domingo, 28 de setembro de 2014

VINDIMAS EM MURÇÓS


 Tempo das vindimas, com o outono a notar-se por entre a ramagem e folhagem, e um colorido misto, encantador mas igualmente penoso, com as folhas mortas a “tapetear” o solo húmido, verdinho com a ajuda das frequentes chuvas derramadas durante este fim de verão, as quais são bem-vindas – clama o arvoredo meio “desidratado” pelas condições atmosféricas em considerável subida, sujeitando os lençóis de água terrestre a ficar aquém das expectativas desejadas, sobre tudo pelos Aldeões que sempre pediram a Deus ( sol na eira e água no naval)…
Voltando ao assunto que me trouxe aqui, as vendimas, não vou repetir as queixas de já não ser como antigamente quando entravam em Murçós carros e carros carregados de uvas belas e doces, apenas dizer que se vendimam as que há e em locais próximos do povoado, pois o reumatismo, artroses e as doenças da velhice, não toleram nem permitem folias excessivas àqueles que persistem em perpetuar os usos e costumes herdados dos nossos antepassados louvados pela transmissão direta ou indiretamente.
Fim-de-semana de vindimas prolongado, porque a metereóloga anuncia água para o início da próxima 
 semana, e as uvas apesar de ainda requerer mais uns tempos agarradas ao seio maternal, começam a apodrecer, transtorno e perca de dinheiro em tempo de crise, há que fazer cuidado com um único cêntimo que seja. As carnais mais vulneráveis, essas pediam mesmo para ser cortadas… o alvarelhão dava amostras de impotência… e até o pequeno, mas doce, bastardo, tendia a encolher… pelo que neste fim de semana, foi mãos à obra para toda a gente; velhos e novos, doentes, aleijados, mandriões… não ficou uma alma a guardar as casas, porque até os ladrões deviam andar à vindima lá para os lados de sem-fins!
Há quem diga que é uma brincadeira, na verdade, apesar de ser divertido umas “horitas” também é cansativo; três dias de “quadris” vergados, já não se ouvem as “landonas” contadas pelos peritos, e o 
 “moer” de um vago para aqui outro pala ali não satisfaz o estomago ansioso que o clarim toque para a merenda, que toda a gente suspeita ter a melhor constituição dos produtos regionais, reservados exclusivamente para esta ocasiões… e sobre a toalha estendida no chão, pratos de esmalte e rodilhos de linho puro, começamos a enxergar o salpicão caseiro, a chouriça, as sardinhas albardadas, o polvo passado por ovos, o presunto gostoso, a grande roda de ovos fritos com salsa batata ou pão ralado… o queijo de cabra inigualável das Cabanas ou Mós de Selas, ou então o de ovelha das nossos serras, durinho a picar na boca, requerendo boa pinga, que não inveja o da Serra da Estrela… os olhos não se erguem para o céu, e as uvas apalpam-se apenas, todos à espera do gesto que liberte o sofrimento dos rins, e não só…
“Verdadinha” que são os melhores momentos da vindima. O convívio e a animação fazem esquecer os percalços da vida que tanto afligem os seres humanos.




segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Pedro Chagas Freitas: A Pele

Pedro Chagas Freitas: A Pele: Que nunca a pele abdique das rugas, pois é apenas nelas que me assumo sem fugas. Que só o orgasmo me rasgue a pele, que só o pra...

