sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Dia de sorte58

Dia de sorte 58 AB Durante aquela medonha noite Francisco não conseguiu fechar olho. À sua mente surgiam incessantemente lembranças de um passado recente que o torturava, sem o culpar, mas que se tinham agarrado ao seu coração onde permaneciam presas para sempre. Às 8h da manhã levantou-se tomou um duche vestiu a melhor roupa que tinha, um fato azul céu, uma camisa de alvura e uma gravata preta, meias e sapatos a condizer, tentou disfarçar aquela escuridão na parte inferior dos olhos, e desceu hesitante contando as escadas, voltando-se em cada uma à procura do que sabia jamais encontrar. Entrou na cozinha onde o esperava o filho assentado na grande mesa recheada de alimentos que a cozinheira fez questão de oferecer ao seu menino antes de partir para terras longínquas. Deu os bons dias educadamente, e apressou-se a dizer que não comia, e que ia sair não sabendo o tempo que demoraria. – Não se esqueça que tem avião às… -Não me esqueço… quanto ao teu futuro e do restante pessoal, não se preocupem, já tratei de tudo, esta continuará a ser a vossa casa enquanto o desejarem. Entreguei a gerência da quinta a pessoas honestas que tenho a certeza não me irão dececionar. Ia voltar-se quando notou que alguém lhe segurava o casaco. _ Também posso ir? Disse Fred com ternas e meigas palavras, tal um menino perdido num emaranhado de factos onde não existem preceitos nem razões. Francisco voltou-se e reparou que dos olhos da cozinheira corriam lágrimas a fio implorando a sua clemencia. Não teve coragem para repreensões nem para perguntar se o rapaz sabia onde ia. Vamos. Passaram por uma florista onde compraram doze rosas pretas com apenas suporte para os dois poderem transportar. À entrada do cemitério, francisco perguntou finalmente ao filho como sabia o seu destino, ao qual este respondeu: não podíamos embarcar sem dizer adeus aos avós! Junto da campa um silencio intenso vigorou durante muito tempo, já não havia lágrimas para derramar nem palavras para alentar, apenas dois corações cheios de dor e as imagens daqueles que permaneceriam sempre vivos onde quer que estivessem. Embarcaram ao meio dia, e durante a longa viagem só na hora da refeição pai e filho trocaram as palavras necessárias. Era a primeira vez que Fred viajava de avião, mas dadas as circunstâncias já nada o impressionava. Seguia um homem como um cão segue o seu dono, pronto para enfrentar as adversidades da vida, conhecedor dos antecedentes. Chegaram por volta da meia noite, esperavam-nos no aeroporto a chofer e o mestre cozinheiro. As apresentações foram breves, mas uma surpresa esperava Francisco dentro de um carro de luxo à entrada da sua herdade. Eram os Mailer, pai mãe e filha. Conseguiram o endereço através da funerária portuguesa, e fizeram questão de estar presentes à chegada de Francisco, para reconfortá-lo e apresentar as condolências pessoalmente. Foram convidados para entrar e permanecer a noite na herdade, mas recusaram acrescentando que tinham o hotel pago e no dia seguinte, voltariam a falar. Fred foi instalado num lindo quarto espaçoso, e elegante e com tudo que necessitava para ingressar na sua nova escola particular de reputação irrefutável, incluindo computador, net impressora etc. No dia seguinte receberam para almoçar aqueles que lhe abriram as portas e o ajudaram quando chegou aos USA. Durante a refeição falou-se apenas da desgraça familiar, mas Francisco não se sentia à vontade junto daquela mulher que tentou violá-lo, e temeroso que tal facto chegasse aos ouvidos do marido. Foi durante a sobremesa que a bomba explodiu. Não tens que te sentir humilhado Francisco. Sei de tudo, a minha esposa contou-me assim como à nossa filha. Ela, a única culpada, tem um temperamento vergonhoso, porém já a perdoei e a nossa família continua unida como sempre

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Casos

João Carlos Duarte 18 de Novembro de 2020 · CARTA enviada de uma mãe para outra mãe no Porto, após um telejornal da RTP1. "Carta De Mãe para Mãe... Cara Senhora, vi o seu enérgico protesto diante das câmaras de televisão contra a transferência do seu filho, presidiário, das dependências da prisão de Custóias para outra dependência prisional em Lisboa. Vi-a a queixar-se da distância que agora a separa do seu filho, das dificuldades e das despesas que vai passar a ter para o visitar, bem como de outros inconvenientes decorrentes dessa mesma transferência. Vi também toda a cobertura que os jornalistas e repórteres deram a este facto, assim como vi que não só você, mas também outras mães na mesma situação, contam com o apoio de Comissões, Órgãos e Entidades de Defesa de Direitos Humanos, etc ... Eu também sou mãe e posso compreender o seu protesto. Quero com ele fazer coro, porque, como verá, também é enorme a distância que me separa do meu filho. A trabalhar e a ganhar pouco, tenho as mesmas dificuldades e despesas para o visitar. Com muito sacrifício, só o posso fazer aos domingos porque trabalho (inclusivé aos sábados) para auxiliar no sustento e educação do resto da família. Se você ainda não percebeu, sou a mãe daquele jovem que o seu filho matou cruelmente num assalto a uma bomba de combustível, onde ele, meu filho, trabalhava durante a noite para pagar os estudos e ajudar a família. No próximo domingo, enquando você estiver a abraçar e beijar o seu filho, eu estarei a visitar o meu e a depositar algumas flores na sua humilde campa, num cemitério dos arredores ... Ah! Já me esquecia: Pode ficar tranquila, que o Estado se encarregará de tirar parte do meu magro salário para custear o sustento do seu filho e, de novo, o colchão que ele queimou, pela segunda vez, na cadeia onde se encontrava a cumprir pena, por ser um criminoso. No cemitério, ou na minha casa, NUNCA apareceu nenhum representante dessas "Entidades" que tanto a confortam, para me dar uma só palavra de conforto ou indicar-me quais "os meus direitos". Para terminar, ainda como mãe, peço por favor: Façam circular este manifesto ! Talvez se consiga acabar com esta (falta de vergonha) inversão de valores que assola Portugal e não só ... Direitos humanos só deveriam ser para "humanos direitos" !!!" Eu acrescentaria: Existem pequenos "chips" que devidamente implantados no cérebro, reduzem em 100% as probabilidades de reincidência no crime!

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

IN DESTINOS

Destinos e destinados 104 por António Braz A noite caía por entre a vegetação e as folhas voavam com o soprar de um vento Outonal nos jardins que lentamente se despiam do encanto admirado e acariciados por olhares melancólicos em dias longos e quentes, onde a magia da frescura que partilhada com os que por baixo saboreavam em merendas conviviais, fugindo do stress das grandes aglomerações onde havia de tudo menos a serenidade que alimenta desesperos, cansaços e rotinas. Carlos continuava a viver no seu vistoso apartamento como um perdulário longe de tudo e de todos, respondendo à criada apenas sim e não. A senhora que vivia no seio de uma família normal, sentia apertos de coração e muitas vezes enquanto arrumava o quarto sentiu as lágrimas descer silenciosas pelas faces que o avental acolhia, rezando baixinho onde pedia clemencia para um ser humano que cortara os laços todos que o ligavam à vida. Não era gratidão que sentia pela pessoa que lhe salvou a vida quando aquele carro o podia ter livrado de tanto sofrimento, desde que perdeu a mulher e sempre se responsabilizou pela fatalidade. Assentado à mesa, Carlos aguardava para jantar sem apetite, quando a campainha tocou. Pelo seu cérebro passaram ondas geladas, até que a senhora voltou e numa amargura infinita apenas conseguiu balbuciar: - o seu pai…. O seu pai faleceu Carlos fechou os dois punhos para suster o queixo, tremendo dos pés à cabeça. Os seus lhos já não podiam chorar, mas o coração batia a um ritmo incontrolável. Sentia agora os remorsos da cobardia, da insensatez, da dor que lhe lembrava um passado cheio de amor carinho, sempre disposto a defendê-lo, quando por toda a gente era desprezado, humilhado e até terrorizado por um viver à margem das leis que regem, julgam e condenam comportamentos. Permaneceu nesta posição durante muito tempo até que a criada voltou a perguntar: -Que quer que eu faça? Por favor não me deixe pensar o que nunca desejaria que fizesse… - Chama um táxi enquanto eu vou ao meu quarto vestir-me. Voltou vestido com um fato azul escuro, camisa branca e gravata preta. Tinha passado gel pelo cabelo e penteado para trás. Os sapatos refinavam a elegância de um homem que queria honrar aquele que lhe deu tudo, caminhou ao seu lado, de braço dado, minimizando a crueldade do destino, pagando a sua subsistência, provar-lhe que o amava embora tardiamente. Entrou na herdade onde circundavam numerosos automóveis estacionados nos quais a colisão da bengala guia, o guiavam por caminhos mais acanhados que aqueles que o direcionavam para a sua casa, onde teve todo o conforto, alegria e amor. Subia as grandes escadas em granito quando o olfato de alguém bem conhecido lhe invadiu as narinas e logo uns braços de mulher o abraçavam ternamente, como n’outros tempos, e as lagrimas molhavam-lhe o rosto frio coberto pelo desalento embebido em sentimentos de uma atrocidade desmedida. Não foi pronunciada uma única palavra, ambos sabiam que o destino tinha levado aquele homem bondoso, honesto e carinhoso que jamais traria de volta, Sofriam em silencio para não manchar as suas virtudes.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Feliz Natal

