sábado, 30 de abril de 2016

Nós dois


TU E EU-45
Era uma tarde quente de verão!
Dois anjos...uma única ilusão!
Debruçados sobre o silêncio dos sentimentos…
Espelhávamos o amor nas águas azuladas do rio pachorrento da nossa cidade.
Os teus olhos brilhavam de doçura!
Os raios solares, refletiam sobre os teus negros cabelos a ternura.
Eram apenas nossos aqueles momentos de magia
Eram teus, os meus lábios virgens que recebiam pela primeira vez o sabor de um beijo roubado.
Era teu o meu corpo angelical, sem mancha e sem pecado.
Era teu o meu perfume de alfazema e alecrim
Era tua a minha pele que tremia de ansiedade como tecido de cetim
Eram teus os meus seios divinamente guardados
Era teu o meu coração a sete chaves fechado
Era tua a minha alma pura, branca e imaculada.
Eram tuas, as minhas mãos que a pele timidamente afagava
Era nosso o rio que levemente passava
Eram nossos os bancos do jardim onde o amor repousava
Eram nossos os silêncios que gritavam a inocência
Nossas as raízes que se aprofundavam na nossa consciência.
Era nossa a brisa que nos acariciava baixinho
Era nossa a tarde inteira que afagava o nosso carinho
Era meu o suspiro apaixonado!
Era teu o sorriso envergonhado!
Era nossa, a relva macia e aveludada do jardim
Era nosso o amor inteiro completo e sem fim.
Eras tu a poesia que eu tinha rabiscado na mente
Era nosso, o mundo, infinito total e completamente
Era nosso o sol, dourado e resplandecente
Era teu e meu o sémen que se reproduziria em semente
Era nossa a descoberta do amor e o limite abstinente
Nós os dois juntos lado a lado.
Parto imaturo interrompido e provocado
Em duas almas virgens e sem pecado.
M.C.M. (São Marques)

Já as rosas se adivinhavam...

Fernando Calado

De Fernando Calado
…Quase poema… ou tu e eu… em 30 de abril
Era trinta de abril, quase maio. Já as rosas se adivinhavam à beira da surpresa. Abri a janela do sol poente …senti o meu ocaso, no descanso de ter fechado a vida.
Era trinta de abril… quase maio… sem um anúncio… sem um sinal… tu chegaste… e entardecia.
E somente disseste: - já há rosas?!
- Já volta a haver… já vesti de novo o coração de branco e tenho imensas roseiras no quintal e já se adivinham no perfume do poema… doce e cheio de ternura que se dá e sente-se como o rio sente as margens, a abelha sente a flor e o beijo sente o desejo... e ficamos.
E tu disseste: “Sigo os sinais cravados no meu peito… descubro no deserto tortuosos caminhos… a terra de pedra e os pés com rugas no mapa do destino… uso as minhas armas… mato a sede acenando aos barcos… Choro rios… Não me entendo sem adormecer a impaciência da esperança, nem a solidão da alma para entender o que me resta na lembrança, sonhos de ouro, relíquias de marfim, companheiro dos meus dias na teia das horas mortas.
Anoitece e sei-me tua… o fogo do sol, um hálito quente repara no sentimento. Silêncios que se inspiram… pele onde a terra e o céu respiram… e fico na ilha do teu abraço… e nas mãos da noite o corpo suspira em festa… Madrugada no berço da lua e dança no orgasmo das palavras… o mistério canta no poema que me arde, nem cedo nem tarde, tão longa é a noite no sol do teu abraço.”
E eu disse: que o orgasmo nasça no sussurro das palavras e na flor, em prenúncio de fruto e seja longo e doce e fique num remanso de água, de sumo de laranja, de beijo húmido e do abraço que fica à flor da pele... e que para sempre os rios corram no meio dos dedos e se façam maresia neste sentir sem estar, neste desejo de fruta madura, neste cheiro a rosas em abril… quase maio… quase flor... que os rios corram… mas fiquem!
Era trinta de abril… quase maio…
… e foi assim!