Reflexções



Reflexões
«Moro num país em que a pobreza está legalizada»,
e Guilherme (nome fictício para algo que deveria ser ficção) passa a mão direita pelo olho do mesmo lado, esfrega uma e outra vez a pele molhada, as rugas a mostrarem que não é só por dentro que o tempo passa. Tem setenta e um anos, toda uma vida de trabalho para trás, e agora o que lhe resta é a casa a cair de sempre no bairro acabado de sempre.
«Moro num país em que a pobreza não é crime»,
a mão sempre nas lágrimas, as pessoas à volta a olharem com medo.
«Um pobre assusta as pessoas, sabe»,
pergunta-me, os olhos grandes e azuis como que a pedirem desculpa pelo cheiro de quem não sabe o que é água quente há anos, as mãos que se mexem como se procurassem o motivo para a vida.
«Às vezes, por uma questão de respeito, desisto de estender a mão e de pedir, sei que as pessoas têm os seus problemas e não querem saber de mim. Nesses dias opto pelos caixotes do lixo e até nem me tenho dado mal»,
conta, e consegue sorrir o sorriso mais corajoso que existe, e desta vez já são as minhas lágrimas que querem sair; aguento e prossigo, pergunto-lhe o que fazia, o que levou ali, àquele pedaço de nada numa vida tão grande que se foi.
«Trabalhei nas obras, tive uma mercearia, depois até abri um restaurante, veja lá. Mas depois veio esta coisa da crise e tive de voltar aos trabalhos forçados. Mas ninguém me queria. Já era velho demais para trabalhar e ainda era novo demais para deixar de trabalhar»,
pára um segundo, talvez dois, e continua, as lágrimas pararam mas a cabeça não.
«Era velho demais para viver e novo demais para morrer»,
as vidas de todos os velhos deste país, e de tantos velhos neste mundo, definidas numa frase, apetece-me abraçá-lo, dizer-lhe que venha comigo para casa, que farei o que puder e o que não puder para que nada lhe falte, mas nada lhe digo: sei que se há algo que não lhe falta é o orgulho que resta a quem já nada tem.
«Já houve quem me quisesse ajudar, dar-me uma vida longe daqui, onde houvesse água da boa para beber e comida da boa para comer. Mas eu não quero. Trabalhei demais para aceitar morrer de esmolas»,
a expressão fica na minha cabeça, ele explica-a, talvez haja outra lágrima quase a sair.
«Viver de esmolas não existe, sabe? Viver de esmolas não existe. Quem anda aqui por esmolas está a morrer de esmolas, e eu trabalhei tanto, tanto, sabe? Não quero o que não mereço, nunca quis o que não merecia. Só quero o que me disseram que ia ter, mas aqui neste país, não sei se já lhe disse, a pobreza não é crime, parece que os políticos que lá estão a legalizaram»,
revela, e mostra um jornal tão gasto como a pele dos braços, a notícia de um qualquer orçamento de Estado aprovado a cobrir a primeira página toda.
«O que eles querem é que a malta tenha medo de ficar como eu. Nada assusta mais do que a pobreza, não sei se já lhe tinha dito. A pobreza não é o fim mas é um final movente, vai-nos acabando por dentro, vai-nos levando aos poucos; começa pelo orgulho, depois leva a autoconfiança, até que, se não estamos atentos, ficamos sem nada, resta-nos pedir e ficar nas mãos de quem nos pôs assim. Mas a mim esta gente não leva. A mim esta gente não leva»,
as palavras abanadas como uma bandeira, branca de paz e nunca de rendição, cada vez mais pessoas à nossa volta, a noite a cair e, ao longe, no céu, a promessa da chuva quase a chegar.
«O que eles querem é que a gente se refugie da chuva, entende? Querem que a gente tenha medo de se molhar e se refugie da chuva, e que por isso, para isso, faça o que eles querem. O que eles querem é que nós todos sejamos cordeirinhos, e eles dizem vai e nós vamos, e eles mandam fica e nós ficamos. Estamos todos como estamos agora, mesmo agora, a chuva quase a cair e cada um de nós a ter de escolher se se abriga ou se se deixa ficar»,
até que a chuva começa mesmo, as pessoas a correr, os cafés a encher em redor, os toldos das lojas ocupados, eu e Guilherme sozinhos no meio da rua.
«Está ver como todos fogem? É isto que eles fazem»,
outra vez o jornal abanado, as folhas molhadas a caírem aos pedaços.
«Ameaçam que vem chuva, fazem chover mesmo, e as pessoas fogem dela, é mais fácil fazer de conta que se aguenta assim; as pessoas preferem estar recatadas, escondidas do que molha. Mas olhe: a minha avó, Deus a guarde num lugar especial, sempre me disse que quem anda à chuva molha-se, e eu prefiro estar todo encharcado do que só levemente molhado, sabe? Se é para molhar que sirva para lavar, dizia-me ela»,
a rua deserta, eu e ele ensopados, e por momentos até as rugas parecem desaparecer por debaixo da água.
«Todas as águas servem para sarar. Já não vai ser no meu tempo mas tenho a certeza de que um dia as pessoas vão perceber que todas as águas servem para sarar, e aí a revolução chega. Aí a revolução chega. Vou morrer, fique o senhor a saber, com a esperança da revolução, e até não é uma maneira feia de se morrer, pois não?»,
sorri, a vida perdida nos dentes perdidos, passa-me a mão pelo ombro, dá-me uma palmada amigável nas costas, e segue o seu caminho, a chuva e a silhueta dele, a noite a fechar-se, e uma recusa final quando lhe pergunto se quer que o acompanhe ou que o leve a algum lado:
«Deixe estar. Eu fico aqui onde chove.»
E fica. E fica.
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in "Prometo Falhar", a mais recente obra de Pedro Chagas Freitas.
Encomenda de exemplares autografados exclusivamente através do e-mail
pedrochagasfreitas1@gmail.com
(imagem: George Kamelakis)