Pelo sexto ano consecutivo o largo S. João de Deus, em Bragança, tem um presépio construído por um morador desta zona do centro da cidade. São já cerca de 300 as figuras que este ex-emigrante em França construiu ao longo dos últimos 13 anos. José Santana tem as réplicas de monumentos e personagens expostas num quintal, junto ao Rio Fervença e, na quadra natalícia, seleciona algumas para fazer o presépio no jardim do antigo Hotel de S. José, que se encontra encerrado. O presépio divide-se entre aquilo a que chama a cidade e a aldeia. O artesão conta que tem a preocupação de fazer um presépio diferente todos os anos. “Praticamente não é nada repetido. Na parte a que eu chamo aldeia há figuras tradicionais, que fizeram parte do presépio em anos anteriores, mas na parte da cidade, nunca há nada repetido”, refere o artesão. José Santana utiliza vários materiais nas suas peças, desde a madeira até ao próprio cabelo. “O cabelo de S. José é o meu próprio cabelo, que fui juntando quando ia ao barbeiro”, revela José Santana. O artesão conta que desde criança que gosta de fazer presépios e espera que o neto continue a tradição. “Gostei sempre de presépios. Quando era criança, havia um senhor que se chamava Manuel Mirandela que fazia um grande presépio na igreja da Sé. Ás vezes ia para o pé dele e, se calhar, veio daí o gosto por presépios. Tenho um neto, que está em França que acho que vai continuar esta tradição, gosta muito disto”, acrescenta o ex-emigrante. Este ano, uma das novidades é a réplica do Santuário de Fátima. José Santana está já a preparar uma réplica do Santuário de Outeiro, no concelho de Bragança, que conta colocar no presépio do próximo ano. Pelo menos até ao dia de Reis, este presépio vai continuar exposto no largo S. João de Deus, em Bragança. Escrito por Brigantia. sANTO E FELIZ NATAL ESPECIALMENTE PARA QUEM VISITA AB

sábado, 17 de dezembro de 2022

Joana Marta Deitado 21 de Maio · Um dia após o meu suicídio, apaixonei-me pelo meu marido ao vê-lo chorar no chão do quarto, abraçado à minha camisa suja de sangue com as minhas fotos espalhadas à sua volta. Eu vi tanto amor nos olhos dele! Um dia após o meu suicídio, eu senti o quanto os meus pais me amavam, por mais que muitas vezes eles fossem durões. No meio de tanta tristeza, eles falavam com os olhos cheios de lágrimas o quanto sentiam orgulho de mim e o quanto eu era sensível com o próximo! Um dia após o meu suicídio, vi que o Zé Bob (o meu cachorro) era mais incrível do que eu podia imaginar. Sempre que alguém saia do elevador, ele corria para a porta e esperava por mim, ao ver que não era eu, deitava-se em frente à porta e continuava a esperar-me! Um dia após o meu suicídio, encantei-me pelos meus irmãos ao vê-los sentados na sala com os olhos cheios de lágrimas. Eles lembravam-se das vezes em que brincávamos na nossa infância... Que época boa! Um dia após o meu suicídio, eu senti o quanto era querida e amada por aquele grande amigo. Ele estava a olhar as nossas fotos juntos, e lembrava-se de todos os nossos momentos! Ele chorava por tantas vezes não ter tido tempo e ter rejeitado os meus convites. Um dia após o meu suicídio, senti que era importante para muitos amigos . Eles culpavam-se por não terem feito nada. Já de noite, fui até à morgue ver o meu corpo. Incomodou-me. Olhei para mim e disse: Tantos sonhos que tínhamos. Tantos amores. Tanta gente para conhecer. Tinhas pessoas que te amavam e mesmo assim, mandaste tudo para o alto. Felizmente isso foi só um sonho. Ainda estás aqui e podes mudar a tua vida para sempre. A vida não é tão má como às vezes parece. Existem pessoas que te amam, que te querem por perto! Dá mais uma chance para a vida e às pessoas que estão ao teu lado. Existe cura para a dor, abre-te com alguém. Já superaste tantas coisas, tenta mais uma! Não estás sozinho(a)! Procura um profissional que te possa ajudar. VAI FICAR TUDO BEM!!! A dor da alma é algo que não encontramos remédios em cápsulas, só poderemos achar "remédios" em abraços apertados, olhos nos olhos, cafunés, colo sem críticas e ombros amigos... O mais difícil é encontrar pessoas dispostas a nos medicar !
Caelibatus (CELIBATO) Herdado do latim para designar uma pessoa solteira e a sua manutenção durante os anos que o destino lhe acordou, suscita apreensões que relativizam imperativamente estados de espírito e sentimentos repressivos guardados ao abrigo daqueles que são enxergados desta forma, secretamente não se justificando críticas negligentes ou propósitos inoportunos inerentes à liberdade de cada um. É tão lindo o estado de solteiro, desfrutando do melhor que a vida nos dá, limitando a sua longevidade aos limites impostos para a procriação, ou formação familiar, que todos os seres vivos no seu estado natural, procuram instintivamente. O agregado familiar, com marido esposa e filhos são os pilares da casa que os abriga, onde comem, bebem, riem, choram, partilham, até que os voadouros permitem o afastamento para também eles constituírem uma família. Pessoalmente não concebo viver uma vida duradoura, para alguns chega aos 100 anos, sem herdeiros legítimos, a trabalhar como negros até que a fisionomia perde todo alento, sem desfrutar de um dia convivial, amealhando migalhas, alimentando-se como mendigos, vestindo-se com farrapos que tem a idade deles e calçados de feira cujo conforto não existe, apanharem dias inteiros vago de azeitona que as intempéries deitaram ao chão, comer uma tigela de caldo e uma côdea de pão antes de se deitarem em camas geladas, sem amor nem carinho, de um companheiro ou companheira que tanto ajuda a palmilhar caminhos agreste, trilhados e pisados com esforço mas dignamente, até um dia… em que são obrigados a tudo deixar, a quem muitas vezes não tem um pensamento afetuoso, lembrando-se apenas que o não podiam levar com eles. Independentemente dos desejos amorosos e sexuais, e mesmo que os tenham procurado em lugares de prostituição, a solidão é como um moinho a moer, e doi tanto! Felizes aqueles que conseguem não desfazer o que tanto custou a fazer! A resposta da atualidade é: melhor separar-se que viver uma vida infernal. Não precisam de muito para largar aquilo que em tempos consideraram o seu tesouro…É como na lenda de Salomão cortar o menino a meio. Talvez seja por estas razões que anda tudo embrulhado, e o celibato atinja um número inconcebível? AB

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

Desejos Quem me dera, poder um dia, voar e poder o mundo abraçar. Levaria comigo nas asas, os que tanto amo e suas casas, para longe da falsidade, onde não houvesse maldade e de mãos dadas em harmonia, amar à noite e sonhar de dia, como quando era mais novo, e sentia o calor do povo que num sorriso passageiro, abria as portas ao desvaneio, longe de preconceitos de invejas, orgulho e vaidade contagiante, esquecendo que todos fomos viajantes, e nas variadas fases da vida fomos esquecendo o guia, aquele que nos deu abrigo, nutriu com afagos e esperança, quando o coração batia forte, e o medo de não encontrar o norte, que o vazio da esperança e da sorte, procurava em terras de ninguém. Quem me dera ter nascido, longe de pessoas que conheci, que em tempos foram companhias, e hoje são estátuas de mármore, seletas e seletivas, porque se julgam maiores, mais poderosas, e independentes, que a sociedade lhes foi legando, e que eu jamais esqueci. Não é o tempo que muda os seres humanos, são eles que mudam com o tempo. Quem me dera viajar nestas asas longas e fortes, e nunca mais baixar, e nem sequer aterrar, atravessar nuvens, ver estrelas, e aquele lindo luar, um céu azul para dormir e o sol para me orientar. São sonhos esfarrapados, são desejos a voar até onde poderem chegar, AB

sábado, 10 de dezembro de 2022

No impulso remoto, repousam em silencio, desgastados e moribundos, átomos decimados que as arestas farejam nas trevas e a reminiscência arrasta pelas encruzilhadas sem tino, como se nunca tivesse existido sem lamurias e a amnésia supervisa, forjando supostos relatórios para não alarmar suscetibilidades, de um passado que foi, de um futuro sem nascente e de um presente em ponto morto, à espera do amanhã que em nada difere do hoje. Gostaria tanto de subscrever-vos meus companheiros de viagem! Voltar a ter, ainda que fosse por um segundo o que nos falta com toda a certeza a todos… mas sei que é impossível, mesmo quando as saudades apertam e o nó da corda vai-nos sufocando sem dó nem piedade. Será, que como eu, passais noites velando o nosso passado? Aquela felicidade duradoura que nos incentivava a loucuras das quais não nos arrependemos? Toda a gente passa por estas margens do rio, mas nem todos os rios são iguais… o orgulho que nos manteve unidos em defesa das mesmas causas, brilha onde quer que estejais. Não era amor o que sentíamos uns pelos outros, era afeto incontestável, magia, fascinação que nutríamos praticando desportos contagiosos de onde se libertava o corpo e a alma, daquele emaranhado de confusões ridícula, sem fundamento nem justiça. Compartilhávamos uma liberdade repleta de etnias onde vigorava o respeito a convivência, e o fascínio utilizando a linguagem única e verdadeira sem atritos nem repreensões, La sagesse st le plaisir de vivre dans un Pays merveilleux qui nous a ouver les portes e le coeur sam rien demmender en échange. Acceulliment déxcélance que este impulso notálgico que hoje me invadiu, transporta no coração enquanto poder respirar. Tchau mês grands amis António Braz

