segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Destinos e destinados 854 AB De volta a casa onde sua mãe o esperava preocupada, assentou-se no grande salão, pedindo à mãe que viesse para junto dele. Era um homem e como tantos outros também chorou agarrado àquele volante que o dirigia já por costume porque na sua cabeça ia tanta confusão alimentada por erros irremediáveis que se cometem enquanto adultos, recorrentes de ilações que só o perdão pode corrigir, ou a vingança agravar. Correu os seus dedos finos suavemente pelos cabelos daquela que lhe deu a vida, fixando-a com uma ternura como a imensidão do mundo, enquanto as palavras demoravam a sair, como se estivessem presas aos sentimentos que a alma manifestava silenciosamente. - Tu queres-me pedir alguma coisa tão pesada que te paralisa? - Queria apenas contar-lhe a crueldade da vida, onde toda a gente anda envolvida sem saber para que lado fica a saída. -Filho? Não me deixes em tão grande ansiedade, conta-me antes a verdade, talvez eu possa ajudar, e juntos como sempre podemos chorar, ou talvez remediar? - É a história de um dossier, que meu pai ao falecer me legou, e hoje já não sei o que fazer, conversar contigo e dar-te a mão, aquela que ele te deu, num dia triste quando te encontrou, abusada, abandonada com tanta dor, e em troca de nada te ofereceu carinho, afeto e a casa onde viveu tanta coisa em troca de nada, porque os bons seguem sempre a mesma estrada. Aqui está o teu passado esperando ser abandonado porque de que servirá a vingança? Hoje desloquei-me a casa dos teus antigos patrões para lhe pedir explicações e eles ignorantes coitados, lutavam com a vida enquanto o seu neto amado, caído no chão esfarrapado com barbas de metro e meio, alcoolizado, drogado abandonado a tremer de fome e frio, que não conseguiu abrir a porta da herdade, nem mesmo à campainha tocar pedir que alguém o viesse ajudar. O avô internado e sem nada saber, esperava apenas o neto par morrer. - Ó meu adorado filho, não tens de ser tu a carregar, coisas tão graves do passado? E Fernando A com os olhos a lacrimejar, contou á mãe o seu dia atributado. Resta-me agora mãezinha, conhecer outro irmão meu, e não guardo rancor àquele que tanto te fez sofrer, está pagando lentamente, e se um dia lhe salvei a vida, paguei como paga a gente honesta atirando para fora o que não presta. - Esse irmão já o conheces, juntos estudaram em Coimbra, embora em cursos diferentes, mas uma visita é primordial, e verás que família tão linda unida e carinhosa, e a mãe que tantas coisa sabia, escolheu o caminho da felicidade. Tenho muito orgulho de ti e abraçou-o longamente

