segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Sentado na pedra


Quis abraçar-te. Havia a estrela, e aquela música tão diferente de todas as outras. Havia frio lá fora e tu estavas no aconchego da gruta. Havia ali reis de joelhos, e todos olhavam para ti, e parecia que nada mais existia senão olhar para ti e querer abraçar-te.
Quis abraçar-te porque eras assim pequeno e sem defesa, e os meus braços me pareciam fortes. Porque me tinham dito que eras Aquele que tínhamos esperado; que eras tu o fruto da grande espera. E que ao abraçar-te se abririam caminhos novos, com cores novas; e que veríamos aquilo que antes não podíamos ver; e que conheceríamos a música que tinha estado escondida durante longos séculos.
Onde estarias? Continuei a procurar-te – ou a fugir de tudo aquilo? Andei por muitos lugares. Cruzei-me com homens tristes e crianças ocas. Encontrei uma mulher cujo filho partira havia muito e não voltara; e um velho muito velho a quem não deixavam viver na casa da família que fundara. Vi os doentes e aqueles que, tendo saúde, sofriam por dentro qualquer coisa pior que a doença.


Quis abraçar-te e estendi os braços e trouxe-te para o meu regaço. A tua Mãe olhava-nos com um olhar que era de orgulho e de encorajamento.
Abracei-te. E beijei-te. Pareceu-me que queria comer-te com beijos e que isso era possível.
E foi então que sucederam muitas coisas que não esperava. Não tinha conseguido deixar de fechar os olhos, e, enquanto te abraçava, senti que estreitava um corpo que se tinha tornado bem maior. Que suava, que sangrava, que tinha sido golpeado.
Estremeci e abri os olhos. Mas já não havia reis, nem presentes; nem eu te abraçava já. Não se ouvia a música. A gruta tinha-se tornado fria, e nas palhinhas estava deitado um leproso.
Saí, a correr, da gruta. Assustado. Onde estarias? Lá fora, a paisagem tornara-se deserta e o sol queimava. Um abutre esperava a morte de uma criança escura, em extremo magra, que, quase deitada de bruços sobre a terra vermelha, não tinha forças para se mexer.




Onde estarias? Continuei a procurar-te – ou a fugir de tudo aquilo? Andei por muitos lugares. Cruzei-me com homens tristes e crianças ocas. Encontrei uma mulher cujo filho partira havia muito e não voltara; e um velho muito velho a quem não deixavam viver na casa da família que fundara. Vi os doentes e aqueles que, tendo saúde, sofriam por dentro qualquer coisa pior que a doença.
Paulo Geraldo


Perturbado e confuso, mergulho na profundidade brumosa... espelho-me, mas, não me vejo...

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Dia de Carnaval em Murçós






Os tempos já não são os mesmos...o número de pessoas a desfilar com diversas brincadeiras que faziam rir os que, de, propósito se agrupavam no Outão para ver passar os cómicos, cujas invenções humoristicas, astuciosas, que ainda hoje são contadas e recordadas com emoção e alegria, também não, mas... a mentalidade e os princípios estão bem entranhados nesta gente ao sabor do rir e da boa disposição quando os eventos o requerem. Podia haver carnavais no Brasil ou n'outros locais de perfeição, contudo, era o deles que primava com valía importantíssima apesar dos magros meios. Foi mais um, para os filhos de Murçós, alegre, com risadas e comentários nos agrupamentos. Felicitações para os que ousaram, e ao mesmo tempo preservaram tradições importantíssimas locais.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Vista panoramica do Lameirão

Mós de Celas
Como se pode verificar na imagem um local trabalhado agricola, como n'outros tempos, existiam no Nordeste Transmontano. Aqui, embora a situação agricola lhes proporcione frágis incentivos ao cultivo das terras, os moradores não desistem fácilmente dos adquiridos; com sacrificios e dificuldades, enquanto os homens exercem profissões diversificadas, para complementar financeiramente o sustento do agregado familiar, as mulheres, sem complexos nem preconceitos, agarram-se aos tractores, entregando-se com garra, de corpo e alma, às tarefas árduas, mosculosas e por vezes arriscadas, que a agricultura requer. Um espelho! - Dizem os que de longe podem ver e admirar o: "termo"  em linguagem local.
Mais um "conto" da beleza territorial de Murçós, obra do João. Obrigado
Fica o desafio para quem sabe onde é?

