domingo, 26 de dezembro de 2021

Natal 2021

Os anos tinham passado mas a magia, daquelas que trazem sorrisos lindos, alegria e amor, a amalgama cintilante em noites medonhas de frio e de fome, de abundancia e alegria, difundida pelos que guardam ainda, a recordação dos tempos de menino, inocente e vulneral, armazenando num canto da memória, discretamente, como se guarda um tesouro, contos de fadas que atraíam o sono com subtileza e encanto, não fosse a meia-noite passar sem que pudessem rasgar aquele papel fino enfeitado, que dentro estava guardado, o presente que desceu pela cheminé ao dorso do homem vestido de encarnado e branco e seu gorro gracioso, botas pretas e bem frisadas, porque na Lapónia o frio gela os caminhos e a neve que cai abundante, abre caminho às renas puxando ofegantes o trenó na espectativa de chegar à meia noite a todos os meninos que creem e esperam a prendinha encomendada. Levantam-se despidos e descalços num alarido que acorda a casa, também se iluminam as dos vizinhos, e correm, saltam e gritam, porque a felicidade constrói-se com tão pouco, e o olhar brilha quando o coração é pequeno e bate ao ritma da inocência. Tocam os sinos há foguetes no ar. Acendem-se fogueiras, constroem-se presépios. Chegam os três reis magos com ouro incenso e mirra. Deitado na manjedoura o menino é aquecido com o bafo da vaquinha e da burrinha, Maria vela o seu menino nascido por obra do divino espírito santo, balam as ovelhas e os cordeiros nos campos pastando, o galo canta, é meia noite. Dia de Natal Por António Braz

domingo, 19 de dezembro de 2021

Traídos e humilhado: in dia de sorte, por António Braz No dia seguinte, pelas 8h da manhã, chegava um táxi junto da vivenda dos pais de francisco. Tinha metido nas malas o que achava necessário, recusando a ajuda de toda a gente, com quem não conseguira falar, e muito menos abordar o assunto da noite de despedida. Não suportava a presença da mãe que tanto amou, suplicando-a a várias tentativas desta, de o deixar só. Despediu-se de todos com beijos e abraços, sem lágrimas emocionais, apenas rancor que o feria ainda mais… apenas os avós lhe proporcionaram uma grande emoção interior, e ao amigo Alfredo que não sabia do que se tinha passado, pediu o N.º do telemóvel para brevemente lhe ligar a contar o sucedido. Entrou para o carro sem se voltar, enquanto a mãe se desfazia em lágrimas de arrependimento, tal como Judas quando entregou Jesus. Entrou no avião que o levaria para longe, mas as recordações não se apagam com um simples gesto de borracha. Durante a longa viagem, meditou nos momentos inesquecíveis que passara com a sua família, naquele lugar maravilhoso que sempre julgou abençoado, no amor, carinho e uma felicidade a prazo, na injustiça que o viu nascer semelhante aos outros, mas diferente, tinha agora a certeza. – Não merecia ser tratado e abusado sem o seu consentimento como um simples brinquedo. Sentia-se mal, desprezado, abandonado pelas pessoas que mais amava no Mundo. Chegou quase a desfalecer, lívido, sujo, um fugitivo inocente. A senhora que ocupava o lugar a seu lado, reparou na tristeza que lhe ia na alma, quis intervir, mas não encontrava as palavras certas, para não causar ainda mais danos naquela cabeça martirizada pelo sofrimento que desconhecia. Tentou astuciosamente, deixar cair o saco de mão junto dos pés do rapaz, o qual educadamente se baixou para o recuperar, entregando-lho. – Obrigada. Respondeu esta num Português americanizado que despertou a sua atenção. – A senhora…. – Sou Portuguesa Americana. Respondeu de imediato. Já nasci nos estados Unidos, de mãe Americana e pai Português dos Açores, conhece? – Não. Nunca visitei os Açores… - mas devia porque tem umas paisagens maravilhosas e uma população acolhedora como ainda não encontrei em parte alguma. Mas… que falta de respeito? Ainda nem sequer me apresentei… sou a Senhora Miller, médica de profissão e vivo em Nova York, casada com o senhor Miller, que dá aulas na Universidade de cidade, e temos uma filha mais ou menos da sua idade que se chama Lynn, um cão e dois gatos… Pela primeira vez desde a noite da despedida Francisco sorriu, e os seus olhos voltavam a brilhar. - Agora é a sua vez. Que vem fazer um jovem tão formoso e educado a Nova York? Estudar, e trabalhar se arranjar trabalho para pagar os estudos. - Se bem compreendo um aventureiro? - Pela força das circunstâncias, mas se me permite não desejava abordar o assunto. - E casa para ficar já tem? - Vou ficar na residencial da Universidade. - É um local bastante aprazível, porém, tenho outra sugestão para lhe fazer. Vai comigo e falamos com a minha família. Talvez possa ficar na nossa casa, e como o jardineiro se despediu para ir gozar a reforma bem merecida, pode nos intervalos das aulas arranjar o nosso jardim em troca de uns euros, e como é óbvio vivia lá em casa. Que diz? -- Eu… eu não sei. Mas sobretudo não desejava incomodar ninguém agradecendo desde já a sua generosa amabilidade. - Então não se fala mais no assunto. O meu marido deve estar à minha espera com quem já poderá travar conhecimento. Na casa de Francisco tudo se tinha transformado num vale de lágrimas, arrependimentos que chegavam tarde, acusações que feriam como laminas, mas não se pode voltar atrás nos atos, e assumi-los é por vezes difícil. Os avós tinham voltado par a quinta onde discretamente tentavam arranjar maneira de reconciliar os entes queridos. Alfredo sentia que qualquer coisa de anormal se tinha passado naquela noite fatídica, mas não ousava perguntar. Tempos depois recebeu uma vídeo chamada do amigo, que lhe contou tudo. Também tinha arranjado trabalho na terra perto da sua amada, pelo que por muito lhe custasse deixar aquela gente amável e generosa, no final do mês voltava para a sua terra amada. Entretanto, Francisco aceito a proposta dos Myller aproveitando diversas vezes boleia do Professor. Com Lynnn, a filha do casal, entendia-se maravilhosamente, gente mais evoluída e aberta a todas as situações. Três meses depois o avô anunciava-lhe por telefone que que a rapariga com quem tinha dormido estava grávida de um menino. Francisco suspeitava tal gestação, e não admitia ser o pai do menino. Nove meses depois nascia um lindo menino de olhos azuis, cabelo loiro e feições graciosas que captava a atenção de todo a gente sobretudo da avó que acompanhou a gravidez Pesava 4kg e media 54 cm mas Francisco tinha rejeitado vê-lo por vídeo chamada.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Santo Natal e feliz ano novo

Santo Natal e Feliz ano novo Pudéssemos nós um dia, para a lua viajar, e com as estrelas brincar, como brincam os meninos, de manhã ao levantar com os olhos a brilhar, tal como brilha o sol, em terras de miséria e fome, esquecidas, ignoradas, pelo que tem tudo e come; e não se lembra que um dia, veio ao mundo despido, descalço, sem cor sem nação, sem ouro nos dedos da mão, chorando sem lágrimas sem dor, acariciado pela obra do amor! Quiséssemos numa noite de luar, por cima do imenso mar andar, sem barco pra naufragar, e sobre ondas gigantescas adormecer até ao amanhecer, sem ouvir o galo cantar, sem ver aquele vulcão fumegar e sua lava correr, destruindo no seu caminho a vida e o carinho da terra que nos viu nascer. Curvam-se as serras adormece o vento, amam-se as rochas frias já sem alento, beijam-se os pântanos no silencio do desejo, de branco vestem-se as árvores seguindo o cortejo. Fossemos nós num ano de glória, Heróis de um deserto dos quais não reza a história, sombras errantes, oásis que não matam a sede, vegetais sem gosto nem cor, grãos de fina areia na sandália, rostos rusgados cobertos de dor. E de olhos oclusos e coração nas mãos, ajoelhamos pedindo a bênção, num murmurar de pecador, de arrependido ou simples ficção, clamamos Ó redentor! Não seremos nunca o que jamais fomos… AB

