sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Destinos e destinados


Destinos e destinados
Por António Braz
Após uma lua-de-mel nas Bahamas de quinze dias, com altos e baixos nas relações de recém casados, Carlos e Paula voltaram aos ninhos paternais, enquanto não era posta em cima da mesa outra solução peculiar de independência e discrição, numa vivenda comprada e oferecida como prenda de casamento pelos pais da noiva, mas, o entusiasmo não parecia ter a euforia desejada, porém, para salvar as aparências, Carlos era um ótimo Actor, fingia uma felicidade que não existia no seu coração, e o pensamento voava para a mulher que amava realmente, Júlia. Por sua vez esta secara as lágrimas vivia um dia de cada vez, esperando voltar a apaixonar-se por alguém que a levasse ao altar e a fizesse feliz. Até que se apercebeu, dois meses depois da tragédia que supostamente vinha aí. Todos os sintomas apontavam para uma gravidez, o que vinha metamorfosear todos os seu projetos, ambições, enfim… a sua vida e a de seus pais conservadores que dificilmente aceitariam que se tornasse uma mãe solteira.
Mandou entregar discretamente por uma amiga, uma carta ao Carlitos na qual referenciava o pavor que lhe causava tal situação onde se encontrava sozinha sem saber o que fazer…
A resposta dizia apenas:
A notícia veio retirar do meu peito a ansiedade que me sufocava… é maravilhoso! Um filho teu e meu que melhor notícia podia desejar um moribundo carenciado de amor? Estamos os dois armados para o: “que der e vier”; cuida bem desse bebé.
Também na casa de Sr. Félix para onde Fernanda tinha sido levada e onde vivia desde então, a pedido deste, embora sem precisar realmente, porque tinha uma governanta formada na alta sociedade quando ainda sua esposa vivia, embora já com idade, mas sempre fiel aos seus valores e princípios, tendo-o ajudado como uma mãe, quando esteve quase a tocar o fundo, durante o tempo que durou aquela maldita doença, acabando por a levar sua esposa, ainda jovem e quando ambos projetavam ter uma família com filhos, depois de realizados os projetos profissionais, ele como médico e ela como investigadora cientifica, os factos até então passados a ferro quente, se complicaram, pelas mesmas razões sintomáticas de Júlia, as quais não passaram despercebidas, ao médico que receava a reação da moça quando se certificasse da verdade. Andava pálida, dando escapadelas ao quarto de banho, tentando disfarçar com alegada má disposição… Estavam sentados à mesa os três, como sempre embora fosse uma família abastada, jamais esqueceram que tinham fugido da Bélgica, para não serem presos e levados como o resto da família para campos de concentração perseguidos pelos nazis porque eram “juifes”, em tempo de guerra, quando o médico olhando Fernanda com ternura e em voz afetuosa balbuciou pela primeira vez as suspeitas que recaíam sobre os ombros daquela pobre Aldeã e a carregavam de vergonha;  - tu és apenas a vitima, filha – não te culpes de nada, nem chores porque o nascimento de um filho é a coisa mais maravilhosa que existe neste Mundo! Com minha esposa fizemos projetos que nos traziam tão alegres e felizes, que jamais esquecerei… - e uma lágrima veio inundar-lhe o canto da boca – estou perfeitamente consciente do que te passa pela alma, e te martiriza o coração, porém, sabes que nos tens ao teu lado, a mim e à Josefina não é verdade? Esta será sempre a tua casa enquanto o desejares, e nós a tua família se nos aceitares como tal… também tens a alternativa de ir procurar o pai desse filho e chamá-lo à responsabilidade…
- Ó não. Isso nunca – respondeu Fernanda em voz insegura – o pior vai ser a minha família quando souber?
- Deixa essa parte comigo – retorquiu o médico.
O Sr. Félix conhecia vagamente a família de Carlitos por ter convivido com o pai na Universidade de Coimbra embora em cursos diferentes. Um medicina o outro engenharia. Contudo não exporia o caso já que Fernanda não o desejava. Contratou um detetive privado para ir meter o nariz na vida desse machista, e lhe fosse dando todos os pormenores.

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Natal Divino

Natal divino ao rés-do-chão humano, 
Sem um anjo a cantar a cada ouvido. 
Encolhido 
À lareira, 
Ao que pergunto 
Respondo 
Com as achas que vou pondo 
Na fogueira. 

O mito apenas velado 
Como um cadáver 
Familiar... 
E neve, neve, a caiar 
De triste melancolia 
Os caminhos onde um dia 
Vi os Magos galopar... 

Miguel Torga, in 'Antologia Poética' 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Saudades

Saudades
António Braz

 São tantas as saudades que vivencio, de tudo quanto me marcou na vida…quando vejo fotos desbotadas, ou sinto cheiros inodoros;
Quando ouço uma voz, e me lembro do passado, eu sinto saudades.
Sinto saudades de amigos que nunca mais vi, de pessoas com quem nunca mais falei ou cruzei...