sábado, 20 de setembro de 2014

Amigos

Meus caros amigos; todos os que fizestes parte integral dos tempos eufóricos da minha caminhada sem destino certo… pelos caminhos belos e saudáveis, marchamos lado a lado, como soldados desertores das imposições protocolares, desrespeitando os princípios critériais  e o relacionamento desses atributos, subtraindo-nos com sobriedade, altivez e determinação aos conceitos que assediam prejudicialmente a rota da felicidade. Juntos e unidos como os dedos das mãos, travámos lutas e batalhas, desarmados, somente convictos de que viver humildemente, fazendo o que o bem-estar dita, percorreríamos trajetos de beleza singular, por entre jardins floridos de imaculados coloridos, cheiros que invadiram nossos corpos, alimentando a jamais as recordações inesquecíveis, ferindo nostalgicamente a sensibilidade inundante suscitada por uma lágrima que vem discretamente refugiar-se num canto de um lenço branco… o da paz.
Como me pesam tantos e tão bons momentos passados ao vosso lado, assentados em volta de uma mesa para beber um copo, matar a solidão dos tempos livres, falar de banalidades que nos faziam rir às gargalhadas, programar estrategicamente, ás ordens acatadas do “mister”, a abordagem do jogo de futebol, contra a equipa que liderava o campeonato… e tanto me alegra saber que sempre estive rodeado por extraordinários legionários de afeto com valor e sem preço… os nossos encontros de relacionamento convivial no seio das respetivas associações, bailes entre membros Portugueses residentes em terras Gaulesas, na linda cidade de acolhimento que é Paris, reconhecida pelo canto: Rainha do Mundo. Ó meus caros e inesquecíveis amigos… são já tantos os anos passados a aguardar o milagre de poder voltar a abraçar-vos, ou pelo menos ter notícias vossas… mas o carteiro não as traz! Como podereis saber que vivo num canto perdido do nosso Portugal, obsequiado com o desejo de avistar uma pequena luz no fundo do túnel, que me guie e me mostre o caminho da felicidade partilhado… será que os vossos víveres são um mar de rosas ou uma coroa de espinhos? Sereis pais “babados” ou avós adorados e condescendentes? Deus como me faltam as vossas sinceras amizades… convosco percorri, serras e vales do lindo Minho, cidades e lugares, do Porto e arredores, praias, discotecas, monumentos, estádios, museus, festa e romarias, cabarets, casas de fados… assisti às festividades de fim de cursos dos vossos filhos… participei nos tradicionais eventos nas localidades de vossa naturalidade… bebi vinho verde pela tigela de barro… visitei o parque de exposições e artesanato… jantamos na pousada onde esteve hospedado o Presidente da Republica… a vós devo o descobrimento dos usos e costumes das diversas Províncias Portuguesas, sendo sempre recebido com carinho nas vossas casas, pelas vossas gentes, às quais ficarei eternamente grato.
A vós dedico os meus mais sinceros elogios, gratidão e amizade para sempre


