sábado, 30 de dezembro de 2023

FELIZ ANO 2024

Destinos e destinados 20 por António Braz O tempo nunca fica inativo ou dormente segue sempre na direção predestinada, acompanha-nos dia e noite, invisível, discreto, em circunstâncias pungentes ou em alaridos de glória, concedendo-nos o benefício da dúvida, que as certezas alimentam com saliências surdas e mudas, sem perdão nem clemencia por sermos nós os donos dos nossos atos, irrefletidos ou ponderados. Para borboleta, aqueles dois anos passados na casa da irmã foram relâmpagos iluminados, julgando-se num conto de fadas, sonhos que se podem desfazer de um momento para o outro, mas tinha os pés bem assentes no chão, e energia para dar e vender; sempre alegre e bem disposta, na companhia do sobrinho que admirava a personalidade e robustez de uma aldeã que se familiarizou tao bem e rapidamente com os citadinos nem sempre abertos e acolhedores como a gente da sua terra. Terminara o 12º ano com boas notas, que lhe deram a possibilidade de se inscrever na faculdade de letras e jornalismo, à qual teve acesso no ano seguinte, com custos suportados pelo Sr. Félix cuja cumplicidade e amizade mutuamente despertavam um ligeiro ciúme na irmã para quem aspirava do coração sucesso e felicidade, o que ela nunca teve a possibilidade de seguir por um caminho menos árduo. Estava imensamente grata ao marido, um santo Homem, que apesar dos seus problemas de saúde se preocupava com elas e o filho, mesmo não sendo biológico. Fernando A era agora um homenzinho com os seus dezassete anos. A morfologia e comportamento tinham modificado, com a ajuda da tia extravertida e meiga. Saíam juntos, e muitas vezes iam encontrar-se com Fernando C que a magia da rapariga conseguiu trazê-lo para o bom caminho, embora estudar não fosse o seu forte. Nenhum dos três conhecia a história das respetivas vidas, pelo que ignoravam totalmente serem irmãos. Consideravam-se amigos embora entre ele e a borboleta passasse uma corrente mais afetuosa. Não se metiam em conflitos e às horas marcadas pela mãe estavam em casa. Numa tarde em que o Sr. Félix não se encontrava bem, chamou a esposa para a biblioteca a fim de chegarem a um acordo quanto à revelação dos factos passados que jaziam numa porta ficheiros, que o detetive lhe tinha entregue, ao abrigo dos olhares indiscretos no cofre pessoal. O assunto da conversa era revelar toda a verdade ao filho, que já tinha idade para fazer o seu julgamento pessoal, sobretudo devido às frequências que o destino tinha colocado no seu caminho. Fernanda mostrou-se receosa e prudente ignorando como o filho reagiria. Mas o destino voltou a interferir nas suas vidas. Dirigia-se para o liceu sem a companhia da tia que tinha aulas em horários diferentes, quando se apercebeu que um homem cego atravessava a estrada, e um automóvel surgia já perto a uma velocidade medonha. Não teve tempo para refletir, atirou para o lado o saco escolar e num salto rápido projetaram-se os dois para a berma do passeio, enquanto o automóvel roubado e perseguido pela polícia passou a uma velocidade incrível. Carlos caiu com o braço direito contra o passeio e fraturou-o. Fernando ainda assustado perguntou: - Está bem? Já vejo que não, pelo que lhe peço que aguarde enquanto chamo o INEM. - Mas… o que acom… - As explicações ficam para mais tarde. Agora vamos para o hospital. Sabe que quase foi abalroado por um carro? Não devia andar sozinho… - Agradeço por me teres salvo a vida, mesmo desejando a morte todos os dias. - Que me diz? Cada pessoa deve aprender a viver com a invalidez…. Não tem família? Eu já várias vezes o vi sentado no jardim de Arca-de-Água. É o único lugar onde me sinto mais ou menos bem. Ouço os passarinhos, e chegam-me às narinas o perfume das árvores e flores. - Não respondeu à minha pergunta. Tem ou não tem família. - Ó meu rapaz como és bom e generoso! Como te chamas? -Fernando. Fernando, que nome tão lindo! Obrigado. E agora que chegou o INEM podes ir à tua vida Obrigado e que a felicidade te sorria sempre para que os teus olhos brilhem de gratidão

sábado, 23 de dezembro de 2023

Bouzende toda de branco vestida

No alto daquela serra No alto daquela serra está um lenço, está um lenço a acenar. Dizendo viva quem ama, morra quem, morra quem não tem amores.
No outro lado do monte tem meu pai, tem meu pai um castanheiro. Dá castanhas em outubro, uvas brancas, uvas brancas em janeiro.
No alto daquela serra está um lenço, está um lenço de mil cores. Dizendo viva quem ama, morra quem, morra quem não tem amores.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Destinos 353 AB

Destinos e destinados 353 AB O destino é por vezes inconstante reunindo, por simples acaso, dois irmãos que apesar de se conhecerem hipoteticamente, surge inesperadamente o que durante anos esteve engavetado sem haver a possibilidade de apontar o dedo, porque os deuses guardavam em segredo para ser difuso em circunstâncias censuráveis, lamentando a ocasião e a maneira cujas circunstancias não permitiam passos em falso tendo todos vivido na falsidade de um filho mimado que estava agora a pagar os seus erros sem conhecimento do que surgiu após aquele dia em que o demónio o empurrou para o mal. Fernando A ia entrar para o seu automóvel deixando um sujeito no chão encostado a um muro, a tremer de frio e fome e com o peso no coração em saber que seu querido avô agonizava algures num hospital esperando a sua presença, mas não tinha meios para ir abraçá-lo e pela primeira vez sentiu o peso da vergonha, e a falta de coragem para lutar pela vida como um cidadão honesto, responsável e não foram os meios que lhe faltaram, tal como ao seu pai, era hoje um pobre diabo. Roto, viciado, mas sobretudo desprezado pela sociedade. Embora continuasse apaixonado, operou-se um “declic” no seu cérebro que o projetou para o carro do irmão, que iniciava a marcha. Agarrou-se com todas as suas forças à porta do automóvel que o arrastou alguns metros. Mas Fernando A não erra um assassino e quando pelo retrovisor se apercebeu, travou instantâneo, e abriu a porta para se precipitar no socorro do irmão que não era culpado de nada. Perguntou se estava ferido e de joelhos pediu perdão por ter tido aquele gesto que não figurava na educação que tinha recebido. Assentados junto do carro conversaram como adultos. A proibição de ver o seu avô mantinha-se. Debilitado não suportaria um choque tão rude, ele que sempre foi um homem de bem, não tinha que pagar pelos erros do filho que ignorava. Fernando A concordou e ofereceu-se para o ajudar, se ele permite-se. – Não tenho muitas escolhas, respondeu o outro, e morro de anseio por chegar junto do meu avô. Também não pensas ir visitá-lo nesse estado, suponho? Não obteve resposta. A partir daquele momento, Fernando A, sentiu a obrigação de tratar o assunto. Meteu-o no carro e pararam junto de um hotel luxoso. – Não me vão deixar entrar… neste estado. Se não deixarem chamo a polícia para resolver o problema, e tenho a certeza que não te reconhecerão quando saíres aquela porta. As negociações com o porteiro foram complexas, e quando se encontraram na melhor suite, o irmão soltou um grito de admiração! Agora vamos tratar de ti. – Fizeste alguma promessa para guardar essas barbas compridas? Já vi que não então o primeiro passo é retirares essas roupas imundas e colocá-las no cesto do lixo quando entrares para o jacúzi para te lavares como uma pessoa importante que deseja ver o seu avô… entretanto chegará o barbeiro e a manicure que vão fazer em ti maravilhas. Também já encomendei roupas novas e calçado., não tens que te preocupar com nada… ah comer e beber só no fim. Aquele homem que andou perdido numa sociedade ingrata e hipócrita sentiu pela primeira vez o desejo de abraçar o irmão e comunicar-lhe o quanto lhe estava grato, mas conteve-se com o coração a bater fortemente julgando como tantas vezes foi julgado… ainda há pessoas boas neste mundo, Correu-lhe uma lágrima lentamente pelo rosto vindo desfazer-se num canto da boca de onde as palavras não saiam, mas o irmão apercebeu-se, e fingiu ira janela ver o lindo jardim que apesar de espinhos havia rosas lindas com coloridos diferentes e perfumes que não lhe chegavam às narinas apenas a imaginação desfrutava. Saíram daquele hotel como dois cavalheiros onde não se notavam diferenças, e o porteiro estupefacto, acenava a cabeça no bom sentido. Frenando A pagou tudo e meteu algum dinheiro na carteira de o bolso do casaco três quartos transportava silenciosamente. Dentro também o cartão da sua morada com as seguintes palavras: só somos se queremos ser. Não me desiludas mano.

