quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Pelas ruas de Paris

https://goo.gl/maps/BJuAMXpY5budp2vb6



 Atualmente há um Museu Bourdelle na rua Nº18 chamada Antoine Bourdelle de Paris, no que fora a sua antiga oficina de 1884 a 1929 é no antigo cartier de Montparnasse que se situe este museu, numa ruela escondidam mas bastante visitada pelos conhecedores das obras de este grande homem: Bem perto o boulbard Pasteur, Louis 


Nascimento

30 de outubro de 1861


Montauban

 

Morte

1 de outubro de 1929 (67 anos)
Le Vésinet

Sepultamento

Cemitério do Montparnasse

Cidadania

França

Cônjuge

Stéphanie Vanparÿs, Cléopâtre Bourdelle-Sevastos

Filho(s)

Pierre Bourdelle, Rhodia Dufet-Bourdelle

Alma mater

Escola Nacional Superior das Belas-Artes

Ocupação

escultor, pintor, desenhista

Prêmios

Comandante da Legião de Honra, Cavaleiro da Legião de Honra, Oficial da Legião de Honra

 







Pasteur (Dole27 de dezembro de 1822 – Marnes-la-Coquette28 de setembro de 1895) foi um cientista francês,[2] cujas descobertas tiveram enorme importância na história da química e da medicina. É reconhecido pelas suas notáveis descobertas das causas e prevenções de doenças. Entre seus feitos mais notáveis podem-se citar a redução da mortalidade e a criação da primeira vacina contra a raiva (vacina antirrábica). As suas experiências deram fundamento para a teoria microbiológica da doença. Foi mais conhecido do público em geral por inventar um método para impedir que leite e vinho causem doenças, um processo que veio a ser chamado pasteurização, em homenagem ao seu sobrenome.[3]
 Pasteur é considerado um dos três principais fundadores da microbiologia, juntamente com Ferdinand Cohn e Robert Koch. Também fez muitas descobertas no campo da química, principalmente a base molecular para a assimetria de certos cristais.[4] O seu corpo está enterrado sob o Instituto Pasteur em Paris, numa tumba decorada por mosaicos em estilo bizantino que lembram os seus feitos.[5]

Aqui temos a Gare de Montparnasse tal qual eu a conheci nos anos 69, porque no ano seguinte foi demolida para se construir a torre que hoje vemos e os restantes complexos atrativos seguiram a evolução dos tempos. Victor Hugo nos miseráveis colocou Gabroche jovem sem abrigo nos cartiers pobres mas foi nos ricos que jean Valjean operou os seus furtos para sobreviver e ajudar os pobres, que um cão policia persegiu até à isautão... seu nome Javert seu carater sujo e obsecado como os PIDE em Portugal


Marie Skłodowska Curie (VarsóviaReino da Polônia7 de novembro de 1867 — PassyAlto Savoy4 de julho de 1934) foi uma cientista e física polonesa naturalizada francesa, que conduziu pesquisas pioneiras em todo o mundo no ramo da radioatividade. Foi a primeira mulher a ser laureada com um Prêmio Nobel[2] e a primeira pessoa e única mulher a ganhar o prêmio duas vezes. A família Curie ganhou um total de cinco prêmios Nobel. Marie Curie foi a primeira mulher a ser admitida como professora na Universidade de Paris. Em 1995, a cientista se tornou a primeira mulher a ser enterrada por méritos próprios no Panteão de Paris.

Nascida Maria Salomea Skłodowska em Varsóvia, no então Reino da Polônia, parte do Império Russo. Estudou na Universidade Volante, em Varsóvia, onde começou seu treino científico. Em 1891, aos 24 anos, seguiu sua irmã mais velha, Bronislawa, para estudar em Paris, cidade na qual conquistou seus diplomas e desenvolveu seu futuro trabalho científico. Em 1903, Marie dividiu o Nobel de Física com o seu marido Pierre Curie e o físico Henri Becquerel. A cientista também foi laureada com o Nobel de Química em 1911.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Dia de todos os santos


 