domingo, 5 de dezembro de 2021

Dia de sorte – por António Braz. XL O dia amanheceu com raios de sol a entrar pelas janelas, e a avô retirava os cortinados de veludo, cantarolando ao mesmo tempo que Francisco abria com dificuldade os olhos e com a cabeça pesada da ressaca como se lhe tivesse passado por cima um peso enorme, que podemos apelidar de peso da vergonha, da mesquinhez. - Então, filho como te sentes? -perguntou a avô Francisco demorou a responder, na sua cabeça turbilhonavam ideias, factos, acontecimentos, sem poder decifrar concretamente o que se tinha passado realmente. A cama estava desfeita no lado oposto ao dele, uma imagem fugitiva passou-lhe pela mente onde via uma silhueta de mulher, por baixo da roupa, acariciando-o, afagando-lhe os cabelos e uma voz longínqua, desconhecida que lhe provocou asco. Assentou-se na cama, mas não conseguia balbuciar palavra. Uma grande tristeza invadiu-o e duas lágrimas desceram lentamente pelo rosto cândido inundando a pureza do coração que sofria atrozmente. Não queria faltar ao respeito à avô que tanto amava, pelo que se limitou a dizer: bebi demais, não é Avô? -Sim também não se festejam todos os dias a tua partida para a Universidade de Nova York? Vai tomar banho, e despacha-te para tomares o pequeno almoço com os teus pais e Avó que aguardam em baixo. Francisco tomou um duche quente, contudo a água não limpava as imundícies que sentia na alma. Sentia-se traído pelos entes que mais amava, atraiçoado como um inocente menino. Baixou para tomar o pequeno almoço na sala onde já se encontravam os numerosos hóspedes em volta de uma grande mesa, ornamentada com o necessário. Quis sorrir, mas apenas timidamente conseguiu saudar todos com os bons-dias. O seu olhar percorreu de um lado ao outro todos os olhares, verificando que uma moça desconhecida permanecia ali, assim como os pais e o Alfredo que tinha depositado a namorada nos Arcos, pois não podia faltar ao trabalho, e fixou o seu olhar interrogativo no Avó o qual disfarçou limpando os óculos de cabisbaixo. Quando terminou a refeição tomou o braço do Avó, e em voz baixa pediu se podiam dar um pequeno passeio antes de partir. Aquiesceu receoso, e lá foram os dois pelo jardim. Quando já se encontravam num lugar discreto, Francisco virou-se, e perguntou sem rodeios.
- Que se passou ontem à noite, no meu quarto sem meu consentimento? Avó por favor diga-me a verdade…. - Ó meu querido neto… - e dizendo isto abraçou-o com toda a força e as lágrimas a embaciar os óculos – A verdade é por vezes tão difícil, pesada e comprometedora, que para honrar uns temos de trair outros que também amamos muito… porém sempre fui honesto contigo, e gosto tanto, tanto de ti, que seria injusto não saberes. A ideia veio da tua mãe, e embora eu não concordasse com ela, é tua mãe, e sei que só quer o melhor para ti. - Não acha que já sou crescido para tomar as decisões que são melhores para mim? -Sim. Sei que és responsável e considero uma traição não estares ao corrente. Contudo peço-te que não julgues a tua mãe e a condenes por um ato onde ela não ponderou. Arranjou-te uma namorada e ontem meteu-a na tua cama. Como sabes o seu grande desejo era ter um netinho, para amar como te ama a ti… - Sobretudo pela herança, quer dizer? - Também. - Avó Vou para os estados unidos e nunca mais volto aqui. Acabei de perder a minha família toda, e lamento imenso porque os considerava pessoas justas, integras e verifico que não passo de um boneco para todos. Podia suicidar-me mesmo sabendo que não servia de nada, mas tenho um sonho que vou realizar sozinho. Trabalhar e estudar enquanto as forças não me abandonarem. - Ó meu querido neto, não tomes decisões precipitadas… e nós? Será que não significamos nada para ti? - Continuarei a amá-los como sempre, e vamos telefonar-nos frequentemente. in dia de sorte

domingo, 28 de novembro de 2021

O silencio

Silêncio Lábios doces...beijos de lua cheia. Borboletas em voos de riso colorido na maresia da madrugada. Cabelo longo de folhas verdes num bosque de amor, cobrindo o prazer insaciável. Gaivota no areal ...em busca de morangos com sabor a ternura, bebendo o mel das abelhas... Tempo que foste, és ou serás. ..uma pluma apenas... Vaguear na imensidão enquanto no sonho perdurarem as rosas e eu tiver olhar de ave. Ser tudo, grito no eco da montanha, tocando o infinito que me coroa de flores silvestres à beira do último cântico da natureza. Mas não sei nada... Apenas entendo a linguagem dos poetas, o sussurro do vento...vejo com o coração uma beleza diferente, tão suave que choro, choro baixinho de emoção. Ouço as raízes abraçadas, a vastidão de flores a germinar e o silêncio a chamar-me do útero da terra. Vou... Ana Cristina Macieira

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Receitas de um ignorante

O pequeno almoço Á Braz: Frutos biológicos e caseiros. Nozes, pêras, tomates, diospiros mas sobretudo figos (3 ao prato) nos fináis de Outubro, com noites de 0 graus, tudo da casa. Onde reside o segredo?
Antes do almoço não se esqueça de beber um moscatel ou Porto caseiro acompanhado de umas amendoas, nozes, figos secos, oistaches da terrinha e umas pavias em calda Para o almoço: umas batatas descascadas e cozidas,meter uns grelinhos 5 minutos ante de as tirar do fogo para ficarem verdinhos e saborosos. Ao lado uma panela com bacalhau do coração, e azeite da terra que se veja no prato, com uma pera bebad em moscatel e caramelizada para acompanhar.
para os insatisfeitos, ponha em adobe lombo de porco caseiro, 1 ou dois dias, faça-o grelhar na brasa e acompanhe com batata doce e castanhas descascadas, cosidas e caramelizadas, com um copinho de tinto da casa. Para sobremesa: aqueça um ovo com abertura de 6 cm e junte-lhe um pouquinho de cerveja e açucar, uama salade de kweish, clementinas, uvas secas, pêra e maçã, uma fatia de pão caseiro barrado com queijo mole e marmelada e como palito um charuto de havana
Eu não sei cozinhar, fui consultar um dia deste uma nutricionista, com consulta marcada, mas deixou-me dependurado com 40km às costa e a resposta das administrativas: a Dra. está para Bragança... fiz a devida reclamação e recebi como resposta que a consulta tinha sido desmarcado, o que é falso já que eu vi no computador do serviço a consulta marcada para esse dia. Falou comigo telefónicamente e decoseu-se dizendo que tentou contactar-me para adiar o qu é mais uma descupa de mau pagador... mas enfim... ´este o País onde vivemos...

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Muita animação e alegria proporcionada pelas Senhoras da dança e uns 80 meninos (as) que vieram do grupo escolar de Macedo de Cavaleiros,
através da boa e saudável iniciativa da Professora Olga que não olhou a despesas e trabalho, o que nouros tempos bem recentes era obrigação da junta de freguesia, que sempre cumpriu com esse dever. O dia do magusto escolar, sejam poucos ou muitos alunos é um evento que fica gravado na memória das crianças, para depois recordar com nostalgiA. Nãoa sei se a associassõ teve ou não algum financiamento vindo das instituições competentes, mas sei que havia muito tempo que não ouvia as gargalhadas e gritos da miudeza numa confraternização de mistura com as dançarinas adultas que por certo se regalaram. As castanhas assadas e o lanche também esteve presente para satisfação dos que quiseram juntar-se e saborear momentos de paz e alegria. Bem-haja dr.a Olga que retira preconceitos com o entrtenimento, e eventos esporádicos, porque o financiamento vai muitas vezes para lugares errados. Parabéns a todos e que Deus vos conserve essa vivacidade que nos faz sonhar, nós os mais idosos.

