sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Os Moinhos da Ribeira




 O dia apareceu cinzento…. nublado e um vento frio, vindo das serras mais próximas dos nossos hermanos galegos, cobertas de um manto branco, afinava o nariz, àquele que ousava, deixar a quente lareira, para ir dar um esticão às pernas, cuja artrose persiste em dar mau viver aos seres humanos, sobretudo aos mais idosos. Enchi-me de coragem, calcei umas botas confortáveis, vesti o velho blusão de couro, apertei-o, e saí de casa, saturado das emissões televisivas, das conversas caseiras, das redes sociais com publicações emprestadas, frases bonitas, fotos e outras candongas que nos fazem saltar de raiva, tal como aquela casa das aldrabices… não tinha destino definido, e as opções eram remotas, mas… um dia inteiro encurralado é realmente uma seca! Tinha acabado de ler o livro do meu amigo Fernando Calado, “ E JÁ NÃO HAVIA ROSAS”, pela enésima vez, sempre com o mesmo prazer. No café do Reis, agora alugado por um período de um ano, já não se passa o tempo como outrora, por razões óbvias de desertificação da população, e porque a censura decidiu permitir apenas falar da vida de cada um, o que é outra seca, sendo as noticias também encurraladas, mas, como dizem alguns: cada um só tem o que merece.

Saí pela rua detrás,  Vale de Cavaleiro, segui pela rua do casarão até ao cimo do povo, junto do campo de futebol, o qual também aguarda o milagre do mês de Agosto para poder usufruir dos divertimentos animados e barulhentos que quebrarão aquela monotonia misturada com a sensação de abandono. Fiquei um momento a recordar tardes bem passadas na companhia de dezenas de jovens, correndo atrás de uma bola, falando de coisas sem importância, rindo às gargalhadas, voltar para casa ao cair da noite, tomar um banho quente e jantar em paz, embora apressadamente, porque outros divertimentos, esperavam-nos pela noite fora… o privilégio masculino que vigorava nas Aldeias enquanto não houve a revolta feminista…
Subitamente dirigi o olhar par o lado, onde se vê a floresta do Scairo, plantada pelos moradores de Murçós há talvez uns trinta anos ao longo da serra que ladeia a Aldeia de Negrêda. Uma visão panorâmica deveras agradável, que só a ribeira de Mós de Selas, pode definir e compreender com orgulho e nobreza, enquanto corre silenciosamente por entre o denso arvoredo, alguns sobreiros centenários, freixos e choupos, estevas giestas, carrascos, juncos e até pascoelas amarelas no seu tempo… lembrei-me de descer até à ribeira a fim de visitar um dos moinhos existentes e em funcionamento em tempos idos, onde a maioria dos moradores desta terra moíam os cereais, trigo e centeio, e os transportavam, em alforges, sacos de lona, e outros meios existentes nesse tempo.
Segundo informações recolhidas, teria havido ao longo desta ribeira, cinco moinhos: o do tio Sebastião, o da nogueira, primeiro a desaparecer, o da Viúva, mais abaixo o dos “Ferreiros” e ainda o do Povo. Eram tempos difíceis, e os caminhos para aceder não facilitavam a tarefa, aos agricultores, os quais passavam dias e noites em volta daqueles rodízios, das águas que os movimentava, das cantarias redondas e pesadas que moíam, e dos sacos para trazer de volta para casa farinha a fim de alimentar o agregado familiar, bastante numeroso. Lamentavelmente nenhum deles foi preservado, ainda que o Estado tivesse subsidiado a restauração. Hoje pouco ou nada resta de um património tradicional… o telhado ruiu cedendo à intempéries, as pedras redondas e furadas que serviam de conduta da água corrente por gravidade, embarcaram não se sabe para onde, restam apenas as recordações àqueles que por lá passaram, e o testemunho das acentuadas encostas da Reboreda, Lúzio, escairo, e Ribeira de onde se extraíram centenas de carros de uvas, ao suor daqueles que fabricavam o solo, árduo, mas fértil e tão útil dada a ocupação populacional.
A Ribeira com suas “olgas” guardou o “charme” mas as suas correntes diminuíram consideravelmente, e as trutas numerosas, já poucas se aventuram a subir, porque em tempos de verão, ficam apenas aqui e ali algumas açudes provocadas pelo ruir das bermas ou trocos de árvores arrancados de velhos.
E a velha ribeira continua a correr no se trajecto traçado pelo destino ou qalquer irrupção vulcânica, na direcção de Nozelos, Torre, para mais tarde se juntar ao rio Tuela, sem preocupar com o que se passou, sem julgar, resignada a ficar ao abandono como a terra mãe caminha para lá


quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

sou o que sou



    A tulipa nunca será rosa
                   e a rosa jamais será Dente de leão
                    de nada serve esperar ser uma rosa
                      porque na realidade “Sou o que sou”



