sábado, 30 de dezembro de 2023

FELIZ ANO 2024

Destinos e destinados 20 por António Braz O tempo nunca fica inativo ou dormente segue sempre na direção predestinada, acompanha-nos dia e noite, invisível, discreto, em circunstâncias pungentes ou em alaridos de glória, concedendo-nos o benefício da dúvida, que as certezas alimentam com saliências surdas e mudas, sem perdão nem clemencia por sermos nós os donos dos nossos atos, irrefletidos ou ponderados. Para borboleta, aqueles dois anos passados na casa da irmã foram relâmpagos iluminados, julgando-se num conto de fadas, sonhos que se podem desfazer de um momento para o outro, mas tinha os pés bem assentes no chão, e energia para dar e vender; sempre alegre e bem disposta, na companhia do sobrinho que admirava a personalidade e robustez de uma aldeã que se familiarizou tao bem e rapidamente com os citadinos nem sempre abertos e acolhedores como a gente da sua terra. Terminara o 12º ano com boas notas, que lhe deram a possibilidade de se inscrever na faculdade de letras e jornalismo, à qual teve acesso no ano seguinte, com custos suportados pelo Sr. Félix cuja cumplicidade e amizade mutuamente despertavam um ligeiro ciúme na irmã para quem aspirava do coração sucesso e felicidade, o que ela nunca teve a possibilidade de seguir por um caminho menos árduo. Estava imensamente grata ao marido, um santo Homem, que apesar dos seus problemas de saúde se preocupava com elas e o filho, mesmo não sendo biológico. Fernando A era agora um homenzinho com os seus dezassete anos. A morfologia e comportamento tinham modificado, com a ajuda da tia extravertida e meiga. Saíam juntos, e muitas vezes iam encontrar-se com Fernando C que a magia da rapariga conseguiu trazê-lo para o bom caminho, embora estudar não fosse o seu forte. Nenhum dos três conhecia a história das respetivas vidas, pelo que ignoravam totalmente serem irmãos. Consideravam-se amigos embora entre ele e a borboleta passasse uma corrente mais afetuosa. Não se metiam em conflitos e às horas marcadas pela mãe estavam em casa. Numa tarde em que o Sr. Félix não se encontrava bem, chamou a esposa para a biblioteca a fim de chegarem a um acordo quanto à revelação dos factos passados que jaziam numa porta ficheiros, que o detetive lhe tinha entregue, ao abrigo dos olhares indiscretos no cofre pessoal. O assunto da conversa era revelar toda a verdade ao filho, que já tinha idade para fazer o seu julgamento pessoal, sobretudo devido às frequências que o destino tinha colocado no seu caminho. Fernanda mostrou-se receosa e prudente ignorando como o filho reagiria. Mas o destino voltou a interferir nas suas vidas. Dirigia-se para o liceu sem a companhia da tia que tinha aulas em horários diferentes, quando se apercebeu que um homem cego atravessava a estrada, e um automóvel surgia já perto a uma velocidade medonha. Não teve tempo para refletir, atirou para o lado o saco escolar e num salto rápido projetaram-se os dois para a berma do passeio, enquanto o automóvel roubado e perseguido pela polícia passou a uma velocidade incrível. Carlos caiu com o braço direito contra o passeio e fraturou-o. Fernando ainda assustado perguntou: - Está bem? Já vejo que não, pelo que lhe peço que aguarde enquanto chamo o INEM. - Mas… o que acom… - As explicações ficam para mais tarde. Agora vamos para o hospital. Sabe que quase foi abalroado por um carro? Não devia andar sozinho… - Agradeço por me teres salvo a vida, mesmo desejando a morte todos os dias. - Que me diz? Cada pessoa deve aprender a viver com a invalidez…. Não tem família? Eu já várias vezes o vi sentado no jardim de Arca-de-Água. É o único lugar onde me sinto mais ou menos bem. Ouço os passarinhos, e chegam-me às narinas o perfume das árvores e flores. - Não respondeu à minha pergunta. Tem ou não tem família. - Ó meu rapaz como és bom e generoso! Como te chamas? -Fernando. Fernando, que nome tão lindo! Obrigado. E agora que chegou o INEM podes ir à tua vida Obrigado e que a felicidade te sorria sempre para que os teus olhos brilhem de gratidão

sábado, 23 de dezembro de 2023

Bouzende toda de branco vestida

No alto daquela serra No alto daquela serra está um lenço, está um lenço a acenar. Dizendo viva quem ama, morra quem, morra quem não tem amores.
No outro lado do monte tem meu pai, tem meu pai um castanheiro. Dá castanhas em outubro, uvas brancas, uvas brancas em janeiro.
No alto daquela serra está um lenço, está um lenço de mil cores. Dizendo viva quem ama, morra quem, morra quem não tem amores.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Destinos 353 AB