FALECIMENTOS

Mais um filho da terra que nos abandonou difinitivamente. Homem de carácter muito querido e respeitado por todos os que o conheceram bem. Dedicou benévolamente muitos anos ao serviço da Comissão Fabriqueira, participando do mesmo modo activamente nas grandes obras construidas com o seu apoio e dedicação. Deus chamou-o, no seu dia. como nos chamará a nós quando o nosso dia chegar. DESCANSE EM PAZ
Faleceu o Sr Manuel Rodrigues (canelas) ontem dia 29 de Abril de 2016.
O seu funeral realiza-se hoje dia 30 por volta da 16h,
A todos os seus familiares apresentamos as nossas sinceras CONDOLÊNCIAS.

sábado, 23 de abril de 2016

Espelho meu...

Um certo dia, os empregados de uma grande empresa, quando iam iniciar os seus trabalhos, nos grandes portais de entrada, depararam-se com um elegante cartaz, onde se podia ler o seguinte:
- Faleceu ontem uma pessoa que colocava entrave à sua subida hierárquica na empresa… fica desde já convidado para o velório que terá lugar esta noite no salão de conferências.

 Durante algum tempo, todos aparentavam entristecimento, pelo fato de ter falecido alguém provavelmente do seu conhecimento, porém, com o decorrer do tempo, a curiosidade sobrepunha-se ao sentimento de tristeza na expectativa de saber, quem era realmente esse intruso que bloqueava o seu crescimento na empresa. E o povo agitava-se com tanta e tão grande veemência que foi necessário recorrer ao serviço de seguranças para organizar uma longa fila indiana antes de dar inicio ao velório… à medida que as pessoas se iam aproximando do caixão, aumentava a excitação:
a mesma pergunta nas suas mentes prevalecia: - Quem será que estava pondo entraves ao meu progresso na Empresa? Ainda bem que morreu!
Um a um, os funcionários, agitados, aproximavam-se do caixão, fixavam o olhar no visor do mesmo com o intuito de reconhecer o defunto; engoliam em seco e cabisbaixo iam saindo sem balbuciar palavra mediante os olhares dos que ainda esperavam na fila  que os fulminavam com o olhar. Prostrados no mais absoluto silencio, como se tivessem sido atingidos no fundo da alma, dirigiam-se para os respectivos locais de trabalho. Mantinham-se na fila os restantes enquanto não chegava a sua vez, sempre com a mesma espectativa curiosa de saber quem era o ditoso obstáculo que jazia no caixão.
E a pergunta moía e remoía nas suas mentes: - “ quem está nesse caixão”?

No visor do caixão tinha sido colocado um espelho onde cada um se viu a si próprio, e numa fita de seda imprensa a seguinte frase: SÓ EXISTE UMA PESSOA CAPAZ DE LIMITAR SEU CRESCIMENTO…
Você mesmo!

O mundo é como um espelho que devolve a cada pessoa o reflexo dos seus próprios pensamentos e atos. A maneira como encara a vida é que faz toda a diferença. A vida muda quando: “você muda”


Lição de vida

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Esperando a morte

Olhando fixamente o vazio, assentados em cadeiras de rodas, imóveis pelo cansaço, ou imobilizados pela demência, assim estão, como quem olha a imensidão do mar, horas, dias, meses, os últimos anos que a vida lhes legou… torturados pelo sofrimento físico e moral, envolvem-se em pensamentos de uma atrocidade desumana, que lhes vai minando os corações como uma lâmina afiada, lentamente, mas, tão dolorosa, que uma lágrima, de vez em quando, se solta, deste olhar piedoso, atravessa o rosto enrugado, e desaparece no canto da boca, tal um sonho em noite de pesadelos… ali vieram parar! Não foram de todo abandonados… recebem telefonemas, uma visita por semana, mês ou ano…sinal do dever cumprido, porque já não são pais de ninguém, apenas obstáculos à realização de projectos… também deixaram de ser avós, seus netos sentem vergonha e até repugnância pelos gestos descoordenados, pela falta de autonomia, e pouco tempo a perder com farrapos velhos, cuja hora de partida tem apenas adiamento… depois, como tantos outros, irão fingir junto do caixão, com um ramo de flores na mão, olhos tapados com óculos de sol, uns gritos fictícios de dor para confundir a sensibilidade dos que vêem apresentar os seus pêsames, por obrigação ou consideração.
Sem atrasos prepara-se a reunião para definir a divisão dos bens. Tal como foi repartida pelos algozes que mataram Jesus, a sua túnica…. Não se entendem, pois todos querem mais e mais. Ralhos, insultos, ameaças, vale tudo para atingir objectivos que vinham havia tempos, sendo conversa familiar… não valeu a pena sacrificar-se! Onde se refugia a educação que naqueles longos dias de inverno foi transmitida carinhosamente? Será que se esqueceram dos tempos em que retiraram o naco de pão da boca, para ser repartido? Esquecer é tão fácil! É útil, mas a maior das cobardias. Fostes tão amados! Acariciados protegidos… nascidos em berços dourados, ou em camas de palha, fostes recebidos com alegria e amor, orgulho e admiração, e hoje? Também sois pais… o tempo passa tão rápido! Chegará a vossa vez… os maus tratos nos hospitais, o desprezo nas ruas, a compaixão reflectir-se-há no vosso próprio espelho…quando vossos filhos vos levarem para fora de vossas casas e disserem: aqui ficam bem… nós pagamos… o preço da infelicidade, do sofrimento, enquanto não chega a morte