Levantamo-nos de manhã a refletir no que durante a noite, enquanto o vento soprava, e as gotas de chuva amorteciam levemente nas telhas, as quais servem de cobertura aos prazeres mundanos e aos infortúnios desventurados, nas viagens que o nosso pensamento percorreu, enquanto as insónias nos obrigam a martirizar o aconchego de um leito isento, despreocupado, tentando aquecer um corpo cansado, ou apenas saturado com as rotinas que se vão alongando como esticadores. Brevemente teremos o dia dos fiéis defuntos, e mesmo que alguns se encontrem na rota da traição, serão perdoados, porque as boas recordações superarão, as horas de fraqueza, os momentos de tentação aos quais nenhum ser humano consegue resistir… as nostálgicas recordações surgem na escuridão da noite, e agarram-se como ímanes ao nosso pensamento, percorrendo os diversos ciclos da nossa vida. O que foi escrito com letras invisíveis, para que a fé e a esperança reinassem ao longo dos caminhos, longos ou curtos, sinuosos, ou lineares, um destino sem datas nem horas, sem compaixão, seguindo o critério do somos todos iguais…

Esta é a realidade à qual ninguém pode fugir, mas, pesa-nos tanto o que julgamos serem injustiças! Lembro-me tantas vezes daquelas pessoas que me foram tão queridas, que me ajudaram a caminhar, percorreram trajetos ao meu lado, alguns servindo-me de exemplo, outros de canadiana para poder avançar, com carinho e com amor, um sorriso nos lábios mesmo com peso nos ombros, um coração aberto onde me foi acordado depositar grande parte do meu viver, como um cofre-forte que ninguém conseguia abrir, sem pedirem nada em troca, por amizade ou amor, porque eram bons e grandes, fieis vivos, que hoje gostaria homenagear, porque antes nunca temos tempo, porque nos falta a coragem para soltar o que transportamos na alma, ou simplesmente porque adiamos sempre para o dia seguinte, para quando é demasiado tarde, porque o sol deixa de brilhar e a escuridão da noite veio sem avisar, sem sequer um abraço nós pudéssemos dar… meus grandes amigos, meus irmãos, hoje posso dizer-vos sem corar, que o que partilhamos era amor, era carinho, era também a dor, que hoje quando visito essa casa onde viveis, e vejo vossas fotos coladas na pedra fria, sinto apenas a alegria com a qual a vida nos brindou, uma paz que não consigo neste leito onde me deito, nem adormecer para juntos sonharmos… Também vós meus queridos pais eu necessito homenagear, gostaria oferecer-vos o que nunca tivestes, mas para que vos serviria? Se eramos tão felizes assim! Vivemos sempre na humildade distribuída por pais filhos netos, e aqueles que pela casinha passaram e a porta esteve sempre aberta, e o pouco que existia bem dividido chegava para todos… naquelas pequenas escadas subiram pessoas que hoje te lembram, minha querida mãe, como uma pessoa de coração nobre, de afeto incomparável, de carinho e de amor, de paixão pelas raízes, uma pessoa fabulosa, a melhor mãe do mundo.

António Brás Pereira



quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Omnisports de Bercy

Os arquitectos desta obra de arde astuciosa e lindissima são: Jean Prolevé - Michel Andrault - Pierre Parat - Aydin Guvan. Aqui podem-se realizar todos os desportos possiveis, diverssões , concertos e a transformação anterior é impensável para quem vê o edificio da parte de de fora não imaginando a dimenssão de 3000m2 e a relva nas façadas é mais uma atração da neturaza. Chapeau!


A região de Bercy está localizada na margem direita do Rio Sena, no 12º arrondissement. Para chegar de metrô a estação é a Bercy ou Cour Saint-Émilion. Sugerimos um passeio completo pela região que inclui o Parc Bercy, o Bercy Village e a Cinémathèque e depois atravessar a Passerelle Simone-de-Beauvoir e ir à BNF.

