Destinos e destinados por António Braz
Cinco anos tinham passado, e na casa de Júlia e Firmino, era assim que se chamava o seu marido, situada na periferia de Penafiel, com um grande terreno de cinco hectares, onde as árvores frutíferas, a verdura, por onde se passeavam duas éguas amarelas domesticadas, para os passeios frequentes de Fernandinho, sempre acompanhado pela mãe, e um riacho correndo até uma airosa cascata, que extasiava os olhares mais insensíveis do mundo, rodeada de flores campestres em tempos de primavera, propagando um perfume e a paz de espirito, que os passarinhos festejavam com seus cantares, suaves, meigos, atraentes, tal uma sinfonia de Beethoven, “claro de la Luna”, muitas e maravilhosas coisa se tinham passado. Tinha cerca de dois anos Fernandinho, quando a felicidade lhe bateu à porta, sem programação, surpreendentemente, com agrado incontestável, ia ser mãe pela segunda vez, de uma menina, cujo progenitor era o seu marido Firmino, que quando lhe foi dada a notícia subiu aos céus de
contentamento e alegria. Chamava-se Luana, de olhos azuis,
cabelo encaracolado de um castanho claro doirado, umas bochechas faciais de
beleza singular, sorridente e ao mesmo tempo tímida com os estranhos, mas intensamente
afetuosa do mano, que apesar do carinho, tentava incutir-lhe uma extroversão
moderada, tendo ela um temperamento bastante diferente do seu. Foi um dom de Deus
que caiu naquele casal, que vivia já num banho de felicidade, mas, esta menina,
veio apagar um passado já meio desvanecido.
Era o aniversário dos cinco aninhos de Fernando, cerimónia
realizada na herdade, por onde os numerosos hospedes se espalharam, após o
copioso repasto, encomendado e servido por um reputado restaurante da região.
Vestido com calças casaco e colete pretos, camisa branca, e um lacinho ao
pescoço, sapatos a condizer, parecia um senhor, e não contrariava o fotografo,
manifestando satisfação e educação, sempre que um conviva lhe dava os parabéns,
respondendo com um: - Muito obrigado
Firmino tinha-se esforçado muito para poder ter o conforto,
que sempre sonhou oferecer à sua família. Dava aulas de dia e à noite, e fins-de-semana
explicações, porque era o único salário do agregado familiar, visto que sua esposa
não tinha podido trabalhar ocupando-se das tarefas da casa, e da educação dos
filhos. Seus pais não eram ricos, porém, participaram com uma ajuda
significante monetária para a compra a crédito da herdade que fazia a
felicidade daquela briosa família. Fernandinho ia já ao infantário, e, as perspectivas
eram gratificantes, inteligente, dedicado, e atencioso, diziam os professores,
acrescentando: - este menino é um
superdotado!
Júlia não sabia como dizer-lhe que Firmino não era seu pai
verdadeiro… já um dia lhe tinha sido perguntado pelo filho porque razão ele não
tinha o apelido do pai… - quase todos os meus colegas falam dos nomes dos pais,
mas o meu não é…
- Fernando: creio ter chegado a hora de te revelar um
segredo, esperava ser mais tarde quando tivesses a compreensão necessária, mas vejo
que já podes compreender…
-Compreender o quê mamã?
- É uma história longa e
complicada de adultos que cometem erros enquanto são jovens… - e a palavras não
saíam… Meu filho tu sabes o quanto eu e teu pai te amamos a ti e à tua irmã.
- Nós também vos amamos muito…
desculpa se fazemos por vezes asneiras…
- Ó meu querido filho, as nossas
asneiras são mais dolorosas… contudo temos de assumir os nossos atos, e antes
que o venhas a saber por outros, vou contar-te: O Firmino não é o teu
verdadeiro pai.
- Que dizes mãe?
- Tenho que te dizer a verdade,
mesmo que me odeias. Foi há cinco anos, eu estava enamorada de um senhor, que
casou com outra mulher.
- Abandonou-te?
Fui eu que desisti dele porque
estava casado com outra mulher que não merecia a sua traição. Encontrei-me com
o Firmino quando já te esperava, ele aceitou e até queria registar-te como
filho seu mas eu recusei, porque eras meu e sempre serás.
- E do pai não posso ser?
- Claro que podes e deves porque
ele ama-te tanto!