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Dia de sorte

Dia de sorte 829 AB Fred deixou a casa onde lhe salvaram a vida banhado em lágrimas. Fez novamente a promessa àquela desgraçada mulher, de voltar para a levar para um lugar onde pudesse viver humanamente, agradeceu, e seguiu por caminhos que não sabia onde o levariam. Na sua mente reinava o desejo de retirar-se para o mais longe possível daqueles que lhe mataram o coração. No seu percurso, ajudado por camionistas que lhe deram boleia e muitas vezes lhe mataram a fome e a sede, pensava apenas ter um futuro e poder esquecer o passado num lugar onde não fosse encontrado com muitos sacrifícios como era evidente, mas a coragem de vencer aquela luta terrível. Atravessou vários Países à procura da sua própria cura, e durante algum tempo comeu o pão que o diabo amassou. Foi em Chipre que resolveu refazer a sua vida. Depois de empregos e desempregos, de dormir ao relento, de pedinte para enganar a fome, roto e de cabelos sujos e uma barba que lhe chegava ao pescoço, já quando desesperava, encontrou uma criança perdida a quem ofereceu ajuda. A menina dos seus 6 anos, olhou-o dos pés à cabeça e parecia reticente, mas era o seu dia de sorte, e encontrou-se com o seu anjo salvador, só teve que responder a uma inocente pergunta: -Tu és mau? - Põe a tua mãozinha na minha e talvez tenhas a resposta que desejas. A miúda obedeceu com certas reticências, mas um largo sorriso e um olhar meigo responderam por ela. O contacto passava agora entre eles como o ecoar de palavras longínquas, afetuosas, carinhosas como a voz de quem as prenunciava. Chamava-se Eleni mas não se recordava onde morava. Veio ter àquele lugar depois de sair da escola, porque ninguém estava à sua espera como de costume. As luzes encandearam aquele olhar angélico, e o coração bateu a um ritmo que ainda tremia. - Não tenhas medo enquanto estiveres comigo nada nem ninguém te fará mal. Juro. Sabes onde moras? A menina maneava a cabeça negativamente. – Nesse caso temos de ir participar ás autoridades locais. Sei o número de telefone do meu pai, mas não temos como telefonar-lhe…. Vamos arranjar. Vem comigo. E mão na mão caminharam uns 100 metros onde viram luz numa linda casa do campo. Tocaram a campainha e uma criada que veio abrir ia dar meia volta, quando Fred suplicou para que telefonassem aos pais daquela menina que andava perdida. -Perdida? Ela dá-lhe o número e faça-me esse favor. – Perguntar ao patrão fiquem aí que volto já. Pouco tempo depois apareceu o patrão, homem dos sus 80 anos forte e de cabelos brancos. – Ora digam lá então o que desejam Apenas telefonar pode ser? Depende… - Depende de quê? Esta menina perdeu-se e os pais devem estar muito inquietos. Mostra cá a cara garota. Ah és tu os teus pais inquietam-se mais com o dinheiro… _conhece-os? Se conheço uns trastes. _por amor de Deus, podemos ou não telefonar. Daqui não mas há uma cabine a um km. Fred ficou furioso com o velho, mas tentou arranjar outra maneira, voltaram as costas e seguiram pela estrada indicada. Lembrou-se então que não possuía um cêntimo. – eu tenho dinheiro na mochila. Respondeu do outro lado da linha uma voz feminina pouco agradável e perguntou: Que deseja? – Tenho comigo a Eleni… - Meu Deus raptou-a? Nada disso perdeu-se e desejaria que o pai a viesse buscar juto da encruzilhada onde nos encontramos. Poucos minutos depois chegou o pai num carro de alta gama conduzido pelo chofer. Aparentemente um homem da alta sociedade, bem vestido e de óculos escuros que em vez de reconfortar a filha lhe passou um sermão indigno que magoou Fred no mais íntimo de si mesmo. - E você quer dinheiro é isso? - Não não quero nada vindo de um homem que não tem coração, nem dignifica esta sociedade de soberbos, ingratos que apenas pensam nos seus botões. Adeus Aleni e que deus te proteja. Começou a caminhar sem direção mais uma vez ferido pela injustiça egoísta, quando o caro parou e baixando o vidro o patrão disse: onde vai dormir? Só as estrelas sabem – respondeu. Venha connosco e por muito que me custe peço desculpa e quero retribuir-lhe o que merece

terça-feira, 28 de novembro de 2023

AAs casulas

Passava na rua dos cilos onde a batata selecionada com rigor por agrónomo ria às gargalhadas protegida pelo colmo e a terra que o ' chieiro' que estava naquela manhã invernal obrigava a vestir o 'capote' com gola de pele de coelho e a calçar socos brochados que evitavam escorregar onde poças de gelo faziam seu ninho, apressadamente como se levasse o diabo à perna e não podesse comer aquela casulada que a Joana tinha metido, ainda bem cedo no grande pote de ferro, juntamente com pernil retirado da salgadeira, e umas rondelas de chouriça, que rivalizavam com a bechiga cheia de massa azeda e a fumada por cima da lareira onde as varas iam vergando com o peso e as cabeças dos mais altos ficavam com brilhantina das gorduras que davam o bom sabor ao chamado fumeiro. O vapor e a fumaça que turba a a vizao ao tio Manel assentado comodamente no escaño onde a mesa baixava quando aquele cheirinho lhe penetrava as entranhas e o centeio cosido na véspera, grande como a roda de um carro, procurava espaço antes de a peliqeira afiada sair do bolso para cortar o que fosse preciso pois a sua reputação palacoulo não temia adversidades. Estou que nem posso-disse o Manel para a tia Izaura esposa e cozinheira que limpou ao avental as mãos gordurentas para retirar a pinga que lhe caía do nariz e servir a canalhada em malgas de barro assentados em tripeça à espera da mandioca. - Estava bom que nem caroes de noz, guarda o resto para à noite... És a melhor cozinheira do mundo. Era assim que se chamava o gato grande e já russo que ao ouvir o seu nome começou a esfregar-se nas meias rotas da patroa miolando. Hoje há fartura, já os ratos não é contigo continuam por aí a roer tudo. A garotada soltou uma gargalhada e um deles quase se engasgava com o osso do pernil que tinha na boca. Era uma casa Portuguesa com certeza. A imagem foi retirada de uma publicidade de bons enchidos em Rossas. AB

sábado, 25 de novembro de 2023

Dia de sorte 815 por Ab Desmaiou! Que fazer? Não teve numerosas alternativas. Tentou com as poucas posses arrastar aquele corpo que jazia caído num soalho improvisado pela pobre senhora cujas peripécias da vida a tinham atirado para o degredo e miséria lutando cotidianamente pela sobrevivência alimentando-se do que podia encontrar longe do mundo civilizado onde fora, em tempos muito acarinhada considerada e mesmo amada, mas a maldita sorte veio com pernas invisíveis e iludiu-a, sendo atirada ao lixo como um objeto podre que já não servia para nada. Chegou a comer ratos, insetos, larvas, gafanhotos e ovos de serpente que cozinhava na única panela que possuía sem temperamentos. Pesado de mais para as suas posses, foi buscar um pedaço de corda e chamou o cão para a ajudar. Prendeu-o pelos pés e ao corpo do animal que foi deslizando até uma manta sebenta onde foi lavado e quando começava a acordar bebeu chá feito de folhas que eram a cura de tudo. A lareira aqueceu aquele ambiente mórbido onde dois seres humanos sem se conhecerem se encontraram. Fred ladeou o local com o olhar antes de perguntar: - Como vim parar aqui? Isso eu não sei. mas o seu estado metia dó. Fred tinha tantas perguntas para fazer, mas não ousava. Respeitava quem o socorreu, e de pouco se lembrava a não ser da traição que o obrigou a fugir como um ladrão. Antes de terem uma conversa elucidativa Fred levantou-se e pegando no punhal do qual nunca se separava disse: Vou à pesca e à caça voltarei para agradecer. A senhora apenas o olhou nos olhos aquiescendo. Começou ali o seu trabalho de luta pela sobrevivência. Tinha frequentado os escuteiros onde aprendeu muito do que lhe fazia agora falta. Voltou com peixe e caça carregado que mereceu a admiração da dona do casebre. Tratou ele de tudo enquanto a senhora sonhava com uma ajuda permanente como este rapaz. No final do repasto contou tudo à sua hospedeira para no dia seguinte ainda bem cedo seguir caminho. Também ela lhe contou a sua vida de degradado, e Fred prometeu voltar e levá-la para um lugar decente onde pudesse viver como ser humano. Na hora da partida ambos ficaram tristes, mas não existiam mais opções.

