domingo, 26 de dezembro de 2021

Natal 2021

Os anos tinham passado mas a magia, daquelas que trazem sorrisos lindos, alegria e amor, a amalgama cintilante em noites medonhas de frio e de fome, de abundancia e alegria, difundida pelos que guardam ainda, a recordação dos tempos de menino, inocente e vulneral, armazenando num canto da memória, discretamente, como se guarda um tesouro, contos de fadas que atraíam o sono com subtileza e encanto, não fosse a meia-noite passar sem que pudessem rasgar aquele papel fino enfeitado, que dentro estava guardado, o presente que desceu pela cheminé ao dorso do homem vestido de encarnado e branco e seu gorro gracioso, botas pretas e bem frisadas, porque na Lapónia o frio gela os caminhos e a neve que cai abundante, abre caminho às renas puxando ofegantes o trenó na espectativa de chegar à meia noite a todos os meninos que creem e esperam a prendinha encomendada. Levantam-se despidos e descalços num alarido que acorda a casa, também se iluminam as dos vizinhos, e correm, saltam e gritam, porque a felicidade constrói-se com tão pouco, e o olhar brilha quando o coração é pequeno e bate ao ritma da inocência. Tocam os sinos há foguetes no ar. Acendem-se fogueiras, constroem-se presépios. Chegam os três reis magos com ouro incenso e mirra. Deitado na manjedoura o menino é aquecido com o bafo da vaquinha e da burrinha, Maria vela o seu menino nascido por obra do divino espírito santo, balam as ovelhas e os cordeiros nos campos pastando, o galo canta, é meia noite. Dia de Natal Por António Braz