No passado, esta região ainda não era incorporada à Paris, havia uma fortificação que guardava o lugar. Bercy estava localizado num local estratégico e vantajoso, perto de Paris, mas sem incidência das taxas cobradas na cidade. Aqui era onde funcionava o mais importante centro de estocagem e distribuição de vinho. O vinho chegava aqui pelo Rio Sena ou via férrea. Em 1919, com a demolição da fortificação e a incorporação deste pedaço à cidade de Paris, as vantagens acabaram e muitos negócios fecharam. Com o passar do tempo e o avanço da tecnologia, os produtores passaram a engarrafar e vender sua produção na origem e, com isto, o espaço acabou ficando abandonado. Anos mais tarde, no espaço surgiu um bairro com um parque com 14 hectares; os antigos galpões foram restaurados e hoje abrigam um pequeno shopping, o Bercy Village. A grande virada do bairro foi em 1984, com a construção do Palais Omnisports de Paris-Bercy- POPB (a maior casa de shows de Paris) e a construção do novo edifício do Ministério das Finanças.

Le mythique Palais Omnisports de Paris-Bercy s’est transformé en une Aréna moderne et accueillante, ouverte sur la ville. Un nouveau hall a été creusé pour créer une place devant la Bercy Aréna, lieu de rencontre à échelle humaine. Sa toiture a été travaillée en pente afin de créer des accès doux à la nouvelle promenade qui fait le tour du bâtiment depuis le parvis et emprunte la nouvelle passerelle créée côté Seine jusqu’au parc.

La transparence a été travaillée à travers la façade et de deux grandes ouïes de verre qui baignent de lumière naturelle cet espace aux formes contemporaines. En montant vers la galerie qui fait le tour de la salle, les spectateurs découvrent une verrière sculptée dans le même esprit que le hall. À l’intérieur, les espaces ont été réaménagés pour optimiser l’expérience des spectateurs, artistes et sportifs : confort et acoustique améliorés, normes d’accessibilité et de sécurité les plus exigeantes respectées, Plan Climat de la Ville de Paris respecté, passage de 20 à 54 loges, 3000 m² d’espaces VIP créés, polyvalence et d’une modularité nouvelles (jusqu'à 30 configurations possibles).

 

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Ça cest Paris

Hoje vamos viajar pelo universo da cultura, que para os que não conhecem vai ser sem dúvida uma experiência agradável e surpreendente... visitei estes museus todos, e, apesar de não ser perito em artes saí de lá deslumbrado, e também um pouco comprensado com a multidão que diáriamente visita estes lugares sagrados. Os edifícios são obras de arte singulares, que na primeira aparência deixam os visitantes confusos e perplexos, daí ter clientes a perguntar-me se era uma fábrica? Os bons arquitectos empenham-se na construção destes edifícios que atirem a atenção, e acreditem que não saeem desiludidos com a visita. Paris é realmente a Rainha do Mundo, onde o reino são apenas maravilhas distribuidas pelos "cartiers" de norte a sul, de este a oeste, se ainda não visitou faça o favor que é uma cidade maginifica e recetiva. Boa sorte


 

Museu Grevin em Paris

O Museu Grevin em Paris é o museu de cera da capital francesa e recebe reproduções em tamanho real de personalidades históricas e famosas. O museu possui diversas esculturas super interessantes e é um dos mais antigos museus desse tipo, sendo um ótimo ponto turístico em Paris para visitar. Veja nossas dicas para planejar seu roteiro e conhecer esse incrível e realístico acervo.


Se você deseja ingressar em uma escola de arte de alto nível, pode escolher estudar na Escola de Belas Artes de Paris. A escola possui mais de 350 anos de história, formando diversos grandes artistas em toda a Europa. O estilo Beaux Arts, baseado na Antiguidade Clássica, preserva formas idealizadas, e passa o estilo às gerações seguintes.


domingo, 18 de outubro de 2020

O Rei Salomão

Quem não se recorda desta história que revela o verdadeiro amor, especialmente o que é o amor de uma mãe. A tradução desse conceito, encontramo-la no livro 1 Reis 3:16-28, na história onde Salomão julga  duas mulheres, que se diziam ambas  mães do mesmo filho, por viverem na mesma casa, e, terem cada uma um filho recem-nascido.Um deles falesceu durante a noite e foi trocado pelo que vivia que as duas mulheres disputavam como sendo delas, o que as levou ao tribunal com argumentos identicos, onde a decisão final requeria sabedoria e astúcia, para que justiça fosse feita 