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

IIN DESTINOS E DESTINADO AB

Destinos e destinados 302 por António Braz Era mais um dia de fim de verão, as folhas amarelavam prevendo que brevemente cairiam mortas, num chão frio, mas a paisagem era primorosa com aquela variação de cores anunciando um outono ventoso com mudanças de temperatura, obrigando as pessoas a agasalhar-se nas suas casas ou fora. É uma das estações do ano cheia de imprevistos, que dá entrada a falatórios mais ou menos realistas, com insinuações e previsões de despedidas. Ás seis da manhã, junto à vivenda dos Avós de Fernando C estacionava uma ambulância do INEM, e três pessoas dirigiram-se com o porteiro para o interior a passos largos e apressados. Subiram pelas escadas, duas a duas, levando com eles todo o equipamento de socorro, só a cama de encarte entrou mais tarde quando o médico tinha instalado o maquinismo ao qual ligou imediatamente o moribundo que de olhos fechados não conseguia responder às perguntas, com os lábios colados um ao outro. O enfermeiro interrogava com o olhar o médico o qual brevemente chegou a um diagnóstico - Crise cardíaca severa, (infarto do miocárdio) opinou o médico, precisamos de conduzi-lo ao hospital o mais rápido possível…

Feliz Natal para toda a humanidade

Feliz Natal Cantem, Cantem os Anjos A Deus um Hino, Cantem, Cantem os homens Ao Deus Menino. bis Em Belém à meia noite, Foi na noite de Natal, Nasceu Jesus num presépio Maravilha sem igual! Em Belém à meia noite, Noite de tanta alegria Nasceu Jesus num presépio, Filho da Virgem Maria. Em Belém à meia noite, Nasceu dos Céus o sorriso, Para nos abrir de novo As portas do Paraíso.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Dia de sorte 56 AB Durante aqueles amargurosos dois meses passados naquela quinta que cativou o seu amor e paixão, dentro de Francisco nasceu um vazio medonho que o martirizava impotente e sem recursos morais que alimentaram, noutros tempos, o seu espirito, o corpo e a alma, que um sopro de vento levou para longe deixando-o órfão de carinhos e afetos, de palestras diversificadas, assentados debaixo de uma árvore, saboreando ao mesmo tempo a frescura do calor humano, rindo ou comendo a merenda com os criados, foi o paraíso terrestre que nunca mais teria o mesmo significado. Também a avó falecera passado um mês, o seu coração não aguentou a pressão que lhe corria dos olhos, e o alento fraquejava, em noites de solidão, naquela cama fria sentia-se abandonada pelo companheiro carinhoso com o qual percorreu caminhos ladeados de sombras incógnitas, mão na mão, concordando em tudo, sempre com o sorriso e o beijo de quem se ama apaixonadamente, e na igreja se prometeram fidelidade, confiança nas adversidades, e amor eterno. - Não é justo – gritava francisco junto da cascata onde com o avô, tivera os conselhos de um pai, reivindicando ponderação e compreensão, perdoando à filha o que ele jamais perdoaria à mãe. Legou-lhe aquele lugar sagrado, sabendo que era ali o seu verdadeiro reino, porque fugir é cobardia e já não resolve o que o destino ditou…fingir durante uma vida não é ter coragem – dizia-lhe ele – podes ser o homem mais poderoso do mundo ou o cordeiro mais humilde do rebanho, um dia terás de escolher. Montou o cavalo preferido cheio de ódio e raiva que o animal sentiu quando as esporas lhe sangravam o ventre. Levantou as patas da frente obrigado pelo sofrimento, descomedido, galgou paredes, saltou lagos, deu volta a colinas agrestes banhado em suor num bufar de exaustão, enquanto o cavaleiro não via nem ouvia sentia apenas uma dor que lhe apertava o coração sem poder raciocinar, só se apercebeu da crueldade ao chegar à estrebaria quando saltou para o chão e reparou no estado do alazão. Agarrou-se ao seu pescoço e vezes sem fim pediu perdão como se fosse um ser humano. Chamou um criado a quem ordenou de o recolher o mais rápido possível, o limpasse com panos quentes, e lhe servisse uma boa ração de aveia, e só depois lhe desse de beber água” morna” Entrou em casa tristonho e arrependido, já com roupa normal vestido, dirigiu-se à cozinha para beber também um copo de água. Assentado numa cadeira o filho aguardava a sua chegada, como previamente combinado. Levantou-se e aquele olhar meigo foi ao encontro do do pai que disfarçou dizendo: Esperavas-me? - Não foi o que combinámos pelo telefone? - Ah! Sim foi. Já falamos enquanto almoçamos. Durante ao almoço, assentados lado a lado, nenhum dos dois conseguia balbuciar palavra. O filho, humildemente, com a timidez que o caraterizava, pôs a mão no ombro do pai, sendo imediatamente repelido com violência e desagrado. Uma lágrima caiu-lhe silenciosamente pela face vindo desfazer-se no canto da boca trémula, retirando-lhe o apetite. Francisco apercebeu-se emocionando-se, mas apenas disse. - Amanhã seguimos viagem para Nova Yorque arranja as tuas malas que eu mando alguém buscar-te. Certo? Isto é se não mudaste de ideias e que ainda queres ir viver comigo? - Sim quero muito…

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Sabado foi dia de azeitona, sempre a rodar com um rancho de pessoal impecavel e uma merenda comida no campo que sabe melhor que qualquer bom manjar. A natureza foi bastante sínica com muitos agricultores que tiveram pouca ou nenhuma, eu estou grato falhou um pouco e tinha já caido, mas graças a deus ou ao adubo que lhe deitei e o bom trato, estou satisfeito.

domingo, 4 de dezembro de 2022

PEDAÇOS DE MIM Tu não sabes como são os meus dias Os meus silêncios são momentos de reflexão E enquanto escrevo nessa folha de papel perfumada Com as mãos frias com um coração Cheio de tudo e cheio de nada A alma está como os meus dias Cheio de imagens vazias Lá fora ouço a chuva cair no telhado E no meu rosto a chuva que cai São as lágrimas que dizem tudo O que os meus silêncios não falam E esta noite sinto-me mais perto do céu Em cada vazio eu sinto Que mais um pedaço de mim se perdeu Tu não entendes a minha dor Porque ela não é a mesma que a tua E por entre os silêncios Por entre as palavras guardadas E entre as poesias rasgadas A minha alma vagueia perdida E o meu corpo aos poucos Se entrega lentamente nessa despedida Mas espero que um dia as mãos frias Que um dia escreveram tantas poesias Alguém entenda tudo o que se escreveu No meio de tantos silêncios E que abrace cada palavra imperfeita E que o perfume das palavras Possa ser luz nos seus dias E se outra alma entender Se outra alma sorrir Então a minha alma pode partir… Pedro Duarte domingos Martins