sábado, 24 de fevereiro de 2024

Dia de sorte 829 s AB Antes de regressar a casa, depois de tão triste notícia Fred sentia-se desorientado, responsável, e para amaciar os seus tormentos, mandou construir uma capelinha para a qual foram transladados os restos mortais da mulher que lhe salvou a vida, Não reparava o erro do esquecimento, e jamais teria a paz desejada, foi apenas um gesto que simbolizava a importância que ela teve na sua vida, contratou pessoas para que as rosas brancas nunca faltassem junto do seu corpo. E prometeu vir visitá-la sempre que pudesse. Á entrada, escrito com letras douradas surgia o pedido de perdão. De volta a casa, pediu que o deixassem chorar em paz e foi a noite toda assim. Logo pela manhã tomou um duche de água fria, vestiu-se para ir trabalhar, e enquanto tomavam o pequeno almoço desvendou os acontecimentos da sua infeliz viagem. O constrangimento notava-se no rosto de todos os presentes, e a tristeza de nada poder fazer em semelhantes condições. Fred continuava com um peso grande sobre o coração, mas a vida era assim com a crueldade que a caraterizava. Tinha uma empresa para visitar, tomou o transporte mais rápido para não faltar à reunião bastante importante, já no avião que o transportava, pediu os jornais do dia. Foi um deles que requereu a sua atenção. Uma foto do pai deixando a prisão onde permaneceu encarcerado, pagando os seus erros, a mulher que fora sua com um tímido olhar, e a filha, sua irmã radiante correndo para os braços do pai. Este quadro onde se inseria, a traição, trouxe-lhe uma lágrima ao canto do olho, era aquela a sua família que o destino desviou do bom caminho que anos passaram e o rancor não tinha diminuído. Fechou subitamente o jornal, e o resto do dia foi passado como quem lhe tinha roubado a vida, projetos que foram por água abaixo, esperanças destroçadas, e a vítima fugindo do que não poderia fugir a vida inteira. A sensibilidade que o caracterizava, veio tantas vezes à tona da água, mas o sofrimento levou a melhor. Tinha subido na hierarquia, e ganho batalhas que muitos consideravam perdidas antecipadamente, com perseverança e a força de quem se bate neste mundo feroz, e não tinha visto o tempo passar. Meditou por instantes no que era e no que poderia ter sido a sua vida, faltavam argumentos que o afeto e carinho tinha enterrado, que jamais voltariam. Meditou no fato de passar o resto do seu viver afastado de caricias e amor que uma família traz ao seio de um verdadeiro lar, e não concebia um viver assim. Tinha jurado de nunca mais amar ninguém, talvez num momento de desespero, mas, os filhos que tanto gostava de ter assediavam uma esperança que apenas parecia vã... rodeavam-no pessoas capazes de fazer a sua felicidade, uma delas era a filha do patrão que só tinha olhos para ele. E o seu dia de sorte chegou no momento menos esperado. Viajava num cruzeiro quando Aline se assentou à sua mesa, pedindo educadamente se lhe era permitido. Fred ficou como um adolescente admirando aquela beleza, abstrato à resposta que a elegante e esbelta rapariga esperava com aquele olhar cativante de um verde majestoso e um lindo sorriso que se dissipava pouco a pouco receando a recusa. Finalmente, levantou-se e como um verdadeiro cavalheiro retirou a cadeira e num gesto simples disse apenas: todo o prazer será meu, congratulo-me e agradeço que me acompanhe para o resto das nossas vidas se tal for o seu desejo. Ela soltou uma gargalhada que não passou despercebida na sala, Fred, envergonhado já não podia retirar o que disse. Parecia um adolescente magoado, mas a companheira de nacionalidade Holandesa fazia esforços para na linguagem que não era sua, tentando recuperar os cacos partidos. Foi um dia maravilhoso passado no grande barco onde o beijo do amor fechou o episódio de dois adultos que á primeira vista foram invadidos pelo “coup de foudre”

domingo, 4 de fevereiro de 2024

Infortunios

Como pode um ser humano desviar-se do trilho traçado, tantos anos passados a formar uma família para em poucos segundos a destruir, deixando uma mágoa profunda nos corações que a conheciam e com ela percorreram caminhos árduos deixando tão grande manxa na pureza da alma e na brancura da neve que sobre um solo amaldiçoado caiu? As tentações maléficas levam-nos a cometer actos irreparáveis e ninguém se pode julgar ao abrigo delas. Parecemos tão fortes e somos tão fracos! Fraquejamos por coisas banais, por insignificâncias que nos arrastam para a crueldade como se fosse heroísmo, desarmando-nos do que possuímos de justos e bons para nos largarem num lamaçal de tristezas e dor que jamais sarará. Será que vale a pena percorrer tão longo caminho para chegar aqui? Sermos amados e estimados para chegarmos à conclusão desesperada e deixar que a dor e a tristeza reparem os nossos erros? Perdoai-lhe senhor que não sabe o que fazem - dizia Jesus para terminar este parágrafo. E eu apenas posso dizer dai-lhe senhor o eterno descanso. Sinceros pêsames para a família e amigos AB

