segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Chamava-se Carmencita

Chamava-se Carmencita A cigana mais bonita Do que um sonho, uma visão Diziam que era a cigana Mais linda da caravana Mas não tinha coração Os afagos e carinhos Perdeu-os pelos caminhos Sem nunca os ter conhecido E andou buscando a ventura Como quem anda à procura De um grão de areia perdido Numa noite, de luar Ouviram o galopar De dois cavalos fugindo Carmencita, a linda graça Renegando a sua raça Foi atrás de um sonho lindo Só esta canção magoada Se envolve no pó da estrada Quando passa a caravana Carmencita, carmencita Se não fosses tão bonita Serias sempre cigana Amalia Rodrigues

Bispo de Bragança recebe medalha de honra do politécnico na despedida da diocese

Bispo de Bragança recebe medalha de honra do politécnico na despedida da diocese

sábado, 22 de janeiro de 2022

3. Recado aos amigos distantes, de Cecília Meireles Meus companheiros amados, não vos espero nem chamo: porque vou para outros lados. Mas é certo que vos amo. Nem sempre os que estão mais perto fazem melhor companhia. Mesmo com sol encoberto, todos sabem quando é dia. Pelo vosso campo imenso, vou cortando meus atalhos. Por vosso amor é que penso e me dou tantos trabalhos. Não condeneis, por enquanto, minha rebelde maneira. Para libertar-me tanto, fico vossa prisioneira. Por mais que longe pareça, ides na minha lembrança, ides na minha cabeça,

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Maria Rita

A Maria Rita por António Braz Era uma moça alegre e jovial, nascida nos confins de um mundo que lhe era bem peculiar, irmã de mais sete, três femininas e quatro masculinos, porque os pais eram ativos e férteis, para além de uma incondicional dedicação à religião cristã e tudo quanto ordenavam os ensinamentos já herdados dos antepassados, desde pequenota foi considerada pelos familiares como a ovelha gulosa, ágil e engraçada porque de beleza, pouco tinha. Com os seus sete anos já acompanhava o irmão pastor, na retaguarda do rebanho não fosse alguma abocada pelos lobos numerosos e famintos, que rondavam até que os três grandes cães os corriam para longe. A sua inteligência também deixava a desejar, e o gosto pelas aulas, tornava-se n’um suplicio que ia aguentando, mas não era de todo o seu campo de desejos. Gostava de rir às gargalhadas, e percorrer montes e vales, como uma gazela indomada, não servindo de nada os sermões que os pais lhe dedicavam. Não suportava a presença de homens próximos do seu habitat natural, e era só com o Prior da terra que se sentia à vontade. Assistia às missas semanais, e o prior era para ela um deus. Tinha já os seus cinquenta anos e fama de mulherengo, sem escrúpulos fossem elas solteiras ou casadas. Quando Maria Rita fez os seus quinze anos, e inesperadamente surgiu o que todas as mulheres tem periodicamente, andou fugida de casa durante uma noite e um dia. Escondeu-se em lugares que só ela conhecia, e só foi encontrada pela população e as forças policiais, quando na sua cabecita começou a florescer a ideia que ainda não era um indicativo de morte. Voltou para casa pelos seus próprios pés, mas, nunca mais foi aquela Maria Rita que todos conheciam. Refugiava-se discretamente, sempre distanciada de homens, recusando conversas, mesmo com os familiares. Um certo dia o prior veio a casa dos pais, insinuando que o que a rapiga tinha entranhado no corpo eram espíritos malignos que era urgente expulsá-los antes que ficasse como mirra. O pai e a mãe olharam um para o outro incrédulo, e perguntaram o que deviam fazer. Ficou marcada uma sessão de extração, pelas orações do prior no sábado próximo, na casa do mesmo, depois de terem passado pela igreja sós, se alguém quisesse acompanhar teriam de ficar na rua a cinquenta metros da casa. O Prior possuía uma técnica específica e para que resultasse, teria Maria Rita de retirar todas as roupas. Envergonhada a mocita exitou, e já o Prior acrescentava: - Se queres ficar doente o resto da tua vida… é contigo. Por fim a rapariga ingénua retirou todas as roupas, e o Prior foi-se aproximando lentamente, colocando as mãos no ventre da moça e descendo lentamente até à zona pélvica acariciando-a. A moça corava, mas ao mesmo tempo sentia as primeiras sensações do amor. Não ousava abrir a boca, e o predador concluiu que estava pronta. Já com o sexo ereto e fora, pegou na mão da rapariga e encostou-a contra um guarda vestidos, e já preparado com vaselina, possuiu a virgindade da proa enquanto esta saltava gritos, que cá fora os que tinham vindo para assistir, exclamavam: -Já estão saindo… coitada como deve sofrer! Maria Rita trazia a lição bem estudada do seu predador, o mostrou-se mais sociável, e do acontecido nem um “pio” Maria Rita nunca mais dançou com homens. Gostava das brincadeiras, e quando tentaram apanhá-la para ir no “birgo” que eram os quatro molhos últimos da “meda”, escondeu-se durante todo o dia em casa de uma velhota, onde não podiam encontra-la. Trabalhou no campo até aos trinta e cinco anos, não se furtando a qualquer tarefa. Tinha pêlos na benta e casar só por milagre… que aconteceu, com um homem que regressava do estrangeiro. Na noite de núpcias, o Américo e o Carlos, depois de jantar, já alta noite, aguardavam junto de uma velha casa, esperando que a cabra se “esbarracasse”,, como eles diziam, e o que ouviram foi a maior surpresa do mundo. A versão que o marido exigiu, quando verificou que a virgindade que toda a gente propagava era uma simples ilusão. Contudo tiveram uma filha linda educada n’um colégio de freiras.

