domingo, 30 de outubro de 2022

Convivio em Murços

O dia amanheceu chuvoso e carregado de nuvens pretas onde se escondiam os que para a eternidade voaram e atentamente vigiavam, os que por cá ainda ficavam, restringidos ao que dois anos de pandemia ditavam, medos e desesperos pelos cantos da casas entranhados que uma pobre mascara ia cobrindo, sorrisos e olhares fugindo, escravos da solidão, vitimas que jamais voltarão, choros e lágrimas de dor, gritos de raiva que nos levaram à ilusão de nunca mais nos podermos encontrar, conviver juntos com ar, e tantas patetices sem importância espalhar. Este convívio realizou-se em Murçós; Numa antiga escola transformada onde compareceram de todas as gerações às centenas. Esta visita tanto tempo esperada, e por entre os convivas de todas as classes sociais aprovada, trazia no ventre com vida, razões pelas quais nunca foi esquecida. Comprimentos, beijos e abraços, sem preconceitos nem obrigações, eram as saudades a falar naqueles vulneráveis corações. Assentados em mesas banais, comungando do mesmo pão, bebendo do mesmo vinho, e a sardinha assada, deixou lugar ao porquinho, na brasa bem “assadinho” não esquecendo as ricas entradas, azeitonas, queijo e presuntinho. Depois veio o caldo verde, como delícia vinda da horta, confecionado pelas mãos de fadas, uma delícia que a tradição aporta. Cá fora onde permaneciam os mais jovens, porque já dentro não cabiam, retiravam do assador bem quentinho que comiam com pão e vinho. Mas que grande alegria pairava naqueles jovens rostos, era à vez quem mais “landonas” contava, entre gargalhadas e risos que só isso os alimentava. Surgião recordações de velhos tempos e de agora, e no meio de todos eles ninguém ficava de fora. Os assadores balançavam-se para não deixar queimar as castanhas, havia estoiros de vez em quando com cheirinhos bem estranhos? Trovoada diziam os culpados, com ares de verdadeiro, mas logo começavam a rir do último ao primeiro. A castanha asada e quentinha chegava à mesa dos reis, vinho novo ou jeropiga, porque a digestão caprichosa para ela não havia leis. Foi um convívio de valentia que aos convivas pertenceu, com o rico cafezinho e bagaço que era seu. Diverti-me imenso a escrever este texto, mas queria deixar uma palavra de gratidão a todos que nele participaram e ajudaram, pela iniciativa do evento e pela cortesia de todos os convivas, esquecendo por umas horas, quem eram, de onde vieram, e o que faziam, porque uma boa comunidade não necessita de títulos nem virtudes. Grato pela compreensão, porque este não é propriamente o meu estilo de escrever AB

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

corpo de mulher

CORPO DE MULHER Na nudez do teu corpo imaculado Viajam pensamentos, sujos, manchados Por nunca me teres considerado N’um abscindir de coração magoado No decorrer do enredo por ti arrojado Dissimulavas com fervorosas patranhas Uma paixão para me escravizar o viver Vivias n’um mundo de sonhos e ilusões. Que para sempre ludibriaram o meu ser E não me deixaram como os outros crescer Esperei-te na terra no céu e no inferno Perguntei à chuva à neve e ao vento Aos que partiam e mesmo no cemitério Em lugares onde ambos perdemos o alento Tinhas partido com outro, somente pelo critério Que preenchia os teus maquiavélicos desejos Ó avareza que tão madrasta foste comigo Roubaste-me a juventude a vida e o amor Deixaste-me o coração manchado de dor AB
Este texto pode ser ficção cientifica, mexeu comigo, não são aceites comentários, não sei a razão, pelo que resolvi partilhar como prova da irresponsabilidade da maior parte de outras gereções que se julgam ao abrigo de tais acontecimento que não estão. Kika Gomes · 13 h · "QUANDO ME TORNEI INVISÍVEL"✨ "Já não sei em que datas estamos, nesta casa não há calendários e na minha memória tudo está revolto. As coisas antigas foram desaparecendo.E eu também fui apagando sem que ninguém se desse conta. Quando a família cresceu, trocaram-me de quarto. Depois, passaram-me para outro menor ainda acompanhada das minhas netas, agora ocupo o anexo, no quintal de trás. Prometeram-me mudar o vidro partido da janela, mas esqueceram-se. E nas noites, que por ali sopra um ventinho gelado aumentam mais as minhas dores reumáticas. Um dia à tarde dei conta que a minha voz desapareceu. Quando falo, os meus filhos e netos não me respondem. Conversam sem olhar para mim, como se eu não estivesse com eles. Ás vezes digo algo, acreditando que apreciarão os meus conselhos, mas, não me olham, nem me respondem, então retiro-me para o meu canto, antes de terminar a caneca de café. Faço isso para que compreendam que estou triste e para que me venham procurar e me peçam perdão. Mas ninguém vem. No dia seguinte disse lhes: Quando eu morrer, então sim vocês irão sentir a minha falta. E meu neto perguntou: - Estás viva vó? (rindo) Estive três dias a chorar no meu quarto, até que numa certa manhã, um dos netos entrou para guardar umas coisas velhas. Nem bom dia me deu , foi então que me convenci de que sou invisível. Uma vez os netos vieram dizer-me que iriamos passear no campo. Fiquei muito feliz, fazia tanto tempo que não saía! Fui a primeira a levantar, quis arrumar as coisas com calma, afinal nós velhos somos mais lentos, assim arranjei-me a tempo de não atrasá-los. Em pouco tempo, todos entravam e saíam correndo da casa, atirando bolas e brinquedos para o carro. Eu já estava pronta e muito alegre, parei na porta e fiquei à espera. Quando se foram embora, compreendi que eu não estava convidada, talvez porque não cabia no carro. Senti que o coração encolhia e o queixo tremia, como alguém que tinha vontade de chorar. Eu os entendo, são jovens, riem, sonham, se abraçam, se beijam, mas e eu e eu.... Antes beijava os meus netos, adorava tê-los nos braços, como se fossem meus. E até cantava canções de embalar que tinha esquecido. Mas um dia... Um dia a minha neta que acabava de ter um bebê me disse que não era bom que os velhos beijassem os bebês por questões de saúde. Desde então, não me aproximo mais deles, tenho tanto medo de contagia-los! Eu não tenho magoa deles , eu perdoo a todos, porque que culpa têm eles, de que eu tenha me tornado invisível.

