domingo, 14 de julho de 2019

Caminhada em Murçós


Caminhada inesquecível. Muitos e bons. Mais um evento em Murçós que merece relevo. Obrigado aos mordomos 2019
Foi espetacular






























quinta-feira, 11 de julho de 2019

Destinos e destinados

 Destinos e destinados: 2ª parte por António Brás
De volta às suas casas, com um menino nos braços, as mulheres não sendo vítimas de poligamia, porque efetivamente só houve um casamento oficial, sentiram o peso das responsabilidades que por força das circunstâncias adviriam mais tarde ou mais cedo, e ao mesmo tempo o maravilhoso sentimento de serem mães, o carinho, afeto, de quem pare e lambe as crias tornadas seres vivos.
Imperou nestas circunstâncias a superintendência pessoal de um homem desobrigado, cuja conduta irresponsável, levou estas mulheres ao desalento, um incondicional machista, afetado psicologicamente pela superioridade de ser o moleiro mais carregado de moedas, o galo superior da capoeira, a malvadez encarnada num corpo hircoso, o baboso que não merece consideração.
Fernanda foi a primeira das três mulheres a dar à luz, um lindo menino, com quatro kg de peso e 52 cm de altura. Entretanto durante os nove meses de gravidez, houve grandes mudanças na sua vida pessoal. Casara com o Sr. Félix pelo civil, para que o seu filho à nascença fosse registado com apelido, e, porque se sentia só, embora naquela casa não lhe faltasse nada. Amava aquele homem, ao qual nunca deixou de chamar Sr., de uma maneira especial, carinhosamente, como se fosse seu pai, e respeitava-o dignamente com fervor. Foi também nesta ocasião que o Sr. Doutor meteu férias sem prazo, para ajudar a sua protegida no que fosse necessário. Saíam de manhãzinha passear, antes dos raios de sol terem aquela agressividade que poderia ser prejudicial ao bebé que começava a movimentar-se no ventre da mãe, visitavam frequentemente o jardim de Arca de Água onde reinava a paz de espirito, e os passarinhos chilreavam quando os progenitores lhes traziam os cibacos num vaivém desenfreado, fazendo meditar a rapariga no que teria sido a sua vida se não tivesse
 encontrado aquele anjo da guarda? E o Sr Félix não gostava de a ver com aquele ar apreensivo procurando de uma maneira ou de outra, fazê-la sorrir e esquecer por momentos, o que lhe pesava no coração, e que jamais desapareceria por completo. Viviam o casamento, aparentemente como qualquer casal, e quando a noite chegava, subiam cada qual para o seu quarto e antes de entrar beijavam-se na face que estremecia dizendo: - Boa noite… dorme bem. E a resposta eram sempre a mesma… porém, agora havia um menino que chorava porque queria comer… estava molhado e necessitava que lhe mudassem a fralda, e, no quarto contíguo, o Sr. Félix não dormia com a preocupação. Ao mínimo sinal, levantava-se e ia aquecer o leite ao puto, mudava-lhe a fralda, e voltava para o seu quarto com os olhos vermelhos de felicidade.
Aquele filho, mesmo não sendo de sangue, foi um dom de Deus que chegou no momento certo, aliviando mentalmente ideias que magicavam naquela cabeça exausta de pensar na infelicidade pela perca da sua esposa que tanto amava, e num corpo que seguia ao Deus dará, sem rumo nem entusiasmo. Voltava a ter uma família que amava profundamente, naquela casa voltou a haver alegria independentemente das contrariedades, que mais se podia desejar?
O detetive que o Sr. Félix contratou para bisbilhotar nos podres de Carlos e envolventes, constituiu um “dossier” com todos os pormenores, e de tempos a tempos entregava-o ao médico que desta maneira estava ao corrente de tudo secretamente e sem interferências de qualquer espécie. Fernanda mortificava-se por não ter notícias dos seus pais, e apesar da rejeição, amava-os e gostaria tanto poder ser perdoada! Mas como poderia apresentar um neto bastardo a uns pais conservadores, que nunca mais tentaram ter notícias suas?
Foi mais uma vez o Sr. Félix quem teve uma ideia de génio para tentar reconciliar a família. Tinha já feito os seus 3 anos Fernando, era um miúdo saudável e irrequieto: Acompanhava o médico para todo o lado, a quem chamava pai, e já no infantário, notava-se nele uma inteligência fora do comum que surpreendia toda a gente.
- Hoje vamos todos para a tua terra para que Fernando conheça e se vá acostumando àquelas gentes, isto é, se concordares?
-Ummmm… Pode não ser uma boa ideia:
- Deixa comigo.
No dia seguinte Domingo; prepararam o necessário, meteram-se no automóvel, também já idoso mas com poucos km, e lá foram. Pediu informações sobre os locais frequentados pelos pais de Fernanda, e, foi no largo da Aldeia, à sombra de um carvalho francês, que os dois visitantes foram sentar-se também, ficando Fernanda a observar a uns metros dali. O Sr. Félix tinha a certeza que o miúdo iria ter com os aldeões e lhe faria perguntas. Dito e feito. O puto dirigiu-se ao casal e perguntou?-  Aqui não se joga à bola?
Estranharam a ousadia do puto mas responderam:
-Aqui joga-se tudo” petiz”…
- Quer vir dar uns pontapés comigo?
- Olha! Eu já não tenho idade…
- E a avó?
-Sou eu a avó? Qual avó’
- Só para fingir…
- Pois mas as avós não jogam à bola, pequeno…
- Então vamos jogar os três a coisa… já sei às cartas.
- Olha que o raio do puto não nos deixa! Porque não vais jogar com os teus pais?
- Com os pais já joguei muitas vezes agora tem de ser com os avós…
- Quais avós? Nós somos teus avós?
-Podiam ser né?
E o marido começou a rir às gargalhadas… estamos a levar um baile deste fedelho, essa é que é essa.
- Olhem jogamos seu eu ganhar são meus avós se perder é porque não tenho avós.
E o jogo começou. E o puto ganhou. E o casal perguntou:
- Que fazemos agora?
- Chamamos a minha mãe e o meu pai e beijamo-nos todos. Tá’
O Sr, Félix foi o primeiro a chegar. E o casal contou-lhe dizendo que tinha um filho com língua comprida e que os queria obrigar a serem seus avós…
O nosso filho é o fruto do amor e da amizade e está falando verdade. Vocês são mesmo seus avós. Já vi que conseguiu cativá-los e sinto-me imensamente feliz; e dizendo isto chamou por Fernanda. Foi uma cena emocional onde o ódio deixou lugar ao carinho e à felicidade que invadiu aquela família cujo destino estava escrito