Destinos e destinados 353 AB O destino é por vezes inconstante reunindo, por simples acaso, dois irmãos que apesar de se conhecerem hipoteticamente, surge inesperadamente o que durante anos esteve engavetado sem haver a possibilidade de apontar o dedo, porque os deuses guardavam em segredo para ser difuso em circunstâncias censuráveis, lamentando a ocasião e a maneira cujas circunstancias não permitiam passos em falso tendo todos vivido na falsidade de um filho mimado que estava agora a pagar os seus erros sem conhecimento do que surgiu após aquele dia em que o demónio o empurrou para o mal. Fernando A ia entrar para o seu automóvel deixando um sujeito no chão encostado a um muro, a tremer de frio e fome e com o peso no coração em saber que seu querido avô agonizava algures num hospital esperando a sua presença, mas não tinha meios para ir abraçá-lo e pela primeira vez sentiu o peso da vergonha, e a falta de coragem para lutar pela vida como um cidadão honesto, responsável e não foram os meios que lhe faltaram, tal como ao seu pai, era hoje um pobre diabo. Roto, viciado, mas sobretudo desprezado pela sociedade. Embora continuasse apaixonado, operou-se um “declic” no seu cérebro que o projetou para o carro do irmão, que iniciava a marcha. Agarrou-se com todas as suas forças à porta do automóvel que o arrastou alguns metros. Mas Fernando A não erra um assassino e quando pelo retrovisor se apercebeu, travou instantâneo, e abriu a porta para se precipitar no socorro do irmão que não era culpado de nada. Perguntou se estava ferido e de joelhos pediu perdão por ter tido aquele gesto que não figurava na educação que tinha recebido. Assentados junto do carro conversaram como adultos. A proibição de ver o seu avô mantinha-se. Debilitado não suportaria um choque tão rude, ele que sempre foi um homem de bem, não tinha que pagar pelos erros do filho que ignorava. Fernando A concordou e ofereceu-se para o ajudar, se ele permite-se. – Não tenho muitas escolhas, respondeu o outro, e morro de anseio por chegar junto do meu avô. Também não pensas ir visitá-lo nesse estado, suponho? Não obteve resposta. A partir daquele momento, Fernando A, sentiu a obrigação de tratar o assunto. Meteu-o no carro e pararam junto de um hotel luxoso. – Não me vão deixar entrar… neste estado. Se não deixarem chamo a polícia para resolver o problema, e tenho a certeza que não te reconhecerão quando saíres aquela porta. As negociações com o porteiro foram complexas, e quando se encontraram na melhor suite, o irmão soltou um grito de admiração! Agora vamos tratar de ti. – Fizeste alguma promessa para guardar essas barbas compridas? Já vi que não então o primeiro passo é retirares essas roupas imundas e colocá-las no cesto do lixo quando entrares para o jacúzi para te lavares como uma pessoa importante que deseja ver o seu avô… entretanto chegará o barbeiro e a manicure que vão fazer em ti maravilhas. Também já encomendei roupas novas e calçado., não tens que te preocupar com nada… ah comer e beber só no fim. Aquele homem que andou perdido numa sociedade ingrata e hipócrita sentiu pela primeira vez o desejo de abraçar o irmão e comunicar-lhe o quanto lhe estava grato, mas conteve-se com o coração a bater fortemente julgando como tantas vezes foi julgado… ainda há pessoas boas neste mundo, Correu-lhe uma lágrima lentamente pelo rosto vindo desfazer-se num canto da boca de onde as palavras não saiam, mas o irmão apercebeu-se, e fingiu ira janela ver o lindo jardim que apesar de espinhos havia rosas lindas com coloridos diferentes e perfumes que não lhe chegavam às narinas apenas a imaginação desfrutava. Saíram daquele hotel como dois cavalheiros onde não se notavam diferenças, e o porteiro estupefacto, acenava a cabeça no bom sentido. Frenando A pagou tudo e meteu algum dinheiro na carteira de o bolso do casaco três quartos transportava silenciosamente. Dentro também o cartão da sua morada com as seguintes palavras: só somos se queremos ser. Não me desiludas mano.