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

3. Recado aos amigos distantes, de Cecília Meireles Meus companheiros amados, não vos espero nem chamo: porque vou para outros lados. Mas é certo que vos amo. Nem sempre os que estão mais perto fazem melhor companhia. Mesmo com sol encoberto, todos sabem quando é dia. Pelo vosso campo imenso, vou cortando meus atalhos. Por vosso amor é que penso e me dou tantos trabalhos. Não condeneis, por enquanto, minha rebelde maneira. Para libertar-me tanto, fico vossa prisioneira. Por mais que longe pareça, ides na minha lembrança, ides na minha cabeça, valeis a minha Esperança 3. Recado aos amigos distantes, de Cecília Meireles Meus companheiros amados, não vos espero nem chamo: porque vou para outros lados. Mas é certo que vos amo. Nem sempre os que estão mais perto fazem melhor companhia. Mesmo com sol encoberto, todos sabem quando é dia. Pelo vosso campo imenso, vou cortando meus atalhos. Por vosso amor é que penso e me dou tantos trabalhos. Não condeneis, por enquanto, minha rebelde maneira. Para libertar-me tanto, fico vossa prisioneira. Por mais que longe pareça, ides na minha lembrança, ides na minha cabeça, valeis a minha Esperança.

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

Ile de Saint Louis Chamava-se Marlene du Pont. Vivia num quarto alugada no 6ª andar de um prédio urbano sem elevador que tinha cerca de 20 m2 quadrados onde cozinhava num canto isolado, um duche com cabine e uma cama para dormir de pequenas dimensões, por cima da qual mandou instalar uma estante que servia de arrumos e onde colocava os numerosos livros bem direitos alguns deles encadernados em vermelho que davam um certo charme ao lugar. Da sua janela com grades férreas, espreitava os “bateaux mouches” desfilar em volta da ilha cheios de passageiros de todas as raças fotografando a beleza do lugar, retirando apontamentos da pérola de Paris ( A île Saint-Louis (em português, "ilha de São Luís") é uma ilha situada em pleno coração de Paris, no 4°arrondissement, atrás da Catedral de Notre-Dame de Paris. Foi assim denominada em homenagem a Luís IX , tendo sido renomeada île de la Fraternité ("ilha da Fraternidade"), durante a Revolução francesa.) Um dia viu a catedral Norte Dame em flamas bem perto dela e assentada no chão chorava lágrimas amargas, sem forças para reagir. Foi no Hospital Dieu junto de onde teve lugar a tragédia que anos mais tarde nasceu o seu primeiro filho, abençoado por deus, e de uma beleza singular para a humanidade. Possuía também uma casinha de 50m2 em Saint-Germain-en- Laye onde se refugiava nos fins de semana para recitar o role de uma peça de teatro onde participava com entusiasmo e eficiência, depois de já ter participado em duas longas metragens de sucesso. Tinha tirado um curso de advogada quando vivia com os pais em Londres onde nasceu e onde viviam seus pais, um juiz e o outro médico com os quais teve sempre atritos por não gostar de ser filha única, tendo sido a sua nascença causadora de sua mãe não poder ter mais filhos, não sendo por isso responsabilizada, foi um concurso de circunstâncias que nunca entrou naquela cabeça. Um dia escolheu Paris para as férias em companhia do namorado um rapaz loiro e de feições vistosas natural de Amesterdão que frequentava a mesma Universidade. Foi amor à primeira vista. Levantava-se sedo para visitar o museu de cera, Louvre e Bobourg o Faubour Saint Honoré onde se passeavam mulheres ricas procurando a moda, avenue Montaigne,o jardim mais famoso do mundo, Montmartre e os seu encantos, o café flore onde se encontrava com numerosos artistas, os cabarets para os lados de pigale, folie bergéres e lido, tudo era encanto para ela restava convencer o namorado e os pais que a deixassem vir viver para esta cidade mágica. Naquele ano terminou o Curso e como prenda pedia que a deixassem ir viver onde tudo era magia. Não foi fácil convencê-los, existindo muitas entraves ao seu sonho, e questão do mercado de trabalho vinha acumular-se às dificuldades já existente, porém, eram pessoas abastadas nada lhe faltaria, e em último recurso voltar como o filho pródigo. Através das redes sociais tratou de tudo ainda na Inglaterra, mesmo emprego para os dois pombinhos. Era uma rapariga muito inteligente e sabia que tinha chegado a hora de desertar o ninho familiar. Contudo na sua cabeça andavam ideias precisas à solta que teria de reunir. A entrada para a faculdade das belas artes foi o primeiro passo. Não gostava do curso que tinha tirado influenciada por terceiros. Porém, tinha de recomeçar com disciplinas á noite e trabalhar de dia foi custoso, mas valeu a pena sentia-se agora como o peixe na água. Abdicou de muitas coisas inclusive desleixar a paternidade que não tinha tempo para os receber e muito menos deslocar-se a Londres. Ligava de tempos a tempos por videochamada, onde faltava o amor e carinho que sempre lhe dedicaram. Estava no terceiro ano quando engravidou por acidente. Um acidente que lhe trazia imensa felicidade. Queria ter muitos filhos para libertar o trauma de ser filha única. Quando a barriga começou a crescer tanto no gabinete de advogados como nas belas artes os rumores que lhe chegavam aos ouvidos, deitaram-na a baixo. Como fazer? Felizmente naqueles dias apareceu nas belas artes um encenador que procurava uma mulher grávida para uma longa metragem cujas aparições eram restringidas. Aceitou imediatamente sem participar ao companheiro que compreendeu e aprovou a iniciativa. Quando aconteceu o parto já com o filme embobinado nasceu o menino que se tornou um dos mais famosos de hollywood . AB

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Crónica de AB Lembra-me que as recordações não morrem, e o passado apenas viajou, o tempo não é dono do destino, nem da estação onde apeou, foi há anos, ou foi há dias, já não sei; da longa espera no cais, e dos comboios banais, meu deus que fumaçais! Onde de vista nos perdíamos, para mais tarde nos encontrarmos, nas festas, nas romarias, nas terras onde vivíamos, e que tão jovens de lá saíamos à procura das migalhas, como pássaros já sem ninho, que voam sem lei nem tino por entre as árvores talhadas, abrindo caminhos à sorte, pelos madrigais já sonhados, por entre multidões no deserto, vindas de longe ou de perto, em camelos alinhados. Lembra-me de quando era criança, e vivia com esperança, de um dia ser grande e forte, junto daquela gente sem sorte, dando-lhe a minha confiança, o carinho e a ternura que alimentavam com doçura, nas cálidas noites de verão, ao luar de um céu azul, cheio de estrelas e um coração que batia, batia, na mão.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

RASGUEI TUDO Rasguei o tempo, a tristeza e a saudade, Rasguei o vento, a ambição e a ingenuidade Rasquei a fome, a sede e a maldade Rasguei a vida, a paixão e a vontade. Depois… Depois, rasguei o sofrimento, a solidão e o desamor Rasguei o desalento, a angústia e a dor Rasguei a depressão, a solidão e a piedade Rasguei tudo o que me causava ansiedade! Depois de tudo rasgar… Em silêncio e em segredo Remendei-me, reconstrui-me e reinventei-me Recolhi-me, fechei-me e emendei-me Na clausura da ilusão Um mundo sem guerra e sem medos Um mundo feito de sonho, em forma de coração M.C.M (São Marques) Maria da Conceição marques

domingo, 10 de setembro de 2023

Ser Poeta por Virgilio Teixeira 2 d · POEMA DEDICADO A TODAS AS MULHERES Para ti que és Mulher Negra , Loira , ou Morena , Encontro sempre um motivo Para escrever um Poema. Na vida tudo tem fim O tempo não vai parar, Quando acabar para mim No coração vou levar Os poemas que Escrevi. Aos poemas , dediquei Uma vida de Amor, Um Amor que encontrei Quando para ti olhei Teu rosto , mudou de Cor . O tempo não vai parar E tudo com que sonhei, Foi tempo para te Amar . O tempo passa a correr O tempo não vai parar , Mas enquanto eu viver Não vou deixar de Sonhar . A Vida é uma Curta Passagem Ama com Amor o teu Amor.

