quinta-feira, 25 de maio de 2017

Talvez seja tarde

TALVEZ SEJA TARDE “in suspiros lunares”
Talvez seja tarde, mas vou esperar.
Enquanto o mundo for mundo
Enquanto eu viver por ti.
Enquanto te amar.
Vou esperar até que a voz me doa
O cansaço me destroce
Até que uma pedra crie alma
Até que a morte me eleve aos céus
Até que a revolta se calme
Vou esperar-te até que deixem de existir noites
Que seque o mar
Até que o sol se apague
Talvez seja tarde, mas vou esperar
Até que o silêncio grite
Que o céu caia a pique
Até que o meu poema te acorde
Que uma romãzeira brote diamantes brutos
Até que os desejos sejam puros e absolutos
Que do meu corpo saiam trovões
Até que nos jardins floresçam corações.
Que raios de luz me fulminem numa quimera
Ou me transformem a vida numa eterna primavera
Vou esperar-te num sonho…
Nas asas de uma andorinha
Neste verão

Sentada na rocha ou no chão
Na berma da estrada…
Na fenda de um vulcão
Talvez seja tarde…
Mas vou aguardar-te no meu coração

Maria da Conceição Marques

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Festa em honra de Santo António

  No dia 17 de Junho de 2017 realiza-se mais uma festa convívio em honra do Santo António em Murçós, com as diversas atrações, como indica cartaz, para além da Eucaristia campal e procissão, como já vem sendo uma tradição indispensável para este povo que sofre com a desertificação e velhice. Este será mais um encontro de paz e alegria, deixando de lado quezilas, ódios, e tantas divergências que só causam mau estar físico e psicológico. É a reconciliação com a fé, esperança e a alegria de poder enveredar pelos caminhos certos neste vale-de-lágrimas que dura apenas o tempo de passagem… mais curto que imaginamos. O espaço em volta da capelinha encontra-se agora em condições ideais para repousar à sombra das numerosas árvores plantadas, e as gigantescas mesas em granito convidam á reconciliação sem preconceitos nem diferenças sociais. Gostaria deixar desde já um grande agradecimento aos mordomos e a todos quantos trabalham para que este seja um grande evento de fraternidade paz e alegria, sobretudo para aqueles que sofrem do isolamento do peso da idade, e de doenças crónicas. Graças a Deus, por iniciativa de pessoas corajosas, tem havido vários convívios onde os presentes ultrapassam as expectativas, sinal evidente de que estas 
pessoas não querem ser consideradas excluídas, manifestando o desejo do reencontro fraterno, em troca de uma simbólica comparticipação. A reputação desta grande Aldeia que foi, é, e sempre será, pioneira nas temáticas que ligam os conceitos elogiosos, revela aos que desconhecem o sentido de paixão e amor, uma lição moralista, embora, pese a verdade, existam diferendos, divergências, e outras contrariedades, porque como é óbvio: aqui não vivem apenas Santos!...

Aproveito para salientar que Murçós evoluiu com os tempos, desde há dezoito anos que aqui vivo, contradizendo certas expressões criticas que ontem ouvi. Deixo fotos de algumas obras realizadas que hoje apesar de úteis embelezam a freguesia. Muitas outras poderia acrescentar, sobre tudo as mais recentes que não ousei fotografar sem consentimento, mas ficam os elogios. Também é verdade que se fizeram “bosteiras” como dizem os Brasileiros, mas quem as não faz? Talvez os que jamais se empenharam por razões que só a eles dizem respeito? Certo de que nada cai dos céus sem dedicação e sacrifícios, e não querendo entrar em polémicas baratas, cheguei à conclusão que só se faz o que se pode, venha Pedro Paulo ou Moisés.
remodelação da escola

Aqui como em muitas terras, nasceram árvores que enraizaram mas a força das circunstâncias obrigou-as a mudar de solo, talvez mais fértil cómodo e útil. Caminhos que foram para nós traçados, sinuosos ou não… e a liberdade de expressão permite-nos gostar ou não do que os outros fazem, mas para ter direitos no veto, temos obrigações de participar, de longe ou de perto. VENHAM NUMEROSOS À FESTINHA DO Santo António