“Então, vieram duas mulheres prostitutas ao rei e se puseram perante ele. E disse-lhe uma das mulheres: Ah! Senhor meu, eu e esta mulher moramos numa casa; e tive um filho, morando com ela naquela casaE sucedeu que, ao terceiro dia depois do meu parto, também esta mulher teve um filho; estávamos juntas, estranho nenhum estava conosco na casa, senão nós ambas naquela casa. E de noite morreu o filho desta mulher, porquanto se deitara sobre ele. E levantou-se à meia-noite, e me tirou a meu filho do meu lado, dormindo a tua serva, e o deitou no seu seio, e a seu filho morto deitou no meu seio. E, levantando-me eu pela manhã, para dar de mamar a meu filho, eis que estava morto; mas, atentando pela manhã para ele, eis que não era o filho que eu havia tido. Então, disse a outra mulher: Não, mas o vivo é meu filho, e teu filho, o morto. Porém esta disse: Não, por certo, o morto é teu filho, e meu filho, o vivo. Assim falaram perante o rei.
Então, disse o rei: Esta diz: Este que vive é meu filho, e teu filho, o morto; e esta outra diz: Não, por certo; o morto é teu filho, e meu filho, o vivo. Disse mais o rei: Trazei-me uma espada. E trouxeram uma espada diante do rei. E disse o rei: Dividi em duas partes o menino vivo: e dai metade a uma e metade a outra. Mas a mulher cujo filho era o vivo falou ao rei (porque o seu coração se lhe enterneceu por seu filho) e disse: Ah! Senhor meu, dai-lhe o menino vivo e por modo nenhum o mateis. Porém a outra dizia: Nem teu nem meu seja; dividi-o antes. Então, respondeu o rei e disse: Dai a esta o menino vivo e de maneira nenhuma o mateis, porque esta é sua mãe. E todo o Israel ouviu a sentença que dera o rei e temeu ao rei, porque viram que havia nele a sabedoria de Deus, para fazer justiça.”

 

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

E... quando o outono chegar

E… quando as árvores se despirem, as folhas no chão caírem, e a serra de branco se vestir,

  lembra- te de quando eramos meninos, e procurávamos os ninhos, jogávamos ao pião, dias inteiros, por não termos para onde ir. E… na indigência vivida, que o deleite ternamente cobria, como nômades viajávamos no tempo, à procura da alegria. E… a herança de parcos quinhões, que a ledice substituía, perseverou sempre a esperança, mesmo que fosse aos trambolhões. E… quando já não houver pedras para pisar, nem encalhes para tropeçar, as andorinhas fugirem, daquele ninho confortável, não se sabendo onde foram parar. E… Quando os filhos vierem, para alegrar a casinha, damos-lhes tudo o que temos, mesmo o que tanta falta nos fazia. São… frutos que a vida nos deu, sonhos realizados, embalados em doces berços, adormecem com nossos fados. E… quando a hora chegar, de o ninho abandonar, e outras pessoas amar, fogem para nunca mais voltar. E… quando formos velhinhos, que já não 

possamos andar, bate-nos à porta um estranho, para nos levar a um lar. E… dentro da bagagem levamos, dois trapos para nos abrigar, porque nestes lugares mórbidos, nada mais podemos esperar. Aqui… ficam bem meus queridos pais, nós voltamos vê-los, para da herança tratar. E… a felicidade que o ninho embalou, em ódio e raiva se tornou, batem-se matam-se, como selvagens, pelos tostões que o progenitor amealhou. E… são tantas as dores, causadas pelos que outrora foram amores, é num turbilhão de espinhos plantados, pelos filhos seus agressores. E… de mãos dadas a tremer, trocam um olhar a lacrimejar, sentem frio, sentem o coração a bater, ao ritmo de quem quer morrer.