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Não quero

Isto não é uma crónica, é um vómito de indignação Quando morrer, não quero a vossa hipocrisia em torno do meu caixão. Basta-me que a sombra de Cristo ou de um dos seus Anjos se apiede, mesmo de longe, ainda que de muito longe, da minha alma pecadora. Não quero nenhum fariseu junto ao nosso diálogo Não perdoo à Igreja nunca ter pedido perdão aos portugueses pela sua colaboração activa com a ditadura e as iniquidades decorrentes dela, a sua total indulgência, desde a primeira hora, com a injustiça, a crueldade, a desigualdade, a intolerância, os campos de concentração (Tarrafal, São Nicolau) a monstruosa polícia política, a violência da censura, o desprezo pelas mulheres, a guerra colonial, a perseguição aos estudantes, aos operários, aos camponeses, a desavergonhada defesa dos ricos, as missas para as criadas, as homilias em que exortavam à obediência aos patrões, a violência para com os sacerdotes e os bispos que ousaram levantar-se contra o Estado Novo, a forma como abençoaram as centenas de milhares de rapazes mandados para África combater as aspirações dos povos colonizados, mandando capelães abençoar aquele horror, apoiar aquele horror, santificar aquele horror (eu estava lá e vi) em nome da luta contra o comunismo ateu, em nome da defesa dos valores cristãos, em nome da tolerância, em nome de Cristo. Porque carga de água não tem sequer a simples dignidade de pedir desculpa? Porque carga de água finge esquecer-se? Porque carga de água este silêncio? Eu sou cristão e aprendi a ser fiel até à morte como está escrito no Livro e pergunto: como tem coragem de tocar na Bíblia, como tem coragem de ser hipócrita para com o Senhor? O capelão do meu batalhão em África era um pobre jesuíta que se queixava das instruções que o obrigavam a fazer a apologia do colonialismo em nome do Deus e não tenho a menor dúvida que Jesus o cuspiu da Sua boca. Porque não pede perdão por ter afastado tanta gente da virtude com as suas atitudes, as suas homilias, até com a utilização ignóbil das pobres crianças de Fátima a quem Nossa Senhora pediu em português (que outra língua saberiam elas?) para rezarem pela conversão da Rússia comunista, elas que nem sabiam o que comunismo queria dizer, manobradas sem vergonha pela hierarquia eclesiástica. O que terá sofrido o nosso capelão (Tenho de fazer isto, tenho de fazer isto, dizia ele) obrigado a louvar a guerra santa, obrigado a prometer o paraíso aos nossos mortos, criaturas inocentes condenadas a dois anos e tal de um sofrimento injusto. E a Igreja, passados mais de quarenta, permanece em silêncio, completamente alheada da sua culpa. Isto entende-se? Isto aceita-se? Isto apaga-se? Claro que os filhos das classes altas não iam para a guerra. Conheço filhos dessas classes altas poupados a África com desculpas inacreditáveis. Conheço os seus nomes e conheço as desculpas, desde “incompatibilidade psicológica com o exército” (posso citar nomes) até “incontinência urinária” (posso citar nomes), até “pé chato” (posso citar nomes), até classificações aldrabadas durante a especialidade (posso citar nomes) e é impossível que a Igreja não soubesse disto. Soube, claro, colaborou. E até hoje nenhuma voz oficial dela se ergueu, nenhuma voz oficial dela protestou, nenhuma voz oficial dela pediu perdão a Portugal, nenhuma voz oficial dela pediu perdão aos portugueses, nunca os sucessivos cardeais roçaram sequer este assunto quanto mais falar nele. Pelo contrário: abençoaram o Estado Novo que perseguiu os sacerdotes que ousaram, ainda que só timidamente, levantar a voz contra isto tudo. Perseguiram-nos, expulsaram-nos fizeram-lhes a vida negra. Nem disso a Igreja a que pertenço tem vergonha? Um bocadinho de vergonha ao menos? Limitou-se a arranjar bispos castrenses que aceitaram, apadrinharam, foram cúmplices desta situação. Não temos uma Igreja de Cristo, temos, sob muitos aspectos, uma Igreja hipócrita e complacente. Cristo não foi nunca hipócrita nem complacente: porque é que a Igreja portuguesa o é? Tenho o maior orgulho no meu País, não tenho o menor orgulho nesta Igreja. Se Cristo aqui estivesse vomitá-la-ia da sua boca por não ser fria nem quente. Meu Deus será que nem arrependimento existe? Será que pensa que a memória dos homens é curta? Será que pensa que os portugueses esquecem? Será que não se importa de ser vendilhão do Templo? Será que acredita que vai ficar impune aos olhos do Senhor? Será que imagina que o Senhor não sabe? Será que toma Deus por parvo? Será que cuida que São Paulo, por exemplo, não a varreria? Onde estão as palavras do Senhor? Os Seus ensinamentos? O Seu exemplo? Ainda que em linguagem aparentemente críptica Cristo foi sempre muito claro. E quem quiser ouvir que oiça. A ditadura acabou em 1974, há quarenta e três anos portanto. E nem uma voz até hoje? Nem um simples pedido de perdão, nem uma confissão fácil – Errei não existe nenhuma humildade honesta neste silêncio, não existe o simples assumir de uma culpa, de um erro formidável, de um silêncio indecente. Dói-me na alma que a minha Igreja, o meu Deus sejam amesquinhados e esquecidos pelos que se dizem Seus filhos. Tenho vergonha. Tenho nojo. Tenho pena de vós que pagareis por isto. Será que um simples pedido de desculpa não alivia a alma? Parece que não. Por isso, quando morrer, não quero a vossa hipocrisia em torno do meu caixão. Basta-me que a sombra de Cristo ou de um dos seus Anjos se apiede, mesmo de longe, ainda que de muito longe, da minha alma pecadora. Não quero nenhum fariseu junto ao nosso diálogo. Quereria um Homem Justo. Um Homem Justo bastava-me. Onde, na hierarquia da Igreja, da minha pobre Igreja, ele estará? Crónica publicada na "VISÃO" -1266, de 8 de junho de 2017 António Lobo Antunes

quarta-feira, 30 de agosto de 2023

Perdição

Destinos por AB 970 Fraquejar quando julgamos que nada nem ninguém nos pode atingir é recorrente e frequentemente erguer-se torna-se impossível. A desgraça puxa sempre desgraça aumentando a impossibilidade de erguer novamente a cabeça. Somos nós próprios que proporcionamos, a maior parte das vezes este labirinto de ações maléficas onde ficamos agarrados para sempre. Ontem era dia claro hoje noite escura. Ninguém pode nada contra a fatalidade. No pano mais branco cai a nódoa – disse alguém com toda a veracidade. Aquela mulher idosa que vivia o seu calvário numa pobre casinha, desde que perdeu tudo num incendio, quem sabe, posto? Sobrevivia miseravelmente com o pouco que a terra lhe dava, numa pequena casa abandonada, sem conforto, sem conhecer os dias da semana, quando era Natal ou Páscoa, para ela nada tinha importância, apenas um gato selvagem que um dia veio rapar à suposta porta cheio de fome. Entregou-lhe o seu jantar, batatas e feijões vindos da pequena horta onde passava os dias que lhe restavam para viver. Comeu tudo como os políticos e quando terminou, levantou aquele olhar felino, mas piedoso como quem pede perdão. Desde então nunca mais se separaram. No chão jazia um corpo de homem inerte, na umidade do solo térreo, que não tinha sido esquecido. A velhinha depois de verificar que não estava ferido, aguardou o descanso, colocando-lhe de tempos a tempos um farrapo de água aferventada com ervas que também eram eficazes para que a febre descesse. Quando abriu os olhos pela primeira vez, julgou estar no paraíso, onde uma velha lhe recitava os seus pecados. - Então? Gosta da hospitalidade? - Não sei onde estou? -Na minha nobre casinha e acredite que é pesado para uma velha como eu! Porque vim aqui parar? Isso já não sei. Sucumbiu ao cansaço. E porque me acolheu? Por ser um ser humano que talvez tenha passado pelas dolorosas fases que eu passei. - Eu não mereço a compaixão de ninguém… - Está completamente errado, todo ser vivo merece compaixão independentemente do que tenha feito. - E que conta fazer deste farrapo sem eira nem beira? - Em primeiro lugar vai ter de mudar de roupa para tomar um banho debaixo daquela cascata. Depois vou fazer de comer que deve estar esfomeado, as conversas ficam para o fim. Se desejar permanecer neste lugar terá de me respeitar e trabalhar a terra que nos dá tudo, se pelo contrário desejar partir a porta estará sempre aberta. São duas escolhas difíceis de tomar, não sabendo fazer nada e não ter para onde ir. Tudo tem solução e a noite ajuda-nos a refletir.