domingo, 16 de janeiro de 2022

Os justiceiros, por António Braz Andam de mãos dadas seguindo os mesmos caminhos, com a indulgência que os carateriza, e a má fé que neles mora, desde a nascença ou até mesmo antes da gestação? Carregam nos ombros franzinos a vestimenta de homens honrados levantando-lhes o ego até às profundidades dos infernos, de onde saem mais vermelhos que polpas de tomate podre, fermento que se fragmenta através das hierarquias vigentes onde todos comem tudo e não deixam nada, a não ser os resíduos de ações maquiavélicas. Tentar por termo a tais mentalidades, corrigi-las ou modifica-las é tarefa impossível. Portugal legisla e cada decreto lei tem duzentas e cinquenta alíneas que vem prorrogar dilatadamente, alimentando a designação do que foi dito por não dito ou feito por fazer. A profissão que ajuíza, seguindo-se os tantos e mais recursos, podemos chamar-lhe “pantin” e aos seguintes: Maria vai com as ouras. E o tempo a passar! E o trabalho é tanto e tão pesado, que só umas férias à escapula em lugares proibidos aos desgraçados, lhes retribuem o discernimento chegando por vezes depois do funeral do arguido em questão. Há países em que as coisas se resolvem e ficam resolvidas. Em Portugal não. É necessário dar mais voltas ao frango no grelhador para enorme satisfação de um jornalismo moribundo cujas audiências prevalecem em detrimento de instituições fardadas fruindo salários exorbitantes, que não contam para despesas do Estado, nem para contabilizar por economistas gagos, preocupados somente com o maior poleiro do Mundo doa a quem doer. Os Portugueses são vaidosos geneticamente, mas, para além deste conceito, ferve-lhes nas veias uma ilusão miríade propulsiva, determinada e resoluta, com tentações aspirais. Nas cidades, vilas e aldeias transmontanas o contágio ultrapassou o siso deixando-se invadir insipiente, semeando a burrice com língua de ouro que sempre deu fruto, com mesquinhez ou hipocrisia, irrelevante. Para quem tem a nossa idade, as consequências podem ser relativas, e a juventude não se deixa endrominar por quem “chega” basta ou vão para onde a civilização não é uma nódoa. Quem vende o que tem a pedir vem….