                                       Talvez eu seja uma tulipa
                                        que se revela a todas as primaveras
                                        demonstrando suas cores seus princípios
 
                                        julgados sempre fora de eras


                                                    Talvez eu seja uma rosa          
                                                    que propaga o cheiro do amor
                                                    picam-se do meu lado espinhoso
                                                    mas a felicidade cura a dor




               Talvez eu seja um dente de leão
                    propagado mas mal compreendido
                                                  mas saiba que quando ele é bem servido
                                                                    à vossa vida dará felicidade e sentido                     

                                                            Pouco importa a flor que vocês sejam
                                                  tem todos um papel para representar
                                                  mas deveis sempre recordar
                                                 Quem vos criou para amar

autor do texto Robert Kemp
traduzido por: António Brás
                                         A tulipa nunca será rosa
                                         E a rosa jamais será dente de Leão
 
                                         de que serve esperar ser uma rosa
                                         Quando na realidade “Sou apenas o que sou

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Pastor de 1 dia


Quinta dos Vales
 Aconteceu no mês de Julho, dos anos 62, na pacata Aldeia povoada por forasteiros oriundos das diversas partes do Universo cujas posições sociais variavam, cores de pele, jovens ou já idosos, por quem o tempo tinha passado deixando sequelas bem visíveis que a maior parte dos moradores ignoravam, ou fingiam simplesmente ser obra do destino.
lobo Ibérico
O Sr. guerra, já com idade avançada, de estatura alta, rugas no rosto, dores repetidas nos joelhos, talvez por se apoiar nelas quando catava as ervas ruins por entre a cebolas em crescimento, as couves-galegas e penca os feijões talhados e agrupados em sulcos curtos, porque semeados às”Ganchas” (enxada de bicos), manualmente tendo em conta a rega efectuada com lentidão, ao longo do sulco, nivelado para melhor chegar à raiz da plantação, onde a rama também tinha o seu concurso na preservação da frescura. Trabalhava diariamente naquela casa grande, mandada construir pelo S.r Ernesto já nos últimos tempos da sua vida, muito à custa dos pobres aos quais quebrava juros exorbitantes por empréstimo de dinheiro, economizado no inicio do rentável negócio,  na tasca existente no grande largo da Aldeia. Em frente tinham sido plantados um freixo e um olmo pelos escolares os quais atingiram uns 20 ou trinta metros de altura e um diâmetro considerável… podiam estas árvores testemunhar, caso falassem, grandes e memoráveis acontecimentos, passados ao abrigo do ardente calor de verão e mesmo quando abrigavam de chuvas ou neves.

descida Lanção
O P.e João da Trindade Alves, tinha sido colocado nesta paróquia havia relativamente pouco tempo, e vivia junto com a irmã D. Denérida e a Mãe. Tinham um “casal” em Viduedo herdado dos pais mas entregue a um caseiro para a extracção dos rendimentos… aqui tinham também um,  para cultivar a maioria dos prédios rústicos, fortuna deixada pelo taberneiro, ou banqueiro do povo… como lhe quiserem chamar.
Foi numa destas tardes, quando voltava de um jogo de bola, na eira do tio Zé Çuca que o tio Artur, familiar afastado, da família Alves, me abordou, na cozinha, onde eu tentava, ás escondidas da criada Luzia, comer um pedaço de pão com manteiga, já bem próximos da jantar dizendo: - Amanhã vamos a Penhas Juntas buscar um rebanho de gado…
que me diz?
_ Ouviste bem… o Sr. P.e disse para te levar comigo.                                                                               Mas… eu percebo alguma coisa de ovelhas?
Não tens que saber… eu é que vou pastorear… tu limitas-te na retaguarda a verificar que não fica nenhuma para trás.
E onde fica isso?
- Também não te preocupes que lá iremos parar…
Quem nos vai levar?
- HaHaHa! São as pernas rapaz!


Senhora da Serra
Estava eu muito longe de imaginar a distancia que separa as duas Aldeias, e o percurso, que nos esperava por entre arvoredos e carreiros, pois segundo o guia eram atalhos… mas, como diz o adágio “ quem se mete por atalhos mete-se em trabalhos! Sei hoje, porque na altura não sabia dar apreço à beleza da paisagem, que nos dirigimos para a Quinta dos Vales, a pés, de cajado na mão e um farnel composto pela Luzia, que conhecia perfeitamente a Aldeia onde nos dirigíamos, por ser a sua, onde serviu o P.e João enquanto Pároco aí durante alguns anos.
Chegávamos perto da Sra da Serra., e já os meus pés manifestavam dores e as pernas cansaço, mas o pastor improvisado não me deixava grande margem de escolha…
- Ou andas para a frente ou ficas aí…
Murmurava uns insultos, mas penosamente tentava seguir aquele homem que mais parecia um “galgo”. A verdade é que tínhamos que trazer de volta o rebanho para Viduedo ainda no mesmo dia, e voltar para casa, onde chegamos exaustos já alta noite.
Entretanto tínhamos atravessado a serra da Nogueira, direcção a Melhe de onde se avistava ao longe a localidade que nos esperava, e não ajudava nada para a minha motivação…
Atravessamos um ribeiro e estávamos Na Edrosa. Já falta mouco dizia-me o tio Artur… a mim parecia-me uma eternidade.