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Saudade, Ahhh Que saudade, disse a mente, é verdade responde o coração acelerado, Me lembro de cada detalhe disse o olhar apaixonado, não me aguento, disse a lágrima quase caindo, Calma, disse a razão, quem sabe um dia, disse o tempo sorrindo! Enquanto isso a memória calada, remoendo cada palavra escrita ou falada! O sorriso maroto até insistiu mas logo foi vencido, porque a lágrima caiu, o tempo diminuiu, o olhar perdeu o brilho, a vida saiu do trilho, a razão se perdeu no meio do caminho e enquanto a saudade quiser ficar, a alegria esvai rapidinho, o pouco que sobrou, e o coração? Ahhh pobrezinho, quase parou. Autor Marcos David. via Nanci Nan

terça-feira, 29 de novembro de 2022

Amizades desvanecidas AB Eramos adolescentes, pobres e vizinhos sem qualquer empatia especial. Eu com quatorze anos de idade, ele um ano mais novo. Afastou-se da violência doméstica e do miserável casebre arrendado, com a ajuda dos patrões endinheirados e respeitados que acabavam de chegar à terra vindos de colónias ultramarinas libertas de tantos anos de opressão. Integrado numa congregação religiosa, como uma dezena de rapazes tinham conseguido a admissão, através dos mesmos meios, conhecimentos e braços longos quedou-se por lá pouco tempo, apenas dois anos, desconheço as verdadeiras razões, ser padre era a finalidade… durante este tempo, recebeu o pároco da freguesia uma carta sua na qual segundo este me mandava um abraço. Atônito respondi ainda incrédulo: mande-lhe também um meu. Pouco tempo depois voltava à terrinha e após um primeiro encontro comecei a considerá-lo como o meu melhor amigo. Fomos crescendo, com fome ou sem ela, (porque também os famintos crescem) e namoriscando, dando voltas sem fim ao povoado, na esperança de nos cruzarmos com as pretendidas em qualquer canto, ou que viessem à porta ou à janela com um pequeno aceno de mão que já nos ajudava a dormir melhor. Confidenciamos um com o outro, levando recadinhos, porque os pais não eram de cocegas, e quem pagava as favas eram elas. Estes namoriscos tornaram-se em verdadeiras paixões proibidas pelos familiares que só por terem uns pedaços de terra se julgavam superiores esperando casar as filhas com melhores partidos sendo nós considerados “pandilhas”. Não houve conformismo nem cedências e os invernos iam passando neste enredamento. No mês de outubro, completava eu dezoito anos e ele dezassete. Ponderamos no facto de dar o salto para França onde supostamente se ganhava para viver melhor mesmo sendo longe daquela espelunca que amávamos profundamente incluindo os familiares. Com 50 escudos no bolso desloquei-me a Bragança para requerer o bilhete de identidade. Pela primeira vez na minha vida confrontei-me com o suborno e a corrupção reles do funcionário do registo civil metendo ao bolso os 50 escudos, caso contrário não havia bilhete de identidade para ninguém. Voltei para casa com a barriga a dar horas e felizmente tinha tirado o bilhete de ida e volta, caso contrário só me podiam valer as pernas. Durante os dias que se seguiram fomos contactados por um “passador” e em troco de uma certa soma de dinheiro acompanhava-nos até Paris. Partimos à uma da manhã, no dia de todos os Santos, mas o pai do meu amigo não deixou que ele seguisse viagem connosco No mês de agosto seguinte voltávamos de férias já com a papelada no bolso para poder trabalhar na França depois de várias peripécias durante este tempo. Por cá os namoriscos continuavam no mesmo ritmo e não tinha mudado nada em relação às restrições. No mês de setembro voltamos a embarcar e desta vez o pai do meu amigo não teve hipótese de o proibir a dar o salto. Deixámo-lo na no quarto de um primo que tentou arranjar-lhe trabalho, mas como não tinha dezoito anos feitos foi obrigado a falsificar o BI. Trabalhava e estudava já com o 2º ano concluído que trouxe da congregação. Era inteligente e progrediu na vida à força dos seus braços e inteligência. Quando a sua amada atingiu a maior idade, casaram, voltaram juntos para frança, para uma região que visitei sendo várias vezes convidado com uma amizade crescente juntamente com a esposa e filho. Tudo se desmoronou com o decorrer do tempo, e hoje sou apenas um estranho que cruzou na sua adolescência e toda a nossa amizade sumiu. Pergunto-me vezes sem fim porquê? E não encontro uma razão válida ou suscetível de ser. Concluo que não há amizades eternas.

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

A FELICIDADE ESCURECEU O MEU VIVER Lembro-me na escuridão do meu quarto As cores do arco-íris, o brilho do sol a brilhar Adormeço e de tantos sonhos me aparto Já não vejo o firmamento nem estrelas a cintilar Quando era menino e com os outros meninos brincava Jogando à cabra cega tinha de adivinhar O nome daquele que me tocava de olhos vendados andava Sem bengala branca para o guiar, Não nutro ressentimentos vivendo à minha maneira Sabendo que será noite para o resto o meu viver Mesmo já não vendo a luz pela peneira Não esqueço aquele que para me salvar a vida teve que morrer Com seus órgãos renasci e na minha casinha só, mas aconchegado Sou feliz com a infelicidade que um dia me bateu à porta A prendi a navegar em mares desenfreados Não conheço o nome do porto, mas que importa Entre quem por bem bater à minha porta, Fui marido sou pai e sou avô, homem de guerras vencidas E para com aqueles que desdém me olham Deixo apenas um aviso, ninguém está ao abrigo AB

domingo, 27 de novembro de 2022

'Poema do Futuro' Conscientemente escrevo e, consciente, medito o meu destino. No declive do tempo os anos correm, deslizam como a água, até que um dia um possível leitor pega num livro e lê, lê displicentemente, por mero acaso, sem saber porquê. Lê, e sorri. Sorri da construção do verso que destoa no seu diferente ouvido; sorri dos termos que o poeta usou onde os fungos do tempo deixaram cheiro a mofo; e sorri, quase ri, do íntimo sentido, do latejar antigo daquele corpo imóvel, exhumado da vala do poema. Na História Natural dos sentimentos tudo se transformou. O amor tem outras falas, a dor outras arestas, a esperança outros disfarces, a raiva outros esgares. Estendido sobre a página, exposto e descoberto, exemplar curioso de um mundo ultrapassado, é tudo quanto fica, é tudo quanto resta de um ser que entre outros seres vagueou sobre a Terra. - António Gedeão, in 'Poemas Póstumos'

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

HÁ COISAS DO ARCO DA VELHA! AB A citação não é minha, ouvi-a por aí, quando andava catando inspirações, por entre pinhais e serras, miradouro de paisagens prodigiosas de recetividade e alimento, onde as palavras deixam o lugar à magnificência, e nos transportam em tornados envolventes para nos despejarem em lugares de criatividade, ao sabor da indulgencia ou gratidão? Dormi na perturbação do imaginário e de comentários que tinham mera importância, mas, perseguiam o meu raciocínio, justo ou injusto, já não sei, tenho apenas a convicção de que: não haveria homens se as mulheres não existissem como poderia haver mulheres sem haver homens? Voltando à história do ovo e da galinha e qual deles nasceu primeiro não elucida ninguém porque ambos nasceram. Não sendo portador de preconceitos e concordando com a emancipação de todos os oprimidos não apoio uma liberdade prejudicial onde a família se resume ao casal filhos e netos cuja educação fere a suscetibilidade de outras gerações que levaram chapadas na escola, palmatórias e outros castigos, com a finalidade de aprenderem prestando atenção, e que atualmente, com a gestação programada de percentagem muito baixa, os meninos são reis dominando o afeto parental, com birras e chantagens, comendo só quando querem e do que querem, acompanhados de um telemóvel exibindo desenhos animados ou lutas incentivantes à violência, cuja atenção se desvia do que era suposto ser um almoço familiar com idades para saberem estar e comer à mesa, e que parte dos alimentos caem sobre as toalhas, com repreensões nefastas, cabendo aos pais a responsabilidade de uma educação sem violência mas que dela resultem resultado a crescer com eles de onde se extraem os bons princípios, e valores sem preço. Os professores vivem autênticos calvários com certos alunos a apreensão de serem deslocados, não podendo sequer dizer: Ó fulano assenta-te que estás a perturbar a aula. O menino vai fazer queixinhas englobando mentiras, e o Diretor da escola em quem acredita? O que corre noite e dia nas cabeças ocas de pais que já nasceram e cresceram no tempo das vacas magras, apenas 50% porque os outros jogam em campeonatos sem desejos nem necessidades sexuais, é apenas a ganância de ter mais que o vizinho, filhos com cursos superiores aos do mundo inteiro, onde o orgulho se transforma em desprezo e a avareza podre contamina mais que qualquer surto. Um dia ficará cá tudo mesmo a podridão contagiosa, um povo vaidoso que não teve o que poderia ter tido, e que se isola numa amnésia fulgurante, cujos resultados se vão verificando, nas guerras sem fundamento e o medo de serem arrasados pelos que andaram mais depressa, mortes e sofrimentos atrozes para quê? Voltando aos comentários de o homem não ser nada se não existissem mulheres, o mar vai crescendo e as bananas cada vez mais acessíveis. Divorciar com 70/80 anos, mais de metade unidos e suportados, com altos e baixos, e hoje por uma peneira já não deixar passar a farinha, dividimos e não te quero ver mais. Que grande falcatrua! Conheci a violência doméstica, ensinou-me algumas coisas, mas os meus pais amados serão sempre o que foram, O adultério não pode ser o fator que desencadeia o desastre. Cobiçar é a prova que o ser humano deve saber gerir sem ferimentos nem provocações, alimentadas por factos à espera do clique. A mulher sabe arrumar a casa, o homem sabe mudar o pneu furado. A mulher sabe mudar a fralda dos filhos dar-lhes banho o homem também sabe. De morrer todos tem medo. Tem capacidades psicológicas a mulher para suportar o sofrimento mais acentuadas que o homem resta a provar…. Vivem melhor as mulheres sós do que os homens, já não são mulheres apenas uma boneca feita na olaria, ou procuram comparações para a satisfação exigente. Quanto aos homens acomodam-se com os meios ao dispor… cest la vie