sábado, 8 de janeiro de 2022

Voltar

Voltar ao passado por António Braz Se um dia voltares a ser novo, lembra-te de mim… daqueles tempos que confiávamos uns nos outros. Das confidencias que só um ao outro fazíamos. E riamos como crianças que eramos. Ás escondidas de olhares indiscretos. No silencio das noites que nos gelavam os pés e as palavras aqueciam os corações. À sombra de árvores que calavam. Os nossos segredos eram irrisórios, mas eram nossos! Lembras-te? Já não. Porque o vento varreu as ruas por onde passávamos vezes sem fim. E o mar passou uma borracha sobre os sentimentos que um dia escrevemos naquela praia deserta onde só as gaivotas andavam de um lado para o outro. Desafiando-nos já não me lembro bem a que jogo. Nesse tempo eramos amigos. Ou talvez fingíssemos ser. Porque hoje já não somos. Não me perguntes a razão. Aprendi a lidar com a indiferença. Com palavras que se gastaram no tempo. Com o que tanta importância teve e hoje é considerado fútil. Já não creio que a amizade possa resistir às tormentas de afetos combalidos. Como na canção o pouco ou nada que ficou, e o que lá vai bey bey. Se um dia voltares a ser o que foste, não me esqueças…fui padrinho de todos, embora só alguns fossem meus verdadeiros afilhados. Esquecer-me não é fácil. Difícil é lembrar-me que os meus atos foram esquecidos. Amigos por interesse nunca quis. Sou ingénuo, mas genuíno Não invejo os que subiram a escada a pulsos, e aos outros também desejo felicidade. Não sou anjo, nem demónio, mas tenho sentimentos! E dói-me tanto! Quando passo por ti e mudas de passeio ou finges não me ver… As situações sociais não deveriam interferir com o coração. Lembra-te que fica cá tudo. Se não voltares a ser novo, tenta ser um velho digno das promessas que o vento varreu, o mar levou para longe, e as gaivotas jogara

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Dia de sorte USA por António Brás A família Miller, vivia nos arredores de nova York, numa linda mansão que tinham mandado construir dois anos antes, O ordenado que fruíam, permitiu-lhes durante estes anos passados economizar embora no início, quando nasceu a filha passassem poe algumas dificuldades. Viviam nesse tempo num pequeno apartamento alugado no centro da cidade, com o casamento e o nascimento da filha, o dinheiro escasseava mesmo privando-se, na alimentação, no conforto, e nos meios de transporte. Assentados no salão cozinha à mesa para jantar, a senhora Miller, que gostava de falar e tendo confiança com francisco, contava as peripécias de tempos idos acrescentando que o amor e a perseverança fizeram com que hoje se permitissem insanidades, sempre com os pés bem assentes no chão e uma compreensão familiar exemplar. Francisco apesar da sua timidez, sentiu no coração ser um sortudo e mentalmente armazenava a gratidão com a qual foi brindado, como num dia de sorte. Do seu quarto, frente a uma das janelas por onde se podia ver uma paisagem magnifica, sorria amargamente, deixando-se invadir por sentimentos e recordações que o traziam de volta à fazenda do avós, onde viveu uma felicidade esporádica marcante, e as saudades apertavam, sentindo agora de cabeça fria e a milhares de km dos seus o peso que se carrega e que doi, que faz mazelas, mesmo que tentemos superar orgulhosamente, como um papagaio está ali, sempre, dia e noite, mesmo quando se é vitima de avidezes, de programadas ações asquerosas, seja qual for a finalidade. Passou uma noite agitada, mas logo pela manhã do dia seguinte bateram à porta do seu quarto quando estava tomando o duche… veio abrir envolto num robe de quarto. Era o Sr. Miller, que esperava para seguirem juntos para a Universidade. No seu inglês imperfeito conseguiu pedir desculpa, acrescentado que se preparava e descia. A esposa e filha já tinham saído, mas a mesa continuava posta com leite, ovos mexidos e uma quantidade de doces enlatados. Francisco comeu apenas uma tosta e uma chávena de café e lá foram os dois no carrão que esperava à entrada. O professor acompanhou-o à secretaria, para pôr em ordem a papelada, e com uma palmadinha nas costas disse: - Agora é contigo… ficas bem? – sim muito obrigado. Naquele mesmo dia conheceu todos os colegas de turma, sendo-lhe apresentado um de cada vez. Sentia-se à vontade e os colegas também não tinham o defeito de cuscar, acostumados a esta andanças. Comeu no refeitório só numa mesa, mas não o afetava. Voltaram para casa às dezanove horas, e como estipulado esperou o professor no recinto durante duas horas, sem falar com ninguém. _ Então, que achas? Da minha prisão? - Tudo bem… - Não fizeste conhecimentos ou mesmo amigos? - Ainda cheguei hoje… - Desculpa. Falemos de outras coisas - Já informaste os teus familiares da mudança de planos? - Não, e… não creio ser obrigado a fazê-lo. Se posso trabalhar no jardim para pagar a minha estadia, como me prometeu a sua esposa, terei de gerir o meu futuro sem a ajuda de ninguém. - O Sr. Miller estranhou aquela resposta inesperada, mas limitou-se a pacientar até saber toda a verdade