Serro de Penhas Juntas
Finalmente chegamos junto de um grande curral, onde um homem de grande estatura nos esperava par nos entregar o ditoso rebanho de ovelhas. Este homem vivia no serro, a uns 800 metros de altitude onde não via nem ouvia ninguém durante dias a fio. Arrepiaram-se-me os cabelos…
Não tivemos tempo para descansar, uma troca de palavras e lá íamos nós de volta, conduzindo um rebanho por montes e vales, deveras uma paisagem de encantar para quem visita de automóvel e sem 80 animais para conduzir sabendo das numerosas e variadas dificuldades inclusive o ataque eventual de lobos que nunca tinha visto pessoalmente.
O mais difícil foi para chegar á Senhora da Serra… momentos antes tínhamos merendado, e retomado forças,  passando Junto de Refoios, descemos direcção a Lanção, e do nosso lado esquerdo, Rebordãos aparecia airoso e luminoso já ao cair da noite.
Uf! Enfim uma boleia para casa.  Foi a cavalo que voltamos ao ponto de partida, mas aquela noite dormi em sobressaltos.


Penhas juntas

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Pés no Sofá: CARTA ABERTA A UM DUX

Pés no Sofá: CARTA ABERTA A UM DUX: Dux: Ando aqui com esta merda entalada há já algum tempo. A ouvir as diferentes versões, a pensar nas dúvidas e a pôr-me no lugar das...