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Carlos o poderoso

O VI sentido
Nasceu como todos os meninos, n’um berço modesto, n’uma família tradicional Portuguesa, com meios de sobrevivência provenientes da labuta diária, que seus pais travavam no estrangeiro para onde Emigraram na década 60/70. Tinha uma irmã, mais nova que ele, com alguns problemas de saúde, hereditários, ou talvez por capricho do destino, previamente traçado, dizem alguns, fatalidade dizem outros, procuremos a verdade como uma “agulha num palheiro”, ou sejamos realistas e digamos que não foram brindados pela vida, e que a morte veio traiçoeiramente roubar a da mãe, na tenra idade dos filhos, deixando-os órfãos, entregues ao pai, o qual apesar de não deixar que algo lhes faltasse, jamais poderia colmatar o lugar deixado vazio que só uma mãe sabe ocupar.
O tempo foi passando, havendo no decorrer das suas existências, altos e baixos, no seio familiar reconstituído, com novo casamento do pai, e uma irmã da falecida esposa, seguindo-se o nascimento de mais dois irmãos.
De regresso definitivamente a Portugal, o Carlos, que me chama tio e eu considero como sobrinho, embora esse título pertença à minha esposa, com os seus 16 anos desistiu dos estudos para se dedicar exclusivamente a trabalhar na construção civil e pequena agricultura tal como o pai. Era um moço robusto, trabalhador, mas brevemente constatou que a infelicidade lhe batia novamente à porta sendo-lhe diagnosticada a doença do metabolismo caraterizada pelo excesso de glicose no sangue; os chamados: diabetes. Tentou aprender a viver com esta doença, embora com excessos de um jovem que gostaria poder viver como todos os outros… Quando apareciam trabalhos temporários no estrangeiro por tempo determinado, unia-se a grupos e lá iam ganhar uns tostões, porque em Portugal não se passava da “cepa torta”. Foi no decorrer destas contratas que conheceu uma moça loira, oriunda da região do Minho, e com ela enveredou  suas relações amorosas, as quais resultaram em casamento. Deste casamento  nasceram duas meninas, e o acréscimo do agregado familiar complicou-lhe ainda mais o viver, em terras onde os trabalhos escasseavam, sendo necessário pagar renda de casa e manter a sobrevivência da família. Por várias vezes o pai socorreu-o de certas irresponsabilidades, porque as ajudas institucionais não lhes eram concedidas, nem sequer o rendimento mínimo de inserção…Entretanto a saúde do Carlos complicava-se cada vez mais de dia para dia, com insuficiência renal , provocando fragilidade visual, e mais tarde obrigatoriamente hemodiálise duas vezes por semana tendo as funcionalidades renais  estagnado.  A falta de visão galopava, e já não havia meios óticos que remediassem. Também a hemodiálise tinha de ser feita com mais frequência, e o diagnóstico procurado em Portugal e no estrangeiro viria demasiado tarde com a agravante da obrigatoriedade de transplante renal, o qual teve a sorte de obter com a graça de Deus… os seus olhos deixaram definitivamente de ver a luz do dia, e por mais tentativas que fizessem o Carlos cegou. Mesmo sem poder ver, sofria atrozmente do nervo ótico e foi necessária uma intervenção cirúrgica, e a extração dos mesmos. Recorrendo à segurança Social, já a viver em Murçós, onde se ativaram todos os meios, para lhe ser concedido fundos destinados a famílias carenciadas, para a construção de uma pequena casa, e após vários exames a invalidez a que tinha direito.
Gostava sublinhar aqui a coragem, determinação, auto estima e robustez de um homem na flor da idade que perde os rins, a visão total, e sem vacilar nem lamentações, pegou o touro pelos “cornos, adaptando-se demasiado facilmente ao seu novo viver de cego, sem preconceitos nem complexos de qualquer espécie… não gosta que o tratem de coitadinho, aprendeu a viver com autonomia, esforçou-se em adquirir os complementos das novas tecnologias, tais como o “jauss” sistema integrado de voz no telemóvel e computador, utilizando estes softwares como qualquer cidadão visual. Chamo-lhe VI sentido ao meu texto porque apesar de ser um jovem homem extraordinário, o Carlos não desistiu de nenhum dos prazeres que a vida nos oferece, nem passou o seu precioso tempo a lamentar-se, esperando que por milagre lhe caísse do céu a preciosidade que perdeu, falando do visual, porque também perdeu o amor e carinho da mãe, o da esposa que acabou por divorciar, alegando múltiplas razões, mas concretamente só uma me convence; e está perdendo o das filhas que à medida que vão crescendo, não se sentem à vontade junto do pai…
Grande Carlos… apesar de te ter caído o céu em cima, resistes exemplarmente com as magras ajudas, sempre sorridente e bem disposto, pronto para ajudar os mais fracos que tu, aqueles que não sabem o que é sofrer e passam a vida a lamentar-se…  Parabéns por seres quem és, e feliz aniversário deste tio que sempre estará aqui para ti se for necessário …