domingo, 20 de novembro de 2022

"...tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo conduzia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações! Ergueu-se de um salto, passou rapidamente um roupão, veio levantar os transparentes da janela... Que linda manhã! Era um daqueles dias do fim de agosto em que o estio faz uma pausa; há prematuramente, no calor e na luz, uma certa tranquilidade outonal; o sol cai largo, resplandecente, mas pousa de leve; o ar não tem o embaciado canicular, e o azul muito alto reluz com uma nitidez lavada; respira-se mais livremente; e já se não vê na gente que passa o abatimento mole da calma enfraquecedora. Veio-lhe uma alegria: sentia-se ligeira, tinha dormido a noite de um sono são, contínuo, e todas as agitações, as impaciências dos dias passados pareciam ter-se dissipado naquele repouso. Foi-se ver ao espelho." Eça de Queirós in "O Primo Basilio"

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Poema de AB Calem-se os gritos nesse desespero bradar Abram fileiras aos que de longe vem divulgar E no silencio deste imensurável calcorrear Ouvem-se crianças, sem mãe e a sem pai a soluçar Onde os poetas que tão bem sabem prosear Não encontram locuções e vagueiam a deambular Como verdes lagartas em fila atravessando a estrada Sem rumo nem destino onde pernoitar Esta poesia em todos nós emprenhada Serve para quê? Para quando? Ou para nada Vive impotente sem sentimentos e desnudada Alimenta ilusões para quem segue vazio pela longa estrada Para jamais voltar e em cinzas ser transformada Num silencio medonho onde todos caímos E tudo calado E tudo dormindo Fechem-se as portas Onde dormia o menino

terça-feira, 15 de novembro de 2022

https://cspslmurcos.blogspot.com/2022/10/traicao.html Traição 503 O viajante errante, Continuação João, gastara o dinheiro da venda que o irmão lhe tinha depositado numa conta em seu nome aconselhando-o a terminar o curso, reprimindo-o da péssima vida que o estava afundando cada vez mais, dependente de drogas e álcool, sujo por dentro e por fora, dormindo sobre um cartão de papelão à entrado do metro ou abrigando-se em lugares repulsivos, mendigando sobretudo expressões asquerosa onde surgia sempre – vai trabalhar malandro… O seu fiel amigo de quatro patas, um pastor alemão que imensas vezes lhe evitou graves sarilhos, acompanhava-o velando noite e dia onde quer que estivessem. Chegou a deitar-se junto do seu corpo trémulo quase gelado após ressacas que se sucediam cada vez mais frequentes tentando aquecê-lo e com uma das patas limpava-lhe o rosto de uma barba crescida sem higiene por onde passeavam insetos e a voz do desprezo abandonado pelos que passavam fingindo não o conhecer, com vergonha onde na casa que fora dos seus pais lhe engraxavam os sapatinhos e lhe chamavam o Joãosinho. Já sem dinheiro com fome e sede coberto com um capote esfrangalhado, umas botas comidas pelo tempo, calças esburacadas camisa de marca chique, mas que lhe colava ao corpo imundo, já sem forças para se levantar, pensava na morte terrível que se avizinhava, nos pais e no irmão cujas saudades lhe umedeciam aqueles olhos que tinham brilhado e hoje só viam a noite na escuridão. O cão ladrava e uivava pressentindo a morte, e João ainda teve forças para dizer: - És a minha única família, mas só te posso legar gratidão e carinho…. Do outro lado da rua, enquanto esperava a esposa e a filha que faziam compras no interior um homem presenciou a lamentável situação pormenorizadamente, e tirando do bolso do casaco comprido de um azul escuro o telemóvel fez uma chamada. As pessoas que presenciaram, concluíram que seria para a polícia, porem, um senhor fardado aproximou-se do estranho, e depois de umas instruções, atravessou a rua e foi ter com João. Olá! disse este com sotaque estrangeiro: O meu patrão encarregou-me de tratar de si e do seu cão, acrescentando que fizesse de tudo para que não lhe faltasse nada. Por onde começamos? João ficou atónito, e dirigiu o olhar para o Sr. que o saudou com as duas mãos apertadas. Um estrangeiro com coração de ouro, proprietário das melhores lojas da região. Se me permite vamos comprar roupas novas nas suas lojas, tomar um banho no seu hotel, calçar-se nas suas sapatarias e barbear-se no seu barbeiro preferido. Depois vamos comer no restaurante preferido já reservado, e só exige uma foto no fim para poder admirá-lo. E porque faz isso tudo esse homem? A essa pergunta já não posso responder, mas recomendou-me que lhe fizessem um farnel bem recheado para que não fosse a fome a matá-lo mas você a matar a fome. AB (continua)

domingo, 13 de novembro de 2022

AB Destinos e destinados 302 por António Braz Era mais um dia de fim de verão, as folhas amarelavam prevendo que brevemente cairiam mortas, num chão frio, mas a paisagem era primorosa com aquela variação de cores anunciando um outono ventoso com mudanças de temperatura, obrigando as pessoas a agasalhar-se nas suas casas ou fora. É uma das estações do ano cheia de imprevistos, que dá entrada a falatórios mais ou menos realistas, com insinuações e previsões de despedidas. Ás seis da manhã, junto à vivenda dos Avós de Fernando C estacionava uma ambulância do INEM, e três pessoas dirigiram-se com o porteiro para o interior a passos largos e apressados. Subiram pelas escadas, duas a duas, levando com eles todo o equipamento de socorro, só a cama de encarte entrou mais tarde quando o médico tinha instalado o maquinismo ao qual ligou imediatamente o moribundo que de olhos fechados não conseguia responder às perguntas, com os lábios colados um ao outro. O enfermeiro interrogava com o olhar o médico o qual brevemente chegou a um diagnóstico - Crise cardíaca severa, (infarto do miocárdio) opinou o médico, precisamos de conduzi-lo ao hospital o mais rápido possível… Junto ao leito, banhada em soluços, a esposa de mãos postas e olhos erguidos para a imagem do divino senho, enquadrado por cima do leito rezava em voz trémula e baixa. Fernando C que não tinha dormido em casa, ausências frequentes que o álcool e as drogas, faziam dele um farrapo, sobretudo nesta fase em que a amiga borboleta lhe tinha colocado um ultimato, que tinha de escolher rapidamente entre ela e as fantasias destrutivas com amizades de gangues, onde o dinheiro ardia como palha seca, situação em que colocava os avós responsáveis pela sua educação num desespero constante, tendo já sido obrigados a recorrer ás economias sendo ameaçados e chantageados com a morte da mãe. As empresas foram vendidas, a oportunistas negociantes que aguardam como abutres situações idênticas das quais tiram o máximo lucro. Antes de lhe faltarem todas as faculdades o avô tinha mandado chamar o notário ao quatro onde foi registado um testamento no qual eram repartidos todos os seus bens, os de um império que se desmoronava como um castelo de cartas. Todos os seus entes queridos tinham a parte que lhes pertencia por direito. Fernando D entrou em casa no dia seguinte, ainda meio atordoado, mas ao reparar nos choros da avó que não tinha fechado olho, sentiu um estremecer e um bater de coração, como se alguma coisa tivesse acontecido naquela casa, Antes de abraçar a avó subiu ao quarto vazio onde dormia o casal e ao vê-lo vazio o coração caiu-lhe aos pés. Voltou a descer as escadas saltando por cima delas, e a pergunta não foi necessária. O teu avô foi ontem para o hospital em estado critico, provavelmente vai morrer, e tu onde estavas? Teria amado falar contigo pela última vez e tu negaste-lhe o último desejo. Será que o teu coração é feito de pedra? - Perdão avozinha, - e agarrado ao seu cabelo parecia um touro à solta. Eram tantos e tão grandes os remorsos, que não conseguia orientar-se. - Não vais vê-lo enquanto é tempo? - Claro que vou… mas não sei onde está nem tenho dinheiro para o transporte. -Desgraçado, em que bicho te tornaste? Pelo caminho do hospital Fernando C sentiu-se um monstro. Ao entrar de mansinho no quarto do avô assentou-se a seu lado inundado em lágrimas enquanto lhe apertava uma das mãos. Depois passou os seus dedos por aquele rosto meigo e enrugado enquanto mentalmente pedia perdão. Estava a beijá-lo na fronte quando uns olhos meigos, ternos, e cansados se entreabriram, e os lábios ressequidos perguntaram com grande dificuldade: - És tu meu ilho? Não temos muito tempo para falar, mas queria que soubesses que te amo muito e a tua avó também.… não deixes que lhe falte nada, prometes? -Fernando estava arrasado, e as palavras demoravam a sair. - Promete meu filho, porque eu vou partir brevemente e só assim partirei em paz. -Claro que prometo… mas não nos deixe por amor de Deus… O homem voltou a fechar os olhos para nunca mais os abrir, esperou pelo neto lutando até ao último suspiro.