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

A Emigração




 O pico da emigração superou este ano os anos 60, diziam os jornalistas nos jornais televisivos, e ainda não vamos ficar por aqui…
Existe uma grande diferença entre a emigração das duas épocas… hoje, podem reunir as suas coisas, metê-las dentro de uma mala e seguir viagem com os maridos, os filhos, sem entraves nas fronteiras; apenas com um cartão de cidadão, uns trocos para a viagem e remedeio ao chegar, e como é óbvio a entreajuda de um familiar ou amigo no local. Concebo e admito ser frustrante, penoso mesmo, ficar sem emprego, carregando com as consequências advindas e dificilmente suportadas, porém, na minha opinião, não é desonra e muito menos uma condenação ao degredo humilhante, imposto pelo País Natal, que sempre foi pobre, mesmo quando os ditadores governavam, impondo suas leis bárbaras e desumanas as quais conduziram uma grande quantidade de patriotas à prisão e à morte, nas galerias terrestres mais horrorosas, onde os funcionários, PIDE) que hoje usufruem de reformas exorbitantes, puniam as vítimas, sem dó nem piedade, por uma palavra política, arrancada a fogo e a ferro.
Não lamentem a vossa sorte, porque outros mais infelizes percorreram os mesmos caminhos, com a diferença de os dos anos 60 a fazê-lo a pés ou escondidos em carros que servem hoje para transportar animais vivos, enquanto vós viajais em carros confortáveis, comboios, ou aviões. É vos concedida a equivalência dos vossos estudos, e empregos equivalentes… aos dos anos 60, a maioria analfabetos, eram dados os empregos mais penosos e duros que os patriotas desse País desprezavam ou consideravam desprezíveis. A vossa integração será facilitada, pelo facto de possuírem preceitos intelectuais incomparáveis aos dos que, por infelicidade e carência, se ficaram pelos exames primários, e sempre viveram oprimidos, não podendo desenvolver os dons cívicos, nem manifestar o descontentamento.
Já alguma vez ouviram contar a história da viagem clandestina de Emigrantes dos anos 60?
Posso citar como exemplo a minha em 1968 já muito facilitada em relação aos métodos praticados em 64…
Parti da minha terra Natal no dia 1º de Novembro de 1968, às 2h da manhã, com um farnel às costas; dentro um naco de pão centeio, um salpicão que os meus pais reservaram especialmente para a ocasião, umas meias e uma camisola. Dois táxis levaram-nos até cerca de 4 quilómetros da fronteira do Portelo, onde um guia os esperava escondido num matagal, do qual ao ouvir o ruído dos automóveis, sai com um foco fazendo sinais de morse como previamente combinado.
- Desçam rápido e sigam este senhor – Disse o motorista, fazendo imediatamente meia volta de regresso a Bragança.
Nós cumprimos as ordens sem balbuciar palavra, até porque tínhamos sido avisados para fazer o menos ruído possível, e sobretudo não falar.
A noite estava escura, tropeçávamos aqui, caiamos ali, mas sempre com o olhar fixo no guia para não ficarmos por ali abandonados, pois também tínhamos sido avisados pelo passador, que o guia não esperava por ninguém… em baixo ouvia-se o ruído medonho da corrente das águas, e os nossos corações batiam fortemente receosos de tropeçar, cair nas águas, e… adeus vida.
Andamos por volta de 6km ladeando a fronteira até tomar a direcção de Calabor, Aldeia Espanhola, onde fomos acolhidos para dormir de pé, por não haver aposentos para três dezenas de homens e mulheres. A grande lareira aqueceu os corpos, mas a alma continuava alertada por uma eventual denuncia e seriamos presos.
Amanheceu, e o passador pediu-nos o BI para ir à guardilha pedir uma autorização a fim de podermos deslocar-nos em território Espanhol. Seguimos depois para a Puebla de táxi, onde apanhamos o comboio para Medina-Del-Campo, e daí para Irum cidade fronteiriça com a França. Em fila indiana espaçada fomos atravesando a ponte de Irum para Andaye, tudo combinado com as autoridades, pagas que faziam ouvidos moucos e olhos cegos.
Finalmente, já com um recepissé no bolso seguimos para os destinos.
Permaneci em Paris durante muito tempo sem trabalhar por não haver trabalho devido a uma greve longa que marcou esta data.
Nas minhas primeiras férias, logo no ano seguinte, não tirei passaporte no Consolado, porque chegados à fronteira éramos presos e levados para os quartéis fazer o serviço militar.
Meu irmão tinha comprado um velho automóvel, Austin Morris, onde viajamos durante longas horas, pelo facto dos engarrafamentos, das intempéries, e a idade do “calhambeque”. Finalmente, apesar das numerosas peripécias, chegamos à fronteira de Quintanilha, onde tínhamos combinado eu descer dois km antes e passar de assalto, esperando do outro lado na estrada cujos sinais eram ramos de monte na estrada.
Silenciosamente ia-me deslocando por cima dos rochedos como se fossem ovos, ouvido alerta e olhar fixo em todo o lado. Ao chegar junto do rio deparei com a minha primeira surpresa… como fazer para atravessar o rio? Numa fracção de segundos decidi lançar-me à água, sem ponderar nos perigos possíveis existentes… nadei até ao lado oposto, agarrei-me a um arvoredo e subi para cima atravessando o mato a escorrer água da cabeça aos pés, mas o mais importante era não fazer esperar os familiares. Cortei uns rascalhos depositei-os no asfalto e escondi-me na mata. Esperei meia hora e comecei a inquietar-me pela demora do automóvel. Resolvi ir andando estrada fora não tivessem já passado…. A quatro quilómetros deparei com um automóvel estacionado na berma da estrada, mas como tinha matricula Alemã não me preocupei. A principal questão era o que teria acontecido ao meu irmão e ao carro que não apareciam. Decidi meter-me a pés até Bragança às 2h da manhã pela estrada Nacional medonha que liga Quintanilha a Bragança ao longo do rio Sabor. A fronteira fechou à meia noite razão pela qual o carro não aparecia. As roupas tinham secado com o andamento, meti as mãos ao bolso tirei um cigarro mas não tinha com que o acender. E meio dormido, meio acordado, cheio de medo, palmilhei 30 km, chegando à entrada de Bragança às 6h da manhã.
Como também tinha deixado a carteira no carro, não podia alugar um táxi para me levar a casa. Esperei à entrada da Cidade com os primeiros raios de Sol a aquecer-me o corpo e os olhares dos que por ali passavam interrogativos por me verem encostado ao seminário com as roupas sujas de atravessar molhado aquele mato medonho. E o carro apareceu uma hora depois, e a alegria voltou a encher o meu coração ansioso por voltar àquela amada.


segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

O DIA DAS AFILHÓS

VEJA AQUI A LIGAÇÃO PARA O ALBUM
DE: Miguel Fernandes sobre as várias maneiras de recolha da azeitona em Murçós
clic uma vez com o lado esquerdo do rato para a foto seguinte







 Finalmente a recolha da azeitona está chegando ao fim. O inverno rigoroso e ubertoso em chuva, vento e frio teimava em impedir os grupos organizados, das poucas pessoas mais jovens, que o destino ou a vontade ditou para ficar por cá, a sair de casa logo ao romper do dia… e a azeitona ia caindo, perante os olhares impotentes dos mais idosos, ferindo-lhe os corações ansiosos e tristes com o desperdício, após tantos esforços e sacrifícios, com o intuito de levar aos pratos dos familiares abastança alimentar, sabendo que a venda anda pelas horas da amargura… O chão acolhia alegremente os frutos balançados pelo vento, enquanto a lacrimosa chuva os lavava, abundantes, que a mãe oliveira tentava guardar ao abrigo dos seus ramos. As conversas nos agrupamentos, quase sempre nos cafés, convergiam  para o sentimento comum de desolação, e a falta de poderes dos mais idosos, congregava-se nas lamentações com a falta de mão-de-obra nestas ocasiões mais que especiais. O grande alivio só se vai verificando nos rostos dos populares, quando voltam dos lagares com os recipientes cheios de um azeite fino, gostoso, e colorido, que faz a felicidade dos amantes de um bom cozido à Portuguesa, umas casulas transmontanas cozidas nos grandes potes de ferro, juntamente com perna, orelha, costela e chouriça de porco… um bom polvo cozido, e um bacalhau assado na brasa, à lareira natural e tradicional, porque hoje em dia, o modernismo, requer os recuperadores de calor, idênticos ao que se vê artificialmente, sem usufruir das numerosas vantagens, grelhados, fumados e sobretudo o aconchego aprazível, enquanto em tempos que mal se pode sair à rua, em detrimento das histórias que os nossos antepassados nos contavam durante as longas veladas, nos contentamos com a emissões televisivas,