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O João Fraga, para quem não conhece; filho da D. Augusta, minha vizinha, enviou-me esta foto da montaria, enquanto decorria o mata-bicho, na qual tambem apareço em conversa animada com o Manuel. Estou-lhe imensamente grato, e aguardo outras que terei todo o prazer em publicar. Aproveito para dizer aos filhos ou amantes de Murçós que estou receptivo a publicações nesta página que é de nós todos, se desejarem enviar para: peiretesbraz@gmail.com Abraço João.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012


Para quebrar  a monotonía, banhados por um maravilhoso sol , os moradores de Murçós, procuram no solo, uns grãozitos de alimento, umas bichas perdidas no trajecto préviamente traçpado, felissíssimos e descontraídos, sem medos nem receios, pois até os cães desertaram, não se sabe para onde...

Vale de Escuro, com suas águas verdes e calmas, procuram no silêncio da desilusão, argumentos para aliviar o sofrimento do abandono precoz, e injusto... até o prometido pela desinfecção lhe está atravessado na garganta...suborno e papadeira envergonha uma população simples, mas não burra!


Os coelhinhos brancos, do Zé, recem-nascidos, não se sociam do que cá fora é hostelidade, fraqueza, e angústia...adormeceram com as belas musicas passadas na Comercial, e sonham com Verdi, Betoven, Strauss etc. No seu ninho bem ordenado e cuidadosamente protegido, ao abrigo dos olhares invejosos e indiscretos, dormem profundamente, uns contra os outros, porque dividir, para eles, é lógico e normal.

As giestas fazem a vénia com o peso da neve, do ano passado, nostálgicas e tristes, porque este ano ainda nem avistaram semelhante brancura...

A placa sinalizadora indica bem esplicitamente o caminho da pacata Aldeia, mas, atraente e acolhedora, apesar da desertificação progressiva por falta dos meios de sobrevivência necesários para um viver digno e saudável, com paz alegria carinho e felicidade...

Para matar o tempo e o desejo, do alto dos seus 95 anos, a tia Aurora, faz na renda, sem óculos e com firmeza nos pontos que vai acumulando, coberta com o seu chapéu típico, ao abrigo do vento e do sol, enquanto guarda a galinhada de um qualquer intruso. Já com dificuldade auditiva, mas, sempre ágil nos movimentas, e franca nas palavras humoristicas e práticas do que viveu durante 9 decadas.
Mesmo que Murçós não volte a ser o que foi, será sempre a linda Adeia Trasmontana!!!











segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Memórias do Nordeste POR FERNANDO cALADO