terça-feira, 12 de abril de 2016

Uma alentejana invulgar.

Bruno Ferreira com Liliana Raquel Fernandes.
CARTA DE UMA MÃE ALENTEJANA Partelhada nas redes sociais
Mê querido filho,
Ponho-te estas poucas linhas que é para saberes que tôu viva.
Escrevo devagar porque sei que não gostas de ler depressa. Se receberes esta carta, é porque chegou. Se ela não chegar, avisa-me que eu mando outra.
O tê pai leu no jornal que a maioria dos acidentes ocorrem a 1 km de casa. Por isso, mudámo-nos pra mais longe.
Sobre o casaco que querias, o tê tio disse que seria muito caro mandar-to pelo correio por causa dos botões de ferro que pesam muito. Assim, arranquei os botões e meti-os no bolso. Quando chegar aí prega-os de novo.
No outro dia, houve uma explosão na botija de gás aqui na cozinha. O pai e eu fomos atirados pelo ar e caímos fora de casa. Que emoção: foi a primeira vez, em muitos anos que o tê pai e eu saímos juntos.
Sobre o nosso cão, o Joli, anteontem foi atropelado e tiveram de lhe cortar o rabo, por isso toma cuidado quando atravessares a rua.
Na semana passada, o médico veio visitar-me e colocou na minha boca um tubo de vidro. Disse para ficar com ele por duas horas sem falar.
O tê Pai ofereceu-se para comprar o tubo.
A tua irmã Maria vai ser mãe, mas ainda não sabemos se é menino ou menina. Portanto, nã sei se vais ser tio ou tia.
O tê mano Antóino deu-me hoje muito trabalho. Fechou o carro e deixou as chaves lá dentro. Tive de ir a casa, pegar a suplente para a abrir. Por sorte, cheguei antes de começar a chuva, pois a capota estava aberta.
Se vires o Sr. Alcino, diz-lhe que mando lembranças. Se nã o vires, nã lhe digas nada.
Tua Mãe Mariana
PS: Era para te mandar os 100 euros que me pediste, mas quando me lembrei já tinha fechado o envelope.
DESCULPA a minha lêtra, mas eu tenho andado muito rouca.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Dia de Santa Luzia

 Notícias da aldeia
Às vezes ainda ouço, à beira da memória, os carros de bois que passam chiando, dolorosamente, carregados de trigo… desejando a eira.
… ei vacas!… anda lá cereja!... faz-te ao suco…e a lavrada acontecia, vagarosamente… do nascer ao pôr do sol.
Os lameiros eram verdes… a erva fresca… a boiada pastava e o boieiro não tinha pressa, sentado…comendo a merenda junto ao remanso da ribeira.
Os carros de bois já se calaram há muito tempo e o último boieiro já só existe no imaginário nostálgico da aldeia.
Mas o orgulho dos antigos lavradores persiste firme, como as fragas duras e altaneiras:
- pois é sempre tive duas juntas de vacas… agora tenho dois tratores… e quando um se cansa, pego-lhe ao outro!...
…ora bem! Que se canse o trator… mas descanse o lavrador!
Mudaram os tempos…ficam as pequenas vaidades!
Bendito seja o Nordeste!
(foto tirada no Xitol… a verdadeira adega)