sábado, 12 de novembro de 2022

O medo tentou raptar-me. Levou-me por caminhos incertos. Mostrou-me os espinhos e escondeu as rosas. Quis-me fazer acreditar que a Primavera não iria voltar e que eu estava definitivamente condenada a sofrer. O medo convidou-me para conhecer o lado oposto da vida. Roubou-me o sol e disse-me que na escuridão tudo era mais perfeito. Atordoada segui-lhe os passos sem compreender que não estava a caminhar. Com ele só poderia retroceder ao que não queria voltar a viver. Ele queria impor as suas regras e mudar quem eu sempre fui por vontade própria. Apagou-me o sorriso dos lábios. Riscou a palavra felicidade do meu dicionário. Aceitei ser refém dessa sombra para que ninguém visse o tormento que me perseguia. Não queria que vissem a cor da minha mágoa, nem sentissem o cheiro do meu sofrimento. Fiz essa viagem ao fundo do abismo. Quis acreditar que o mundo era um inferno em chamas e que sofrer era a forma certa para viver. Quis perder-me no meio da escuridão para não ver o que está à minha volta. Só que a meio do caminho senti o cheiro do amor. Vislumbrei as pétalas de uma rosa por entre os raios do sol que não obedeceu às ordens do medo e continuava ali a iluminar os meus dias naquela floresta negra onde andava perdida. Chamei pelo amor, indiferente ao olhar ameaçador do medo que me queria calar a todo o custo. Chamei por mim e pedi de volta todos os meus sonhos sem querer saber se o medo iria ou não aceitar esta minha decisão. A vida era minha e ele era apenas um intruso que estava a virar do avesso a minha realidade. O medo quis raptar-me, mas o amor ensinou-lhe que num coração com sentimentos quem manda é ele. Expulsou o medo da minha vida e comecei a viver de braço dado com a alegria que o amor me mostrava, desenhando linhas por onde deveria caminhar se quisesse continuar a sorrir. O medo retirou-se contrariado, mas ninguém lhe deu grande importância. O foco era viver e sentir a vida a cada momento e essa é uma dança que o medo mão sabe dançar. @angela caboz

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Esta foto não é deste ano Os dias começam a ser longos e frios acabaram-se as cavaqueiras e as paredes das casas já não ouvem murmurar. Choram as telhas num silencio de dor, rasgam-se nuvens ainda em flor, fecharam-se portas que abrigaram tanto amor. Dentro já não mora ninguém, as ratazanas constroem seus ninhos sem projetos nem licenças, andam de um lado para o outro num granjeio de patrões sem medo dos gatos que também já não vem. Meu Deus, porque me abandonaste? Um grito de cristo pregado na cruz, já sem timbre na voz, nem alento que significa estarmos sós, abandonados e tristes como avestruz, sem pernas sem asas e a vista que nos falta, gelados com frio quando chega a madrugada, em camas de desespero que já não podem nada lembrando-nos o tempo em qua a vizinhança falava, e até comentava cenas de filmes que tanto nos agradava. Ó terra de tantas lembranças amontoadas fugitivas, das quais não resta nada. Ó tempo malvado que tão cruel tens sido, abrasas no verão, solta-se o vento que queima tudo o que é alimento. Se é à fome que nos queres matar, sem argumentos para julgar, que essa corda medonha se enrole aos nossos pescoços, e juntos tremendo com medo da morte, leva-nos ao mar para que possamos anelar. Se estamos condenados pelo destino pela nossa hora esperar, leva conforto esperança e carinho, àqueles que no seu miserável ninho, não tem com que falar, nem meios para aquecer os pés e as mãos ao anoitecer, e a fome por dentro a roer. Neste desespero medonho ajuda-os a ter um lindo sonho, ainda que seja uma só vez porque a solidão é tão cruel, mas o carinho doce como o mel. AB Tempo de castanhas que este ano será um verdadeiro desastre para os que esperavam uns tostões amealhar e que infelizmente as temperaturas de verão não permitiram. Toda a produção de alimentos foi afetada, os preços de compra dobraram e triplicaram, combustível energia, é um ano para esquecer aqueles que subviverem. Melhores dias virão e esta gente não é de atirar a esponja. Também a azeitona outra fonte de rendimento se ficou pelos 20% resta encontrar solução para colmatar. AB

sábado, 5 de novembro de 2022

Será que o meu dia chegará? AB Pobre de mim desgraçada nasci em tempos degradada, despida descalça e mal-amada servindo só para ser pisada e talvez ainda enxovalhada, pelos que para estas bandas não tem nada sem sabem o que é uma estrada. Vivi já tantos anos com a esperança e o desejo que já me cansa de um dia ter o condão de entrar em Agrochão, toda de azul vestida com cheirinho a alcatrão. Tantas promessas que o vento varreu, de cabeças ocas do que nunca foi seu e com mentiras sempre prometeu, reunir-se com o colega para debater as razões porquê seis km tem tantas obstruções ou serão as más informações que tão deprimida me vão deixando, esperar, mas até quando? Quem espera desespera onde se instala a quimera, por chegar mais uma primavera, após um horrível inverno, coroado de intempéries o malvado, deixando sobre mim tudo encharcado, e de ossos à vista e carne desfeita, banhados em lama da esquerda à direita, poças cobertas de água, bermas invasoras cobertas de mato, sou só um caminho que não vale nada. Os meus lamentos fundamentados, entram em escritórios onde estão confortavelmente assentados, seres sem dor nem compaixão cabendo-lhe apenas na mão, o poder de decidir, ponderando brevemente, se deve calar-se ou agir. Se não desejam que pertença ao concelho, cortem a entrada a saída e o meio, retirem dos que ainda alimentam ilusões, a traição dos corações e formem justas opiniões de um eleitorado democrático, cuja balança pende sempre para o lado dos burlões, dos graxistas e dos “mamões”, porque quem por aqui vive e passa, paga todos os direitos e a taxa, dos que tem podem e querem.

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

O caminho Caminhava na lentidão prescrita para idades e momentos, acompanhado pela esposa, num esboço de ave consternada, num impulso de cobiçar muito para além do que podia esperar, era meu primo cuja afinidade foi sempre como o antigo muro de Berlim, tinha oito ou dez anos mais que eu, e abalou para outros horizontes quando eu era ainda um “puto” pelo que não tomei como insólito a fato de não me reconhecer. Esperei na beira da estrada, que no passado foi caminho de lama e pó, por onde se efetuavam grandes corredios para apanhar o comboio a vapor a quatro quilómetros de distância, e quando lhe tendi inocentemente a mão par o cumprimentar, não fui correspondido o que me deixou confuso numa perplexidade embaraçosa. Sou filho do teu tio o…- incrível! Responde ele num tom de voz consternado observando-me dos pés à cabeça como um forasteiro que jamais tivesse visto. Como as pessoas ficam desfiguradas! – Disse ele em voz baixa. Acompanhei-os mais alguns passos, sem mais perguntas nem respostas… iam assistir à misa de todos os santos, passados três anos, procurei-o por entre os presentes na igreja, em vão. Na minha mente surgiam constantemente aquelas poucas frases que trocámos, caminhando ou empurrados por um vento que rapidamente passa e gela, transforma e leva consigo, para lá das serras, dos lugares e das pessoas, transformadas em pó, já sem linguagem nem pernas para ainda caminhar, ao som das trombetas, dos sinos que repenicam, de mais uma peça que se retirou do puzzle, em silencio, com dignidade. Familiares que nunca fomos, amizades passageiras de um dia, um mê ou alguns anos, que bruscamente o nefasto realça, quando já o interesse atravessou para o outro lado aquele rio sujo, encontrando o que sempre procuraram, desejos falsificados, promessas imersas no fundo de um saco com eles trazido onde tudo, até as mentiras, foi metido. Vamos neste dia mostrar, e perante os numerosos presentes lacrimejar até as costas voltar deixando para trás tormentas e dor, representadas por cada flor. Vasos lindos para inglês ver, perfumes que acabam por desaparecer. Enquanto vivos foram esquecidos e desprezados, de todos os seus bens despojados e com lindas frases encaminhados para asilos de velhos onde são deixados, que as suas reformas vão pagando, nunca sabe até quando aqueles meigos olhares na parede fixos, e que á noite nos seus quartos isolados, acordam de manhã de pés e mãos molhados. Nunca mais poderão chorar, nunca mais voltarão a amar, tantos anos se perderam, noites à vela sem poder dormir, pagos com moedas de desilusão das quais também um dia eles receberão. Quem é a tua família? Perguntar-lhe-á um gaiato, que desaparece neste mundo ingrato AB