António Brás Pereira


 

terça-feira, 13 de outubro de 2020

SR. VIDAL


POR ANTÓNIO LOBO ANTUNES

 "Desde que os meus pais morreram a casa calou-se. Nem sequer a torneira faz barulho no lava-loiças de alumínio, os meus chinelos, quando muito, segredam no soalho, às vezes lá escuto um suspiro ao sentar-me no sofázito da sala, mas deve ser das molas da almofada ou se calhar são os meus ossos e as molas ao mesmo tempo porque não estou muito certa de que material sou feita desde que estou sozinha. Parece-me que sobretudo sou feita de silêncio, com um suspiro mudo dentro. Passos no andar de cima mas de quem se ninguém mora no sótão? A minha mãe perguntava-me

– Quem será?
com os olhos, respondia-lhe
– Não sei
porque o senhor Vidal, o antigo inquilino não morava com ninguém. Às vezes, quando muito, escutava-o
– Ai eu
num eco amortecido.
Depois o rim levou-o para o hospital e não tornou mais. Soube pela viúva do rés do chão, que faleceu e também porque vieram uns primos levar-lhe os tarecos. Pouca coisa dado que coube tudo numa furgoneta pequena, com o sobrinho do senhor Vidal a juntar uns caixotezinhos lá dentro, um ou outro com um tilintar de loiça e de talheres e mais nada. O sobrinho do senhor Vidal recomendou ao chofer
– Cuidado porque há aí coisas que se quebram
o chofer respondeu
– Para o que elas valem não se perde grande coisa e partiu aos solavancos a badalhocar inutilidades.
O senhor Vidal era gordo e quase não falava, dizia que sim ou não com a cabeça, numa espécie de sorriso que não chegava a sorriso, ficava a meio caminho entre a seriedade e a educação. Por mim gosto de pessoas discretas que não mostram o que sentem, embora o senhor Vidal volta e meia um suspiro. Creio que nunca lhe escutei muito mais do que um suspiro, algo como uma espécie de balão que se esvazia um bocadinho e era tudo. Esvaziava-se um bocadinho, de facto, mas continuava gordo. Usava óculos com a lente do lado esquerdo mais grossa e o olho por trás dela menos nítido. Pergunto-me se teria algum problema desse lado da vista mas nunca o interroguei por timidez. Os meus pais também não, éramos uma família discreta. Fomos sempre uma família discreta, respeitadora. Houve uma época em que me pareceu que o senhor Vidal dava a impressão de se interessar por mim porque, depois de nos cruzarmos sentia qualquer coisa a pesar-me nas costas. Depois pesou menos, depois deixou de pesar. Pode ser que me tenha enganado, a gente às vezes inventa palermices. Deve ser de nos sentirmos sozinhos. O meu pai, por exemplo, achava que nos sentimos sempre sozinhos.
A minha mãe respondia-lhe
– Ainda aqui estamos os dois
um bocado ofendida, acho eu, e o meu pai, que detestava discussões, dizia
– Pois é
e calava-se.
Faleceu na farmácia ao pesar-se, quer dizer estava a calcular a densidade avançando e recuando o cursor e nisto veio por ali abaixo devagarinho.
O sujeito da ambulância informou-nos que tinha sido um aneurisma que é quando uma bolha rebenta na cabeça. A autópsia disse que não, que o coração tropeçou em si mesmo e pronto, dado que às vezes até o coração tropeça em si mesmo e pronto. É possível, não sei, quem não tropeça em si mesmo nesta vida?" (2018) «O SR. Vidal»

domingo, 11 de outubro de 2020

O livro que revela os segredos no Armário do Vaticano - DN

O livro que revela os segredos no Armário do Vaticano - DN: Publicada esta quinta-feira, No Armário do Vaticano - Poder, Hipocrisia e Homossexualidade é o retrato de como a homossexualidade está presente na Igreja Católica, do Vaticano a Portugal

terça-feira, 6 de outubro de 2020

O PASSAGEIRO DAS TRÉGUAS por António Braz

Chegou como um relâmpago, como as andorinhas e o cuco, em tempos primaveris, vindo nunca cheguei a saber de onde, ( clarificação de Orlando Martis)só para clarificar aqui um pouco vou deixar algo mais sobre o Camilo: "O Camilo, veio de Moçambique ainda criança. O pai dele era um militar de Bragança que foi em comissão para Moçambique. Nasceu esse filho duma preta, porque o Camilo era mulato e não preto. A mulher do militar acedeu a que ele trouxesse esse filho, muito embora tivessem outro (meio irmão do Camilo)... tendo sido acolhido neste lar com todo o carinho e amor, com a mesma educação que a do filho legítimo.