Ontem foi dia de Santa Luzia, frio, neve e chuva alteraram os projetos de muita gente que tencionava deslocar-se a esta localidade bastante frequentada pelas gentes de Murçós, trazendo as suas merendas para comer em convivio junto da mãe natureza, com sons e cheiros campestres que abrem o apetite. Quem não faltou foi a "doyenne"  (tia Aurora)que muito perto de centenária, não há frio, chuva ou neve que lhe faça obstáculo. Feita de outra tempera, continua a dar os exemplos marcantes que nos fazem refletir... Também alguns peregrinos seguiram a pés a fim de cumprirem as promesas feitas a esta Santa milagrosa com devoção. A festa profana também se realizou com o concurso do grande conjunto que na vespera atuou com temperaturas bastante baixas.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Páscoa 2016

 

Murçós, foi mais uma vez, o lugar escolhido, para passarem as festividades Pascais, centenas de bucólicos vindos das diversas localidades do planeta. E as tradições mantiveram-se vivas e bem presentes no coração de cada um, que longe ou perto, bate palpitante, ansioso por passar, algumas horas, com familiares e amigos, e juntos reviverem um passado recente que o destino traçou nas suas vidas dando-lhe outra direção que não era forçosamente a escolhida se tal lhes fosse proporcionado…pelas ruas, durante a semana passada, ouviam-se gritos e gargalhadas de uma juventude alegre e feliz; cruzavam-se olhares, e, um “olá” rotineiro soltava-se dos lábios como uma saudação sem preconceitos, presunção ou outro qualquer adjetivo discriminativo… o cheiro dos folares a saírem dos fornos a lenha, confeccionados à maneira antiga, entrava-lhes pelas narinas vindo misturar-se com o oxigénio no balão de ar puro o qual começaram a respirar na descida do Lameirão, lugar mítico, observatório da terra amada, onde todos os que vem de lugares stressantes começam a descontrair. Considerando os de 2ª idade (entre os 30 e os 50) os mais ativos, consequentemente os que cresceram aqui, juntaram-se com tratores e mãos arregaçadas foram à procura de lenha para manter a colossal fogueira durante toda a noite de Sábado para Domingo, onde durante grande parte da noite a quási totalidade da população se reúne cercando-a como os indígenas quando praticavam seus rituais de devoção e crença. O repenicar dos sinos sempre afinados propagava-se pela atmosfera dos anjos, e raros foram os que não foram puxar nem que fosse apenas uma vez, aquelas cordas pendentes ao longo do majestoso campanário, maquilhado com cintilantes lâmpadas coloridas, dando-lhe um ar de festa. No café central as mesas eram poucas para satisfazer os pedidos, e, de pé apertados como sardinhas na caixa, mais cedo ou mais tarde, todos foram servidos com um sorriso nos lábios, uma picardia amável, uma anedota sempre pronta para contar. Nas mesas jogava-se o “chincalhão de 6” num alarido infernal, como quem
solta o que trazia preso no coração durante meses. Os mordomos do menino Jesus, como é costume tentam por todos os meios angariar fundos com a venda de objetos, cabaz, mas sobretudo bebidas no recinto reservado ao baile animado este ano por um filho da terra com o nome de artista WF. A sala encheu, uns por curiosidade, outros com intenções mais perversas, sem verdadeira maldade, um lol, que começou nos patrocinadores e empresários improvisados que o contrataram a seus próprios custos. A animação prolongou-se pela noite fora, e o tempo ameno ajudou. A bênção das casas realizou-se no dia de Páscoa pela tarde, e o vaivém dos familiares e amigos de casa em casa continua a impressionar; uns para baixo outros para cima honrando mais uma vez um costume típico de Murçós que retomou a sua dignidade usos e costumes que espero nunca deixem esmorecer.
Nota: não publico fotos relacionadas com o meu texto porque segundo algumas pessoas feriam a sensibilidade e a privacidade de outrem.