 baseadas na reality show, alimentadas, mas sobretudo pagas, pelo povo incentivado incessantemente a telefonar para ganhar somas, sabendo que só 1% tem essa possibilidade. A realidade de ontem e a ficção científica de hoje poderia considerar-se como um: “ apartheid” evolutivo dos tempos, onde os mais novos vêem com indiferença as belas recordações do passado, que os mais idosos tentam transmitir, com saudades ou nostalgia, e os mais novos procuram refugiar-se nas numerosas aberturas das novas tecnologias, nomeadamente da comunicação virtual, rápida engenhosa e eficaz. Não podemos censurar e muito menos julgar, as magnificas ferramentas dos tempos modernos, que nos possibilitam mais rapidez e eficácia, com usufruto à distância de milhares de km. Contudo, podemos comparar… e, pessoalmente chego a uma conclusão confusa, indiscernível. Como nasci nos anos 50, gosto de ler um bom livro sem preferências pelos autores… assistir a um bailarico à maneira antiga, onde efectivamos o nosso 1º “flirt” à luz de uma candeia ou lampião, num recinto terreiro, palheiro, ou casa sem qualquer conforto, ao som de um realejo concertina, e mais tarde gira discos. Aquele romantismo que nos era transmitido pelos romances pelos cantores de “charme” e até pela rádio que fazia as suas primeiras aparições na nossa naturalidade com: “simplesmente Maria… (Little House on the prairie foi outra série televisiva que marcou a minha infância, tal como os Bee Gees, os Beatles, Roberto Carlos, os Boney M e outros.


 Não se pode dizer que tenhamos saudades dos tempo ditatoriais onde Hitler, Tito, Salazar, e tantos outros nos restringiram e oprimiram até ao sacrifício de vidas humanas; não, embora considere que Liberdade e Democracia, não sejam sinónimos de roubar e matar, infringir a lei mesmo quando é votada tendencialmente, e que serve apenas os interesses dos poderosos.

Como já me estou a distanciar do tema inicial que deu origem a este texto, gostava concluir com uma sensação de positividade, em relação à entreajuda dos cidadãos desta terra.
Numerosos foram os que vivendo no Estrangeiro se empenharam em fazer os possíveis para voltar, ainda que por poucos dias para ajudar os familiares nesta tarefa árdua pelas condições climatéricas, e pelos esforços que requer o varejar, embora já mecânico, mas com pesos entre os 13 e os 15 quilos e uma vibração desconfortável.
Não permitam que se perca o que vos é legado pelos vossos pais, os quais adquiriram com grandes sacrifícios e dedicação.
Por lá, no chão ficaram algumas toneladas de azeitona, mas, como Deus foi generoso este ano com a quantidade, fica a compensa e a recompensa.  

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Confissões


 Decidi e fui prostrar-me junto do confessionário… pesavam-me acusações injustificadas, baseadas em falsos argumentos sem fundamento, mas, que perante o povo, o qual condena sem julgar, ou julga omitindo a verdade; eu teria de servir de alvo, onde um batalhão de soldados mal fardados cumpre ordens hierárquicas e apontam armas prontas para disparar, caso o dito alvo não abdique dos seus intentos rebeldes, que possam denegrir uma imagem fictícia… a peça teatral entre os fracos e os poderosos….
Do outro lado estava um Padre experiente… também pecador, que costumada dizer, quando era apontado o dedo ao seu vizinho: - Cada um paga por si…
Na verdade, venho aqui, mais para desabafar com o Sr., por ser formado em teologia, e considerar ser a pessoa indicada, que eventualmente poderia dar resposta às minhas perguntas sem tomar o partido por A ou B. Mas não sei por onde devo começar…