Dia de sorte

Dia de sorte AB Alfredo o amigo de José, foi largado por este e a namorada junto ao rio, a uns 300 metros de sua casa para onde correu como louco, tantas e tão grandes eram as saudades de estar com os seus entes mais queridos, que o esperavam de pés firmes e o olhar procurando vê-lo vislumbrar ao longe após o seu telefonema recebido, onde especificava a sua visita, sem mais pormenores. Seguindo viagem, para casa de Cindia, a explosão deu-se logo após a saída do outro passageiro. Se até então a rapariga se tinha mantido calada sem manifestar o descontentamento que a tinha desiludido e ao mesmo tempo ferido no seu amor próprio, revelava-se agora agressiva vaziando o saco sobre o pobre rapaz, que não encontrava argumentos que pudessem ajudá-lo, a voltar à razão aquela moça com quem tinha simpatizado, idealizado projetos, e, apesar de não sentir por ela uma grande paixão, os seus sentimentos eram honestos, embora não tivesse sabido lidar com a situação… - Perdoa-me, suplicou-a José prometendo no futuro estar mais atento aos seus deveres de namorado – mas nada resultava. Estava decidida a por fim àquela relação que mal tinha começado, o suficiente para compreender que não era o companheiro que queria para a sua vida, e muito menos ser a progenitora de um filho seu. Saiu do automóvel sem sequer se despedir, e antes de fechar a porta ainda lhe atirou ao rosto: - Não te quero ver mais, pelo que se nos encontrarmos no mesmo passeio peço-te que finjas que não me viste. José ficou atônito, petrificado sem saber o que fazer. Ainda pensou ligar à mãe onde encontrava sempre o seu refúgio, e as soluções mais sensatas, era apenas nela que depositava inteira confiança, mas, tinha um compromisso com Alfredo, que era voltar ainda essa noite à herdade dos avós, passando por sua casa nos Arcos. Novamente, na sua cabeça turbilhonavam descontroladamente ideologias preponderantes, conflituosas, com mais atividade divergente, atirando-o para aquele beco sem saída, do qual julgava ter saído, começando a usufruir de uma felicidade a prazo, que voltara antes de cumprir o tempo de tréguas que ninguém tinha fixado, só ele esperançado acompanhava cegamente. Tudo voltava à casa de partida, de onde não conseguia descolar, por muitos esforços que fizesse! Foi tentado a desistir, só, ali dentro daquele carro, encostado na berma daquela estrada que se tinha tornado medonha, fria, tão fria… solitária, onde as árvores lhe apontavam o dedo da culpa, e os sons lhe martirizavam os tímpanos, e, de olhos fechados revia a sua nascença, num dia de sorte, ou talvez de azar, por lhe não faltar nada, mas tinha falta de tudo o que é necessário para poder avançar ao ritmo do amor da paz e da alegria. Chorou como um miúdo num soluçar que fazia a terra tremer, que era apenas o ronronar do motor que aguardava diretivas do mestre para avançar. Após longo tempo de ponderação, lembrou-se que Alfredo o esperava para voltarem à herdade dos avós. – Meu deus! Arrancou fazendo os pneus cantar ao contacto do solo, olhando apenas em frente, porque estava atrasado, e Alfredo não tinha culpa dos seus problemas. Chegou ao lugar marcado em Arcos onde o esperava o amigo, estiveram ali mais pessoas que o queriam conhecer, inclusive a namorada deste, mas era já noite e José não encontrava a desculpa necessária para esta demora. Durante o resto do trajeto falaram apenas no tempo de felicidade que Alfredo viveu na companhia dos seus durante aquelas poucas horas. José que não tinha mantido qualquer espécie de desagrado, durante o trajeto, ficou subitamente silencioso. No seu rosto notavam-se dissabores e tristezas, mas o companheiro de viagem não ousava perguntar como se tinha terminado aquele incidente com a namorada. Por fim, após um longo silencio, Alfredo perguntou: - Não se passou bem com a Cindia… suponho eu? José levou um certo tempo a responder… pela sua mente passaram e repassaram aquelas cenas do dia, e sentia-se mal… o maior dos palermas, um irresponsável, um menino mimado que não sabia ao certo o que desejava para o seu futuro, como um brinquedo nas mãos da mãe que decidia tudo por ele, que programava o seu modo de ser e de estar na vida, sem se sociar dos seus verdadeiros sentimentos… até que por fim explodiu. Vaziou o saco. Libertou-se confiando ao amigo o que lhe ia na alma e estava martirizando o coração. - Não posso mais, amigo… fingir durante uma vida inteira é um fardo pesadíssimo, e ninguém me pode compreender. Só, neste carro, fui tentado ao pior… e só resisti porque me esperavas para voltar à herdade. José ficou atónito, porém sentiu que o amigo precisava de ajuda naquele momento de gravidade extrema. Começou por pedir-lhe que se acalmasse, para juntos tentarem remediar a um problema que não teria certamente a gravidade de não poder ser resolvido. Entraram numa estação de serviço e pediram dois cafés fortes e um cálice de bagaço do melhor que tivessem. José olhou para o amigo com ar interrogativo, mas já este explicava que um copinho de álcool às vezes faz milagres. Bebe é para ti, eu conduzo o carro, se me permitires claro! Fizeram o resto da viagem como dois miúdos, rindo às gargalhadas no final de uma anedota contada, no automóvel não se falou mais do caso cindia.