DEDICO ESTA HOMENAGEM AO MEU SOBRINHO Carlos Martins

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Festas e Romarias


 DIVINO SENHOR DA AGONIA- CHÃOS

É mais uma Romaria que me traz maravilhosas recordações da adolescência e juventude. Por estas paragens, onde o tempo correu veloz, permanecem vivas e acesas as belas recordações. Eram tempos de dificuldade económica e financeira para os mais desfavorecidos – como eu – mas soubemos sempre encontrar nessas dificuldades maneira e arte de dar 
 volta aos acontecimentos, mesmo em situações desesperadas! A vida ensina-nos tudo, ou melhor, com o viver aprendemos a dar valor às coisas aparentemente insignificativas… são os tais valores que supostamente hoje não se transmitem nem se partilham, tornando as novas gerações caracteriais de isolamento tendencialmente hipócritas pelo facto de não existir envolvimento partilhado convivial, saudável, onde o egoísmo parece sobrepor-se à humildade com a convicção – errada – de ninguém precisar do seu próximo.
 Também a Romaria dos Chãos seguiu os passos tendenciais que conduzem ao: “todos por um e cada qual para si” verifica-se a transformação do recinto, onde à tardinha, depois da Eucaristia e o saborear da merenda se jogava à bola, relha, fito, “calhau” e a famosa pega dos touros no imenso lameiro ladeado por uma pequena parede. Esta modalidade continua a chamar milhares de pessoas, talvez mais que os verdadeiros peregrinos que vem para orar. As “barracas” feirantes e a exposição dos tratores com as necessárias alfaias, ocupam o espaço deixando apenas o caminho por onde passa a procissão. Os parques automóveis enchem não se veem pessoas a pés pelas estradas, algumas descalças por promessa… também os farnéis da merenda já não fazem parte da bagagem obrigatória e tão apreciada dos fieis, porque as tascas numerosas vieram substituí-las com a facilidade e o dinheirinho fresco que todos possuem, mas que retirou o “charme” de ver estendidas pelo chão toalhas de linho tecidas  
foto de Orlando Nascimento
 pelas mãos dos que as usavam nestas ocasiões. Aquelas “botas” de vinho de origem espanhola, já não se erguem nas mãos trémulas, visando a boca e muitas vezes acertavam nos olhos ou noutra parte do rosto. São pequenos detalhes, é verdade, mas, que fazem toda a diferença mesmo que seja indiferente para alguns.
DIVINO SENHOR ABENÇOAI OS QUE SOFREM, EM PARTICULAR OS IDOSOS.
                                                                          Deixo a ligação para o álbum completo das fotos aqui
Foto de Lu

