrutíferas, optou pelo suicídio, pedindo n’uma carta que deixou escrita, ao marido, para tratar dos seus filhos e que perdoassem a sua cobardia. Belíssima interpretação com um fim trágico que fez subir as lágrimas aos olhos da maioria dos espectadores, complementada com a magnifica voz do Charles Aznavourg na musica. https://www.youtube.com/watch?v=rAHnc_d10MY
O canto foi outro dos fragmentos fracassados de um dom cuja voz poderia eventualmente seguir outro caminho com um poucochinho de sorte…. Sobretudo no fado, cujas letras e musicas conhecia de cor, dos variados cantores desse tempo, e que dentro do meu carro enquanto vazio, através das ruas e belas avenidas de Paris, cantava como se estivesse no Olimpia, lugar mítico por onde passaram os maiores da musica e do canto. Sem ter um ídolo preciso, era fã de todas as belas canções dos numerosos artistas que vendiam os seus discos, enquanto eu cantava gratuitamente de A a Z somente pelo prazer… fascinavam-me as letras, e a musica que me caísse no ouvido penetrava-me enfeitiçando-me ao ponto de necessitar de poucos ensaios para repetir…
No futebol, que pratiquei durante toda a minha juventude a um nível amador faltou-me aquela ajuda para saltar o trampolim, considerando as apreciações de entendidos que diziam ter potencial para voar mais alto… suposições e nada mais. Hoje sei que é necessário muito talento, para ser bom, qualquer que seja a modalidade… e eu sempre fui um: “bom à rien”. Nunca fui capaz de aprender a tocar acordéon, realejo ou guitarra, sentindo-me frustrado… onde foram parar todos os dons que eu pensava ter? No fundo não passo de um pretensioso sem fundamento talentoso… gosto de ler e escrever, passando horas até às tantas da noite, na fumaceira de um quarto, rascunhando e dormir sossegado ainda que não fosse lido por ninguém… ser ou não ser dotado esta é a questão?