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Dia de sorte

Dia de sorte 829 AB Fred deixou a casa onde lhe salvaram a vida banhado em lágrimas. Fez novamente a promessa àquela desgraçada mulher, de voltar para a levar para um lugar onde pudesse viver humanamente, agradeceu, e seguiu por caminhos que não sabia onde o levariam. Na sua mente reinava o desejo de retirar-se para o mais longe possível daqueles que lhe mataram o coração. No seu percurso, ajudado por camionistas que lhe deram boleia e muitas vezes lhe mataram a fome e a sede, pensava apenas ter um futuro e poder esquecer o passado num lugar onde não fosse encontrado com muitos sacrifícios como era evidente, mas a coragem de vencer aquela luta terrível. Atravessou vários Países à procura da sua própria cura, e durante algum tempo comeu o pão que o diabo amassou. Foi em Chipre que resolveu refazer a sua vida. Depois de empregos e desempregos, de dormir ao relento, de pedinte para enganar a fome, roto e de cabelos sujos e uma barba que lhe chegava ao pescoço, já quando desesperava, encontrou uma criança perdida a quem ofereceu ajuda. A menina dos seus 6 anos, olhou-o dos pés à cabeça e parecia reticente, mas era o seu dia de sorte, e encontrou-se com o seu anjo salvador, só teve que responder a uma inocente pergunta: -Tu és mau? - Põe a tua mãozinha na minha e talvez tenhas a resposta que desejas. A miúda obedeceu com certas reticências, mas um largo sorriso e um olhar meigo responderam por ela. O contacto passava agora entre eles como o ecoar de palavras longínquas, afetuosas, carinhosas como a voz de quem as prenunciava. Chamava-se Eleni mas não se recordava onde morava. Veio ter àquele lugar depois de sair da escola, porque ninguém estava à sua espera como de costume. As luzes encandearam aquele olhar angélico, e o coração bateu a um ritmo que ainda tremia. - Não tenhas medo enquanto estiveres comigo nada nem ninguém te fará mal. Juro. Sabes onde moras? A menina maneava a cabeça negativamente. – Nesse caso temos de ir participar ás autoridades locais. Sei o número de telefone do meu pai, mas não temos como telefonar-lhe…. Vamos arranjar. Vem comigo. E mão na mão caminharam uns 100 metros onde viram luz numa linda casa do campo. Tocaram a campainha e uma criada que veio abrir ia dar meia volta, quando Fred suplicou para que telefonassem aos pais daquela menina que andava perdida. -Perdida? Ela dá-lhe o número e faça-me esse favor. – Perguntar ao patrão fiquem aí que volto já. Pouco tempo depois apareceu o patrão, homem dos sus 80 anos forte e de cabelos brancos. – Ora digam lá então o que desejam Apenas telefonar pode ser? Depende… - Depende de quê? Esta menina perdeu-se e os pais devem estar muito inquietos. Mostra cá a cara garota. Ah és tu os teus pais inquietam-se mais com o dinheiro… _conhece-os? Se conheço uns trastes. _por amor de Deus, podemos ou não telefonar. Daqui não mas há uma cabine a um km. Fred ficou furioso com o velho, mas tentou arranjar outra maneira, voltaram as costas e seguiram pela estrada indicada. Lembrou-se então que não possuía um cêntimo. – eu tenho dinheiro na mochila. Respondeu do outro lado da linha uma voz feminina pouco agradável e perguntou: Que deseja? – Tenho comigo a Eleni… - Meu Deus raptou-a? Nada disso perdeu-se e desejaria que o pai a viesse buscar juto da encruzilhada onde nos encontramos. Poucos minutos depois chegou o pai num carro de alta gama conduzido pelo chofer. Aparentemente um homem da alta sociedade, bem vestido e de óculos escuros que em vez de reconfortar a filha lhe passou um sermão indigno que magoou Fred no mais íntimo de si mesmo. - E você quer dinheiro é isso? - Não não quero nada vindo de um homem que não tem coração, nem dignifica esta sociedade de soberbos, ingratos que apenas pensam nos seus botões. Adeus Aleni e que deus te proteja. Começou a caminhar sem direção mais uma vez ferido pela injustiça egoísta, quando o caro parou e baixando o vidro o patrão disse: onde vai dormir? Só as estrelas sabem – respondeu. Venha connosco e por muito que me custe peço desculpa e quero retribuir-lhe o que merece