domingo, 14 de setembro de 2014

Recolta da amêndoa

 A recolta da amêndoa começa agora… apesar do magro rendimento resultante desta plantação, muitos dos agricultores apostam nela para não deixar os terrenos ao abandono, criar monte, que infelizmente é o que mais se propaga em redor das Aldeias, cuja desertificação se acentua de dia para dia, mediante a desolação dos mais idosos que veem os seus sacrifícios vãos ou vandalizados por falta de interesse. Em Murçós há plantações de vários hectares, infelizmente aqui nada se vende, talvez por maldição porque há de tudo com abundancia.
Esta planta é da Lu.





quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Hier, aujourd'hui et demain


Chaque semaine compte deux jours pour lesquels nous ne devrions pas nous faire de souci, deux jours où il ne nous faudrait connaître ni crainte, ni appréhension.
Le premier jour, c'est hier, qui porte le fardeau de ses soucis, de ses erreurs, de ses fautes, de ses bévues, de ses souffrances et de ses chagrins. Hier nous a échappé à tout jamais. Tout l'or du monde ne pourrait le faire renaître. Nous ne pouvons défaire les actes accomplis, les paroles prononcées. Hier est un jour révolu.
L'autre jour qu'il convient de mettre à l'abri des soucis, c'est demain, plein de grandes promesses, de piètres résultats, de malheurs possibles et de fardeaux. Demain échappe à notre emprise. Le soleil se lèvera inexorablement dans la splendeur ou derrière un voile de nuages. Jusqu'à son lever, nous ne pouvons miser sur rien, puisque demain n'a pas vu le jour.
Il ne nous reste donc qu'aujourd'hui. Tous nous pouvons livrer bataille pendant une petite journée. Nous ne faiblissons et ne chavirons que si le poids d'hier et de demain - ces deux terribles éternités - s'ajoutent aux inquiétudes d'aujourd'hui.
Ce ne sont pas les expériences d'aujourd'hui qui nous désespèrent, c'est l'amertume du remords de la veille et la crainte de demain.
À CHAQUE JOUR SUFFIT SA PEINE !