...quase poema...ou memórias do nordeste

Ao fim da tarde regressamos à casa das nossas memórias, dum tempo onde todos os sonhos eram possíveis materializáveis nas prendas dum Cristo antiquíssimo que todos os anos nascia à beira do nosso Presépio pobre, construído à imagem e semelhança da pobreza da nossa aldeia transmontana.
Vamos acender lume que aqueceu mil Invernos para esquecermos a geada e ...a neve buraqueira que teimosamente tenta entrar em casa por entre as telhas velhas que abrigaram muitas gerações.
Já matamos o porco, fizemos as alheiras, os chouriços, os salpicões e os botelos. Salgamos os presuntos e gastamos as noites à espera que o calor da lareira seque o fumeiro que será o aconchego de muitos dias.
Esta noite não veio ninguém para a nossa velada e ainda sobrou meia alheira que assamos em lume brando. Por isso, aqui estamos às voltas com os nossos pensamentos, pensando esta terra brava onde os homens obrigam as fragas a dar trigo, azeite, vinho, como quem troca suor pelos melhores produtos da natureza.
O Nordeste transmontano é sem dúvida esta rusticidade de têmpera velha, onde o tempo parou avaro duma cultura ímpar, cheia de mitos, de lendas, dum saber fazer ancestral onde o milagre da mão tece o linho, fia a lã, molda o barro, coze o pão, vai à novena da Senhora da Serra, consulta a bruxa guardadora de mistérios e esconjuros para as doenças da alma.
Ligamos a Televisão e o mundo é grande e orgulha-se do conhecimento científico, das novas tecnologias, do poder da engenharia genética. Os ricos combatem outros ricos e os pobres continuam a ser cada vez mais pobres. Contemplamos o Planeta sentados no escano da nossa casa, onde o nosso avô dormiu regalado no aconchego da manta velha, e sem saber porquê temos saudades de nós, temos saudades desta Terra a Nordeste que tem que preservar o passado e ao mesmo tempo conquistar o futuro.
Fala-se muito em desenvolvimento sustentado e ainda bem, pois temos que travar um certo crescimento saloio que nos envergonha, que transforma o nosso espaço urbano, cheio de riquezas arquitectónicas e paisagistas, numa amálgama de cimento, de rotundas, de semáforos, de prédios sem alma na ausência do vagar do pedreiro que morreu e levou consigo a delicadeza de afagar as pedras.
Por isso, é urgente ir a Freixo de Espada à Cinta, mergulhar fundo no abismo do Penedo Durão e pressentir a dança dos abutres que cruzam os céus num voo largo e solene. Temos que revisitar Miranda e descortinar as memórias de Bispos velhos, enquanto os Celtas dançam para amaciar a guerra. É necessário adoçar a vida com as amêndoas de Moncorvo, com as cerejas de Alfândega, com o vinho fino de Carrazeda, com o fumeiro de Vinhais. Temos que percorrer os caminhos dos comerciantes judeus de Vimioso, ir à feira dos Gorazes de Mogadouro, espreitar Dom Dinis versejando os encantos de Vila Flor, gastar os olhos nos remansos do rio Tua de Mirandela e na beleza da novíssima praia do Azibo de Macedo, para finalmente chegarmos a Bragança à velha Domus dos homens bons e ficarmos comovidos com a lenda da torre da princesa que eternizou amores proibidos dando alma e emoção às velhas pedras do monumental castelo.
As gentes transmontanas vivem outras emoções numa partilha da Democracia que herdou dos velhos comunitarismos. Sai à rua, convence o vizinho, diz meia dúzia de palavrões, luta pelo seu Presidente da Junta, bate-se pelo Presidente da Câmara, ignora os Partidos e revê-se em rostos conhecidos, em sentimentos de honestidade de gente que promete e tem que cumprir porquê os transmontanos têm a sabedoria da honra, a grandeza da palavra dada, e uma sagueza política que não se aprende nos livros mas sim nas regras da boa vizinhança.
Contudo, este relicário transmontano não pode ser o último reduto para estudo duma antropologia que tragicamente vem participar na morte anunciada duma cultura que resiste dolorosamente à avassaladora cultura de massas. O Nordeste tem que renascer das cinzas e não podemos assistir serenamente à morte de tantas aldeias, onde há casas, fontanários, caminhos, mas onde o último habitante partir há muito e para sempre.
O drama do Nordeste transmontano é sem dúvida a desertificação. O Distrito de Bragança envelhece drasticamente, não há crianças, em breve os adultos serão poucos e se não formos capazes de inverter este fenómeno, se hoje encerramos escolas e aldeias, em breve encerraremos Concelhos.
O Distrito de Bragança está a atravessar uma profunda crise de sobrevivência e contudo quando lemos determinadas teorias ficamos com a impressão que ainda é aqui que encontramos a dignidade perdida da humanidade, porque existem sinais de esperança, de que ainda é possível encontrar o homem ético capaz de viver em sociedade.
Pela constatação de alguns paradigmas sociais, parece-nos que a nostalgia dum paraíso perdido regressa aos horizontes das nossas vidas. Sonhamos de novo com o homem comunitário, que não se reduz ao sonho perdido das aldeias de Rio de Onor ou Guadramil, mas que finalmente tem a dimensão da permanência no nosso quotidiano. Para este homem comunitário o bem estar da sua comunidade estava em primeiro lugar e o seu próprio bem estar era relegado para segundo plano.
Remexemos memórias e de novo encontramos o homem solidário respeitador dos valores, das crenças, dos mitos, que em comunidade administra a sua propriedade e em comunidade define regras de comportamento e perspectivava o desenvolvimento em função de padrões comunitários.
Contudo, quando olhamos para a sociedade contemporânea onde impera um capitalismo liberal, no pior sentido do conceito, onde o dinheiro se sobrepõe ao homem, onde há cada vez maior pobreza e maiores riquezas, aonde existe a exploração do homem e o apelo ao consumismo é constante, ficamos com dúvidas se o homem comunitário das nossas memórias transmontanas não será um paradigma perdido.
Mas, sem dúvida, é necessário agarrar a esperança, nem que seja a última esperança para que o homem transmontano ainda possa viver numa região de velhos comunitarismos, com dignidade e com moralidade.
Em verdade, enquanto não surja o homem novo mais preocupado com a moralidade do que com o consumismo e o bem estar individualista, o sonho do homem comunitário nascido na rudeza das terras bravas do nordeste transmontano, será o paraíso do desejo que aguarda uma discriminação positiva por parte dos mais ricos que têm que pensar nos mais desprotegidos e naqueles que vêm os seus filhos partir pelo mundo à procura de níveis de vida que a sua terra não lhe pode oferecer.