domingo, 19 de dezembro de 2021

Traídos e humilhado: in dia de sorte, por António Braz No dia seguinte, pelas 8h da manhã, chegava um táxi junto da vivenda dos pais de francisco. Tinha metido nas malas o que achava necessário, recusando a ajuda de toda a gente, com quem não conseguira falar, e muito menos abordar o assunto da noite de despedida. Não suportava a presença da mãe que tanto amou, suplicando-a a várias tentativas desta, de o deixar só. Despediu-se de todos com beijos e abraços, sem lágrimas emocionais, apenas rancor que o feria ainda mais… apenas os avós lhe proporcionaram uma grande emoção interior, e ao amigo Alfredo que não sabia do que se tinha passado, pediu o N.º do telemóvel para brevemente lhe ligar a contar o sucedido. Entrou para o carro sem se voltar, enquanto a mãe se desfazia em lágrimas de arrependimento, tal como Judas quando entregou Jesus. Entrou no avião que o levaria para longe, mas as recordações não se apagam com um simples gesto de borracha. Durante a longa viagem, meditou nos momentos inesquecíveis que passara com a sua família, naquele lugar maravilhoso que sempre julgou abençoado, no amor, carinho e uma felicidade a prazo, na injustiça que o viu nascer semelhante aos outros, mas diferente, tinha agora a certeza. – Não merecia ser tratado e abusado sem o seu consentimento como um simples brinquedo. Sentia-se mal, desprezado, abandonado pelas pessoas que mais amava no Mundo. Chegou quase a desfalecer, lívido, sujo, um fugitivo inocente. A senhora que ocupava o lugar a seu lado, reparou na tristeza que lhe ia na alma, quis intervir, mas não encontrava as palavras certas, para não causar ainda mais danos naquela cabeça martirizada pelo sofrimento que desconhecia. Tentou astuciosamente, deixar cair o saco de mão junto dos pés do rapaz, o qual educadamente se baixou para o recuperar, entregando-lho. – Obrigada. Respondeu esta num Português americanizado que despertou a sua atenção. – A senhora…. – Sou Portuguesa Americana. Respondeu de imediato. Já nasci nos estados Unidos, de mãe Americana e pai Português dos Açores, conhece? – Não. Nunca visitei os Açores… - mas devia porque tem umas paisagens maravilhosas e uma população acolhedora como ainda não encontrei em parte alguma. Mas… que falta de respeito? Ainda nem sequer me apresentei… sou a Senhora Miller, médica de profissão e vivo em Nova York, casada com o senhor Miller, que dá aulas na Universidade de cidade, e temos uma filha mais ou menos da sua idade que se chama Lynn, um cão e dois gatos… Pela primeira vez desde a noite da despedida Francisco sorriu, e os seus olhos voltavam a brilhar. - Agora é a sua vez. Que vem fazer um jovem tão formoso e educado a Nova York? Estudar, e trabalhar se arranjar trabalho para pagar os estudos. - Se bem compreendo um aventureiro? - Pela força das circunstâncias, mas se me permite não desejava abordar o assunto. - E casa para ficar já tem? - Vou ficar na residencial da Universidade. - É um local bastante aprazível, porém, tenho outra sugestão para lhe fazer. Vai comigo e falamos com a minha família. Talvez possa ficar na nossa casa, e como o jardineiro se despediu para ir gozar a reforma bem merecida, pode nos intervalos das aulas arranjar o nosso jardim em troca de uns euros, e como é óbvio vivia lá em casa. Que diz? -- Eu… eu não sei. Mas sobretudo não desejava incomodar ninguém agradecendo desde já a sua generosa amabilidade. - Então não se fala mais no assunto. O meu marido deve estar à minha espera com quem já poderá travar conhecimento. Na casa de Francisco tudo se tinha transformado num vale de lágrimas, arrependimentos que chegavam tarde, acusações que feriam como laminas, mas não se pode voltar atrás nos atos, e assumi-los é por vezes difícil. Os avós tinham voltado par a quinta onde discretamente tentavam arranjar maneira de reconciliar os entes queridos. Alfredo sentia que qualquer coisa de anormal se tinha passado naquela noite fatídica, mas não ousava perguntar. Tempos depois recebeu uma vídeo chamada do amigo, que lhe contou tudo. Também tinha arranjado trabalho na terra perto da sua amada, pelo que por muito lhe custasse deixar aquela gente amável e generosa, no final do mês voltava para a sua terra amada. Entretanto, Francisco aceito a proposta dos Myller aproveitando diversas vezes boleia do Professor. Com Lynnn, a filha do casal, entendia-se maravilhosamente, gente mais evoluída e aberta a todas as situações. Três meses depois o avô anunciava-lhe por telefone que que a rapariga com quem tinha dormido estava grávida de um menino. Francisco suspeitava tal gestação, e não admitia ser o pai do menino. Nove meses depois nascia um lindo menino de olhos azuis, cabelo loiro e feições graciosas que captava a atenção de todo a gente sobretudo da avó que acompanhou a gravidez Pesava 4kg e media 54 cm mas Francisco tinha rejeitado vê-lo por vídeo chamada.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Santo Natal e feliz ano novo

Santo Natal e Feliz ano novo Pudéssemos nós um dia, para a lua viajar, e com as estrelas brincar, como brincam os meninos, de manhã ao levantar com os olhos a brilhar, tal como brilha o sol, em terras de miséria e fome, esquecidas, ignoradas, pelo que tem tudo e come; e não se lembra que um dia, veio ao mundo despido, descalço, sem cor sem nação, sem ouro nos dedos da mão, chorando sem lágrimas sem dor, acariciado pela obra do amor! Quiséssemos numa noite de luar, por cima do imenso mar andar, sem barco pra naufragar, e sobre ondas gigantescas adormecer até ao amanhecer, sem ouvir o galo cantar, sem ver aquele vulcão fumegar e sua lava correr, destruindo no seu caminho a vida e o carinho da terra que nos viu nascer. Curvam-se as serras adormece o vento, amam-se as rochas frias já sem alento, beijam-se os pântanos no silencio do desejo, de branco vestem-se as árvores seguindo o cortejo. Fossemos nós num ano de glória, Heróis de um deserto dos quais não reza a história, sombras errantes, oásis que não matam a sede, vegetais sem gosto nem cor, grãos de fina areia na sandália, rostos rusgados cobertos de dor. E de olhos oclusos e coração nas mãos, ajoelhamos pedindo a bênção, num murmurar de pecador, de arrependido ou simples ficção, clamamos Ó redentor! Não seremos nunca o que jamais fomos… AB