Rua de Vale de Cavaleiro

Construção da casa mortuária

constrção da casa do povo

Restauração da Igreja

Refeição do adro

Encastração do cálice

Redieção do solo do cemitério e alargamento, o mais lindo do Distrito

Refeição total do adro escadas Igreja por dentro e por foro da qual esta gente se pode orgulhar sendo das masis lindas do Distrito

domingo, 14 de maio de 2017

Avec le temps va, tout s'en va

 A primeira colocação do jovem Sacerdote foi anunciada pelo Bispo da época. A tua primeira Paróquia será Avelanoso – disse-lhe uma manhã cedinho o superior – Vais substituir um dos grandes da igreja… infelizmente a idade já não lhe concede todas as faculdades, e Deus não pode fazer as coisas por ele… os Paroquianos são exigentes, mas não fiques preocupado que vais ter o padre Anselmo contigo durante algum tempo, e a mim de olho nos dois.
O padre Francisco apesar de se preparar mentalmente para esta difícil tarefa, ficou como aterrorizado; em primeiro lugar porque nem sequer sabia onde ficava essa Aldeia, nem tão pouco o que o esperava. Foi a casa nesse fim-de-semana anunciar a grande notícia, mas não escondeu aos pais o receio que o atormentava. – Deus vai ajudar-te, meu filho – reconfortava-o a mulher mais carinhosa que ele conhecia depositando um beijo na testa quente do jovem.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Avelanoso - Avelanoso foi uma pequena freguesia, em tempos conselho de Outeiro, depois agregada a outra, por não possuir os habitantes necessários (150) e é agora do Município de Vimioso. Os paroquianos bastante complicados dado o estatuto social rural e grande parte deles analfabetos. O padre Francisco, sentiu-se durante longos meses encurralado nos confins da terra, sem amigos, e muito poucos com quem pudesse ter uma conversa citadina, civilizada e de interesse. O padre Anselmo vivera ali desterrado mas feliz. Tinha tudo quanto queria, inclusive os prazeres da carne que uma beata sempre
  discretamente lhe oferecia em noites medonhas de inverno. Nunca sentiu a solidão esmorecer-lhe nem a vocação, nem os prazeres mundanos… e dizia já com falhas de lucidez: - Aqui, meu caro aprendiz, você tanto pode conquistar a amizade e ser reconhecido como adulterado e ui! Compreende-me não é verdade? – claro!
Mas o padre Francisco andava alheio a tudo quanto o rodeava. Na Eucaristia Dominical metia os pés pelas mãos, fora tristonho, sem aquelas cores rosadas que faziam das suas bochechas charmosas um pimpão – como diziam as garinas interessadas…

O seu calvário durou dois longos anos… chegou mesmo a duvidar da professia descrita nesta fonte. Rito de ordenação[editar | editar código-fonte]

O Rito de Ordenação realizado por um bispo validamente ordenado é o que "faz" um sacerdote (já tendo sido um diácono).
O Rito de Ordenação ocorre dentro do contexto da Santa Missa. Depois de ter sido chamado para a frente e apresentado à assembléia, o candidato é questionado. Ele promete com diligência desempenhar as funções do sacerdócio, respeitando e 
obedecendo aos seus superiores religiosos. Em seguida, o candidato se prostra diante do altar, enquanto os fiéis reunidos se ajoelham e rezam, cantando a Ladainha de Todos os Santos.
A parte essencial do rito é quando o bispo impõe as mãos em silêncio sobre o candidato (seguido por todos os sacerdotes presentes), antes de oferecer a oração consecratória, dirigida a Deus Pai, invocando o poder do Espírito Santo sobre aquele que está sendo ordenado.
Após a oração consecratória, o recém-ordenado é investido com uma estola e uma casula, pertencentes ao Sacerdócio Ministerial, em seguida, o bispo unge as mãos com crisma antes de apresentá-lo com o cálice sagrado e a patena que ele vai usar quando presidir à Eucaristia. Depois disso, os dons do pão e do vinho são apresentadas pelo povo e dado ao novo padre. Então, todos os sacerdotes presentes, concelebram a Eucaristia com o recém-ordenado tomando o lugar de honra à direita do bispo. Se houver vários recém-ordenados, são eles que se reúnem mais próximo do bispo durante a Oração Eucarística.
A imposição das mãos do sacerdócio é encontrado em 1 Timóteo, 4:14:
"Não desprezes o dom que você tem, o que foi conferido a você através da palavra profética com imposição das mãos do presbítero".