 Habitualmente começa-se sempre pelo inicio…

Então vamos lá…quando era pequeno, fui recolhido por uma família, porque os meus pais eram carenciados e tinham numerosos filhos. Essa família era constituída pela mãe idosa, e dois filhos, um Padre e a irmã professora primária…
O meu interlocutor, adivinhava uma longa história, precaveu-se assentando-se numa cadeira confortável, colocou uma perna sobre a outra, levou a mão direita ao queixo, e assentou o cotovelo no joelho, olhou-me olhos nos olhos como quem quer dizer,: estou pronto para o que der e vier…
Era uma Santa família, sobretudo mãe e filha. O Sr. Padre decepcionou-me ao mais profundo grau, ao ponto de desistir da vontade que a Sra. Professora alimentava em fazer de mim um Sacerdote, considerando-me inteligente e com o dom, aparentemente voltado para o sacerdócio, após os princípios e valores adquiridos nas suas companhias durante seis anos.
-Então…
Para mim, que nessa altura raciocinava como um adolescente de doze anos, um sacerdote escolhido para representar Deus não podia falhar… devia nascer dotado de preceitos que jamais poderia trair… os ensinamentos divinos espirituais quando penetram um corpo, transcendem as tentações corporais, devendo o usuário estar preparado psicologicamente para as afrontar. Recusei por saber que jamais poderia ser um verdadeiro Sacerdote, e sentiria um grande peso na consciência abandonar, usando uma pessoa pura e bondosa… mentindo.
Abandonei esta casa de livre vontade, quando tinha dezasseis anos, para voar pelas minhas próprias asas, levando na bagagem: boa educação, doutrinado, fervente cristão praticante, a dor e a tristeza, como quem abandona a família, mas, também numerosas cenas, sobre as quais reflectia em silêncio, e, numa perplexidade desconcertante, condenava e perdoava, utilizando sempre circunstâncias atenuantes…
A honestidade, sinceridade, cidadania, humanismo e humildade, acompanharam-me ao longo do meu viver ao quotidiano, levando até ao supremo a gratidão incondicional pela ajuda a superar com dignidade os momentos mais sinuosos do meu viver.
Todos os meus desejos e projectos se concretizaram, e a felicidade invadiu o meu território como presente vindo dos céus… vivi, até esta data a vida a fundo, sem restrições nem contradições. Nunca tive ambições desmedidas, respeitando o ser e o ter de cada um sem invejas. Tentei sempre pôr em prática os dons que me foram concedidos, e, se possível ultrapassá-los para me provar a mim próprio que para a frente é o caminho, sem passar por cima de ninguém, os pés bem assentes no chão.
Hoje, com 62 anos sinto-me perdido numa podridão que me fere profundamente. A hipocrisia, tornou-se o prato do dia… os representantes da religião cristã caluniaram-me mentindo ao povo e omitindo as verdadeiras razões… e o povo saiu lesado. Perdeu uma obra Social de grande importância, deixando-se ludibriar… perdeu também a dignidade da Freguesia, cuja responsabilidade cabe exclusivamente a um homem em quem depositaram toda a confiança, deixando-os agora ao Deus dará, porque também ele que se julgava indestronável levou um pontapé no rabo… fui aconselhado a meter-me na minha vida, censurando os meus escritos por se tratar de assuntos “tabout”. Fui igualmente ameaçado com um processo judicial, por ter escrito nas redes sociais o relato do despejo ignóbil de um idoso da terra por uma instituição dita social, e aconselhado a ceder pela pessoa que pediu para ele entrar para lá, não respeitando o direito da listagem… ainda nas redes sociais, por pedir desculpa em nome de uma associação, a um Diácono pela quebra tradicional do canto dos Reis na Igreja, aconselharam-me a eliminar os comentários, alegando que não estava em causa a responsabilidade da associação, sendo nesta página manifestada a lamentação….enfim… se sou tão ruim como tentam fazer crer, porque não me apontam as minhas faltas com toda a clareza dando a cara, para eu poder remediar… acha que o mau da fita sou realmente eu?

Levantei o olhar, após este relato, e reparei que o Padre dormia profundamente, pelo que me levantei em silencio e deixei-o entregue aos anjinhos… afinal mesmo que não tivesse sido ouvido, saiu fora, aliviou.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Adeus Sr.Padre Delfim