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Quem tem experiencia

"Já fiz cosquinha na minha irmã só pra ela parar de chorar, já me queimei brincando com vela. Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto, já conversei com o espelho, Já quis ser astronauta, violinista, mágico, caçador e trapezista. Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora. Já passei trote por telefone. Já roubei beijo, já confundi sentimentos. Peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido. Já tentei esquecer algumas pessoas mas descobri que essas são as mais difíceis de se esquecer. Já chorei sentado no chão do banheiro, já fugi de casa pra sempre e voltei no outro instante, já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só. Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado, já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar. Já senti medo do escuro, já tremi de nervoso, já quase morri de amor, mas renasci novamente, já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar. Já chorei por ver amigos partindo e descobri que logo chegam novos, que a vida é mesmo um ir e vir sem razão. Foram tantas coisas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardados num baú, chamado coração. E agora um formulário me interroga, me encosta na parede e grita: 'Qual sua experiência?' Essa pergunta ecoa no meu cérebro: experiência. experiência... Será que ser "plantador de sorrisos" é uma boa experiência? Não!!! Talvez eles não saibam ainda colher sonhos! Agora gostaria de indagar uma pequena coisa para quem formulou esta pergunta: Experiência ??? "Quem a tem, se a todo o momento tudo se renova?". Autor desconhecido

sábado, 13 de novembro de 2021

Outono

O outono»»» por António Braz Despem-se as árvores e o solo recebe o seu tapete amarelado, senhor Outono ensina-nos a preparar par o inverno, talvez rude, com chuvas, ventos e a branquinha neve que traz a felicidade àqueles que vivem em terras de clima doce e quente. Os pássaros migratórios fogem também, tal como os oriundos que possuem várias moradas, procurando o conforto encurralados em blocos de betão, temerosos, como se por cá andasse à solta um bicho de sete cabeças? A aldeia sente e pena, porém, vivo aqui há 23 anos e jamais constatei que houvesse falecimentos com frio ou fome… é certo que as causas de partirem são os familiares deixados nos quatro cantos do Mundo, porque onde houver um pedaço de terra vive lá um Português… somos um povo, vaidoso e bastante convencido, mas também somos trabalhadores filhos de cigarras. A vida continua, longe ou perto das raízes, esperando que de volta nos tragam a civilização com direitos e deveres, já que por cá, existem altas formações que a pouco ou nada servem. Quando há invenções a maior parte delas terminam os seus dias nos caixotes do lixo… mas fala-se! Fala-se tanto, enaltecendo a nossa sabedoria e conhecimentos, repetidas vezes sem fim nos canais televisivos, onde meia dúzia de magnatas sugam os fundos daqueles que fruem do salário mínimo, porque já nada é nosso. As grandes multinacionais apoderaram-se de tudo, e como diz o líder de um grupo: nós não viemos para cá para perder. Se ainda não voltamos à escravidão não vai tardar. Os líderes partidários chantageiam e chumbam um orçamento que será chumbado quantas vezes? Tretas meus amigos… Eleições para quê? Uma geringonça mesquinha sem argumentos, nem responsabilidades, que será seguida por outra, seja de direita ou esquerda. Apadrinhar é o prato do dia… para entrarem para o serviço público, Câmara, segurança social, finanças, correios, bancos e tudo o resto. É lamentável que um País dito civilizado veja apenas o seu umbigo. Roubam fortunas, fogem, e os que ficam vão para casa com pulseira eletrónica e uma multa 50 vezes inferior ao que falsificaram ou roubaram. Todos querem mais e mais não se preocupando com os jovens que não podem projetar um futuro nem ter uma família, pois são contratados 6 meses e depois rua. É inadmissível haver professores, que eu conheço, formados há 25 anos sem nunca poderem lecionar, enquanto se pagam excessos de tempo vigente aos que noutros tempos exerceram. Não reformam ninguém o que beneficia quem trabalha e atira para o desemprego jovens educados e com capacidades superiores. A nossa legislação deve ser a mais complexa da EU beneficiando os grandes e deixando quem precisa à beira da estrada. É inadmissível num País pobre circularem em automóveis de alta gama, choramingando que os combustíveis estão caros… Mancões, apartamentos de 200 m2, a custos exorbitantes, férias ao Algarve ou às Canárias, óbvio pagam-lhe 14 meses num ano e muitos ainda conseguem recuperar dinheiro na declaração do RIRS, Vergonhoso! Lamentável. Será que gosto ser Português?

domingo, 7 de novembro de 2021

Dia de sorte: por António Braz 06/11/21 De volta a casa, Francisco contou o sucedido à mãe sua confidente a quem não escondia supostamente nada. A progenitora reconfortou-o como o seu bebé, desdramatizando os acontecimentos… raparigas não lhe faltariam na faculdade ou fora, dados os seus atributos de beleza e morfologia, mas teria de ser seletivo, não cair na armadilha das caçadeiras de rapazes de famílias abastadas e com situação social privilegiada como a dele. Francisco limitou-se a ouvir, aparentando satisfação quando por dentro sentia um vazio imenso que devassava todo o seu ser, martirizando-o como um condenado ao flagelo que o sistema protocolar obrigava ao silencio aparentando satisfação, alegria que jamais teria dadas as circunstancias, e muito menos felicidade. Os dias sucediam-se, lentos, às vezes medonhos, num ritual de convivência por obrigação, frequentando e estudando, sempre só, como um cão vadio à procura do impossível. Não tinha voltado à casa dos avós receando mais perguntas indiscretas, mesmo sentindo saudades do seu amigo Alfredo com quem gostava conversar de coisas banais, banhados pela beleza da quinta, onde podia esquecer todos os problemas mundanos, saboreando a pureza do ar e a magnificência da paisagem, sem obrigações nem compromissos, esquecendo um mundo feroz sem compaixão nem remissão, mas sobretudo sem ser julgado segundo critérios de obrigatoriedade. Terminou o ano naquele estado de espírito, julgou não ter capacidade para começar outro da mesma maneira. Um dia, ao jantar, pediu aos pais para o enviarem estudar para Inglaterra ou Estados Unidos. Surpreendido o casal começou logo a fazer julgamentos mentais que pudessem levar o filho distanciar-se daqueles que lhe eram queridos, de sua casa, do quarto onde passava horas supostamente a estudar, do jardim que tanto prezava em tempos de sol, de tudo que fizera parte do seu viver… Como sempre foi a mãe a primeira a fazer a pergunta que se impunha: - Filho! O que te deu? Não és feliz junto de nós? - O problema é muito mais complexo, porém, gostaria que soubessem que são os melhores pais do mundo… aqui nunca me faltou afeto, carinho, amor e os bens materiais essenciais para prosseguir os estudos que sempre me fizeram sonhar…
Mas, se nada te falta porque queres deixar-nos na dor e no desespero sem termos a certeza que estás bem longe de nós? Francisco sentiu-se encurralado, sem respostas ou com a resposta que morreria com ele. Tentou convencer os pais que o estudo nestes Países tem outro valor em qualquer parte do mundo, e o ensino está a léguas de distância do nosso. Convictos de que o filho tinha alguma razão, acabaram por aceitar, iniciando imediatamente os preparativos ao consultar as melhores faculdades situadas em Londres e Nova Yorque. A que lhe dava mais vantagens era a: UYN com residência próxima embora os preços fossem elevados. Faltava apenas um mês para embarcar e no seu pensamento velava noite e dia a ideia de partir sem se despedir dos avós e do seu amigo Alfredo por quem tinha grande estima. Mas a mãe resolveu dar uma festa em casa para comemorar a sua despedida. Convidou as filhas das amigas de boas famílias com a firme intenção de com um tiro matar dois coelhos. Vieram os avós, o Alfredo e a namorada e mais dois ou três rapazes de confiança. Francisco estava radiante. O cocktail realizou-se ao ar livre até altas horas da noite e o rapaz que não estava acostumado a beber começou a sentir-se cansado, decidiu a cambalear ir abraçar os avós e o amigo, retirando-se para o seu quarto. A mãe que não tinha conseguido os seus intentos, resolveu ir falar diretamente com uma moça pequena e de pouca beleza, propondo-lhe namoro com o filho. Esta exitou e perguntou? Porque não foi o seu filho a vir ter comigo? Como não está acostumado a beber hoje está K.O. Pode ir ter com ele ao quarto e ficar lá toda anoite, percebe o que quero dizer. Sim. Percebo muito bem, mas não é honesto… Quer ou não quer namorar com o meu filho? E quem sabe… você não gosta de bebés? Adorava ter um filho…então mulher vá e faça o necessário. Deve saber como se faz? Meta-se na sua cama e conduza-o ao êxtase. Isto ficará para sempre entre nós