domingo, 30 de outubro de 2022

Convivio em Murços

O dia amanheceu chuvoso e carregado de nuvens pretas onde se escondiam os que para a eternidade voaram e atentamente vigiavam, os que por cá ainda ficavam, restringidos ao que dois anos de pandemia ditavam, medos e desesperos pelos cantos da casas entranhados que uma pobre mascara ia cobrindo, sorrisos e olhares fugindo, escravos da solidão, vitimas que jamais voltarão, choros e lágrimas de dor, gritos de raiva que nos levaram à ilusão de nunca mais nos podermos encontrar, conviver juntos com ar, e tantas patetices sem importância espalhar. Este convívio realizou-se em Murçós; Numa antiga escola transformada onde compareceram de todas as gerações às centenas. Esta visita tanto tempo esperada, e por entre os convivas de todas as classes sociais aprovada, trazia no ventre com vida, razões pelas quais nunca foi esquecida. Comprimentos, beijos e abraços, sem preconceitos nem obrigações, eram as saudades a falar naqueles vulneráveis corações. Assentados em mesas banais, comungando do mesmo pão, bebendo do mesmo vinho, e a sardinha assada, deixou lugar ao porquinho, na brasa bem “assadinho” não esquecendo as ricas entradas, azeitonas, queijo e presuntinho. Depois veio o caldo verde, como delícia vinda da horta, confecionado pelas mãos de fadas, uma delícia que a tradição aporta. Cá fora onde permaneciam os mais jovens, porque já dentro não cabiam, retiravam do assador bem quentinho que comiam com pão e vinho. Mas que grande alegria pairava naqueles jovens rostos, era à vez quem mais “landonas” contava, entre gargalhadas e risos que só isso os alimentava. Surgião recordações de velhos tempos e de agora, e no meio de todos eles ninguém ficava de fora. Os assadores balançavam-se para não deixar queimar as castanhas, havia estoiros de vez em quando com cheirinhos bem estranhos? Trovoada diziam os culpados, com ares de verdadeiro, mas logo começavam a rir do último ao primeiro. A castanha asada e quentinha chegava à mesa dos reis, vinho novo ou jeropiga, porque a digestão caprichosa para ela não havia leis. Foi um convívio de valentia que aos convivas pertenceu, com o rico cafezinho e bagaço que era seu. Diverti-me imenso a escrever este texto, mas queria deixar uma palavra de gratidão a todos que nele participaram e ajudaram, pela iniciativa do evento e pela cortesia de todos os convivas, esquecendo por umas horas, quem eram, de onde vieram, e o que faziam, porque uma boa comunidade não necessita de títulos nem virtudes. Grato pela compreensão, porque este não é propriamente o meu estilo de escrever AB

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

corpo de mulher

CORPO DE MULHER Na nudez do teu corpo imaculado Viajam pensamentos, sujos, manchados Por nunca me teres considerado N’um abscindir de coração magoado No decorrer do enredo por ti arrojado Dissimulavas com fervorosas patranhas Uma paixão para me escravizar o viver Vivias n’um mundo de sonhos e ilusões. Que para sempre ludibriaram o meu ser E não me deixaram como os outros crescer Esperei-te na terra no céu e no inferno Perguntei à chuva à neve e ao vento Aos que partiam e mesmo no cemitério Em lugares onde ambos perdemos o alento Tinhas partido com outro, somente pelo critério Que preenchia os teus maquiavélicos desejos Ó avareza que tão madrasta foste comigo Roubaste-me a juventude a vida e o amor Deixaste-me o coração manchado de dor AB
Este texto pode ser ficção cientifica, mexeu comigo, não são aceites comentários, não sei a razão, pelo que resolvi partilhar como prova da irresponsabilidade da maior parte de outras gereções que se julgam ao abrigo de tais acontecimento que não estão. Kika Gomes · 13 h · "QUANDO ME TORNEI INVISÍVEL"✨ "Já não sei em que datas estamos, nesta casa não há calendários e na minha memória tudo está revolto. As coisas antigas foram desaparecendo.E eu também fui apagando sem que ninguém se desse conta. Quando a família cresceu, trocaram-me de quarto. Depois, passaram-me para outro menor ainda acompanhada das minhas netas, agora ocupo o anexo, no quintal de trás. Prometeram-me mudar o vidro partido da janela, mas esqueceram-se. E nas noites, que por ali sopra um ventinho gelado aumentam mais as minhas dores reumáticas. Um dia à tarde dei conta que a minha voz desapareceu. Quando falo, os meus filhos e netos não me respondem. Conversam sem olhar para mim, como se eu não estivesse com eles. Ás vezes digo algo, acreditando que apreciarão os meus conselhos, mas, não me olham, nem me respondem, então retiro-me para o meu canto, antes de terminar a caneca de café. Faço isso para que compreendam que estou triste e para que me venham procurar e me peçam perdão. Mas ninguém vem. No dia seguinte disse lhes: Quando eu morrer, então sim vocês irão sentir a minha falta. E meu neto perguntou: - Estás viva vó? (rindo) Estive três dias a chorar no meu quarto, até que numa certa manhã, um dos netos entrou para guardar umas coisas velhas. Nem bom dia me deu , foi então que me convenci de que sou invisível. Uma vez os netos vieram dizer-me que iriamos passear no campo. Fiquei muito feliz, fazia tanto tempo que não saía! Fui a primeira a levantar, quis arrumar as coisas com calma, afinal nós velhos somos mais lentos, assim arranjei-me a tempo de não atrasá-los. Em pouco tempo, todos entravam e saíam correndo da casa, atirando bolas e brinquedos para o carro. Eu já estava pronta e muito alegre, parei na porta e fiquei à espera. Quando se foram embora, compreendi que eu não estava convidada, talvez porque não cabia no carro. Senti que o coração encolhia e o queixo tremia, como alguém que tinha vontade de chorar. Eu os entendo, são jovens, riem, sonham, se abraçam, se beijam, mas e eu e eu.... Antes beijava os meus netos, adorava tê-los nos braços, como se fossem meus. E até cantava canções de embalar que tinha esquecido. Mas um dia... Um dia a minha neta que acabava de ter um bebê me disse que não era bom que os velhos beijassem os bebês por questões de saúde. Desde então, não me aproximo mais deles, tenho tanto medo de contagia-los! Eu não tenho magoa deles , eu perdoo a todos, porque que culpa têm eles, de que eu tenha me tornado invisível.

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Vamos chegar

RicardoEsteves.padre 8 h · Vamos chegar a uma certa altura da nossa vida, e quando digo vamos, é apenas a esperança, porque podemos não chegar nem ao dia de amanhã. Mas poderemos chegar a uma certa altura da nossa vida em que o nosso corpo não será o mesmo. Seremos um corpo mais debilitado fisicamente e seremos, talvez, levados para um lar. Pela força da vida, podermos ser levados para um lar para terminar o resto dos nossos dias. Poder-nos-á ser apresentado um quarto que nunca foi nosso e que por lá muitos outros já passaram. Mesmo antes de entrarmos nesse “nosso quarto”, alguém nos falará dele. De como está decorado e mobilado e, podemos mesmo dizer: agrada-me muito! Podemos também ouvir de quem nos fala: mas ainda não viu o quarto como pode dizer que lhe agrada? Sabes? No fundo isso não importa! Porque a felicidade não é material. A felicidade é algo que decides com o tempo. Se vais gostar ou não do quarto onde passarás o resto dos teus dias, não depende de como está decorado, que tipos de móveis e cortinas vai ter… depende sim de como organizaste a tua mente. E basta decidir que vais gostar. Mas isso é uma decisão que deves tomar já hoje, independentemente da tua idade, todos as manhãs quando te levantas. Tens o poder de eleger de ficar na cama a reviver as dificuldades que tens nas partes do teu corpo ou nos problemas da vida, ou saíres da cama e estares agradecido pelas partes do teu corpo que ainda funcionam, ou pela oportunidade de resolveres os teus problemas. Cada dia é um presente e, logo que abras os olhos deves focar-te no novo dia e nas recordações felizes que armazenaste ao longo da vida. A felicidade é como uma conta no banco, tu tiras dela o que foste depositando. Por isso o meu conselho é que deposites uma grande quantidade de felicidade na conta da tua memória. Recordo-vos cinco regras como ponto de partida para ser feliz: liberta o teu coração do ódio; liberta a tua mente de preocupações desnecessárias; vive em paz; dá mais; espera menos. Felizes são aquelas pessoas que mesmo com as amarguras vividas, não perderam a doçura da vida. Um dia muito feliz para todos com Deus no coração🙏🍀❤️