A luz que nos seus olhos brilhou durante 91 anos, apagou-se definitivamente. Os sinos afinados deram os “sinais”da sua partida…o Padre Delfim Batouxas deixou-nos! Balbuciavam os lábios trémulos, daqueles que tiveram a felicidade de o conhecer, como homem com H grande… como Pároco, serviçal, desinteressado dos bens materiais, oferecendo antes de mais o que é imprescindível, passando sempre para segundo plano, o supérfluo. Formado no Seminário de Bragança, vindo da formosa Aldeia da Burga, o Padre Delfim dedicou-se de corpo e alma, aos homens e a Deus – Dizia o Reverendíssimo Bispo de Bragança e Miranda, no seu longo discurso de homenagem, ao mesmo tempo que citava também as Paroquias por onde passou, referenciando a simplicidade e a coragem do guerreiro pastoral, através dos múltiplos entraves ao longo de um percurso exemplar de conduta teológica.
Tal como ele era na vida, assim foi a cerimónia do seu funeral… simples, mas com dignidade, partilhada pelos presentes; uns baptizados pelo Sr. Padre Delfim, outros casados, e até os que comungaram pela primeira vez o corpo de Cristo das suas mãos…
De Murçós éramos 25 pessoas. Uma coroa de flores simbolizava o cortejo fúnebre, vindo da terra e das gentes que ele sempre considerou, aos quais dedicou tantos anos da sua vida.
A pequena Igreja encheu-se de fieis que comungavam do mesmo sentimento de tristeza, acompanhada de agradecimentos sinceros, porque os humildes não sabem fingir… e as recordações surgiam naturalmente nos pensamentos dos que o rodearam, que o conheceram, congratulando-o, com o mérito de um pastor desenvolto, resistente ao frio, à chuva, neve ou vento, e também ao sol ardente de verão, nos percursos que inicialmente fez a pés, depois mais tarde numa moto, e ultimamente no carro.
De referenciar também a presença dos moradores de Soutelo Mourisco, onde ele viveu, e com os quais teve diversas e variadas conversas, durante o pouco tempo que lhe restava após as visitas Dominicais, ou ao cair da noite, do alto da sua pequena varanda, ao voltarem da faina do campo exaustos mas sempre com um sorriso cordial para cumprimentá-lo.
Estiveram igualmente presentes, pessoas de Espadanedo, Vilar-Douro, e meia dúzia de seminaristas, duas freiras, e os padres que o sucederam na Paróquia deixada a partir do ano 2000.
As duas montanhas altas que ladeiam a linda Aldeia da Burga, miravam lá do alto observando todos os movimentos daqueles que vieram apenas para cumprir o protocolo, marcar presença e repartir julgando-se com o dever cumprido? A chuva caía torrencialmente como para marcar pela última vez, a presença de outros tempos, de Invernos terríveis que o Padre Delfim atravessou ao longo do seu percurso Pastoral.
Merecia mais… - dei comigo a pensar em alta voz! E, subitamente lembrei-me da ingratidão humana…
Adeus Sr. Padre Batouxas… e que a sua alma descanse em paz.
Obrigado por me ter casado. 





sábado, 11 de janeiro de 2014

FALECIMENTOS



Faleceu o Sr. Padre Delfim Batouxas cujo funeral se efectuará amanhã Domingo dia 12 de Janeiro por volta das 13.30. horas.
Foi um Pároco exemplar ao qual estas Aldeias devem muitos serviços grátis, para além da simplicidade como tratava os seus Paroquianos, onde exerceu o Sacerdócio durante quarenta e tal anos, sempre com agrado e boa disposição. Apesar dos Invernos medonhos, jamais se limitou às más condições atmosféricas, a pés ou de outra forma, esteve sempre presente sem reticencias.Fica o link da homenagem que lhe dediquei há já algum tempo.
Aos familiares apresento os meus sentidos pêsames.

Um grande homem, um Pároco exemplar... paz à sua alma

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

A Casa Transmontana



 ESCOLHI ESTE TEXTO DE Silvério B. Pires QUE ILUSTREI COM AS FOTOS DE: Tó-Slalom, de Soutelo Mourisco

«As casas antigas são construídas de pedra, sendo os interiores sombrios. As paredes e os tectos das cozinhas são normalmente escuras como breu.

As lareiras estão acesas grande parte do ano para cozinhar e aquecer e, de Novembro até Março, penduram-se por cima da lareira grandes quantidades de porco salgado e enchidos para serem fumados.

As casas estão tão juntas que se perde a privacidade; com o simples abrir das portas da frente mostram-se imediatamente a qualquer passante as cozinhas e as salas.

Os aposentos ficam no andar de cima e em baixo os estábulos, as arrumações de produtos agrícolas ou a adega».



A Casa Transmontana primitiva era térrea e formada por um único compartimento e uma única porta que rolava sobre a soleira. Num canto acendia-se o lume, noutro dormia a família, geralmente numerosa, e noutro salgava-se o porco.

Desde muito cedo o homem se rodeou de animais para seu benefício. Por isso precisou de lhe dar espaço próprio e alojou-o no rés-do-chão, em terra batida.

A montanha ofereceu ao homem transmontano a rocha, alvenaria de xisto ou granito, que foi desde sempre a matéria-prima nobre e farta de que se serviu para construir a mais modesta casa rural mas também os solares sumptuosos e apalaçados.

Subia-se ao primeiro andar pelas escaleiras exteriores de granito, ligadas à rua apoiando-se no corrimão. A casa do lavrador mais abastado era rodeada pelo espaço curral. Neste espaço, que rodeava a casa situava-se o cabanal, onde se guardava a lenha retirada do sequeiro, já partida e livre da chuva, e as alfaias agrícolas.

Era ainda o curral o lugar do recreio dos animais. Tinha uma grande fachada ou porta carral, de pelo menos três metros de altura para passarem livremente os carros de lenha ou de feno. É este amplo espaço que o lavrador chama os roussios.