terça-feira, 2 de novembro de 2021

Dia de todos os Santos em Rebordainhos

Foi um dia penoso para uma centena de pessoas de Rebordainhos que vieram visitar os seus entes queridos, Depois da Eucaristia seguiu-se a costumada procissão até ao cemitério onde foram bentas as campas de todos os nossos que assistiamos de cabis-baixo silenciosos recordando aqueles que nos deram carinho amor e a vida.
Descansem em paz

domingo, 31 de outubro de 2021

Á procura da dor

ANTÓNIO LOBO ANTUNES António Gregório · 23 h · Hoje, depois de escrever dez horas seguidas e sentindo-me cansado demais para continuar, levantei-me da mesa e tirei um livro da estante do corredor. Calhou ser Dickens, numa edição barata da Wordsworth. Tempos Difíceis. Abri-o onde resolveu abrir-se e apareceram quatro linhas mágicas: um filho visita a mãe, velha e muito doente. Pergunta – Sente dores, mãezinha? e ela responde – Tenho ideia que anda uma dor por aí mas não estou certa de me pertencer e fiquei parvo com isto. Entre parênteses adoro ficar parvo com o que os outros escrevem: só costumo ficar parvo comigo, a interrogar-me de onde é que é aquilo saiu, porque não foi de mim com certeza, de maneira que penso que a mão de um anjo substituiu a minha. Tenho ideia que anda uma dor por aí mas não estou certa de me pertencer é uma pérola única. Igual à vida: quantas vezes senti isto, sinto isto, sem ser capaz de o exprimir. As dores que me pertencem são fáceis, as que não estou certo de me pertencerem custam tanto. Viro-as para um lado e para o outro, estudo-as contra a luz, experimento-lhes o cheiro, a consistência, a cor e a dúvida perpétua – Pertence-me? a perplexidade, a hesitação, enquanto a dor dói e me faz sofrer para burro. Estamos muito bem na sala e aí anda ela pelos cantos, fazendo de conta que não existe e no entanto a arranhar, a arranhar, ou antes a lacerar-nos todos, a gente para a dor – És tu? e não responde, finge que se vai embora e fica, que não nos liga e insiste, que não quer saber de nós e não desanima. Até no meio do prazer, até no meio da alegria permanece, alarga-se, entra mais fundo, com um arzinho distraído, não nos deixa em paz. Para quê falar nisto, o que interessam as minhas dores, de resto? É agosto e se fosse pequeno estava a caminho de Nelas com a família, não, Nelas em setembro, em agosto a praia, o raio de uma praia sem sol, nevoeiro e frio, a vendedora de bolos a passar com o cesto, as ondas cinzentas. Uma casa pequenina, alugada, a gente ao monte lá dentro. Eu lia, comprava o jornal desportivo, compunha versos que deviam ser frescos. E, toda a noite, o cordeiro do mar a balir. A minha mãe em fato de banho, o meu pai aos fins de semana, a cheirar a cachimbo, comigo na cama, de tábua nos joelhos, a aperfeiçoar redondilhas. Que diabo de texto é este em que comecei em Dickens e já vou nas redondilhas? A culpa é da esferográfica que vagabundeia sozinha. Nos livros sou disciplinado, nestas prositas divago. A dor, que não estou certo de me pertencer, abranda e depois volta, digo-lhe – Olá, dor e não lhe dou confiança. Não se deve dar confiança nem a nós, há que nos pôr em ordem. Põe-te na ordem, António, tu que durante a vida inteira detestaste obedecer. Aliás não te podes queixar, passaste o tempo a fazer o que querias. Agora, sei lá porquê, veio-me à ideia o meu irmão Pedro, o silêncio dele. Gosto de silêncio, de escutar palavras não ditas. Também gosto de pessoas que falam porque me permitem ir embora continuando ali. Elas falam, digo que sim com a cabeça e não estou. Estou onde? Na varanda da Beira a olhar a serra, por exemplo. Ou em parte nenhuma, num esconso interior, sentado no chão, de joelhos na boca, escutando o que não há. Desde que me lembro escuto o que não há, deixo que as coisas se inventem cá dentro, a minha cabeça é uma praia que a água invade e esquece. Neste momento, por exemplo, invadiram-me os travestis do meu bairro, com o seu único par de sandálias, heróicos no passeio, um movimento para diante quando se aproxima um carro, um movimento para trás quando o carro se afasta. Conquistaram duramente o quarteirão às mulheres pagas, após brigas de alto lá com o charuto entre os rapazes que protegem os dois negócios, um ganha-pão (agrada-me o termo ganha-pão) trabalhoso porque implica vigilância constante e bofetada fácil, para além dos quilos suficientes para se darem ao respeito. Lá voltam os Tempos Difíceis (dar-se ao respeito também me agrada) – Sente dores, mãezinha? e no caso de se interessarem por mim o que responderia? Talvez, lá no fundo, mas disfarço, garanto. É que existem coisas que não sararam na alma, não hão-de sarar nunca: as árvores de um cemitério de província a tremerem, algumas mortes, a minha violência tantas vezes injusta, patetices, indelicadezas, faltas de atenção com quem o não merecia. Espero ter melhorado, acho que melhorei mas continuo sem me perdoar o egoísmo necessário à escrita que me obrigou a cortar tantos pescoços que se interpunham entre eu e ela. No entanto, aprecio o António: comove-me a sua feroz guerra civil interior, a vulnerabilidade escondida, a compaixão que não mostra. O imenso orgulho que tem nos seus poucos amigos, a admiração por eles, o respeito. Dois homens, quando são homens, estão condenados a entender-se, não é? Agosto e o bairro deserto. Sobro eu, o senhor Cardoso da mercearia, o senhor Miguel do café, pouco mais. Ah, o senhor Varela a quem todos os dias pergunto pela diabetes. Até os pombos se foram, os restaurantes fechados. O senhor Cardoso viaja para a Beira Alta, perto de Seia, perto de mim. Fala da terra numa exaltação que me toca, mostra fotografias de casas e ruas, enquanto a esposa aprova. E o ar, senhor doutor? E a beleza daquilo? Alimento-me dos iogurtes que lhe compro, recebem o meu correio – Uma encomendazinha do estrangeiro de que a dona Irene corta as guitas com a faca: livros – Muito livro há-de ter você acha o senhor Cardoso, cujo filho, ao que parece, lê que se desunha: – Lê tudo, o meu filho e a dor que anda por aí e não estou certo de me pertencer amaina. Se a Joana – Sente dores, paizinho? afiançava-lhe logo que não, quais dores, que tolice. Dúzias de lugares para automóveis na rua, um casal na esplanada do senhor Miguel, um compincha drogado que a cocaína electriza. Mostra-me as tatuagens das cadeias (Vale de Judeus, Pinheiro da Cruz) onde passa temporadas a banhos por assaltar pessoas com um canivete. Garante – Se fosse preciso matava por si e desaparece num salto, pobre esqueleto desfeito. Dor nenhuma claro, Joana. Só que de tempos a tempos, mas isso não te digo, o coração num pingo. Não tarda nada passa, julgo eu. Julgo não, tenho a certeza: mais um minuto ou dois e há-de passar. António Lobo Antunes, in 'Visão' (2009-09-03)

