40 Anos passaram e as recordações continuam vivas na nostalgia dos
dias que vão passando... Primeiras eleições livres após uma ditadura Salazarista
que deixou marcas e sequelas bem entranhadas nas gerações oprimidas que o 25 de
Abril veio libertarmos.
Encontrei esta foto de uma fila de
votantes, em Bragança, por acaso 40 anos depois na revista Visão... eu estou em
2º lugar da fila, fardado a rigor, assim como alguns dos meus colegas que
integravam as tropas do antigo BC3 passando depois a chamar-se : destacamento
de Bragança.
A reportagem que o jornalista da visão
consagrou retrata na perfeição os acontecimentos da época, Neste tempo ainda se votava a 90% havia fome de liberdade... Havia
raiva por nos cortarem os voadouros... a cidadania estava presente o que não é
o caso nos dias de hoje; a vaidade, hipocrisia e falso orgulho tornou os
Portugueses n'uns sujeitos quaisquer, sem dignidade nem valores, com vergonha
de ser Português, e a eterna interrogação: se realmente valeu a pena? Eu apenas
perdi 3 anos da minha juventude, e a concretização de projetos bem
encaminhados, dos quais desisti para honrar um País que julgava ser o meu, por
ter nascido cá... Estava completamente enganado! Não devo nada a este País, que
nada me deu, e ainda me retira parte das minhas economias ganhas com suor,
longe daqui... Valeu a pena? Lutar tanto pela sobrevivência arrepiando-se-me os
cabelos cada vez que passava a fronteira, de automóvel, a pés pelos montes, ou
até mesmo a nado em noites medonhas, temeroso de receber um tiro durante o
trajeto, evidentemente transgressivo, mas mesmo aqui não houve honestidade por
parte dos nossos órgãos governativos, aceitando o pagamento do adiamento do
serviço militar, sem poder lograr de um passaporte de circulação livre? Valeu a
pena?
Na minha juventude representei teatralmente, em palco improvisado,
campal, diante de umas dezenas de espetadores, a vida repressiva de irmãos que
se apresentavam na inspeção do serviço militar... e as pessoas riam! Tinham já
esquecido as lágrimas derramadas pelas famílias que enterraram filhos mortos no
Ultramar... Velórios repletos de desespero, raiva, desprezo pelos que ordenaram
matanças simplesmente por interesses... valeu a pena tantos anos de guerra?
Todas estas interrogações guardo ainda
entrasgadas na garganta... e apesar de não ter sido mobilizado para uma
guerrilha de patifes ambiciosos, sinto asco cada vez que um fedelho qualquer se
diz ser Português brioso, só porque nasceu nos tempos doirados, caindo-lhe tudo
do céu, e usufruindo das misérias dos antepassados, hoje caducos que nem tem
uma palavra a dizer referente ao seu, ou não seu País.?