terça-feira, 9 de setembro de 2014

Festas e Romarias

 VEJA AQUI o resto das fotos


A Sra. Da serra é uma das romarias preferenciais dos povos que a ladeiam. Em tempos as deslocações dos peregrinos faziam-se a pés, por promessas e outras razões, sobretudo pela falta de automóveis e o péssimo estado das estradas sem asfalte, com exceção a da ligação a Bragança. Os sacrifícios feitos pelos peregrinos cujas devoções consagravam com resultados positivos sobre as promessas muitas delas feitas em momentos de desespero, subjugando os promissores, a sacrifícios sub-humanos, martirizando os corpos para descansar a alma com a obrigação cumprida. Recordo-me dos rostos que exprimiam a dor, dos joelhos ensanguentados após duas três ou mais voltas, ajoelhados, ao santuário, em tempos em terra batida, cheio de areias que penetravam a carne até aos ossos… havia quem fizesse dezenas de quilómetros com um ou dois alqueires de centeio às costas para ofertar à Virgem que protegeu os cereais das trovoadas, único meio de sobrevivências para os numerosos agregados familiares. Qualquer doença que surgia no seio familiar, servia de pretexto para o poder milagroso da Senhora da Serra. O Santuário, colocado no topo da serra da Nogueira, para segundo informações recolhidas, poderem comunicar visualmente, todas as senhoras situadas nos diversos lugares, mas sempre em altitude bastante elevada.
 As recordações mais aprazíveis da minha infância, referentes ao dia 8 de Setembro, situam-se no facto do ambiente convivial, partido logo de manhãzinha, aos grupos de velhos e novos, com os farnéis de merenda às costas, segundo os meios de cada um, radiantes e sem cansaço, jubilando por caminhos agrestes, cheios de percalços, mas que nos conduziam sempre ao Santuário da Senhora da Serra, Chegados aí, com um suspiro de alivio, após duas horas de marcha, visita obrigatória à igreja, ofertar segundo os meios, uma coroa, e seguir para as tendas a fim de comprar a prenda (suvenir) para entregar á pessoa amada. O baixo custo, a utilidade eram de mera importância; mais importante era saber que não nos esquecemos. Recordo-me da prenda que uma moça, por quem tinha um fraquinho de amizade misturado com “réspias” de amor, um porta chaves de um cubo transparente, o qual me deixou felicíssimo ao ponto de vir a apaixonar-me loucamente por ela.
 Depois da Eucaristia, tocava ao “rancho” por entre fragas e carquejas, estendiam-se as toalhas para saborear as merendas, com uma vista espetacular para qualquer lado que nos virássemos. De volta a casa, no final da tarde, tentávamos por todos os meios encontrar transporte nos proprietários de tratores, que receavam os da farda amarela, escondidos nas carvalhas, e nós quando os avistávamos de longe, dispersávamos-mos como coelhos pelo monte fora.O Santuário continua repleto de multidões vinda dos quatro cantos da região, para assistir à eucaristia e à procissão cuja tradição não modificou em nada

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

REGREÇO ÀS AULAS

 Fernando Calado




Regresso às aulas
- as mulheres são a minha perdição!
Filosofava o Manuel João… amaciando não se sabe que antigo desgosto…
O Manuel João trabalha na construção civil. De dia é um bom trabalhador, à noite é borracho e também faz versos!
… ai as mulheres… ai as mulheres!...
Que outro lamento há-de inventar o Manuel João que na lonjura do amor sonha com as carícias da taberneira desenhadas na morneza da noite, enquanto lhe serve, vagarosamente, vinho tinto, rubro de vida.
O Manuel João cansado da guerra do ultramar, veio ao mundo num bairro clandestino, entre facas e brigas.
E agora aqui está o Manuel João no anonimato da cidade, cumprindo o seu fadário de vida, ou morte… como se a cidade não precisasse dele, na incapacidade de se rever nas casas que nascem, como por milagre, das suas mãos de operário.
A cidade é feita à sua medida e à sua imagem, numa criação única e ecuménica, como quem recorda o milagre do princípio dos tempos e grita ao caos que se faça ordem.
Conheci o Manuel João num tempo antiquíssimo. Queria frequentar as aulas da noite para fazer o 2ºano, pois este homem tinha sede de vinho e de saber, na sua condição de poeta e filósofo.
Este homem que inventava o acto da criação, trabalhava entre o cimento e o abismo, doze horas. À noite ia bêbado para a Escola. A professora de português gostava muito dele e o Manuel João esqueceu as carícias da taberneira. Um dia de maior perdição escreveu uma carta terna, convidando a professora para a entrega total, absoluta, na cama mais lavada, da melhor pensão da cidade. Ele pagava tudo!
A professora não gostou. O Conselho directivo perguntou-lhe porque fez aquilo.
O Manuel João, como um santo injustiçado, defendeu-se:
- Ela deu-me pistas de querer… até o senhor faria o mesmo e já é velho!
O Conselho de turma fez a sua parte e o Manuel João foi expulso.
O Manuel João… a sala dos professores… a lonjura do amor… o Manuel João fazia casas como ninguém… fazia escolas!
Eu dizia que era amigo do Manuel João… e também lhe recusei a aula e a vida!
Ai a pedagogia, Sr, professor!
Fecho apressadamente o livro de ponto. O Manuel João foi riscado da lista.
Sem saber porquê sinto vergonha… a aula é deserta como o deserto e só a taberna é amiga e acolhedora, no consolo ternurento dum caldo de couves ainda a ferver.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Falecimentos