Um dia diferente

Dia dos fiéis defuntos Avós, pais filhos e netos, que partistes, há horas dias ou anos, como estava predestinado, e que para nós fostes carinho amor, o abrigo das tempestades que só nos vossos braços encontrávamos o sossego, deixávamos de soluçar e as lágrimas caiam com menos frequência, com menos amargura, o coração batia num ritmo cardíaco quase normalizado, bastando um olhar brilhante, um sorriso meigo, uma palavra amiga, porque a vossa amizade será para sempre infinita nas nossas memórias, algumas delas também já cansadas preparando a viagem do reencontro; ornamentámos as vossas campas com umas simples flores, como se fosse vésperas de festa, mas merecias muito mais. Lutastes pela nossa vida e sobrevivência, nos sacrifícios e adversidades, privando-vos tantas vezes da vossa felicidade, retirando da boca o pão que saciou as nossas, defendendo-nos com garras de leões, amando e acariciando a carne da vossa carne, enquanto em noites de desespero choravas silenciosamente num canto da casa, procurando a solução para todos os nossos problemas,
angústias que vos roubavam o sono, que vos minavam por dentro deixando transparecer por fora, umas mãos calejadas um rosto enrugado, coxeando, sujos, encharcados, as dores penetravam no corpo e na alma, famintos e com sede, marchando como na guerra enquanto o alento permitisse. Esta flores representam simbolicamente apenas um sentimento de amor, porque jamais poderíamos recompensar o que vós fizestes gratuitamente. Fomos tantas vezes ingratos para convosco, esquecemos os nossos deveres, por ganância, por ingratidão ou hipocrisia, mas, hoje lembramo-nos por uns momentos, com vaidade propaganda dos nossos esquecimentos durante tantos dias que o ano tem, porque quem partiu não volta e quem está tem ocupações que não lhes permitem pensar a não ser no dinheiro, no ser mais que os outros, na luxúria, esquecendo que um dia chegará para nós a partida, porque o vento não para de correr e nos levará a todos nus como viemos ao mundo. Descanem em paz todos os defuntos do mundo

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Noticias da terrinha

Por António Braz Os amantes incontestáveis da terrinha aguardam ansiosamente noticias sejam elas boas ou más. Lá longe, “onde o sol castiga mais, só se ouvem suspiros e ais” porque o tempo não passa, mesmo passando depressa demais, é mais um ano no envelhecer, mas que alegria meu deus, ao vislumbrar da placa onde se pode ler Portugal! Nasceram aqui e embalados ou não é uma paixão que veio para perdurar, ainda que seja só por umas horas, é o remédio que mata a saudade, que atenua o que noutros tempos foi precário e agora envaidece; filhos e netos com habilitações literárias que lhe permitem uma vida social muito diferente do que foi a deles, que viveram na opressão na miséria e numa luta constante de sobrevivência. Estendidos pelo mundo são formigas sacrificadas, e quando chegam os tempos de glória cantam como cigarras, mimando acariciando e amando a carne da sua carne o sangue do seu sangue. Tem orgulho? Tem sim senhor, e com justa razão. Por cá, as notícias escasseiam, o movimento das pessoas é lento como as idades, as ruas esperam as vossas vindas para rejuvenescer, os eventos já eram, apesar da grande caçada ao javali organizada domingo, pela associativa, do qual resultaram dezassete peças, para a alegria dos organizadores e dos amantes deste hobby. Os caçadores numerosos invadiram os espaços reservados ao silêncio, e os automóveis ocuparam os lugares vagos deixados no mês de agosto. Também foram calcetadas as bermas da rua direita no fundo do povo, talvez à caça dos votos, mas as obras ficam e as pessoas passam… Já começam a cair as brilhantes castanhas, não será um ano prospero, mas este fruto ainda é o único que traz lucros para o lavrador sem muitos custos. Também os olivais se vão ficar aquém de outros anos, mas os seus frutos são sempre bem-vindos. Esta pandemia afetou o nosso País como tantos outro pelo mundo fo
afetou o nosso País como tantos outro pelo mundo fora, e agora é tempo de erguer a cabeça e seguir em frente, (Um sincero pensamento de pêsames par as famílias vítimas deste vírus mortífero) Não tenho frequentado o Facebook por razões pessoais, mas ontem lembrei-me e entrei, mas fiquei desiludido com os comentários das pessoas que como no futebol se substituem ao treinador. Somos um pavo vaidoso e queremos tudo depressa, sem ponderação, queremos sempre mais mesmo que outros sejam lesados. E lá vem o Salazar e o 25 de Abril como exemplo, porque já não nos contentamos humildemente com os empregos que temos e nos dão o seguro de que outros cariciam, e nem ousam lamentar-se… a televisão anuncia empregos que recusam os empregados por terem habilitações superiores às requeridas. Os subornos estão no ADN dos portugueses, e a corrupção deixa obras de arte entregues à esposa dos corruptos para que as falsifiquem e as façam desaparecer. A legislação é adequada às pretensões dos poderosos, e os milhões fogem daqui e dali, assujeitando apenas os infratores a prisão domiciliária, na suas casas confortáveis, e… assim vai a vida

domingo, 10 de outubro de 2021

Ò vida Vida!

“Ó vida, vida” Foram tantas as vezes que ouvi dos lábios da minha mãe esta frase, simples, e eu como ingénuo atribuía-lhe um significado de ligeireza misturado com pudor. Era a juventude surda, liberta e alheia aos problemas dos mais idosos, eles que os resolvessem! Hoje durante a minha caminhada, não consegui focar—me em mais nada o que me levou a escrever este texto. Freud dizia: o impulso de vida e o impulso de morte habitam lado a lado dentro de nós. A morte é a companheira do amor. Juntos regem o mundo. O siclo da vida é uma caixinha que guarda as boas e as más surpresas. O que dizem os psicanalistas, os teólogos e os filósofos são teorias inverosímil. A vida, é uma passagem que se pode prolongar no tempo, nunca para lá do predestinado, ou terminar logo após o nascimento e muitas vezes em gestação voluntária ou não. A vida é uma luta constante, e todos nós lutamos pela sobrevivência. Porém, como não nascemos todos com as mesmas normas fisiológicas nem mentais vão surgindo pouco a pouco intervenientes preponderantes. Uns agarram-se ao pouco que possuem, levando a sua cruz de rastos, com doenças incuráveis, acidentes rodoviários e outros que atiram com eles para uma cama com paraplegia total, pedindo todos os dias para partir, mas ninguém os ouve, porque a lei está acima de tudo, mesmo do sofrimento de um ser irrecuperável… chamam-lhe eutanásia, mais uma teoria falhada. Outros, os privilegiados nascem em berços de ouro saltando para os lugares mais desonestos deste mundo, roubando fugindo e viverem em paraísos sem rei nem lei, e por muito que tentem não fazer parte dos mortais, no seu dia partirão também deixando para trás todos os bens e a vergonha que em poucos tempos se esquecerá. Dizia ainda Freud: Talvez os deuses sejam gentis connosco, tornando a vida mais desagradável à medida que envelhecemos. Por fim, a morte nos parece menos intolerável do que os fardos que carregamos. A morte prossegue-nos desde o nascimento, mas começamos a pensar mais nela com o envelhecer, e não serão as descobertas cientistas que nos libertarão do fardo de que fala Freud. São os destinos, somos os destinados. Por António Braz P.S fica ainda mais uma frase de Freud: De vez em quando tive uma mão amiga para apertar. Uma vez ou outra encontrei um ser humano que quase me compreendeu.

