Já não é arrepiante para um passageiro que atravessa a
Aldeia de lés a lés, a qualquer hora do dia, não se encontrar com uma única pessoa. Também
no campo não se houve um ruido humano, ou longinquamente, e repetidas são as
expressões referentes a possíveis acidentes, cujas vitimas não poderão ser
socorridas ou só tardiamente. As deslocações para o campo são agora feitas com
tratores, automóveis, motos 4 ou 4x4, pelo que só pelo caminho se cruzam alguns
e rapidamente seguem à sua vida. No inverno, em dias medonhos de frio neve ou
chuva refugiam-se ainda mais, cada um em sua casa, que pode ser considerado o
ninho confortável ou o asilo da solidão. Por detrás dos vidros das marquises,
onde o sol vem timidamente fazer umas visitas esporádicas, olha-se ao longe, no
espaço e no tempo, com olhos esbugalhados, corações palpitantes que batem a
ritmos cardíacos reduzidos pelo desespero, temendo uma mais que provável ida
definitiva para um desses lares, onde se vai morrendo à míngua, E as poucas
lágrimas que estes olhos ternos guardam secretamente ao abrigo da curiosidade
alheia, correm lentamente, pelos rostos cansados, enrugados e pálidos, vindo
desaguar num lenço enxovalhado. Lembram-se tão bem dos tempos em que naquela
casa viveu uma família! E as chagas reavivam-se… deixando vagas ondas de
momentos felizes… no enquadramento da mente que também já lhes prega partidas…
surgem datas fragmentadas, vozes de crianças aos gritos, e o trepar apressado
no soalho esburacado de uma mãe trazendo a ternura de um peito a aleitar, o
afago que apraz.
Dizia uma comentadora, de Murçós, n’uma das redes sociais –
estes espaços deveriam apenas servir para postar coisas lindas - é verdade;
deveriam… o que considero idêntico varrer a casa e esconder a imundície por
baixo dos móveis. Sendo verdade que a roupa suja não se deva lavar em nenhuma
destas redes, porque será que o gráfico de visitas só sobe quando isso
acontece?(reality show) Queiram os astutos voluntários, os invencíveis peritos,
os mágicos, tomar a liberdade de transformar com sua varinha mágica, este
isolamento; esta solidão e esta desertificação num paraíso terrestre, ou pelo
menos no que esta terra foi em tempos idos… tentam os salvadores de causas
perdidas insurgir proliferando promessas e calunias, que é como quem diz:
atirar areia para os olhos de outrem, organizando eventos conviviais de
interesse pessoal, sabendo perfeitamente os mais instruídos, que aliás nunca
quiseram saber disto para nada, que o barco deriva há já alguns anos, e vai
acabar por se afundar…
Não quero terminar o meu texto com ondas negativas, pelo que
felicito todos aqueles que vão fazendo esforços para vir visitar a terra amada
e considerada a mais linda do mundo… também para os impossibilitados por razões
profissionais e outras fica o incentivo, porque sei, tendo vivido quase 30 anos
nas mesmas circunstâncias, o quanto nos dói, com o aperto das saudades,
desfrutar destes ares puros que alimentaram os vossos pulmões até à hora da
inevitável partida.