sábado, 11 de fevereiro de 2012


 DIA DE MONTARIA EM MURÇÓS


Pela manhã bem cedo começaram a chegar automóveis de todo o Norte de Portugal, alguns filhos da terra vieram de Bilbau, com armas e bagagens para a batida ao Javali, agendada desde há muito tempo, pela organização, a contar com cento e setenta caçadores, decididos e desejosos por fazer gostinho ao dedo, e ao mesmo tempo orgulhar-se de ter matado pelo menos um...doze matilhas de cães bem instruidos latiam, também eles desjosos de dar umas corridas na perseguição do bicho feroz.

O Sol raionante jubilava, embora uma corrente de ar fresquinho tentasse desmanhar o prazer do Vitor e dos seus cinco colegas, vindos de Braga. Numa conversa animada, e sempre divertido, contou-nos que na sua última batida tinha matado um bicho, mas, que lhe faltava uma perna. Contou a história aos colegas que não perderam tempo em o contemplar com estes desabafos:
- Já vinha em cadeira de rodas!..
- Trazia moletas (canadianas) por isso o mataste!!!
Mas o rapaz estava decidido a provar-lhe a boa pontaria. Não parava de mecher e perguntar se a porta que lhe saiu no sorteio estava bem situada?..i

O mata-bicho, momento previligiado para as conversas com velhos conhecidos, fortalecer-se para a seis ou sete horas passadas à espera, silenciosos, que aguns dos cães trouxessem até junto deles um dos bichos. Ao "menu" matinal, alheira, chouriça, salpicão, presunto e queijo, produtos da terra, e a canjinha para aquecer ainda mais os animos.


N'um canto, ao abrigo do vento gelado de Norte, na rua principal, junto do largo do Outão, vendiam-se produtos da terra: alheiras chouriças, salpicões, roscas etc.
Alheio a todos estes movimentos, e porque o dever o chamou a levar para a pastagem o macho, que por ser sabado também come, o tio Alipio ia descontraidamente passando por entre os veiculos estacionados por todo o lado. 





O fumo visivel de longe, subia, enquanto as chouriças assavam lentamente, e o cheiro enchia as narinas dos passantes.
Estava tudo a postos para a caçada, e pouco tardou a dar ordens para se dirigirem aos veiculos que os transportariam para os lugares préviamente designados.






Horas mais tarde, na espectativa dos que ficaram na Aldeia, anciosos por saber a quantidade de javalis abatidos, começaram a chegar os protagonistas, aos quais lhe era feita a mesma pergunta:
- Quantos?...
 Desoito peças, deitadas, juntas, com diversidade de peso e idades, esperavam o leilão de venda, guardando apenas um ou dois para uma patuscada da associativa.



Os pobres animais, expostos à curiosidade dos olhares indiscretos e jubilosos dos amantes da caça...
 Aqui começa o leilão...