Faleceu hoje dia 3 de Setembro de 2014 a Sra. Ilda Lagarelhos. O funeral terá lugar amanhã di 4. A todos os seus familiares apresento as minhas condolencias.
Paz à sua alma

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

De volta a casa

 Findas as férias, que a maioria dos “felizardos” pedem para o mês de Agosto, sendo mais um a ficar nos anais históricos das boas recordações, que talvez anos mais tarde os jovens relatem nostalgicamente, mas sempre com a paixão das sementes lançadas à terra, que enraizaram, nasceram, cresceram e deram frutos, orgulhosamente propagados pelos quatro cantos da terra amada. A felicidade destes momentos anuais, dura apenas uns tempos, aproveitados ao máximo, conscientes de que no fim do mês, a viagem de regresso ao local predestinado para o desenvolvimento de uma carreira, ao abrigo do lar onde vivem os entes queridos, por força dos acontecimentos e vontade de dar sempre mais e melhor aos familiares ainda que submetidos a sacrifícios, contrariedades, e obrigações, é uma realidade, penosa para alguns, embora muitos sejam já os jovens nascidos e criados noutros universos, desejosos de voltar, ao que eles chamam a civilização, stressante, poluída, de comunicação restrita, mas que faz parte integral do seu dia-a-dia que prezam ainda que os mais velhos repitam vezes sem fim, algum desagrado, só porque no tempo deles não era assim… não era de facto, porém, a evolução das gerações é uma realidade contundente de objetividade marcante que nos subjuga impetuosamente a seguir com lentidão, outros caminhos menos sinuosos, mas mais convencionais, eloquentes, enfim… concisos!
 A Aldeia voltou também à exagerada tranquilidade, pacatez caraterizante, com um “cibinho” de pena, que se reflete nos rostos enrugados queimados pelo sol ardente, de um verdadeiro verão vindo com atraso, e  nos fúteis sorrisos, na troca de rápidas frases sem se olharem olhos nos olhos, na inveja de o próximo possuir uma agricultura mais produtiva, no sobressalto de ouvir o sino tocar a “sinais”, porque como diz e repete o padre; todos nós temos o dia marcado para a longa viagem das tormentas, já com a obra realizada, e a pelicula a indicar o fim…
Gostava parabenizar os numerosos emigrantes, vindos de todas as partes do Mundo,  para perpetuar as tradições vivas e presentes nos seus íntimos, e ao mesmo tempo dar nova vida, aos residentes permanentes, carentes, e sempre desejosos de que todos vós venhais, com saúde e na paz do senhor.
Muitos foram também os que responderam presentes residentes no País, em diversas localidades. Esta migração suscita erradamente mais consideração, respeito e talvez apreço não justificado pela dignidade da cidadania, que a emigração para outros Países. Não é desonra ir procurar uma vida melhor onde nos é proporcionada… pelo contrário. O chauvinismo pode considerar-se um defeito quase sempre expresso por pessoas com magra percentagem de humanismo.

Tive uma conversa muito animada com o João sobre a Emigração dos meus tempos, que já foi muito diferente no bom sentido, da dos anos 64, onde as dificuldades eram imensas, e as condições de vida bastante precárias. Hoje, felizmente, com a nossa presença na EU, assiste-nos o direito a determinados privilégios, nomeadamente equivalências, pelo que não receiem tentar a aventura que só vos pode trazer benefícios. Eu, voltaria sem hesitar a enveredar pelo mesmo caminho, ficando eternamente grato ao Pais que me acolheu, me ensinou a escola da vida civilizada, dando-me tudo para ser feliz.