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Bairror

Bairros e bairristas por António Braz A sinopse narrativa que descreve pormenorizadamente fatos e gestos vivenciados outrora ou previamente são a coligação que nos transporta de uma era para outra num metamorfosear estéril, onde as gerações se enleiam numa teia bordada de boas e más recordações suscetíveis de aprovação ou rejeição segundo o estado anímico cuja psicologia diverge, por rasões fundamentais baseadas nos ciclos do que foi, é, e será… O escritor dispões de uma vasta panóplia de segmentos, verídicos ou imaginários para captar o leitor e conduzi-lo até ao limite de uma barreira atrativa que se pode tornar hedionda segundo as capacidades mentais de cada ser. Cada escritor possui a forma elítica de sua intenção sujeita à avaliação, por vezes injusta, onde a leitura e os livros sofrem as consequências metódicas do que tem amigos e o braço longo tal como noutros sectores, e a impotência revela-se resiliente consentindo, ainda que com revolta. Naquela terra, onde eu nasci, havia bairros e os bairristas defendiam com unhas e dentes a sua comunidade, em lutas de corpo a corpo, à pedrada, e até com ameaças que jamais se concretizavam. No campo da bola, na coroa da cabeça, rodeado de carvalhais, urzeiras, giestas que tentavam invadir lentamente o recinto, jogavam os do bairro de cima contra os do bairro de baixo, e mesmo sendo a feijões, todos adotavam o sacrifício, a dor e o cansaço como disciplina, e quando o árbitro, neutro, dava por terminado o encontro, os que perdiam desciam cabisbaixo até à airoá onde jorrava uma água fresquinha de uma mina aberta, onde se refrescavam antes de prosseguir em grupos pelo caminho poeirento, mais 1km até chegarem ao prado lugar místico para encontrar os que se regozijavam e os tristes por perderem, que uma hora depois já tudo estava esquecido e confraternizavam na taberna do Tio Álvaro, enquanto debaixo da grande parreira se jogava ao peso fundido especialmente para o jogo. Mais em baixo a relha telintava, batendo numa olmeira, e as pedras de fito andavam de cá para lá, assim como os jogadores, que só quando o sol se punha lá atrás da serra do Pereiros, e já não se enxergavam os vintes, paravam depois de terem bebido uns quartilhos de vinho, pagos pelos perdentes. Eu caçava azeiteiros na poça junto à casa do tio Francisco.