Ambos acabaram o Liceu e foram para a Universidade em Coimbra, onde, consta, chegou a frequentar o terceiro ano de História, mas o Camilo transformou-se num boémio pelas noites e tascas da cidade…)

Várias vezes o pai lhe dizia: - Camilo, ainda vais comer o pão que o Diabo amassou... "  com características que apontavam para África onde existem tantas misérias que não couberam nos cinco volumes de Victor Hugo, ou como os demais considerou que só havia miseráveis nos lugares onde a pele é branca, com perícia e astucia para torná-los submissos e humildes, exploravam humilhavam, roubando-lhes o que lhes pertencia por direito. Chamavam-lhe o preto, outros o mulato, e a minoria pelo seu verdadeiro nome: Camilo! Na sua bagagem trazia uns trapos velhos que utilizava para dormir quando a noite chegava, com a barriga a dar horas, mas quase sempre bêbedo, talvez para apaziguar as mágoas extraídas dum coração ferido, num palheiro emprestado ou debaixo do grande olmo, no prado, lugar mítico de encontros e desencontros, de negócios, cantares e danças, de conversas discretas e indiscretas, do sabor de uma sombra agradável, e do tilintar dos jogos tradicionais presenciado por centenas de pessoas, junto do qual passavam dezenas de pessoas e fingiam que o não viam, ou murmuravam palavras chocantes, que ele já não ouvia, porque o saco estava cheio e não cabia lá mais nada desdenhoso ou ofensivo. Trazia no sangue o “batuque” e não se ocultava para exercer os seus dons, em qualquer lugar, com instrumentos improvisados, ou simplesmente o estalar dos seus dedos chamando-lhes os moradores castanholas, que já não ouviam, porque a miséria é rouca, assim como a pobreza é mouca surda e muda… Tinha um nível de educação bastante elevado, grande inteligência, que nos fazia crer, o ter supostamente pertencido a uma família intelectual, e o destino ou a má sorte o empurrou para um calvário que durou grande quantidade de anos. Havia quem contasse que tinha pertencido à alta sociedade, e um esgotamento o atirou para o abismo. Via-o todos os dias, logo pela manhã, e, dava-lhe as boas horas às quais respondia com um grande sorriso nos seus lábios grandes e dilatados, e um batuque improvisado. Perguntava-lhe se já tinha comido alguma coisa, e, quando não respondia, sabia que não. Como estava na casa de acolhimento sempre tinha nos bolsos cinco coroas, e dirigia-me à taberna do Álvaro, pedia um molete de pão e um copinho de água ardente que ele saboreava como carões de noz. A pobreza e a miséria andavam de mãos dadas pela nossa terra, mas a esperança jamais morreu…

Recordo-me de um incendio que houve lá para trás do cabeço cercado, os sinos a tocarem a rebate, e as pessoas correndo para o local a fim de impedir que o fogo devasta-se um prédio de centeio e o arvoredo que o envolvia. No nosso grupo de três ou quatro pessoas que corriam em direção ao sinistro, incluía-se o Camilo que passando junto da casa do tio Couceiro, e uma das filhas veio à porta para saber o que se passava, ele dirigiu-lhe a palavra nestes termos: - Ó Adosinda guarde-me para aí estas duas coroas não as vá perder no incendio…

Pode parecer um ato de mera importância, mas se refletirmos bem, todos os tostões são importantes para quem não tem nada. Na sua terra de onde era natural, com certeza havia pessoas a banharem-se em ouro, mas são cem vezes mais os que não tem o pão nosso para cada dia, não tem roupas para vestir nem água para saciar a sede…. Simplesmente porque nasceram.