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Vamos chegar

RicardoEsteves.padre 8 h · Vamos chegar a uma certa altura da nossa vida, e quando digo vamos, é apenas a esperança, porque podemos não chegar nem ao dia de amanhã. Mas poderemos chegar a uma certa altura da nossa vida em que o nosso corpo não será o mesmo. Seremos um corpo mais debilitado fisicamente e seremos, talvez, levados para um lar. Pela força da vida, podermos ser levados para um lar para terminar o resto dos nossos dias. Poder-nos-á ser apresentado um quarto que nunca foi nosso e que por lá muitos outros já passaram. Mesmo antes de entrarmos nesse “nosso quarto”, alguém nos falará dele. De como está decorado e mobilado e, podemos mesmo dizer: agrada-me muito! Podemos também ouvir de quem nos fala: mas ainda não viu o quarto como pode dizer que lhe agrada? Sabes? No fundo isso não importa! Porque a felicidade não é material. A felicidade é algo que decides com o tempo. Se vais gostar ou não do quarto onde passarás o resto dos teus dias, não depende de como está decorado, que tipos de móveis e cortinas vai ter… depende sim de como organizaste a tua mente. E basta decidir que vais gostar. Mas isso é uma decisão que deves tomar já hoje, independentemente da tua idade, todos as manhãs quando te levantas. Tens o poder de eleger de ficar na cama a reviver as dificuldades que tens nas partes do teu corpo ou nos problemas da vida, ou saíres da cama e estares agradecido pelas partes do teu corpo que ainda funcionam, ou pela oportunidade de resolveres os teus problemas. Cada dia é um presente e, logo que abras os olhos deves focar-te no novo dia e nas recordações felizes que armazenaste ao longo da vida. A felicidade é como uma conta no banco, tu tiras dela o que foste depositando. Por isso o meu conselho é que deposites uma grande quantidade de felicidade na conta da tua memória. Recordo-vos cinco regras como ponto de partida para ser feliz: liberta o teu coração do ódio; liberta a tua mente de preocupações desnecessárias; vive em paz; dá mais; espera menos. Felizes são aquelas pessoas que mesmo com as amarguras vividas, não perderam a doçura da vida. Um dia muito feliz para todos com Deus no coração🙏🍀❤️