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Era ainda uma catraia Já com tanto carinho e amor para dar Nos caminhos que cruzava apressada Na casa onde estava a habitar Tours foi a cidade onde parei E logo este carinhoso ser me foi beijar Ainda não sabia o que hoje sei Nem onde iria parar Quem tanto amor e carinho tem para dar Nunca fica indiferente ao olhar Que piedosamente nos lembra ao deitar O que devemos fazer ao levantar Sem nunca pestanejar. São lembranças que voltam com nostalgia E o bater do coração com alegria São tempos de menina e criança Gestos simples do que fui um dia Quando n’uns braços frágeis te apertei E ignorante vulnerável logo te amei Não conhecia o mundo que num sonho encontrei Mas imediatamente reparei Que o calor do amor e carinho é o rei E como tem de haver uma rainha É a consciência quem adivinha O futuro que ainda longe vinha AB

sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Ile de saint Louis

Ile de Saint Louis Chamava-se Marlene du Pont. Vivia num quarto alugada no 6ª andar de um prédio urbano sem elevador que tinha cerca de 20 m2 quadrados onde cozinhava num canto isolado, um duche com cabine e uma cama para dormir de pequenas dimensões, por cima da qual mandou instalar uma estante que servia de arrumos e onde colocava os numerosos livros bem direitos alguns deles encadernados em vermelho que davam um certo charme ao lugar. Da sua janela com grades férreas, espreitava os “bateaux mouches” desfilar em volta da ilha cheios de passageiros de todas as raças fotografando a beleza do lugar, retirando apontamentos da pérola de Paris ( A île Saint-Louis (em português, "ilha de São Luís") é uma ilha situada em pleno coração de Paris, no 4°arrondissement, atrás da Catedral de Notre-Dame de Paris. Foi assim denominada em homenagem a Luís IX , tendo sido renomeada île de la Fraternité ("ilha da Fraternidade"), durante a Revolução francesa.) Um dia viu a catedral Norte Dame em flamas bem perto dela e assentada no chão chorava lágrimas amargas, sem forças para reagir. Foi no Hospital Dieu junto de onde teve lugar a tragédia que anos mais tarde nasceu o seu primeiro filho, abençoado por deus, e de uma beleza singular para a humanidade. Possuía também uma casinha de 50m2 em Saint-Germain-en- Laye onde se refugiava nos fins de semana para recitar o role de uma peça de teatro onde participava com entusiasmo e eficiência, depois de já ter participado em duas longas metragens de sucesso. Tinha tirado um curso de advogada quando vivia com os pais em Londres onde nasceu e onde viviam seus pais, um juiz e o outro médico com os quais teve sempre atritos por não gostar de ser filha única, tendo sido a sua nascença causadora de sua mãe não poder ter mais filhos, não sendo por isso responsabilizada, foi um concurso de circunstâncias que nunca entrou naquela cabeça. Um dia escolheu Paris para as férias em companhia do namorado um rapaz loiro e de feições vistosas natural de Amesterdão que frequentava a mesma Universidade. Foi amor à primeira vista. Levantava-se sedo para visitar o museu de cera, Louvre e Bobourg o Faubour Saint Honoré onde se passeavam mulheres ricas procurando a moda, avenue Montaigne,o jardim mais famoso do mundo, Montmartre e os seu encantos, o café flore onde se encontrava com numerosos artistas, os cabarets para os lados de pigale, folie bergéres e lido, tudo era encanto para ela restava convencer o namorado e os pais que a deixassem vir viver para esta cidade mágica. Naquele ano terminou o Curso e como prenda pedia que a deixassem ir viver onde tudo era magia. Não foi fácil convencê-los, existindo muitas entraves ao seu sonho, e questão do mercado de trabalho vinha acumular-se às dificuldades já existente, porém, eram pessoas abastadas nada lhe faltaria, e em último recurso voltar como o filho pródigo. Através das redes sociais tratou de tudo ainda na Inglaterra, mesmo emprego para os dois pombinhos. Era uma rapariga muito inteligente e sabia que tinha chegado a hora de desertar o ninho familiar. Contudo na sua cabeça andavam ideias precisas à solta que teria de reunir. A entrada para a faculdade das belas artes foi o primeiro passo. Não gostava do curso que tinha tirado influenciada por terceiros. Porém, tinha de recomeçar com disciplinas á noite e trabalhar de dia foi custoso, mas valeu a pena sentia-se agora como o peixe na água. Abdicou de muitas coisas inclusive desleixar a paternidade que não tinha tempo para os receber e muito menos deslocar-se a Londres. Ligava de tempos a tempos por videochamada, onde faltava o amor e carinho que sempre lhe dedicaram. Estava no terceiro ano quando engravidou por acidente. Um acidente que lhe trazia imensa felicidade. Queria ter muitos filhos para libertar o trauma de ser filha única. Quando a barriga começou a crescer tanto no gabinete de advogados como nas belas artes os rumores que lhe chegavam aos ouvidos, deitaram-na a baixo. Como fazer? Felizmente naqueles dias apareceu nas belas artes um encenador que procurava uma mulher grávida para uma longa metragem cujas aparições eram restringidas. Aceitou imediatamente sem participar ao companheiro que compreendeu e aprovou a iniciativa. Quando aconteceu o parto já com o filme embobinado nasceu o menino que se tornou um dos mais famosos de hollywood . AB

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Dia de sorte 702 AB Saiu de casa tão frustrado que não via nada nem ninguém. Vagueou pelas ruas desertas e escuras, entrou em bares e bebeu até cair num canto onde o álcool o aqueceu e adormeceu cheio de dores no coração. No dia seguinte dirigiu-se à prisão e sujo por dentro e por fora pediu para falar com o pai que não ficou surpreendido ao vê-lo, parecia que o esperava. Já tinha conhecimento do nascimento da menina e das peripécias advindas. Também estava a sofrer com a situação, mas os seus olhos derramavam lágrimas de felicidade. Disse apenas: perdoa-me filho - Ainda tinha esperança que o perdoasse? Nunca nesta vida. Agiu como um adolescente irresponsável e asqueroso quando vendia mentiras e andavam com homens, nem sequer respeitou a promessa feita ao seu pai. Esperava uma filha que já amava profundamente, como poderia amar a filha da traição como minha irmã? Diga-me. Não fique calado. Sei que não está arrependido, e que esta sim será a sua filha adorada, depois de me ter tratado como um rato como se eu tivesse culpa? Aqui fica a minha despedida para sempre. Nunca mais os quero ver nem ouvir falar. Dentro do meu coração vai uma sensação de órfão do mundo. Fred, filho não digas essas coisas… pondera e tenta chegar a um acordo com a mulher que te ama a ti e não a mim… -Seria pedir-me o inferno que foi toda aminha vida e continuará a ser enquanto não fechar definitivamente os olhos. Fred?... Tinha voltado as costas, não via nem ouvia. Pediu para lhe abrirem a porta da prisão, e já cá fora um raio de sol veio encandeceu-o sem saber para onde ir nem o que que fazer? Precisava de roupa e comida para entrar pelo mundo onde pudesse esquecer, mas não desejava ir a casa e encontrar-se com a mulher que considerou e hoje a desprezava. Lembrou-se que ela estava internada o que facilitava para ele retirar algumas coisas úteis mais urgentes, desleixando tudo o resto que não cabia nas suas más recordações. Ia a sair com um grande saco às costas quando os pais da mulher apareceram em choros. Não foram necessárias palavras, também eles foram traídos e curvaram-se para se despedirem do afetuoso rapaz sem uma palavra. Começou a andar a passos largos para não ser apanhado pela noite em lugares menos recomendáveis, mas quando atravessava uma pequena mata apresentaram-se-lhe na frente dois homens corpulentos que com toda a certeza o tinham seguido e o obrigaram a dar-lhe o pouco dinheiro que continha uma pequena mochila. Não tentou defender-se sabendo que de nada lhe servia mesmo com o grande punhal à cintura. Já era noite escura e os animais selvagens começavam a deslocarem-se quando ao longe viu uma pequena luz entre uma colina e um imenso verdear com algumas árvores pelo meio. As forças começavam a faltar e foi de rastos que chegou junto de uma casa com poucas dimensões, telhado muito usado, e ladeada por silvas, ortigas e ervas selvagens. Exitou em bater à porta, mas não tinha outra alternativa, e a morte só viria apaziguar o seu sofrer. Ouviu-se um cão de grande estrutura ladrar junto da porta, e uma mulher já com uma certa idade apareceu de espingarda em punho. Perguntou. Que quer? -Fred já sem alento ainda disse: descansar e caiu para o lado atordoado.

