quarta-feira, 17 de janeiro de 2018


Os passeios diários, sobretudo com um sol radiante e quentinho, fazem, hoje, parte do nosso dia-a-dia para desentorpecer as pernas espairecer as ideias e combater o stress ou talvez a solidão… uma terapia agradável e benéfica pois o olhar alonga-se penetrante por estas paisagens duma magnificência incomparável. O arvoredo denso e de variadas espécies começa a desbrotar no silêncio da paz e no desejo de ser o primeiro a mostrar cores e perfumes, para além do oxigénio que fortifica o organismo dos seres vivos. As urzes, ervedeiros, (medronheiros) acácias-mimosas, estendem-se ao longo das serras banhadas por raios luminosos para encantamento dos amantes da natureza.
Hoje a visita alongou-se até às pontes, lugar mítico de aventuras e desaventuras… de uma beleza impar. Aqui haveria centenas de histórias para contar, em tempos do Sr. moleiro, apelidado carinhosamente de borracho. Hoje encontra-se tudo prostrado num silencio
 absoluto, embora alguns dos seus familiares, pela aparência das janelas abertas, venham de tempos a tempos visitar a casa remodelada a granito… também o velho moinho tem uma aparência de quem veste de lavado, guardando a sua estrutura primária. O grande portão estava desfechado e eu entrei para fazer umas fotos, ficando um tanto quanto desiludido, porque do moinho não vi nada.
Por debaixo das duas pontes a água corre já abundante, mas silenciosa, esgueirando-se através da vegetação esplendorosa dos choupos crescentes, talvez com vontade de atingir as nuvens ou o céu de um azul vivo raro no mês de Janeiro. Talvez as trutas tenham subido as águas geladas apesar de poucas? Os passarinhos escondem-se e não se ouvem piar, porque neste tempo, a alimentação para esses lados, escassa, e a estrada continua de terra batida o
 que é lamentável quando os políticos prometem para ocupar lugares e depois esquecem tão depressa como o disseram…  para duas câmaras este 6 km era uma gota de água, se houvesse boa vontade? Porém, “como se costuma dizer quem não tem cão caça com gato “para os meus passeios serve muito bem.
Do lado de lá, na sua capelinha branquinha, a Senhora do Areal observa a lindas paisagens e os poucos passantes, de carro ou moto porque a pés, dizem alguns, “ só os malucos”.
De volta a casa os ânimos foram-se desmoronando com o cansaço que nos aviva que já tivemos vinte anos; mas, sem presas, e com tantas belezas envolventes, o caminho voltaremos a fazer.









terça-feira, 2 de janeiro de 2018

A viagem de comboio

 Um dia de solidão, desconsolo, e lamentavelmente nublado, em que a soma de: 2+2 nunca dá 4, estendi-me junto da lareira que ardia alegremente sem se sociar dos problemas mundanos, e, no silencio que perdurava, li um livro mentalmente, que comparava a vida a uma viagem de comboio. Uma comparação extremamente interessante, quando bem interpretada. Interessante, porque a nossa vida é como uma viagem de comboio, cheia de embarques e desembarques, de pequenos incidentes pelo caminho, de surpresas agradáveis com alguns embarques e de tristezas com os desembarques. 
Quando nascemos ao embarcarmos nesse comboio, encontramos duas pessoas que, acreditamos que farão connosco a viagem até o fim: Nossos pais. Não é verdade. Infelizmente em alguma estação, eles desembarcam, deixando-nos órfãos de seus carinhos, proteção, amor e afeto. Mas isso não impede que durante a viagem, embarquem outras pessoas interessantes que virão ser especiais pra nós: nossos irmãos, amigos e amores. 

Muitas pessoas tomam esse comboio para um mero passeio. Outras fazem a viagem experimentando somente tristezas. E no comboio há, também, outras que passam de vagão em vagão, prontas para ajudar quem precisa. Curioso é considerar que alguns passageiros que nos são tão caros acomodam-se em vagões diferentes do nosso… Isso nos obriga a fazer essa viagem separados deles. Mas, não nos impede de, com grande dificuldade, atravessarmos o nosso vagão e chegar até eles. Difícil é
 aceitarmos que não podemos sentar-nos ao lado deles, pois outra pessoa ocupa esse lugar. Essa viagem é assim… cheia de atropelos, sonhos, fantasias, esperas, embarques e desembarques. Sabemos que esse comboio jamais voltará. 
Façamos essa viagem da melhor maneira possível, tentando manter um bom relacionamento com todos, procurando em cada um o que tem de melhor, lembrando sempre que, em algum momento do trajeto poderão fraquejar, e provavelmente, precisamos entender. Nós mesmos fraquejamos algumas vezes. E, certamente, alguém nos entenderá. O grande mistério é não sabermos em que estação desceremos. E fico pensar… quando eu descer desse comboio sentirei saudades? Sim. 
Deixar os meus filhos viajar sozinhos será muito triste? Separar-me dos amigos que durante esta grande viagem fiz… do amor da minha vida, será doloroso? Mas, agarro-me à esperança de que em algum momento, estarei na estação principal, e terei a emoção de vê-los chegar com a sua bagagem, que não tinham quando embarcaram. 
E… o que me deixará feliz, é saber que de alguma forma, eu colaborei para que essa bagagem tenha crescido tornando-se valiosa. Neste preciso momento, o comboio diminuirá a velocidade para que embarquem e desembarquem pessoas. Minha perspetival aumenta, à medida que o comboio vai diminuindo a velocidade.. Quem entrará? Quem sairá? 
Eu gostaria que você pensasse no desembarque do comboio, não só como a representação da morte, mas, também, como o terminal de uma história, de algo que duas ou mais pessoas construíram e que, por motivo ínfimo deixaram desmoronar. Fico feliz por saber que certas pessoas como nós, têm a capacidade de reconstruir para recomeçar. Isso é sinal de garra e de luta, é saber viver, é tirar o melhor de "todos os passageiros".