domingo, 5 de dezembro de 2021

Dia de sorte – por António Braz. XL O dia amanheceu com raios de sol a entrar pelas janelas, e a avô retirava os cortinados de veludo, cantarolando ao mesmo tempo que Francisco abria com dificuldade os olhos e com a cabeça pesada da ressaca como se lhe tivesse passado por cima um peso enorme, que podemos apelidar de peso da vergonha, da mesquinhez. - Então, filho como te sentes? -perguntou a avô Francisco demorou a responder, na sua cabeça turbilhonavam ideias, factos, acontecimentos, sem poder decifrar concretamente o que se tinha passado realmente. A cama estava desfeita no lado oposto ao dele, uma imagem fugitiva passou-lhe pela mente onde via uma silhueta de mulher, por baixo da roupa, acariciando-o, afagando-lhe os cabelos e uma voz longínqua, desconhecida que lhe provocou asco. Assentou-se na cama, mas não conseguia balbuciar palavra. Uma grande tristeza invadiu-o e duas lágrimas desceram lentamente pelo rosto cândido inundando a pureza do coração que sofria atrozmente. Não queria faltar ao respeito à avô que tanto amava, pelo que se limitou a dizer: bebi demais, não é Avô? -Sim também não se festejam todos os dias a tua partida para a Universidade de Nova York? Vai tomar banho, e despacha-te para tomares o pequeno almoço com os teus pais e Avó que aguardam em baixo. Francisco tomou um duche quente, contudo a água não limpava as imundícies que sentia na alma. Sentia-se traído pelos entes que mais amava, atraiçoado como um inocente menino. Baixou para tomar o pequeno almoço na sala onde já se encontravam os numerosos hóspedes em volta de uma grande mesa, ornamentada com o necessário. Quis sorrir, mas apenas timidamente conseguiu saudar todos com os bons-dias. O seu olhar percorreu de um lado ao outro todos os olhares, verificando que uma moça desconhecida permanecia ali, assim como os pais e o Alfredo que tinha depositado a namorada nos Arcos, pois não podia faltar ao trabalho, e fixou o seu olhar interrogativo no Avó o qual disfarçou limpando os óculos de cabisbaixo. Quando terminou a refeição tomou o braço do Avó, e em voz baixa pediu se podiam dar um pequeno passeio antes de partir. Aquiesceu receoso, e lá foram os dois pelo jardim. Quando já se encontravam num lugar discreto, Francisco virou-se, e perguntou sem rodeios.
- Que se passou ontem à noite, no meu quarto sem meu consentimento? Avó por favor diga-me a verdade…. - Ó meu querido neto… - e dizendo isto abraçou-o com toda a força e as lágrimas a embaciar os óculos – A verdade é por vezes tão difícil, pesada e comprometedora, que para honrar uns temos de trair outros que também amamos muito… porém sempre fui honesto contigo, e gosto tanto, tanto de ti, que seria injusto não saberes. A ideia veio da tua mãe, e embora eu não concordasse com ela, é tua mãe, e sei que só quer o melhor para ti. - Não acha que já sou crescido para tomar as decisões que são melhores para mim? -Sim. Sei que és responsável e considero uma traição não estares ao corrente. Contudo peço-te que não julgues a tua mãe e a condenes por um ato onde ela não ponderou. Arranjou-te uma namorada e ontem meteu-a na tua cama. Como sabes o seu grande desejo era ter um netinho, para amar como te ama a ti… - Sobretudo pela herança, quer dizer? - Também. - Avó Vou para os estados unidos e nunca mais volto aqui. Acabei de perder a minha família toda, e lamento imenso porque os considerava pessoas justas, integras e verifico que não passo de um boneco para todos. Podia suicidar-me mesmo sabendo que não servia de nada, mas tenho um sonho que vou realizar sozinho. Trabalhar e estudar enquanto as forças não me abandonarem. - Ó meu querido neto, não tomes decisões precipitadas… e nós? Será que não significamos nada para ti? - Continuarei a amá-los como sempre, e vamos telefonar-nos frequentemente. in dia de sorte