terça-feira, 1 de agosto de 2023

Destinos

Destinos de destinados 665 A por AB Fernando Júnior não dormia nem se alimentava havia dois dias e com a avó internada aquela casa tornava-se num rio sem água. Os criados manifestavam o seu desalento impotente perante factos que mordiam no corpo de quem ama daqueles a quem a vida teria prometido um mar de rosas e hoje nadavam em mares de areia ríspidas sem tino nem referencias, perdidos desesperadamente. Cinco dias depois falecia a avó não resistindo à dor que a martirizava e influenciou a doença que parecia melhorar, segundo diagnóstico hospitalar, quis partir para junto do único homem que amou com todas as suas forças, e juntos construíram uma desastrosa família, que alguém escolheu, não se sabe onde nem como, foram julgados e condenados a escândalos que não tinham lugar na sua casa, onde jamais faltou harmonia, honestidade e bens materiais pelos quais lutaram sempre, tentando fazer daquela família um exemplo que infelizmente falhou. Fernando Júnior permaneceu junto daquele jazigo durante indeterminadas horas, não se queria separar da única família que tinha, murmurava e pensava no que seria a sua vida sem eles. Não voltou a casa. Tinha consigo um farnel de frutos furtados, levantou os olhos ao céu e seguiu pelo primeiro caminho que encontrou… mas faltava-lhe o álcool que o ajudava a andar a droga que o tirasse daquele inferno. Caía mesmo agarrado às paredes, deixou os sapatos, e caminhou descalço até que os ferimentos das pedras o obrigaram a sentar-se junto de uma árvore centenária, mas o frio trespassava-lhe o corpo e a alma. Adormeceu e nos sonhos reviveu todo o passado, do qual se arrependia tarde demais. Também Fernando C revivia o seu desastroso passado, sem que os seus olhos vissem a luz que o propulsou para dentro de uma juventude irresponsável. Foi assistir ao funeral dos pais vestido com a melhor roupa que tinha, e antes de se despedir deles pediu que o perdoassem. Nunca mais teria um viver digno e os remorsos dormiam com ele todas as noites, na cama dos seus pecados na angústia de uma sobrevivência que não desejava, mas, sabia que tinha de pagar pelos numerosos e graves erros cometidos Eram nove horas da manhã, o sol raiva, os pássaros deixavam os ninhos para procurar alimento aos filhotes, e Borboleta que morava junto do velho carvalho veio abrir os grandes portões férreos para sair com o seu automóvel quando reparou naquele homem caído ferido e com certeza faminto junto do seu muro a uns 10 metros dali. Aproximou-se cautelosamente, tocou-lhe com um pé e chamou: senhor? O que faz aí a estas horas? Como não obteve resposta voltou-o para ver se estava vivo. Levou a sua mão à carótida e quando lhe tocou estremeceu. És tu? Ó meu deus… estava vivo, mas borboleta reconheceu imediatamente o seu amigo de faculdade que nunca mais tinha visto depois de acabar com a relação a pedido da mãe. Casara com um engenheiro e como já trabalhavam os dois e ganhavam bem a vida compraram aquela mansão com a ajudo do pai do rapaz e estavam pagando o resto ao banco onde fizeram o empréstimo. Subitamente apareceram ali doi cães de grande estatura, e não fosse a repreensão de borboleta teriam atacado o pobre rapaz. Oi, fofo, levanta-te. Tentou com bofetadas no rosto, mas o rapaz tinha caído num coma profundo não podia reagir. Sem demoras pegou no telemóvel e chamou o INEM. Acompanhou-os ao hospital de onde só saiu eram 9h da noite depois de confirmado estar fora de perigo.

domingo, 30 de julho de 2023

Viveres II A guerra dos cardos Por: António Brás Em 2015 escrevia eu,( pode ver aqui) a guerra dos cardos, manifestando a minha indignação por ações bárbaras, e outros assuntos que me trazem de volta com o saco cheio e submerso nas profundezas de um oceano de corrupção, assediado por noticias de dubitável veracidade, incentivado constantemente a ligar para programas de aliciantes prémios, que servem apenas para financiar o pagamento do canal e seus escravos, revoltado profundamente com o que continua, e cada vez mais persistente, neste País onde nasci, e me foram roubados quatro anos da minha infância, com a obrigação do serviço militar, perseguidos como coelhos do monte, por cães que integravam a antiga DGS (pide), que me seriam extremamente uteis para completar o tempo designado para a reforma, não sendo abrangido pelas miseráveis migalhas atribuídas aos que foram degradados para o Ultramar. Não sendo hostil aos direitos da cidadania, greves ou manifestações, considero que a postura dos profissionais da enfermagem, é um atentado à integridade física dos cidadãos que contribuem para as suas subsistências… qual a diferença entre eles e os jihadistas? Um primo meu faleceu porque lhe foi adiada, a longo prazo, uma cirurgia e quando recorreu ao privado era tarde demais. Quantos como ele faleceram e continuam a ser vítimas de uma obsessão maléfica? Não posso julgar as suas reivindicações, porém, quando lhes foi feita a pergunta: “onde querem que o governo vá buscar 500 milhões de euros para pagar o aumento que desejam, e por que razão eles teriam direito a uma reforma aos 55 anos e a 35 horas de trabalho semanais”, a resposta da bastonária, supostamente também corrupta, é: o Estado tem dinheiro… terá dinheiro para satisfazer todos os desejos e ambições desmedidas, que num passado recente acolheram com um ranger de dentes silencioso, independentemente do partidarismo? Recentemente visitei uma familiar internada num hospital, e fiquei siderado com o que presenciei. Bandos de batas brancas, como estorninhos, aninhados ao fundo do corredor dialogando com gargalhadas insuportáveis. Continuo convicto de que o povo Português tem genes da etnia cigana por dentro e por fora a vaidade de quem quer viver acima dos seu meios… há por aí tantas investigações, sendo até os investigadores investigados, cujo resultado é = a 0, porque comem todos do mesmo tacho e nenhum deles cospe dentro com receio de ser contagiado. Desvios, toda a gente faz, da técnica de limpeza aos mais poderosos, quem nunca fez que atire a primeira pedra? Investigações aos Municípios do partido comunista revelam-se frutíferas em numerosos alegados crimes. Mera coincidência? Será que se investigarem todos os Municípios não encontram roupa suja para lavar? Somos decididamente um povo sem princípios nem valores, e o que mais arregaça sobe na escala, os outros descem. Vemos constantemente programas televisivos onde o pai mata a filha e a sogra, suicidando-se seguidamente como para provar o que não é meu nunca poderá ser de mais ninguém… distúrbios psicóticos? Mais próximo do Jihadismo. Voltando aos programas televisivos aquele apresentador que confronta Deus e o Diabo, que foi juntamente com a esposa, num futuro próximo escorraçado, porque obsequiado pela destruição, e não pela informação, volta agora, supostamente tomando o lugar de Deus, convidando afeiçoadamente e seletivamente aqueles que valorizem a audiência, opinando e ajuizando os erros alheios, e tentando que os telespectadores participem cortando-lhe o pio quando as tendências não pendem para o lado do diabo, deveria apresentar-se a eleições, ele que só fala verdade, que julga e condena, que sabe diferençar o bem do mal… Há mais cardos que amores-perfeitos nestas terras austeras, impudicas, maléficas, e ousamos fazer juízos de valores referente a outros povos que sofrem de pobreza e guerra, morrendo de fome e de frio, enquanto nós no aconchego e conforto de uma grande casa nos queixamos exigindo mais, cada vez mais, até que a corta demasiado esticada acabe por quebrar, e nos atire para a profundeza do abismo. As novas gerações sobreviverão, qual o grau de dificuldade já não sei.

segunda-feira, 24 de julho de 2023

SE AMANHÃ... Se amanhã for já tarde, tarde demais Para olhar o sol nascente e o poente Para pisar a relva de pés descalços Olhar a chuva de verão caindo na terra E o cheirinho bom da terra molhada Ou sentir o vento atravessar os terraços Se não der para sentir o cheiro salgado Da espuma leve do mar beijando a areia De comer aquele doce e sujar a boca Olhar os olhos de um amigo sincero Sentir um perfume transformando o ar Contemplar uns lábios que quase sufoca Ouvir "eu te amo" entrando fundo, na alma Deixando vontades de anseios guardados Arrepiando o corpo sem pedir permissão Se não se puder pedir perdão ou perdoar Deixando ódios ,rancores, possuir a mente Corroendo o ser, o espírito e o coração... Tudo o que ocorre na vida é tão breve Sem darmos por ela, o tempo passou E amanhã pode ser tarde, tão tarde... Não se podendo nunca voltar atrás. Que Deus permita e nos dê forças Para fazer hoje o que temos na vontade!... ZITA SANTIAGO