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Traição

O VIAJANTE ERRANTEE por AB Nasceu n’um berço dourado, coberto de beijos flores e alegria, lá para os lados do Alentejo que os chaparros veneravam numa propriedade rica e imensa onde sete criados seguiam escrupulosamente as ordens dadas pelo feitor, homem rude e de poucas falas, e os patrões babados recebiam os parabéns que eles humildemente lhe transmitiam, com um sorriso de orelha a orelha, manifesto de felicidade. Era um casal que passou parte do tempo, que não viram passar, a tratar de um legado familiar de terceiro grau, e quando casaram tinham já cerca de quarenta anos. Nasceram deste casamento em partos de grande risco dois meninos, primeiro o Afonso e cinco anos depois o Joãozinho como prenda caída do céu inesperadamente. Duas amas cuidaram deles como verdadeiros filhos, aos quais se afetaram intensamente e reciprocamente. Apesar da diferença de idades os irmãos passaram a infância nesta grande e airosa propriedade brincando e jogando como meninos ricos, com o amor e carinho dos pais que só a noite chegada lhes podiam dar. Frequentavam escolas particulares, e apesar de o João ter mais cinco anos que o irmão a relação de afeto e amizade era excelente durante sete anos, até que a mãe foi cobiçada por carne alheia, um dos criados, que tinha menos vinte anos que ela, esbelto de cabelo ruivo e olhos azuis com graciosidade beleza e um sorriso capaz de seduzir a mais fiel das mulheres. Fazia todos os possíveis para se encontrar com a esposa do patrão em lugares discretos, e pouco a pouco a presa estava do seu lado envenenada com promessas elusivas que o seu pobre coração não podia refutar, vulnerável e ignorante. Até que chegou o dia do golpe fatal. O rapaz organizou a fuga astuciosamente, desde os transportes, visa e passaportes falsos, pagos com o dinheiro da patroa que tinha acesso a um grande cofre antigo em ferro fundido onde jazia o fruto do que foram acumulando durante anos na venda de cereais e vinho, batata e laranja, quando ainda as faturas não eram obrigatórias. Foi na noite da traição, o marido, como sempre, cansado, deitou-se logo após o jantar e os criados que viviam em anexos por detrás da vivenda não se aperceberam de nada, os fugitivos levavam apenas com eles um saco às costas onde constavam haveres de 1ª necessidade. Um carro esperava-os escondido por detrás de uns arvoredos e a uma distância considerável. – Mexe-te murmurava o rapaz notando uma certa hesitação na mulher que era mãe e entrou no quarto dos filhos beijando-os tão intensamente que quase os acordou. Um braço forte puxou-a para fora, entraram no automóvel estacionado e a alta velocidade dirigiram-se para o aeroporto e na mesma noite embarcaram para a África do Sul. Só quando acordou para fazer as necessidades, o marido se apercebeu que a esposa não tinha dormido na cama deles, e em pânico deu o alerta por toda a propriedade sem qualquer resultado plausível pelo que o seu cérebro começou a imaginar desastres em toda a parte, chamou a Polícia. Foi procurada por toda a parte em vão e só no dia seguinte se aperceberam que o ruivo não tinha participado na procura da patroa. Estranho! - diziam uns. Outros que talvez também tivessem notado aquela aproximação limitavam-se a baixar os rostos, só o Joaquim teve a coragem de contar que os dois pombinhos andavam frequentemente juntos murmurando conversas. Também tinha visto um carro verde estacionado perto da herdade, mas, não estava ninguém dentro, aconteceu já tarde na noite passada quando foi comprar tabaco. Para a Polícia, mas sobretudo para o marido tudo começava a fazer sentido apesar de incrédulo murmurava nomes feios de ódio e de sentir o peso da confiança que sempre depositou na esposa, do carinho que partilhavam, e do amor que os levou àquele altar onde juraram fidelidade até à morte. Do seu olhar saíam agora faíscas de ódio e terror. Foi a casa pegou na caçadeira de cinco tiros e carregou-a como para matar um boi, enquanto os Policias tentavam chamá-lo à razão dizendo: não se pode fazer justiça pelas próprias mãos. E os seus filhos ainda tão pequenos que seria deles? Era um homem perdido que já não via nem ouvia, na sua mente instalara-se a vingança, mas quando entrou em casa ouviu o choro de uma criança, poisou a arma e foi ao quarto deles banhado em lágrimas. Pegou neles apertou-os contra o coração enquanto os seus lábios molhados os beijava ternamente e aos ouvidos lhes segredava que o perdoassem. Quando saiu do quarto reparou que a porta onde guardava o cofre estava aberta assim como a do cofre receando o que realmente verificou caído no chão agarrado à pobre cabeça que parecia estoirar. Levaram com eles todo o dinheiro, ouro prata e tudo quanto tinha valor, deixando apenas atestados de empréstimo. Meu Deus, que faço eu agora? Mas a sua cabeça já tinha decidido, persegui-los até ao fim do mundo. Possuía uma pequena fortuna depositada num banco no seu nome e no do dois filhos abandonado pelos pais fugidos para o estrangeiro por rasões de infidelidade que o marido tentou fazer justiça pelas próprias mãos, sentindo-se traído por um pela esposa com um miúdo que não tinha metade da sua de idade. O pai, filho único, trabalhou como um escravo para fazer florescer aquele lar onde nada faltava, supostamente, até que descobriu a marosca. A traição fragilizou-o ao ponto de tentar suicidar-se, salvou-se com a ajuda de um vizinho, e quando recuperou surgiu a triste realidade de dois filhos abandonados que foram entregues em instituições de acolho. A sua passagem pela instituição psiquiátrica roubou-lhe os entes que mais amava estando apenas autorizado a visitá-los duas vezes à instituição de acolhimento. Conseguiu manter a herdade drasticamente até que Afonso, já formado em engenharia agrícola tomou as rédeas e o pai embarcou à procura dos traidores onde recebia a probabilidade de se encontrarem. João frequentava o 2º ano de advocacia na universidade de Lisboa, mas as más frequentações e as sequelas deixadas pela falta dos pais, empurraram-no para o consumo de álcool e drogas que os oportunistas sugaram depois de ter vendido a sua parte da herdade ao irmão que tudo tentou para trazê-lo de volta e não conseguiu. Por AB (continua)

sábado, 22 de outubro de 2022

A vossa terra

Postagem informativa Brevemente teremos a rede de água aos cuidados do Município com pagamentos mensais onde se incluem os resíduos. Como é do conhecimento de toda a gente os contadores eram propriedade nossa, porém quem quiser retirá-los fica sujeito à colocação de outro cujos custos serão suportados (60 euros) o que não aconteceu em Aldeias do meu conhecimento dentro do Distrito, onde foram todos retirado para colocar novos, propriedade do Município, segundo informações recolhidas nos técnicos de serviço do município. Todos os que tem casas residenciais em Murçós deverão preencher os requisitos exigidos na inscrição do respetivo pagamento o mais breve possível apresentando o (IMI) imposto Municipal Imobiliário com o artigo da propriedade(s) juntamente com o cartão de cidadão e IBAN se quiserem ficar a pagar diretamente pelo banco. Esta inscrição tem-se vindo a efetuar desde o mês de agosto para colmatar as faltas de emigrantes, porém os que não fizeram a devida inscrição ficam sujeitos ao corte de águas, sendo obrigados, no caso de desejarem, a dirigir-se à Câmara para fazer o devido requisito mediante o pagamento de 70 euros. Quem possuir dois ou mais contadores em casas residenciais terão de pagar por todos os que tem ligação. Sei e tenho a noção dos custos, quando durante o inverno estamos a pagar água desperdiçada pele berma da estrada, assim como é injusto utilizar os nossos contadores que a lei obriga ao pagamento do uso, mas como nesta Aldeia nunca os poderosos mexeram uma palha em seu benefício, vergo-me também aos erros e exigências dos que ocupam vários lugares, refutando carreiras prestigiosas de nobreza e remuneração. Também concebo que seja justiça perante aqueles de outras Aldeias que há anos pagam. Consta que poderá haver um retorno ás freguesias mais distanciadas do Município cujo Nº de eleitores é igual ou superior ao exigido. Em Murçós votaram nas últimas eleições autárquicas cerca de 150 eleitores, com todo o direito sendo a contabilização destes feita através do cartão de cidadão. Muitas das Aldeias circundantes através dos seus coordenadores tomaram desde logo as diretivas necessárias para permanecerem quando foram efetuados os censos. Em Murçós ou somos todos burros ou estamo-nos marimbando para a terra que muitos dizem amada, mas só em agosto na semana das festas onde este ano estiveram presentes por volta das 400 pessoas oriundas de cá. Creio que será efetuado um referêndum com votação para avaliar os que querem a situação como está ou autarcas na casa da junta. Sei que não é fácil para quem vive e trabalha no estrangeiro largar os seus empregos para uma boa causa, mas, façam um esforço não deixem que nos considerem os coitadinhos, e façam todos os possíveis para ter a freguesia de volta. Não é esse o vosso orgulho? Respeitosos cumprimentos para todos AB