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Traição

O VIAJANTE ERRANTEE por AB Nasceu n’um berço dourado, coberto de beijos flores e alegria, lá para os lados do Alentejo que os chaparros veneravam numa propriedade rica e imensa onde sete criados seguiam escrupulosamente as ordens dadas pelo feitor, homem rude e de poucas falas, e os patrões babados recebiam os parabéns que eles humildemente lhe transmitiam, com um sorriso de orelha a orelha, manifesto de felicidade. Era um casal que passou parte do tempo, que não viram passar, a tratar de um legado familiar de terceiro grau, e quando casaram tinham já cerca de quarenta anos. Nasceram deste casamento em partos de grande risco dois meninos, primeiro o Afonso e cinco anos depois o Joãozinho como prenda caída do céu inesperadamente. Duas amas cuidaram deles como verdadeiros filhos, aos quais se afetaram intensamente e reciprocamente. Apesar da diferença de idades os irmãos passaram a infância nesta grande e airosa propriedade brincando e jogando como meninos ricos, com o amor e carinho dos pais que só a noite chegada lhes podiam dar. Frequentavam escolas particulares, e apesar de o João ter mais cinco anos que o irmão a relação de afeto e amizade era excelente durante sete anos, até que a mãe foi cobiçada por carne alheia, um dos criados, que tinha menos vinte anos que ela, esbelto de cabelo ruivo e olhos azuis com graciosidade beleza e um sorriso capaz de seduzir a mais fiel das mulheres. Fazia todos os possíveis para se encontrar com a esposa do patrão em lugares discretos, e pouco a pouco a presa estava do seu lado envenenada com promessas elusivas que o seu pobre coração não podia refutar, vulnerável e ignorante. Até que chegou o dia do golpe fatal. O rapaz organizou a fuga astuciosamente, desde os transportes, visa e passaportes falsos, pagos com o dinheiro da patroa que tinha acesso a um grande cofre antigo em ferro fundido onde jazia o fruto do que foram acumulando durante anos na venda de cereais e vinho, batata e laranja, quando ainda as faturas não eram obrigatórias. Foi na noite da traição, o marido, como sempre, cansado, deitou-se logo após o jantar e os criados que viviam em anexos por detrás da vivenda não se aperceberam de nada, os fugitivos levavam apenas com eles um saco às costas onde constavam haveres de 1ª necessidade. Um carro esperava-os escondido por detrás de uns arvoredos e a uma distância considerável. – Mexe-te murmurava o rapaz notando uma certa hesitação na mulher que era mãe e entrou no quarto dos filhos beijando-os tão intensamente que quase os acordou. Um braço forte puxou-a para fora, entraram no automóvel estacionado e a alta velocidade dirigiram-se para o aeroporto e na mesma noite embarcaram para a África do Sul. Só quando acordou para fazer as necessidades, o marido se apercebeu que a esposa não tinha dormido na cama deles, e em pânico deu o alerta por toda a propriedade sem qualquer resultado plausível pelo que o seu cérebro começou a imaginar desastres em toda a parte, chamou a Polícia. Foi procurada por toda a parte em vão e só no dia seguinte se aperceberam que o ruivo não tinha participado na procura da patroa. Estranho! - diziam uns. Outros que talvez também tivessem notado aquela aproximação limitavam-se a baixar os rostos, só o Joaquim teve a coragem de contar que os dois pombinhos andavam frequentemente juntos murmurando conversas. Também tinha visto um carro verde estacionado perto da herdade, mas, não estava ninguém dentro, aconteceu já tarde na noite passada quando foi comprar tabaco. Para a Polícia, mas sobretudo para o marido tudo começava a fazer sentido apesar de incrédulo murmurava nomes feios de ódio e de sentir o peso da confiança que sempre depositou na esposa, do carinho que partilhavam, e do amor que os levou àquele altar onde juraram fidelidade até à morte. Do seu olhar saíam agora faíscas de ódio e terror. Foi a casa pegou na caçadeira de cinco tiros e carregou-a como para matar um boi, enquanto os Policias tentavam chamá-lo à razão dizendo: não se pode fazer justiça pelas próprias mãos. E os seus filhos ainda tão pequenos que seria deles? Era um homem perdido que já não via nem ouvia, na sua mente instalara-se a vingança, mas quando entrou em casa ouviu o choro de uma criança, poisou a arma e foi ao quarto deles banhado em lágrimas. Pegou neles apertou-os contra o coração enquanto os seus lábios molhados os beijava ternamente e aos ouvidos lhes segredava que o perdoassem. Quando saiu do quarto reparou que a porta onde guardava o cofre estava aberta assim como a do cofre receando o que realmente verificou caído no chão agarrado à pobre cabeça que parecia estoirar. Levaram com eles todo o dinheiro, ouro prata e tudo quanto tinha valor, deixando apenas atestados de empréstimo. Meu Deus, que faço eu agora? Mas a sua cabeça já tinha decidido, persegui-los até ao fim do mundo. Possuía uma pequena fortuna depositada num banco no seu nome e no do dois filhos abandonado pelos pais fugidos para o estrangeiro por rasões de infidelidade que o marido tentou fazer justiça pelas próprias mãos, sentindo-se traído por um pela esposa com um miúdo que não tinha metade da sua de idade. O pai, filho único, trabalhou como um escravo para fazer florescer aquele lar onde nada faltava, supostamente, até que descobriu a marosca. A traição fragilizou-o ao ponto de tentar suicidar-se, salvou-se com a ajuda de um vizinho, e quando recuperou surgiu a triste realidade de dois filhos abandonados que foram entregues em instituições de acolho. A sua passagem pela instituição psiquiátrica roubou-lhe os entes que mais amava estando apenas autorizado a visitá-los duas vezes à instituição de acolhimento. Conseguiu manter a herdade drasticamente até que Afonso, já formado em engenharia agrícola tomou as rédeas e o pai embarcou à procura dos traidores onde recebia a probabilidade de se encontrarem. João frequentava o 2º ano de advocacia na universidade de Lisboa, mas as más frequentações e as sequelas deixadas pela falta dos pais, empurraram-no para o consumo de álcool e drogas que os oportunistas sugaram depois de ter vendido a sua parte da herdade ao irmão que tudo tentou para trazê-lo de volta e não conseguiu. Por AB (continua)