terça-feira, 18 de julho de 2023

o desassossego

Reconheço hoje que falhei, só pasmo, às vezes, de não ter previsto que falharia. Que havia em mim que prognosticasse um triunfo? Eu não tinha a força cega dos vencedores ou a visão certa [?] dos loucos... Era lúcido e triste como um dia frio. Tenho elementos espirituais de boémio, desses que deixam a vida ir como uma coisa que se escapa das mãos e a tal hora em que o gesto de a obter dorme na mera ideia de fazê-lo. Mas não tive a compensação exterior do espírito boémio — o descuidado fácil das emoções imediatas e abandonadas. Nunca fui mais que um boémio isolado, o que é um absurdo; ou um boémio místico, o que é uma coisa impossível. Certas horas-intervalos que tenho vivido, horas perante a natureza, esculpidas na ternura do isolamento, ficar-me-ão para sempre como medalhas. Nesses momentos esqueci todos os meus propósitos de vida, todas as minhas direcções desejadas. Gozei não ser nada com uma plenitude de bonança espiritual, caindo no regaço azul das minhas aspirações. Não gozei nunca, talvez, uma hora indelével, isenta de um fundo espiritual de falência e de desânimo. Em todas as minhas horas libertas uma dor dormia, floria vagamente, por detrás dos muros da minha consciência, em outros quintais, mas o aroma e a própria cor dessas flores tristes atravessavam intuitivamente os muros, e o lado de lá deles, onde floriam as rosas, nunca deixaram de ser, no mistério confuso do meu ser, um lado de cá — esbatido na minha sonolência de viver. Foi num mar interior que o rio da minha vida findou. À roda do meu solar sonhado todas as árvores estavam no outono. Esta paisagem circular é a coroa-de-espinhos da minha alma. Os momentos mais felizes da minha vida foram sonhos, e sonhos de tristeza, e eu via-me nos lagos deles como um Narciso cego que gozou a frescura próximo da água, sentindo-se debruçado nela, por uma visão anterior e nocturna, segredada às emoções abstractas, vivida nos recantos da imaginação com um cuidado materno em preferir-se. Sei que falhei. Gozo a volúpia indeterminada da falência como quem dá um apreço exausto a uma febre que o enclausura. s.d. Fernando Pessoa,
Dia de sorte xv AB A noite começava a cair quando Nack descia do táxi que a conduzira da prisão onde revelou o segredo ao sogro, fruto dos acontecimentos de alguns meses em que os dois sucumbiram à tentação da carne onde não houve responsabilidade e muito menos respeito num caso insólito desproporcional, que as circunstâncias aberrantes divergem e se tornam inaceitáveis. O cheiro perfumado que acompanhava a rapariga vindo das roseiras coloridas e vistosas não calmava aqueles nervos à flor da pele e a ansiedade que lhe martirizava o coração ao meter a chave na fechadura e logo que a porta se abrisse estaria o homem que amava incondicionalmente que com certeza a rejeitaria prestes a ser mãe de uma menina que os dois já amavam ainda no ventre. Tinha derramado muitas lágrimas durante o trajeto e as suas lindas feições eram a prova viva. Fred veio imediatamente ao encontra daquelas a quem chamava as minhas mulheres, mas ficou apreensivo ao ver aquele rosto sujo por onde tinham corrido o erro cometido que já não podia remediar. Beijou-a longamente tentando adivinhar o que se tinha passado, e ela em soluços não conseguia balbuciar palavra. Assentou-a no sofá e foi à cozinha buscar um copo de água fresca e pegando na sua mão trémula, ajudou-a a beber. Fred estava preocupado, mas não conseguia arrancar-lhe o desvairo que trazia dentro de si. Finalmente ouviu a sua súplica que a perdoasse que tinha perdido a cabeça num momento de fragilidade. - Estás a assustar-me por amor de deus diz-me o que se passa talvez possa ajudar? - Não podes meu grande amor, ninguém pode. E pegou-lhe na mão que levou ao ventre suspirando… esta filha não é tua… -Como? Que me dizes? traíste-me? Sim Fred e aqui me tens disposta a assumir as consequências. Faz de mim a mulher mais infeliz do mundo que é o que mereço. - Vamos conversar calmamente porque não te podes enervar e pelos dois vamos encontrar uma solução… já me afeiçoei a esta menina que será minha, nossa. É do teu pai Fred. - Do meu pai é neta. - Não é sua filha já fizemos os testes de ADN. Tudo nas minhas costas? Quem sou eu afinal? Não te reconheço e sei que o meu pai é homossexual, pelo que não acredito em nada do que dizes. _agora mesmo volto da prisão onde comuniquei os resultados e o mais surpreendente é que me pareceu feliz! - Devo admitir que no meio desta mascarada só eu estou a mais, sempre estive mesmo fazendo esforços para conquistar o seu amor. Não tenho pai nunca tive, fui sempre um miserável que não merece… excluso de tudo como um animal que nasce no deserto. A salvagem de uma família honrada, miserável sem pai nem mãe e agora que julgava ter uma esposa e uma filha para fundar uma família roubam-me também o mérito. Vai para junto dos teus pais, que eu a partir de hoje temo pelo que possa acontecer, serei um nómada ou um vivo morto, um parasita sem abrigo. Nunca mais me voltareis e ver. Só vou transportar um grande fardo a quem desejo as maiores felicidades, aquela que já chamava minha filha. Via crescer no teu ventre sei como ela será. - Fred não podes reagir assim? Eu amo-te com todas as minhas forças que achas que me vai acontecer? - Estás por tua conta como eu estou pela minha não me peças para sentir pena de ti como tu não tiveste quando me traíste.

sábado, 15 de julho de 2023

Solidão

Solidão AB Aí solidão quanto fazes sofrer! Não te mostras nem tens pena daqueles que desejavam viver, em casas onde as moscas se passeiam, corredores e quartos vazios, com calor ou faça frio neste silencio medonho empregando em fotografias amarelas, em recordações que minam corações que batem por bater, em suspiros abafados surgindo de todos os lados pela noite transformados em desejos de abandono, com a dignidade que resta, porque já nada apraz e só se pensa em partir para junto de quem amou e connosco caminhou com sorrisos e carinhos telhados onde se construíram os ninhos e se criaram os filhinhos com as posses que havia espalhando por todo o lado alegria chorando por vezes também que no colo da mãe encontravam o consolo de que precisavam. Aí solidão que crueldade a tua que te passeias na rua vestida de manto frustrado, calçada com o passado que te leva ao desprezo a quem agora vive preso, que já não precisa de casa, somente uma cama onde dormem as insónias e os choros de quem teve um dia uma família com a qual vivia quando amanhecia o dia e juntos saboreavam o perfume do café que se fazia já depois do galo cantar e com abraços ternos acalmar as dificuldades da vida. Tantas coisas já mudaram e os seres humanos transformaram a clonagem abrangeu aquele que nasceu para ser homem ou mulher. O sexo já não devia figurar em nenhuma identificação porque não se sabe qual é na realidade. Hoje homem amanhã mulher e quem assim não quiser, a separação é imediata e já com idades de velhos, com filhos que não admitem conselhos, seguem por caminhos sinuosos desleixando o que agora já não serve, por uma bola de neve, experimentar o alheio que o novo lhe possa trazer muitas vezes sem saber onde vão embarrar o pote. Os filhos deixam de ter casa, do afeto que cariciam, do carinho que lhes faltará, das reuniões em família onde apenas resta a mobília. Chamam machismo descaradamente a quem obrigam e consente querendo a igualdade. A verdadeira mulher será até morrer o que foi por alguém definido, e o homem com H grande o complemento direto. Não será porque uma mulher não saber substituir um pneu nem o homem coser as bainhas de umas calças que surgirão as separações. As Hormonas misturaram-se e as novas gerações sofrem a solidão que os vigia de perto

quarta-feira, 12 de julho de 2023

Destinos 640 A A vida gira como uma daquelas rodas gigantes que lhe chamam montanha russa e no seu percurso leva e traz vidas atribuladas e felicidades que surgem sempre nos momentos certos do viver dos seres humanos. Os dois meios irmãos foram visitar o terceiro, fruto do amor verdadeiro que nem sempre segue o caminha mais certo. Júlia acolheu-os como príncipes conhecendo quase a totalidade dos acontecimentos. Fez um repasto especial da sua invenção e enquanto os “meus homens” como ela lhes chamava, não chegavam conversou com os rapazes sobre coisas banais. Quando chegaram Firmino desceu à cave e escolheu uma das melhores garrafas de moscatel rosé que possuía. Durante o almoço que corria ás mil maravilhas, o telemóvel de Fernando C tocou recebendo a notícia de que seu avô teria falecido. Ficou lívido e as lágrimas corriam-lhe rosto abaixo silenciosamente. Não foi necessário dizer o que se passava, levantou-se e ia dirigir-se para a porta da rua sem balbuciar palavra quando o meio irmão o interpelou dizendo: deixa-me conduzir-te por favor? Fernando C não teria aceitado em circunstâncias normais, meteu a mão ao bolso direito e certificou-se que não lhe restava um centavo. Os dois olharam-se olhos nos olhos, a resposta foi: sabes que não tenho alternativa, aceito com imensa gratidão Despediram-se educadamente e seguiram imediatamente par o hospital onde encontraram a esposa exausta, melancólica. Agarrou-se ao neto onde estiveram longos momentos a velar o que tinham sido as suas vidas junto daquele homem extraordinário que durante tantos anos tinha assumido completamente o cargo de um marido exemplar. O funeral teria lugar dentro de 3 dias. Fernando A regressou a casa já alta noite, mas a mãe ansiosa e inquieta esperava-o. -Filho que se passou não é hábito teu chegar tão tarde? Muitas coisas se passaram em tão pouco tempo, e contou os acontecimentos. - Ó meu querido filho não tinhas que suportar um passado longo e doloroso, sem o auxílio da tua mãe. - Era a vontade de meu pai e creio que estará feliz porque se esclareceram tantas coisas que viviam na escuridão e mais cedo ou mais tarde haveria de fazer-se luz. Mãe hoje compreendi ao ver meu irmão caído contra o muro da quinta dos avós, que ser adulto requer muitas exigências e que ninguém está ao abrigo do erro fatal. É o destino de todos nós andar por caminhos sinuosos ou estradas que libertam e ajudam a suportar as dificuldades que a vida nos impõe dia após dia. Também visitamos aquela maravilhosa família felizes vivendo num paraíso terrestre. Agora resta-me ter em conta que sou seu filho e aconteça o que acontecer estarei sempre aqui para a minha querida mãe e tia borboleta