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Dia de sorte

Dia de sorte 28/09/2021 por António Braz Amanheceu o dia com céu limpo, os passarinhos chilreiam num esboçar de contentamento, as árvores acariciavam o florescer enquanto nas ruas ainda vigiavam os primeiros amantes daquele silencio aprazível de paz e harmonia que só nas aldeias se pode desfrutar. Às narinas de Francisco, chegavam cheiros de pão torrado, crepes recheados com chocolate e outras guloseimas que o fizeram saltar da cama para fora como injetado por uma mola. Independentemente do que tinha acontecido no dia anterior, dormiu como uma pedra, e nem mesmo ao acordar ponderou o caso Cíntia. Estava bem disposto, pelo que tencionava arrumar num canto perdido o que já considerava passado e usufruir do pouco tempo que lhe restava na companhia dos avôs que adorava, passear pelas terras de singular beleza, e talvez encontrasse por lá o amigo Alfredo com quem gostava conversar. Depois de banhado vestiu roupa apropriada para andar no campo e veio até à cozinha onde a criada de costas voltadas não se apercebeu da sua chegada, e ele aproveitou para lhe fazer umas coceguinhas debaixo dos braços o que assustou a rapariga. - São para mim? - O quê… os crepes? - Claro o que devia de ser! - Para toda agente, e os seus avós estão à espera para tomarem todos o pequeno almoço. Todos?... – Claro pensava que tinha tanto trabalho só consigo? - Marota… Dirigiu-se para a pequena sala de jantar onde efetivamente a mesa estava quase cheia, restava apenas um lugar que por certo lhe estava destinado. - Ei…na!!! É hoje a malha? - E os bons dias também fazem parte da educação… - Desculpem. Bom dia. Ando distraído, e… A estupefação verificou-se de imediato nos que conheciam os acontecimentos bem recentes e esperavam ver um rapaz abatido, fragilizado ou até mesmo quezilado. Terminado o repasto, cada um foi à sua vida, mas o avô pegou num braço do neto e convidou-o para um passeio. Na sua mente estava ainda presente uma explicação de bom senso e queria ouvi-la da boca do rapaz. Quando já distanciados da herdade onde ninguém podia ouvir a conversa, começou por dizer: agora nós… sabes que te amo muito, mas, uma explicação em relação à tua amiga merece justificação. Não achas? É simples avô… eu e a Cíntia eramos namorados por amizade, e também porque a mãe quer que arranje uma mulher e tenhamos um filho para herdar os bens caso contrário o Estado fica com tudo… Mas… filho, que se passa realmente contigo? Não se passa nada, Ainda não encontrei uma moça de quem gostasse realmente, e… - O avô esperava ouvir mais e mais concretamente, ficou à espera que o rapaz desabafasse. - Avô na minha cabeça anda tudo misturado, e o meu corpo pode não ser igual ao dos outros homens… - Filho que me dizes, ou o que queres dizer e não consegues? - Avô, aconteça o que acontecer eu jamais os desiludirei, nunca. - Ó meu querido neto. Creio compreender… mas… há tantas incógnitas na tua expressão! Tu sabes que estarei aqui quando quiseres confidenciar coisas que não possas partilhar com tua mãe. - Obrigado avô e agora vou ter com o meu amigo Alfredo com quem gosto conversar e passear pelos campos

domingo, 26 de setembro de 2021

As pessoas nos restaurantes fazem-me sempre lembrar os quadros grandes, com martírios de santos, da igreja da minha infância. Casais que não se olham nem se falam: eles de queixo no prato, a espiarem os vizinhos de baixo para cima, elas de cabeça noutro lado e ambos a pensarem – Porque carga de água não me desamparas a loja? mas o dinheiro, mas o hábito, mas o medo da solidão dos homens – E se eu adoeço? mas a vantagem de ter uma mulher a dias sempre à mão, com olho para os botões a caírem e para as nódoas no fato apesar da chatice de ter que fazer amor com ela de vez em quando – Assim que acabo arranjo uma desculpa qualquer e levanto- -me logo porque ela gosta de ficar no nónhónhó, abraçada, e a gente o que nos apetece é que nos deixem em paz, o maior prazer que tiro daquilo é saber que – Agora, durante uma semana, estou safo pensar – Que raio de ideia me fez casar contigo? pensa – Só não me separo por causa das crianças quando não me separo não por causa das crianças, não me separo porque tenho medo, se me aparecesse uma garina em condições, mais nova do que tu, claro, mais bonita, o que também não é difícil, sobretudo de manhã, quando acordas, despenteada, sem pintura, não aguento o barulho dos teus chinelos no corredor, não aguento as tuas conversas, as histórias intermináveis acerca do emprego, constantemente interrompidas por um – Estás a ouvir? a gente, que não ouviu nada – Estou ela – Então o que é que eu disse? a gente, num resmungo – Que raio de conversa, se respondi que ouvi é porque ouvi a pensar – E se me deixasses em paz? a pensar – Que idiotas as mulheres que ainda por cima gastam um rolo inteiro de papel higiénico quando fazem chichi apesar de dois quadradinhos chegarem perfeitamente, para quê tanto papel, senhores, ao entrarmos de manhã na casa de banho encontramos sempre a rodela de algodão, toda preta, com que na véspera, à noite, tiraram a maquilhagem e que nunca despejam no balde como se custasse muito despejar aquilo no balde, basta carregar no pedal com a ponta do pé e nunca carregam, a rodela de algodão, a bandelete com que puxaram o cabelo para trás, a pasta de dentes sem tampa, a toalha torta no toalheiro, aqueles frascos todos, aqueles boiões todos, a inquietação a propósito de uma borbulha no queixo que teimam em mostrar-nos – Já viste esta borbulha? uma merdice que mal se percebe de súbito dramática, a queixa indignada – Nem olhaste a tragédia da celulite, a tragédia das estrias, o que elas decidem ser uma variz na perna esquerda – Estou uma velha ganas de concordar com elas – Não estás velha, estás a envelhecer porque a tragédia não é ser velha, é envelhecer, a inveja – Nos homens dá-lhes charme envelhecerem, nas mulheres é horrível de facto é horrível mas se por acaso concordamos – Pensas que és algum actor de cinema, tu? e de imediato referências à nossa barriga, à tristeza de nos estarmos a tornar repetitivos, à maçada de nos estarmos a tornar cada vez mais chatos, um olhar de desprezo à nossa silhueta – E gordo, e curvado portanto nada de conversas sobre a idade para não encontrar olhos que cintilam de lágrimas de humilhação e raiva, a boca, de cantos para baixo – Desculpa confessar isto mas o que tu mudaste e claro que mudei mas, ao contrário de ti, mudei para melhor, um dia destes tens as pernas fininhas como dois palitos cravados numa batata, há ginásios, sabias, o que não falta para aí são ginásios de onde voltarás toda suada, de madeixas agarradas à testa, com olheiras, a atirares-te para cima de um sofá, exausta, soprando – Já não tenho vinte anos e realmente já não tens, tens quarenta, perdão, quarenta e três, tu logo, ofendidíssima – Quarenta e dois nós – Fazes quarenta e três em junho e estamos em março, olha que grande diferença elas – E eu só não falo da tua idade por pena de mim, prefiro esquecer-me que vivo com uma múmia nós, picados – Não há nada mais amargo que uma senhora provecta e oxalá ela fique amuada uma semana ou duas, é da maneira que me salvo do tal e coisa por mais uns dias, tenho que pensar nas amigas da minha filha mais velha para conseguir o tal e coisa ou na atriz daquele filme de ontem na televisão ou nas pequenas do rialitichâo que tu – Umas pindéricas, umas saloias para não dizer a verdade pindéricas e saloias de facto que nem português sabem falar mas aqueles peitos, aquelas cinturas, aquelas bocas, no fundo não há como uma pindérica saloia para acordar hormonas, tu, desgostada – Vocês, homens, são uns animais, e de facto somos, tens razão, somos uns animais mas é graças a elas que eu, e calamo- -nos a tempo, ou seja, pensamos que nos calámos a tempo mas não nos calámos a tempo porque bateste com a porta do apartamento e fico sozinho, sem saber o que fazer, no terror que te passe pela cabeça não voltar. António Lobo Antunes, in 'Visão' (2016-06-23)