sábado, 22 de outubro de 2022

A vossa terra

Postagem informativa Brevemente teremos a rede de água aos cuidados do Município com pagamentos mensais onde se incluem os resíduos. Como é do conhecimento de toda a gente os contadores eram propriedade nossa, porém quem quiser retirá-los fica sujeito à colocação de outro cujos custos serão suportados (60 euros) o que não aconteceu em Aldeias do meu conhecimento dentro do Distrito, onde foram todos retirado para colocar novos, propriedade do Município, segundo informações recolhidas nos técnicos de serviço do município. Todos os que tem casas residenciais em Murçós deverão preencher os requisitos exigidos na inscrição do respetivo pagamento o mais breve possível apresentando o (IMI) imposto Municipal Imobiliário com o artigo da propriedade(s) juntamente com o cartão de cidadão e IBAN se quiserem ficar a pagar diretamente pelo banco. Esta inscrição tem-se vindo a efetuar desde o mês de agosto para colmatar as faltas de emigrantes, porém os que não fizeram a devida inscrição ficam sujeitos ao corte de águas, sendo obrigados, no caso de desejarem, a dirigir-se à Câmara para fazer o devido requisito mediante o pagamento de 70 euros. Quem possuir dois ou mais contadores em casas residenciais terão de pagar por todos os que tem ligação. Sei e tenho a noção dos custos, quando durante o inverno estamos a pagar água desperdiçada pele berma da estrada, assim como é injusto utilizar os nossos contadores que a lei obriga ao pagamento do uso, mas como nesta Aldeia nunca os poderosos mexeram uma palha em seu benefício, vergo-me também aos erros e exigências dos que ocupam vários lugares, refutando carreiras prestigiosas de nobreza e remuneração. Também concebo que seja justiça perante aqueles de outras Aldeias que há anos pagam. Consta que poderá haver um retorno ás freguesias mais distanciadas do Município cujo Nº de eleitores é igual ou superior ao exigido. Em Murçós votaram nas últimas eleições autárquicas cerca de 150 eleitores, com todo o direito sendo a contabilização destes feita através do cartão de cidadão. Muitas das Aldeias circundantes através dos seus coordenadores tomaram desde logo as diretivas necessárias para permanecerem quando foram efetuados os censos. Em Murçós ou somos todos burros ou estamo-nos marimbando para a terra que muitos dizem amada, mas só em agosto na semana das festas onde este ano estiveram presentes por volta das 400 pessoas oriundas de cá. Creio que será efetuado um referêndum com votação para avaliar os que querem a situação como está ou autarcas na casa da junta. Sei que não é fácil para quem vive e trabalha no estrangeiro largar os seus empregos para uma boa causa, mas, façam um esforço não deixem que nos considerem os coitadinhos, e façam todos os possíveis para ter a freguesia de volta. Não é esse o vosso orgulho? Respeitosos cumprimentos para todos AB