As nove mulheres contratadas para o serviço das refeições, não perdiam tempo. Javali nos potes, suponho com batatas cosidas, ou em caldeirada, como tão bem elas sabem fazer.
Estava chegando ao fim mais um dia de montaría, onde os peritos e amadores de caça satisfaziam o seu "obbi" felissíssimos, esperando pela próxima.
A ARTE ENGENHOSA, E A MAGÍA DE SABER BRINCAR COM POUCOS MEIOS...
Também em Murçós, em tempos que já lá vão, se brincava, tradicionalmente com meios restritos, mas com prazer alegria e convicção... ao burro pelado, bate cu, etc.. A permanencia local tornava-se obrigatória, devido aos escaços meios de deslocação... mesmo havendo já uma Zundap ou uma saches. A propósito surge uma história contada pelos residentes, jovens neste tempo, que se juntaram todos os motociclistas da terra e em conjunto foram desfilar para a festa da Santa Luzia em Falgueiras, enchendo o largo; facto que suscitou numerosos comentários de apreço pelas gentes vindas de numerosas Aldeias.
Com as novas tecnologías, a juventude diverte-se diferentemente, não havendo aquele aspecto convivial e simplório que tornava as pessoas mais humanistas e solidárias... contudo, a evolução dos tempos, libertou os aglomerados populacionais de esforços e sacrifícios consideráveis, salintando as idas e vindas a pé aos bailes e festas, distas de tantos km. O progresso foi e será sempre benéfico, só mudam as mentalidades.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

TERRAS BRAVÍAS

 
Lá longe, onde o sol castiga mais; em terras acidentadas, quebradas, árduas e magras, por entre as lousas subtraídas do roço, pela força muscular de homens rijos e rudes, no silencio e desespero, tentavam as plantações de oliveiras, em terrenos baldios, já cansados, do pouco rendimento de umas palhas de centeio ou trigo, transportado dificilmente em carroças de burros ou umas vacas magricelas a cair de velhas e cansaço, para a Eira e malhadas a malhos. Porque as tecnologias vinham ainda a caminho.
Bicho, Vale Grande, Vale da Porca, Vale de Raposo, são nomes de lugares, sitos entre 4 e 6 km, dista da Aldeia de Murçós, limítrofes com as Arcas e Vilarinho de Agrochão. Aqui, nos ribeiros e ladeiras, abriram-se covas com mais de 50cm de profundidade, com picos, ferros de caviar, pás, e outros utensílios, à força dos braços, lentamente, penosamente, com o suor a cair gota a gota, pelos rostos enrugados e endurecidos, marcas visíveis e salientes, que o tempo já passado nesta liderança, deixou. Centenas de pés de oliveiras foram plantadas, pelos mais idosos, e antepassados, as quais acarinharam, trataram minuciosamente, para delas subtraírem, o azeite tão necessário à sobrevivência do agregado familiar, composto com numerosos filhos, netos ou parentes próximos.
As gerações recentes, com a evolução dos tempos, mais as novas tecnologias, não querem nem podem satisfazer os desejos herdados, o que martiriza os corações daqueles que com tanto esforço construíram, esperando sucessão e a continuidade de uma casa agrícola, farta, e orgulhosa.
- Até me dói o coração, ver assim tudo perdido… - Dizem alguns anciãos.
Os castanheiros, com as doenças do cancro e da tinta, e a subida climatérica, secaram; resistindo apenas aqueles plantados mais tarde nos pontos altos. Da carpintaria restam apenas as máquinas: A Aldeia está caindo num deserto, dentro de dez anos, a gravidade, tornar-se-á numa calamidade.
Também lá para os lados da Reboreda e Ribeira, onde os animais não conseguiam manter-se equilibrados, em pé, foram “gaviadas” e plantadas centenas de cepas, as quais eram cavadas à mão, duas vezes por ano, e transportadas as uvas em carros de madeira, construídos exclusivamente para tal feito, por carreiros e caminhos tortuosos e medonhos. Contam os que viveram nesta época difícil, as peripécias engenhosas adoptadas, para conseguirem levar aos lagares estes frutos, dos quais extraíam o vinho, necessário e útil na ajuda de trabalhos rigorosos. Os três moinhos existentes para moer os cereais, trigo e centeio, também se situavam para estas bandas, pelo facto de ser a ribeira que os fazia funcionar, para além de servir outras funções como: a do linho, e regadio.
Homens de luta e garra! Alcunhas de quem fala a história… Valongo, Carriças, Valente, etc.
A casa grande e rica da Aldeia, era a da Viúva. Pertenciam-lhe os melhores prédios rústicos e Urbanos, que mais tarde os herdeiros foram vendendo.
A vida das famílias mais pobres não foi fácil. Enquanto não chegaram as mineiras, a miséria e mesmo a fome rondaram a população, que os contadores de histórias descrevem hoje, como tempos difíceis, já fazendo parte do passado.