Para ser transferido ameaçou abandonar o sacerdócio, e como na Igreja católica os escândalos e vergonhas cobrem-se com mantos dourados, foi-lhe atribuída outra paróquia: MEIXEDO- 





sexta-feira, 5 de maio de 2017

Avec le Temps

 Decorriam os anos 50/60 nas rusticas Aldeias do Nordeste Transmontano. Tempo de vacas magras, enriquecimento do tesouro nacional por ordem dos ditadores Américo Thomaz e o famoso Salazar cujos nomes para esta juventude nem sequer fazem parte da História de Portugal. – A foto de Américo Thomas bem presente nas nossas escolas, enquadrado e pendurado nas paredes para o qual erguíamos o olhar ao mesmo tempo que cantávamos o hino nacional –  o nome Américo Thomas não me diz nada… Humberto Delgado já ouvi falar – respondia um jovem no concurso televisivo: agarra se poderes…
(avec le temps tout s’en va) Ficam por algum tempo as narrativas, como esta, embora em ficção cientifica, por vezes uma seca para os que leem e não percebem népia, saturados de ouvir os pais e avôs dizer: no nosso tempo?...
Ouviu-se o toque das trindades já o sol desaparecera por detrás daquela serra de manto agreste não deixando expandir a beleza da pequena e pacata aldeia do Nordeste Transmontano. O comboio apitou três vezes, entrava certamente no túnel disto de três ou quatro quilómetros, e o tio Manuel passou duas vezes  o lenço sujo e enrugado pela face que escorria suor, levantou a gadanha para o ombro e dirigiu-se a passos largos para casa onde o esperava a tia Joaquina com os potes ao lume deitando fumo quando levantava o testo de ferro para provar o “manjar” – dizia ela – que o meu homem bem merece.
Assentou-se no “escano”, exausto, perante o olhar piedoso da esposa sofrendo com ele o cansaço da vida dura que as circunstancias impunham, para que não faltasse o pão na mesa e alguns tostões para as despesas correntes. Baixou-se a mesa embutida na traseira do banco de madeira, negra, impregnada de fumo, sebenta pelo tempo que teria passado por ela... Chamou pelos 4 filhos que o casal tinha, três raparigas e um rapaz; a comida estava na mesa. Eram “chícharos” cozidos com couves galegas, e um pedaço de toucinho do porco que se matara tempos antes. Não faltaram as orações antes e depois do repasto, agradecendo ao supremo o pão nosso para cada dia…  A tia Joaquina era demasiado supersticiosa, acreditava em feitiços, bruxedos e espíritos malignos, e contava com a lágrima no canto do olho aquele tempo em que o marido esmirrava cada vez mais, talvez vitima de um mau olhado, uma maldição que lhe caíra em cima como uma faísca obrigando-o a ficar acamado durante um mês, enquanto a esposa incansável recorreu a todos os remédios, e com a graça de Deus melhorou. Neste tempo morria-se com doenças que hoje parecem banais e a medicina controla. Eram talvez os cancros de hoje, hepatites, VIH etc.

 O ciclo do tempo foi decorrendo com altos e baixos sempre numa luta constante e os garotos cresceram. A mais velha casou e foi com o marido para frança onde este possuía uma pedreira e de lá saía o seu ganha-pão. A segunda era humilde, inteligente e os pais foram aconselhados para ela ir estudar não se poupando o agregado a privacidades e grandes sacrifícios… mas valeu a pena. Formou-se professora do ensino primário partindo com trapos e bagagens para onde fora colocada. Seguia-se um rapaz, o Francisco, de estatura média, bochechudo, com faces encarnadas e também uma réstia de inteligência. A mãe desde sempre carregou no coração e na mente o desejo de fazer dele um sacerdote, talvez para compensar o que Deus, a quem ela tinha tanto pedido quando o esposo esteve doente, as suas melhoras, e apesar de acreditar poder ter sido bruxedo, a fé pendia também para as orações e para a ida visitar o padre silva, para desconjurar os espíritos malignos que mantinham o marido acamado havia tanto tempo com quatro filhos para criar. Não sabia como manifestar o seu deseja ao marido, coitado que já trabalhava tanto, estagnando os preços da batata e centeio, principais fontes de rendimento… abordou-o com a suavidade que lhe era peculiar, num dia que ele parecia mais bem-disposto.
- Manuel…
- Que foi mulher?
- Há muito tempo que ando mortificada com uma coisa que tenho para te pedir…
- Oh! Minha pérola… o que eu não faria para te ver alegre e feliz?! Mas… fala. Diz-me o que tormenta essa cabecinha de anjo…
- E se nós mandássemos o nosso Francisquinho estudar para padre?
- Caramba! Isto anda tão mau… e sabemos lá nós se tem jeito, ou vocação como se diz por aí?
- Gostava tanto…
- Ó minha santa, vamos ver o que se pode fazer. Vou falar com o padre Pires que é a pessoa mais indicada. Prometo.
MG textos ( parte 1)