terça-feira, 18 de outubro de 2022

Quando a casa dos avós se fecha

QUANDO A CASA DOS AVÓS SE FECHA Acho que um dos momentos mais tristes da nossa vida é quando a porta da casa dos avós se fecha para sempre, ou seja, quando essa porta se fecha, encerramos os encontros com todos os membros da família, que em ocasiões especiais, quando se reúnem, exaltam os sobrenomes, como se fosse uma família real, e, sempre carregados pelo amor dos avós, como uma bandeira, eles (os avós) são culpados e cúmplices de tudo. Quando fechamos a casa dos avós, também terminamos as tardes felizes com tios, primos, netos, sobrinhos, pais, irmãos e até recém-casados que se apaixonam pelo ambiente que ali se respira. Estar na casa dos avós é o que toda família precisa para ser feliz. As reuniões de Natal, onde a cada ano que chega, pensamos “...e se essa for a última vez”? É difícil aceitar que isso tenha um prazo, que um dia tudo ficará coberto de poeira e o riso será uma lembrança longínqua de tempos felizes. O ano passa enquanto nós esperamos por esses momentos, e sem perceber, somos de novo crianças...abrindo presentes, sentando-nos ao lado dos adultos na mesma mesa, brincando do almoço, e do aperitivo para o jantar, porque o tempo da família não passa. A casa dos avós está sempre cheia de cadeiras, nunca se sabe se um primo vai levar a namorada, porque lá, todos são bem-vindos. Sempre haverá um chá, um café ou alguém disposto a fazê-los. Cumprimentam-se as pessoas que passam pela porta, mesmo que sejam estranhas, porque as pessoas na rua dos seus avós são o seu povo, são a sua cidade. Fechar a casa dos avós é dizer adeus às canções com a avó e aos conselhos do avô, ao dinheiro que te dão secretamente como se fosse uma ilegalidade, chorar a rir por qualquer disparate, ou chorar a dor daqueles que partiram cedo demais. É dizer adeus à emoção de chegar à cozinha e descobrir as panelas, e saborear o melhor arroz doce do mundo. Portanto, se tiverem a oportunidade de bater à porta dessa casa e alguém a abrir, aproveitem. Entrem e fiquem por lá o tempo que puderem....Porque ver os vossos avós, dar-lhes um abraço e ficarem sentados junto deles, ouvindo as suas histórias. É melhor sensação da vida! Agora que os nossos avós e os nossos pais já partiram, somos nós os avós! E não iremos perder a oportunidade de abrir as portas de casa para os nossos filhos e netos para juntos celebrarmos o dom da família, porque só na família os filhos e os netos encontrarão o espaço próprio para viver o mistério do amor. Autor desconhecido

domingo, 16 de outubro de 2022

Amores de perseguição

Saía de casa apresada Com tamancos de salto alto calçados Vestia mini saia apertada Que os olhares indiscretos lançados Caiam-lhe no rosto meigo rosados Á porta do adro da igreja Seu amado a esperava Só para ver se aqueles olhos negros Secaram as lágrimas que chorava Por não ter a liberdade com que sonhava Dois corações que tanta luta travaram Duas almas gémeas que às escondidas se amaram Trocando somente passageiros olhares Montes de cartas entregues por confidentes Que secretamente lhe entregavam Naquela noite de festa e arraial Dois corpos envolvidos em poeira dançavam Tão unidos pela paixão acorrentados Seus lábios foram longamente saciados Não bastou para mais tarde serem separados Destino que tão cruel com eles foste E a felicidade lhe roubaste Vai àquela igreja e pergunta o que que te foi prometido e não ganhaste AB

sábado, 15 de outubro de 2022

Dia de sorte 55

Dia de sorte 55 De regresso às suas casas, depois de terem deixado no internato Fred, as palavras tinham sido escassas durante a viagem, onde um pesado silêncio dizia tudo. O miúdo compreendia as razões tendo assistido ao que naquele quarto foi dito com uma crueldade que quase o traumatizavam. A mãe acostumada a dirigir tudo, tornou-se numa leviana histérica cujo rancor lhe saía pelas guelras, cuspindo veneno de toda a maneira e feitio quando o filho lhe perguntava as verdadeiras razões porque o tinha manobrado daquela maneira tão repugnante que o humilhou para o resto da sua vida. -Era para teu bem e um homem não é maricas? O pai tentou intervir para acalmar os ânimos exaltados, mas foi-lhe ordenado de ficar de boca calada ou quando chegassem iria dormir debaixo da ponte. Francisco sentiu pena daquele que biologicamente era seu pai, com o qual tinha maravilhosas recordações de menino. Porém a palavra que efetivava o julgamento foi nunca mais o voltarem a procurar, vivia só mas possuía várias empresas, que adquiriu com o suor do seu trabalho. Exigiu que quando Fred fosse enviado para junto dele, trouxesse consigo um teste de paternidade, e que nem tentassem forjar o documento que os metia na prisão. Fred, era um rapaz inteligente, dócil e meigo, que no internato aprendeu as boas maneiras, educação, mas os seus sentimentos baralharam-se numa confusão indesejável. A mãe biológica tinha-o visitado cinco vezes apressadamente, durante todos aqueles anos comportando-se como quem está alheio ao que se tinha passado e a gestação de um filho colaborando com as intenções maléficas de uma pessoa consciente dos seus atos repudiantes mas que não mostrava arrependimento, ameaçando o marido de represálias se nem que fosse uma vez, passasse a linha da justiça e da verdade, que destruiu uma família que possuía tudo para ser feliz e se encontrava nas trevas onde prevalecia a discórdia e o sofrimento causados pelo orgulho e ganancia de uma mãe cujo amor, estima e carinho fora substituído por azedumes num dia que não era de sorte. Só no seu quarto, Fred ponderou longamente no que tinha ouvido do passado que até então ignorava, e no futuro junto de um pai que não conhecia, um estranho que também o abandonou do qual nunca teve um único gesto de afeto e carinho como um objeto longínquo á deriva num mar sem águas, vigiado por estrelas sem brilho nem cor envolvido numa neblina, onde não se reconheciam os bons dos maus, nem razões para ter nascido. Porém encontrou naquele desconhecido o apego inexplicável que o puxava com forças maiores às quais não conseguia resistir. Porém a pergunta surgia na sua mente: E se não corre bem? O problema de ele gostar ou não gostar de mulheres não o afetava, tinham-lhe ensinado que não nascemos todos iguais e de preconceitos estava liberto. Perguntava-se se seria possível um dia gostarem um do outro como pai e filho, seguirem em frente, visto já não se poder recuperar nada do passado sem abrir a ferida com a qual os brindou o destino uma pergunta que ficaria em suspenso. Gostava dos avós, mesmo sabendo o que agora sabia sentindo que as esperanças eram vãs de um dia poderem reconciliar-se. Valia mesmo a pena tentar? Era um rapaz corajoso, humilde, mas otimista, pelo que decidiu viajar para terras e gentes desconhecidas à procura da felicidade. Porém tinha surgido a fatalidade que Francisco tanto receava. Foram mais quinze dias ao lado do seu querido avó, não ficando nada por dizer entre eles, faleceu num dia chuvoso, e o neto andava arrasado, leu-lhe o testamento onde lhe legava a quinta dos seus amores, com a obrigação de cuidar da esposa até que fechasse os olhos. Também a idosa acusou a falta do companheiro de uma vida sem percalços, e de dia para dia o seu estado piorava. Francisco permaneceu ao lado deles durante dois meses, era o seu próprio patrão que lhe permitia dispor do tempo utilizando o computador para reuniões e conferências, mas aquela dor martirizava-o dia e noite. Era um amor profundo que o seu coração dedicava aos avós eternamente. Por AB in dia de sorte

segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Foste o que já não és

Custa tanto acordar de um sonho lindo que alimentou o nosso corpo e a mente, amanhecendo envolvido num turbilhão, de incertezas, de desconfiança, por nos sentirmos traiçoeiros com os que em tempos considerávamos afáveis, onde depositávamos intensamente o que julgávamos ser amor incondicional, mas que não era mais que um apego levado lentamente pelo tempo com a ajuda do vento para a obscuridão de onde surgem apenas vestígios daquilo que um dia chamámos reino maravilhoso onde se partilhava como irmãos, se ria às gargalhadas, brincando nas ruas cobertas de palha, jogando com jogos bárbaros cujo prazer enchia o corpo e a alma, no prado rejubilando com o primitivo ornamento, e hoje chora em silêncio aquele charme roubado pelo poder local, porque já era pequeno para muitos, e agora é imenso para tão poucos, sentindo-se tão só e abandonado, traído e martirizado pelos caprichos de gente com coração de “fraga” destruidores de sonhos, como ditadores antigos, que pedra a pedra mandou retirar a fonte do Espinheiro, onde começaram tantos namoros que acabaram em casamentos, lugar sagrado onde nos ares flutuava amor, carinho, amizades, beijos roubados, até que caiu a sentença de Salomão, mesmo oferecendo-lhe outras opções, demolir figurava no instinto de uma pessoa, que mandou esconder as pedras para que a revelia ficasse sem argumentos para manifestar desacordos.
Eras a terra que fazia bater corações, que acolhia e tratava os convivas com dignidade carinhosa, onde se vivia em comunidade sem complexos nem preconceitos. Chamava-te a minha terra e hoje penso que não és a terra de ninguém, apenas uma Aldeia na encosta da serra da Nogueira, vigiada e protegida pela senhora da serra. Quem abandona, sejam quais forem as razões, corta o direito de lhe chamar seu. Os teus famosos bairros ficarão eternamente nos anais dos que lá viveram ou que por perto passaram. O da Chave que tantas portas abriu, mas a fechadura ruiu tornando impotentes os que tentam ainda teimosamente entrar construindo ninhos de beleza que só ouvem as badaladas do sino, que melancólico recorda tempos passados. A Portela bairro escolar onde as aventuras se sucediam, na eira do tio Amadeu, na encosta da tia Laura, ou em volta da casa do tio Hermenegildo onde o Juiz e o Amancio discordavam sempre só para meter ferro, nas escadas da tia Dulce onde nos assentávamos a saborear o sol frágil de manhã ou o ardente da tarde envolvidos em” landonas”, sem graça, mas engraçadas, O do Outeiroconsiderado snob e pouco frequentado, felizmente existia a eira do tio Zé Suca para grandes jogos de futebol. O bairro das pedras passagem obrigatória para quem quer seguir para a estação onde o tio Azevedo esperava para passar o bilhete para a grande máquina a vapor. Também a eira do tio António Piloto foi palco de imensos jogos de roda, cantos e danças ao som do tear da tia Irene, para cá para lá. O cruzeiro é a nossa obra envergonhado por estátuas que escultores improvisados realizaram pior que os bonecos do Sr. Oleiro da 3ª classe. Ó terra que tanto amei, e sofri longe ou perto de ti, perdoa esta cobardia, porque o meu coração deixou de sentir o que sentia, o meu olhar deixou de penetrar nas casas e nas pessoas, vagueia por desconhecidas orações, e morre no que um dia começou.