sábado, 18 de setembro de 2021

Avec le temps Por António Braz (ficção) Quando o Tiago era pequenino, do seu carrinho confortável e fino, abria os olhos lindos de um azul celeste, e o seu sorriso meigo atrevido meio provocador, atraía os olhares dos passantes, carinhoso, afável, atrevido que proporcionava comentários tais como: quando fores crescidinho todas as meninas te vão adoletrar. Os pais ficavam orgulhosos, seguindo o seu caminho, sem problemas na vida, com uma situação social bem estruturada, trabalhando os dois, vivendo em união de faco, numa casinha modesta, mas espaciosa, onde o quarto do menino se tornou o centro das atenções. Apesar da juventude dos pais, a criança foi apaixonadamente desejada, e recebida como um dom divino. Foi crescendo sempre com aquele entusiasmo de felicidade, até à idade dos seus dois anos, irrequieto, carinhoso, e de uma inteligência fora do comum. Porém não balbuciava palavra ou silaba e a inquietação dos pais aumentava enquanto aguardavam um possível atraso. Contudo resolveram consultar a pediatra a qual embora com reticências, encaminhou-os para um serviço especializado. O diagnóstico caiu nos dois jovens como uma bomba que fere até à profundidade das entranhas. Como era possível nunca terem reparado que o menino não ouvia? Foram tantos os índices, mas quando se é pai e mãe só vemos o que nos convém… um surdo mudo que nada alterava ao amor que os progenitores tinham por ele, mas que por certo viria a ser um entrave no decorrer do seu crescimento e mais tarde no mercado do trabalho. Foi crescendo com a deficiência que o destino lhe legou, e como era excecionalmente inteligente, foi ele próprio a encontrar a maneira de comunicar com os pais e outros familiares, através das novas tecnologias, que manipulava aos quatro anos, muito acima dos adultos dotados e considerados como os crac na matéria. Frequentou durante um ano as escolas especializadas, sobretudo a gestual, mas a aprendizagem durou tês vezes menos tempo que para os habituais alunos. Com cinco anos terminou o 1º e 2º ano. No seu computador, tablet ou telemóvel que manobrava como um cozinheiro de renome a sua cozinha, ele instalava todas as ferramentas de que necessitava, e com elas chegou ao décimo segundo ano tinha apenas doze anos fazendo sempre uma vida normal, embora certos jogos dos adolescentes como ele não lhe interessassem tentava humildemente participar, e nunca sentiu descriminação, apenas umas peadas dos colegas com idade muito superior à dele. Com dezoito anos tinha já terminado o curso superior em ciências aplicadas e foi convidado para trabalhar numa empresa Americana de renome onde se faziam pesquizas para deficientes de todos os géneros, mas não aceitou porque tinha mais um ano para concluir o doutoramento. Muito querido, mas sobretudo admirado por personagens de alto nível que levavam os cumprimentos ao fastio do rapaz que apenas tinha nascido diferente dos outros. Tiago vivia alegre e feliz na sua humilde casinha em companha dos pais que também planeavam secretamente um futuro com vislumbre para o filho, mesmo com a deficiência existente. Já com o doutoramento concluído, chegavam a casa propostas de imensas firmas, reconhecendo os dons intelectuais do rapaz. Porém, num dia de outono, quando as folhas já começavam a cair, enquanto passeava na margem do rio, começou a sentir uma dor de cabeça que progredia para a atrocidade, e, de volta a casa, os pais com grande aflição chamaram o INEM que o conduziu de imediato ao hospital de S. João e o prognóstico do 1º médico que o observou revelava-se reservado, mas bastante critico. Numa sala ao lado dialogavam os melhores professores do hospital depois de ter passado pela ressonância magnética, e a conclusão não era deveras otimista. Entretanto tinham-lhe sido administradas duas doses de morfina para amortecer aquelas horríveis dores e gritos que Tiago quase já sem forças, debatia-se perante os olhares impotentes da medicina, sendo um caso raríssimo que presenciavam tristemente com lágrimas a descer lentamente pelos rostos, e sem coragem para comunicar o seu estado aos pais que aguardavam ansiosos na sala de espera. Ligaram para os mais prestigiosos hospitais dos estados unidos para uma eventual transferência que não julgaram aconselhável em virtude da distância e do estado do doente. Duas horas depois foi anunciado o óbito. Tiago partira para sempre

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Por terras de beleza

esta foto não é minha

 Os vales

Uma terra como tantas outras, situada na encosta da serra da nogueira, isolada de tudo e de todos, mas, quem lá morou , tenho a certeza que amou este lugar singular de beleza natural, e foram poucos os privilegiados num pequeno aglomerado de quatro casas cujos residentes, dois ou três casais com filhos ainda pequenos que nunca lhes faltou pão batatas e o que davam os “cevados” para comer em dias e noites medonhas de inverno onde se ouviam os lobos uivar em tempos de nevões , bem perto do povoada, com fome, desesperados, mas o tio Raul, homem de pequena estatura já não temia, talvez por se ter acostumado, e também porque a “escopeta” estava sempre carregada e pronta para defender os seus entes queridos. Nunca cheguei a saber porque razão foi ali parar e construiu a sua casa, assim como depois os outros habitantes, a cerca de cinco ou seis km da freguesia, suponho que tenham sido as terras férteis que podia cultivar e extrair o pão nosso para cada dia embora o desconforto e a longevidade de outros aglomerados fossem fatores de risco que ele enfrentou sempre como homem de garra e luta. Não existia estrada apenas um carreirão por onde passavam

 
dificilmente os carros de vacas carregados com cereais e batata, que gastavam um dia para as levar à estação de Rossas onde eram enciladas e depois vendidas seguindo no comboio a carvão que transportava mercadorias. Era uma casa abastada, e os filhos, de quem me lembro melhor por terem apenas menos dois anos que eu, devem ter vivido um calvário em tempos escolares. Chegavam à escola todos os dias encharcados dos pés à cabeça tiritando com o frio e neve que nestes tempos eram rigorosos, onde uma braseira que a tia Benigna ou Maria Silva se esforçavam para ter à disposição dos professores, deixando o lugar por uns momentos às pobres crianças para aquecerem as mãos, e o resto do corpo ia aquecendo também por baixo das roupas ensopadas, de boa qualidade que o pai velava com ambição, e até muitas vezes veio com

eles até à ribeira para os ajudar a atravessar, por cima de umas pedras escorregadias com o coração num punho não fossem arrastado pelas águas neste tempos densas e velozes. O seu grande sonho era que os filhos tirassem um curso superior apesar das adversidades, e dois deles, inteligentes conseguiram. Levar para os vales a luz elétrica o que nunca aconteceu. Houve mais tarde um rompimento pela malhada velha onde se podiam deslocar os mais atrevidos com automóveis, mas a vida nos Vales já era. Havia também uns gémeos dos quais não me lembra o nome esses mais novos, mas que também ainda comungaram das dificuldades para se deslocarem a Rebordainhos ou a Lenção que era as aldeias mais próximas.

Quem morou neste paraíso de tranquilidade saudável não deve envergonhar-se de ter lá vivido, nem mesmo quando alguém mais atrevido lhes perguntar de onde são… pessoalmente sustento imensa admiração pelos pais e filhos que lutaram para vencer e o tio Raul deve ter partido orgulhoso com justificadas razoes. (Houve um lapso no nome da personagem que integra este texto, o qual já foi retificado com imensas desculpas aos familiares, amigos, conhecidos e leitores. Mea culpa

sábado, 11 de setembro de 2021

Do pó até ao pó


Não deixe que as suas panelas brilhem mais do que você!!!!
Não leve a faxina ou o trabalho tão a sério!
Pense que a camada de pó vai proteger a madeira que está por baixo dela!
Uma casa só  será um verdadeiro  lar quando você for capaz de escrever “Eu te amo” sobre os móveis!
Antigamente eu gastava no mínimo 8 horas por semana para manter tudo bem limpo, caso “alguém viesse visitar-me” – mas depois descobri que ninguém passa “por acaso” para visitar – todos estão muito ocupados passeando, divertindo-se e aproveitando a vida!
E agora, se alguém aparecer de repente?
Não tenho que explicar a situação da minha casa a ninguém…
…as pessoas não estão interessadas em saber o que eu fiz o dia todo enquanto elas passeavam, se divertiam e aproveitavam a vida…
Caso  não tenha ainda percebido: A VIDA É CURTA… APROVEITE-A!!!