Sinto saudades da minha infância, do meu primeiro amor, do único que me marcou, do desvairo que sofri, da paixão que me martirizou, do desencanto, do beijo que meus lábios secaram, daqueles momentos eufóricos de ternura e loucura.
Sinto saudades do presente, que não aproveitei convenientemente, lembrando-me apenas do passado, e asseverando o futuro…
Mas também sinto saudades do futuro,
cuja reciprocidade provavelmente  idealizado, não será como eu pensava que seria…
Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!
De quem disse que viria
e jamais apareceu;
de quem veio correndo,
sem me conhecer tal como eu sou,
de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.
Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi com sensatez!

Daqueles que não souberam como dizer-me Adeus
de gente que passou na calçada contrária da minha vida e que só avistei de vislumbre!
Sinto saudades de tantas coisas que tive, e de outras que não cheguei a ter, mesmo sendo fortemente desejadas.
Sinto saudades de coisas circunspectas, hilariantes, de fatos e experiencias…
Sinto saudades do meu Husky que alguém me ofereceu um dia, e que tão fielmente me amava, como só os animais sabem fazer!
Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!
Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar,

Sinto saudades de tantas coisas vividas e das que deixei esgueirar-se sem as viver.
Quantas vezes procuro sem saber o quê? Nem onde? Para resgatar o desconhecido sem saber onde o perdi…
Vejo o mundo a girar e penso que poderia ter saudades numa só língua universal, mesmo não sendo poliglota, aquela que usamos no desespero, ou para contar dinheiro, fazer amor, declarar sentimentos fortes, onde quer que estejamos.
Será que tenho tantas saudades por ter encontrado a palavra certa todas as vezes que sinto o peito apertar, às vezes nostálgico, às vezes feliz, funcionando melhor que um sinal vital, quando falamos de sentimentos; prova inequívoca da nossa cessibilidade! Do amor que dedicamos ao pouco que tivemos, lamentando as coisas lindas que nos concederam…


segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Destinos e Destinados


Destinos e Destinados
Por António Braz
3ª parte
Rompiam os primeiros raios de sol, na manhã do dia importantíssimo, que os pais de Carlitos tanto ansiavam, por diversos motivos e razões, no Palacete familiar, situado discretamente na periferia do Porto, onde o parque arborizado com diversidade e gosto requintado, estranhava o vaivém de tanta gente, e o ruido dos motores de automóveis alta gama, e as tulipas pareciam fechar-se em “copas”, enquanto no interior o pessoal de serviço comungava da hostilidade sem reminiscências, que é como quem diz: “olho vivo e pé ligeiro”.
No seu quarto, enquanto o costureiro reputado dava os últimos retoques ao smoking junto da janela, Carlitos de olhar fixo no vazio, deixou que vagueassem pelo seu pensamento imagens de um passado recente, e as de um futuro, quem sabe talvez exasperante, de pavor, de amargura, de tudo menos de felicidade porque não amava Paula com quem se casaria dentro de poucas horas. Ponderou ainda durante a noite anterior se haveria uma possibilidade de fugir para longe com Júlia, mas… de que viveriam? E estaria ela disposta a acompanhá-lo, depois de ter sido convidada, oito dias antes, para o seu casamento com outra mulher? O suor gotejava pelo seu rosto vindo repousar na branquíssima camisa junto do laço preto que o sufocava… o nervosismo dificultava o trabalho do costureiro, mas não ousava adverti-lo porque os pais pagavam e muito bem…
- Carlitos, são horas – gritou uma voz feminina no rés-do-chão - a limousine está à espera…
O costureiro terminara o seu trabalho, e para grande perplexidade sua, o rapaz continuava hirto junto da janela parecendo não ver nem ouvir ninguém. Tocou-lhe ao de leve no ombro ao mesmo tempo que balbuciava: - estão à sua espera…
- Como? Ah, sim… vou casar não é?
- Creio que sim, menino.
Desceu as escadas como um morto vivo, sem alento mas convicto de que seus pais só queriam o melhor para a sua vida.
-Estás lindo meu filho! Abraçou-o a mãe em lágrimas, enquanto o pai de braço dado com a esposa, limitou-se a fixá-lo olhos nos olhos como adivinhando a mágoa que perfurava aquele coração jovem, inexperiente, enfim… no fundo não passava de um menino mimado ingrato, que sempre teve tudo e mesmo assim não era suficiente… precisavas de uma lição da vida – pensava para consigo.
Chegados à igreja onde Paula já esperava e desesperava, Carlitos percorreu a passadeira vermelha acompanhado pelo pai sem lançar um único olhar aos convivas numerosos e de olhar fixo nele como quem quer devorar… Só, num canto discreto, Júlia vestia um lindo vestido de seda vermelha, sapatos de salto alto, e um chale preto por cima dos ombros, chapéu com renda que lhe ocultava as lágrimas, mas no coração uma dor que não era de rancor, era de deceção, de amargura porque o homem que ela amava com todas as suas forças ia casar na sua presença com outra. Sabia que não lhe pertencia, e jamais aspirou a ser sua esposa… mas doía tanto!
O cortejo longo de 1 km percorreu o trajeto que os separava de onde se realizariam as festividades, buzinando, e lançando flores, até à Quinta da Ponte do Louro, Carlos e Paula eram marido e mulher casados.