terça-feira, 4 de outubro de 2022

Uma descrição quase perfeita, de um apaixonado cujo hobby a caça grossa ou miuda, o seu paraiso onde juntamente com os cães se alheiam durante horas sem fim à existencia de prazeres mundanos, aferidos ao peso e à medida de atos ixentos de regras, espairecendo ao sabor da natureza mãe, usufruindo da beleza selvagem, em silencio, onde recolhem o oxigénio e a sensatez de caminhantes errantesque da liberdade que os embala e acaricia com profunda afetuosidade, longe ou perto, gelados mas nunca cansados sendo puxados por cordas invisiveis, criticados, envejados e desconsiderados até que passam com excelência na prova escrita.ROUBEI PARA MOSTRAR A OUTROS COMO EU QUE A VESTIMENTA NÃO FAZ O MONGE. ESPERO SER DESCUPADO Jorge Cèsar Afonso 2 h · Perdizes de montanha transmontanas. Gastando o dia noutra actividade também cinegética, saí nesta abertura de 2022 com os 2 cães de pêna apenas pelas 16h00. Imerso nesta paixão da caça grossa ,há muito não me dedicava às perdizes. Temos neste canto do céu umas poucas das bravas... das de sempre vivendo nestas serranias de parco alimento entre giestas ,esteva e as urzes de Miguel Torga. É uma ave apaixonantemente brava ,bela e difícil. São as galináceas para mim as mais fascinantes das aves de caça. Procura-las é procurar um Graal ,e encontrá-las é encontrar o sagrado. Solta a parelha de cães, o seu buscar era por si só regalo suficiente para este dia de caça. A beleza aumenta à medida que subimos a serra e deixamos para trás a aldeia para um mundo só nosso. Acaricio a sobreposta, é uma arma nova na minha mão. Atirei com ela 2 cartuchos . Cai-me à cara perfeitamente. Não sendo uma westley Richards é uma arma de grande beleza ,produzindo as suas platinas inteiras ainda que falsas um belo efeito. Têm extractores automáticos e algo que até agora abominei ..monogatilho. Sendo monogatilho mecânico e não estando a procurar um Búfalo ferido na palha a segurança transmitida é mais que suficiente. Na cartucheira levo como munição principal uma caixa de mini magnum 42 gramas de chumbo 7 oferecida por um amigo que a comprou por engano há uns vinte anos..nos 2 tiros que dei com eles antes de iniciar a caçada parecem estar bons . Garantiu-me terem sido conservados ao seco numa gaveta do móvel da sala ao longo destes anos...bem ,se falhar algum não estamos a seguir nenhum Leão ferido na palha!! Por entre umas arçanhas depois de um rabear de excitação de Apache salta a primeira perdiz . Entendo o purista que não atira a uma peça que não seja parada pelo seus cães...também eu o fiz nos meus dezanoves e vinte anos. No entanto a evolução foi para mim inversa ..procurando agora aproveitar mais oportunidades em caça prática com perdizes que não se deixam parar regularmente antes do terceiro voo. Dou então fogo nesta Beleza alada que cai seca uns 40 metros abaixo. É apache que a encontra no meio do silveiral ,os festejos são muitos e a alegria entre os três imensa. O Braco duro e bruto como só ele dá-me uma cabeçada no maxilar que comprovo com a mão livre não ter partido. Gosto de cães assim duros ,bravos e rudes. É este bruto dono de uma psicologia fortíssima com a qual não se sente nem quebra minimamente quando corrigido, acatando apenas o recado. É o cão certo para um dono igualmente bruto e sentimental. Seguimos com o dia mais que ganho a encosta ,no alto um esponjadouro recente e uma busca insistente num monte querencioso leva ao levante de uma nova perdiz também esta sozinha ...possivelmente algum caçador de coelho por aqui andou partindo o bando pela manhã ao ser levantado mais que uma vez com os podengos. A forte carga deixa também esta seca num lance a curta distância por entre as giestas altas . Festejamos esta segunda mais realizados que com a primeira, mas contudo já sem a mesma intensidade. Subimos agora para o pico da serra onde quase nenhum caçador vai durante o ano. Levanta de asa aberta uns 300 metros à nossa frente um bando de 5 perdizes. Corro a desviar-me da árvore que me impede acompanhar visualmente a progressão do seu voo. Sigo com a vista durante uns 800 metros a sua rasante depois dobram o cabeço dando