O espaço que ficava em falso sob as escaleiras, era aproveitado para o galinheiro. Ficava um buraco na parede para as galinhas entrarem, ao qual tinham acesso por uma tábua. Daqui surgiu a expressão popular de, todos os dias ao pôr-do-sol “ir fechar o buraco das pitas”. 

Toda a parte superior da casa assentava sobre grossas traves.
Do cimo das escaleiras, passava-se à varanda de madeira, rodeada por um corrimão e situada geralmente a sul ou a nascente. É o espaço característico da casa que está a desaparecer nas novas construções. Ajudava a varanda a defesa dos ventos agrestes e regelados e do calor escaldante. Nela se secava a roupa estendida numa cana, se apanhava o sol, se expunham os cacos das malvas, craveiros e manjericos, e nas canículas se podia descansar a sesta e cerar ao fresco. Por isso, era larga para caber a mesa e os bancos, e a camarada de segadores, e coberta com a continuação do telhado.


                                                                                                  A lareira é rodeada de grandes e enegrecidos escanos de castanho, que lhes dão o aconchego e bem-estar, à volta do lume nos medonhos serões de Inverno.

Sobre o trasfogueiro caem grossos troncos, em combustão viva e estaladiça.

Os potes de ferro, a caldeira de cobre e a borralheira, o badil e as tenazes são elementos presenciais. A saída do fumo era facilitada por um pequeno cabanal, erguido no declive do telhado.

Na trave do fumeiro penduram-se os presuntos para se ultimar a cura ao fumo.

O almário ou louceiro era enfeitado com os jornais rebicados e colados com o miolo do pão. 

Era o ostentatório das peças artesanais de uso diário, na cozinha.

Por detrás da lareira, muitas vezes, surgia a boca do forno, para se cozer o pão e a borralheira que armazenava a cinza a utilizar, depois na barrela.

O colmo ou a telha vã, fabricada artesanalmente na vizinhança, cobriam a casa. 

As janelas eram encaixadas com o “espigão” na parede, seguras com a tranca, e com um banco de pedra no interior para as pessoas se sentarem às janelas, e exterior para se colocar o caco do craveiro ou do manjerico.

O alçapão facilitava a penetração nos baixos da casa, sem sair à rua, ou era a entrada da tulha.

Na velha arca de castanho, no canto da cozinha, guardava—se a carne de porco cozida, o pão centeio da mesa... e às vezes servia de mesa, para as refeições familiares.

É de tal modo importante a problemática relacionada com a habitação, que a cultura popular lhe consagra alguns dos seus muitos Adágios                                                                                                         
Quando a casa está a arder, chega-se-lhe o fogo.

Quando a casa está acabada, é que deveria ser começada.

Uma casa sem livros é como um corpo sem alma.

Uma casa de fome rapa outra de fartura.

Casa onde caibas e leira que não saibas.

Em nossa casa até a cinza fria aquece.

Casa que não é ralhada não é bem governada.

Quem tem telhado de vidro não pode atirar com pedras ao telhado do vizinho.

Bem fica a fogaça alheia na casa cheia.


Em Trás-os-Montes quando alguém chama, surge logo, em pronta receptividade, a porta escancarada e a resposta:

“Entre quem é”.os seus muitos adágios


Casa abandonada
O lavadouro e a velha e linda fonte

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

passagem de ano 2014


E os meus desejos concretizaram-se! Como por magia, a família quase ao completo, voltou a reunir-se, desta vez no Queirogal em Murçós, a convite do Moisés e da Teresa para um “festin” como nos bons velhos tempos… esta maneira convivial entre familiares, que eu julgava desaparecida, ignorada num canto das nossas memórias reavivou-se, e o espirito convivial, descontraído superou todas as espectativas… afinal, mesmo com a mudança das mentalidades, a humildade ganha sempre a batalha cujos adversários, ficam estupefactos e com uma pontinha de ciúmes. No conforto agradável do grande salão, perfilava-se uma mesa comprida para acolher as vinte e tais pessoas. A ornamentação e a vinda para a mesa dos talheres que só servem para estas ocasiões, mediante o crepitar da lenha dentro dos dois recuperadores de calor, os vinhos especiais, e o manjar encomendado n’um restaurante reputado esperavam-nos, e os convivas não se fizeram rogados… enquanto esperávamos pela chegada do novo ano 2014, as conversas animadas alegres e descontraídas, soavam como murmúrios abafados pela proeza dos mais novos sem complexos nem restrições.
Não eram necessários fogos-de-artifício, estávamos ali para confraternizar, para nos provarmos a nós mesmos que família é família e o resto conversa fiada.
Finalmente, à meia noite, as champanhes estouraram e saudámo-nos com a esperança bem presente de que o novo ano, corresponda aos desejos de cada um, com saúde paz e amor. Obrigado Moisés e Teresa… foi uma passagem em cheio.