Tire o pó… se precisar…

Mas não seria melhor pintar um quadro ou escrever uma carta, dar um passeio ou visitar um amigo, fazer um bolo e lamber a colher suja de massa, plantar e regar umas florinhas?
Pese muito bem a diferença entre QUERER e PRECISAR !

Tire o pó… se precisar…

Mas você não terá muito tempo livre…
Para beber champanhe, nadar na praia (ou na piscina), escalar montanhas, brincar com o cão de estimação, ouvir música e ler livros, fazer amigos e aproveitar a vida!!!

Tire o pó… se precisar…

Mas a vida continua lá fora, o sol iluminando os olhos, o vento agitando os cabelos, um floco de neve, as gotas da chuva caindo mansamente….
- Pense bem, este dia não voltará jamais!!!

Tire o pó… se precisar…

mas não se esqueça que você vai envelhecer e muita coisa já não será tão fácil de fazer como agora…
E quando você partir, como todos nós partiremos um dia, também voltará a ser pó!!!
Ninguém se lembrará das contas que pagou, nem da sua casa tão limpinha, mas  lembrar-se-ão da sua amizade, da sua alegria e do que você ensinou.

AFINAL:

“Não é o que juntou, mas sim o que espalhou que reflete como a nosso vida foi vivida.”

Autor desconhecido


 

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

As cegonhas

As cegonhas

Quando as cegonhas voltarem

E do alto das suas casas observarem

O vazio que outras deixaram

Terras abandonadas ao desleixo

Ninhos sem vida no cúmio de um freixo

De onde viam sem desleixo

As estrelas brilhando no céu

Planícies iluminadas pelo luar

 De manhã o sol brilhante a raiar

Inundando de carinho as planícies

Que com suas longas patas trepavam

Procurando alimentos no chão

Para os amores do seu coração

Mas a solidão foi tão grande

Que levaram os filhos para outra nação

Volta agora uma ou duas, mas não encontram a razão.

António Braz


quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Dia de sorte continuação


Dia de sorte por António Braz

Chegaram a casa dos avós de José tardiamente, e encontraram-nos preocupados esperando, receosos que tivessem tido um acidente. Aguardava-os ainda o jantar que aqueceram, comeram e foram todos deitar-se. José sentia-se cansadíssimo, mas dava voltas e mais voltas na cama sem conseguir adormecer. Continuava ligado às decisões que a mãe sempre tomava no seu lugar, mas desta vez esperava resolver ele próprio sem incomodar ninguém. Porém, havia tantas arestas para limar! No silêncio daquela noite deliciosa sofria o maior pesadelo da sua vida… não sabia que fazer, nem quem era, mas sobretudo o que era na realidade. Lamentava a falta de coragem para divulgar o que realmente sentia e estremecia sempre que lhe ocorria poder estar a viver num corpo errado que o pensamento transformava em mártir, naquele que por todos era recriminado, humilhado intransigentemente. Já tinha consultado vários livros especializados em sexologia sob todos os aspetos, assim como as perturbações inerentes não tendo chegado a uma conclusão axiomática para o seu julgamento que variava a cada minuto, segundo ocorrências vivenciadas e imaginárias. Ocorrências tais como: um dia sentiu-se mal com dores de ventre terríveis quando ia passando numa das ruas de uma grande cidade. Numa placa em mármore estavam estampados o nome de um médico e o seu consultório. Desta vez resolveu não comunicar à mãe, subiu as escadas até ao 1.º andar e perguntou à rececionista se podia consultar que era uma urgência? Esta perguntou se tinha marcação prévia ao que o rapaz respondeu negativamente. Ao mesmo tempo, vinha trazer à porta, o médico, uma cliente e os olhares dos dois cruzaram-se durante alguns segundos como hipnotizados. Aquiesceu que podia consultar só que era obrigado a esperar que todos os que aguardavam com marcação fossem atendidos. Quando por fim chegou a sua vez, e que o médico o mandou deitar de ventre para cima na maca para o efeito, o rapaz, tímido e envergonhado exitou, sobretudo que lhe ordenava de retirar as calças até aos pés, levantar a camisa, para melhor poder examiná-lo. – Senhor doutor é mesmo necessário?...

- Claro! Não te preocupes que eu já vi muita gente despida…

Não vou relatar detalhadamente o que se seguiu, mas este médico com os seus 50 anos, casado, mas homo, abusou da humildade de um rapaz passeando as suas mãos constantemente pelos órgãos genitais até ao extremo fingindo que o estava a examinar. Indignado profundamente, revoltado consigo próprio por não ter reagido como um cidadão exemplar, consentindo sem balbuciar palavra, desceu as escadas petrificado vagueando horas pelas ruas sem ver nem ouvir ninguém.

Era ainda bem cedo quando o galo cantou e acordou José que tinha dormido apenas uma hora, mas os pesadelos tinham entrado na sua caixinha de segredos, e o dia raiava novamente com otimismo e alegria. Foi o avô que veio chamá-lo ao quarto com um abraço fraterno cheio de carinho e amor, ao qual ele correspondia 

sábado, 14 de agosto de 2021

Quando a desgraça bate à porta

Os excluídos

Nascidos para serem seres humanos, mas, a comunidade condenou-os ao supresso julgando-os presencialmente, pelas roupas que vestiam,  pela indigência, vicissitude deplorável e ostentada mas mal disfarçada, esquecendo que todos nascemos da mesma maneira, não obstante possuir ou não ter nada onde nos possamos agarrar para não cair  na mendicidade que lentamente nos vai arrancando a dignidade e o alento abruptamente, deixando-nos desnudados sem esteio, famélicos, desvalidos, convalescentes ocasionais, subterfúgio para quem olha e não vê, porque não quer, embora finja sendo necessário alimentar aparências, fúteis, mas que contribuem para expandir o ego, a concupiscência num frenesim de festividades onde prevalece orgulhosamente a vaidade, onde os bens materiais são recorrentemente privilégios com duração vigente, porque se há justiça neste mundo igualdade e paridade está na chegada e na partida.

Eles tinham o destino marcado, tal como nós, mas indigna-me e mina-me saber, que sós, dentro de quatro velhas paredes, numa terra onde ( tout le monde est beau, tout le monde est gentil) não houve uma única pessoa que alertasse para a falta de os ter visto ainda com vida, durante três dias de agonia. Todos nós estivemos apenas preocupados em confecionar manjares grandiosos e beber uns copos na tasca que também eles frequentaram, como pobres de haveres e para muitos de espírito, o que não enaltece os procedimentos avarentos e indignos de seres humanos. Fossem eles alcoólicos ou atrasados mentais, bons ou maus, ricos ou pobres, ninguém merece ter um final de vida assim…

Para si mãe Ana que também partiu num dia destes onde quer que esteja, estará sempre no nosso coração

 

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Recordações


As saudades que eu já tinha
Da minha alegre casinha
Tão modesta quanto eu
Meu Deus como é bom morar
Modesto primeiro andar
A contar vindo do céu
As saudades que eu já tinha
Da minha alegre casinha
Tão modesta quanto eu
Meu Deus como é bom morar
Modesto do primeiro andar
A contar vindo do céu
As saudades que eu já tinha
Da minha alegre casinha
Tão modesta quanto eu
Meu deus como é bom morar
Modesto do primeiro andar

A contar vindo do céu






Teixedo 2021 for ever