já sinais de procurar poisar. Vamos por elas que nos cai a noite encima. Procuro as entradas certas neste mato onde só um javali pode romper. O monte alto ,duro e seco bate no osso das canelas das pernas rasgando . Os meus 2 inexperientes e afoitos ajudantes que tanto gostam de buscar na minha frente seguem-me agora com dificuldade à retaguarda passando no carreiro por mim aberto. Faz-lhe bem picar assim a pele ,é isto que os torna cães de caça distanciando-os do miserável Yorkshire de apartamento. Quase a chegar ao local onde imagino terem poisado começa a ser menos espesso com alguns carreiros de javali que facilitam a progressão e a vista mais desimpedida para atirar. A primeira contudo arrota à minha direita por trás de um pinheiro entre as urzes altas que me impedem vê-la. Estão aqui ,estão aqui!!!!!!!!! Vão levantar uma a uma aos pinguinhos seguras por este matagal e pelo voo largo , do qual não tiveram ainda tempo de recuperar. Falta uma para o cupo. Estão presas Apache, penso enquanto aligeiro o passo batendo de peito contra as urzes procurando subir 30 metros onde penso poderei dominar qualquer levante nas imediações. Chegado ao ponto pretendido levanta o fervoroso Braco a segunda. Pulou na vertical ,subindo como um helicóptero ou um Deus Gerifalte. Na minha mente parece ter parado suspensa no ar ali largos minutos como um televisor que se põe em pausa. Talvez num mundo paralelo a vida tenha continuado . Talvez nos restantes confins do planeta as pessoas falassem freneticamente baixando uma rua de Lisboa, como gotas apertadas pelo rio numa trovoada de Agosto . Talvez uma multidão na Geórgia gritasse pelos Atlanta Braves...não o desminto!!! Mas asseguro que ali no alto da serra o meu mundo parou naquela perdiz suspensa por cima das urzes. Admirei durante esses largos minutos em que o universo parou... o vermelho da sua penugem, tão vermelho como o sangue do Cristo a contrastar com o verde imerso naquele doirado resplandecente deste sol pisco do mágico Outono. Com o meu corpo paralisado aquele largo tempo senti o cheiro das suas penas....no seu olho esbugalhado vi de relance a passagem de toda a sua vida presa por amor aquela terra. Sorvi a sua alma ,a sua existência. Sorri !! Depois desse momento de fascínio entre predador altiva presa alguém ligou novamente o interruptor..talvez o criador disto. Eu que até então estivera ali como boneco ao que se lhe acabou a pilha enebriado ,senti de repente um Brrrrrr ,senti novamente força nas pernas ,nos braços e num mundo acelarado agora 10 vezes os normais 30200 m/s aponto visando aquela massa fascinante que agora seria minha e só minha. No primeiro tiro sinto um tzzzc..o fulminante não deflagrou. Preparado por Africa a não bloquear e manter o sangue frio caso o primeiro tiro não saia ou não surta efeito dou-lhe fogo com o segundo cano. Vantagens do monogatilho mecânico !!. Cai desamparada ,largando penas no ar. Seca,.pensei!! Sabia que as outras 3 estariam ali próximas esperando a sua vez..mas o cupo estava feito e tínhamos agora uma das mais belas criações de Deus morta e para encontrar. Chamo os cães gastando o que restava do dia sem a encontrar levantando outra a que não atirei. Saímos já com a lua posta e o astro rei escondido . Chegados a casa fui recebido com grande alegria por minha avó e minha mãe que grandes apreciadoras da carne destas aves ,mas tinham encomendado na véspera ,preferindo-as ao habitual javali. Deixa um bocado esses bichos grandes e caça mais perdizes e coelhos..é uma caça mais fina insiste por vezes minha avó. Ontem de manhã cedo ali nos dirigimos novamente procurando a ferida. Apache cansado contra o habitual em si abanava a cauda, não fazendo tensões de sair da sua casota. Anda meu caro ,um profissional dorme quando pode. Extrai prazer caçando sem dormir ,sem comer e sem beber. Caça quando pode, e descansa quando pode. Á chegada levantamos ontem segunda feira outra perdiz do bando que ali tinha pernoitado, e se domingo fiquei convicto que estaria ali pendurada no mato em altura onde os perdigueiros não lhe davam alcance...ontem comprovei que caíu de asa e por inexperiência a deixamos abalar.