segunda-feira, 10 de julho de 2023

Tinha trinta e cinco anos e o curso de advogado feito em Coimbra, quando ainda era alguém, e por ele pensava, fazia projetos, sonhava ter uma grande família, uma casa modesta, mas agradável num lugar sereno e tranquilo. Foi desde sempre o orgulho dos seus pais que com grandes sacrifícios iam mantendo a esperança de poderem dar ao filho único, para alem do amor e carinho, um curso superior, mesmo rastejando e privando-se de alimentação, automóvel e tudo que viesse a agravar o orçamento magro que fruíam com poucos bens, mas enorme vontade sabendo que o filho era inteligente e tinha grandes capacidades de atingir o objetivo fixado. Quando queimou as fitas de fim de curso reparou como os olhares dos pais brilhavam no meio da multidão como estrelas no céu, cintilantes e felizes por ter conseguido. Um almoço modesto num restaurante que deixava a desejar, e aquele abraço que queria dizer tudo. Voltaram para casa, e Jorge começou a sentir o peso da responsabilidade, que se encontrava agora do seu lado para encontrar trabalho. Ordenou o seu curriculum e começou a fraquejar só em pensar que a empresa onde estagiou não o escolheu para ficar entre 6 colegas. Porém teria de ir à luta para não desiludir aqueles que retiraram o pão da boca para que ele pudesse ser diferente e ter um viver digno e respeitado. Todos os dias saía ou enviava e-mails procurando a redenção em qualquer gabinete de advogados. Desperdiçou o tempo em que as mulheres mais ou menos da sua idade lhe segredavam ou ouvido que era atraente e simpático. A resposta era sempre: tenho de estudar. Teve duas rápidas aventuras com mulheres que não faziam o seu género, mas, não era a sexualidade prioritária na sua vida. Instalado na residencial saía muito pouco visto o dinheiro nos bolsos também não pesar. Tinha-se acostumado a um pacato viver com muitas restrições pelo caminho. Não tinha amizades que lo ajudassem a subir a escada, teria de contar com a sorte e ela não queria nada com ele. Palmilhou km, bateu á porta de centenas empresas e gabinetes de advogados para receber um não categórico nu como estava ficando o seu cérebro. Tentou vários empregos precários para aliviar o peso monetário dos pais, mas não desejava permanecer nesta espiral depois de tantos esforços para conseguir o que desejava e pensava ser facultado um trabalho bem remunerado com estabilidade. Os dias foram passando num desespero que agitava também os progenitores convictos de facilidades que não existem em profissão alguma. Jorge andava numa pilha de nervos muito próximo da depressão nervosa. Seus pais já com poucas posses, caiu-lhes um freixo em cima quando tentavam cortá-lo para alimentar a lareira no inverno tiveram morte instantânea. A vida para Jorge deixou de ter sentido, caindo no alcoolismo e más frequências que o arrastavam lentamente para um abismo invisível. Vendeu os poucos bens que os pais possuíam, e até mesmo a casinha frequentando casas de jogos proxenetas, drogas e prostituição como um vadio sem educação e um vazio na bagagem do qual tentava vingar-se.»»» continua AB

domingo, 9 de julho de 2023

A nossa quinta

Demolir sentimentos presentes na memória de quem por lá passou e visitou não um solar, mas uma linda vivenda com capela e os compartimentos desenhados por pessoas que aglomeravam todo o amor tornando os edifícios uma beleza à imagem dos proprietários o mais idoso que conheci Sr. Sepúlveda de uma elegância extraordinária acompanhada de educação e respeito pelos que lá trabalhávamos. São quintas que passam de mão em mão como as da semana e só se demoram o tempo de eventuais ganhos monetários onde os milionários dormem de olhos bem abertos exigindo sempre mais. Segundo me consta foi comprada pelo grupo corrupto e alguns associados para transformar em “villages peoples” com golf. Hipismo e pequenas casas onde reinaria o amor pelo sítio e a diversão para os mais endinheirados. Tudo o vento levou e neste polvarinho de aquisições surge este com as seguintes ideias. »» O solar da Quinta de Vila Boa de Arufe, na freguesia de Rebordainhos, o paço da nossa história coletiva, foi irremediavelmente demolido para construir outro totalmente novo. Trata-se do edifício dos Figueiredos Sarmento - a mais célebre estirpe de Bragança durante o período moderno. Esta linhagem deteve a alcaidaria-mor do Castelo durante os séculos XVI-XVIII. Pois, o palácio desta família, que tão valorosos serviços prestaram à cidade, foi completamente arrasado. O projeto do exterior, na “internet”, comprometia-se a “preservar a fachada neoclássica do século XIX e potenciar as características arquitetónicas atuais” [1]. Com a demolição total do edifício setecentista tudo foi apagado. Nada vai restar da capela e dos seus símbolos matriciais, como a cruz e os pináculos, sobre o telhado […].«« É simplesmente lamentável tanto na construção como nos serviços que vai prestar, enquanto aqueles que por aqui viveram tem bem guardadas recordações prodigiosas que beneficiavam a freguesia e seus habitantes. Eu sugeria que pegassem nela e a levassem para o Alentejo, as penas seriam menores. Quem é dono do que é seu pode fazer dele o que quiser são estas as regras que ditam abismalmente aos que de fora só podem ladrar quando a caravana passa. Mas doi muito constatar que neste País tudo se vende se doa ou aluga por estarmos rodeados de incompetentes e malandros, recolhendo as migalhas do fruto que entra nos cofres dos exploradores à custa dos baixos salários da miséria humana cheia de vaidade e projetos semelhantes aos dos Países evoluídos por mérito próprio. Temos os melhores gestores, mas entregamos a PT em troca de uns trocos. Os melhores engenheiros, mas a TAP não dá rendimentos, os melhores médicos que deixam falecer todos os dias gente por neglicência, e porque nos privados ou estrangeiro pagam mais, o staff mais corrupto da europa, guardas que matam por terem uma farda vestida, professores desejosos de um salário chorudo e os alunos passam em segundo plano. Arquitetos que não sabem o que é EDP, funcionários públicos que para além de incompetentes se mantém ao serviço até morrer por lhe faltar companhia em casa. Municípios que adotam o mesmo sistema de alugar e os utentes são meras pedras mortas pagando somas exorbitantes de água e saneamento à revelia. Já vivi onde havia greves manifestações exageradas, mas sempre se encontrou um consenso, aqui não podemos chamar um país a quem usa contadores que não lhe pertencem e deixa abandalhado o rebanho no meio de bestas ferozes.AB

sexta-feira, 7 de julho de 2023

à espera do milagre

Dia de sorte 699 Ab Era Sexta feira um dia 13 de maio, e a futura esposa de Fred levantou-se cedo, disse ao futuro marido que ia visitar os pais. Arranjou-se como uma grávida perto do parto mandou chamar um táxi e disse ao condutor para a conduzir a Fátima onde se realizavam as cerimónias anuais. -Tem a certeza? Perguntou o condutor. Os custos são elevados devo preveni-la. - Leve-me o mais rápido possível a Fátima que será pago. No trajeto bastante longo a mulher começou a sentir-se mal e pediu água fresca. O dono do carro sentiu que se tinha metido numa grande alhada, mas tentou remediar parando numa estação de serviço onde comprou 2 garrafas de água. Foi ao voltar para o carro que as coisas se complicaram, a sua cliente tinha entrado em trabalho de parto contorcendo-se e em altos gritos alertou os presentes entre os quais uma enfermeira que se ofereceu prontamente para prestar os primeiros socorros. Levaram a Senhora para um espaço reservado e chamaram o INEM que chegou já depois de ter perdido as águas. Instalaram-na na ambulância e o mais competente afirmou terem tempo de chegar ao hospital mais próximo. - Peço-lhe que por favor passem pela basílica de Nossa Senhora de Fátima gostava de deixar depositada uma oração. Os funcionários olharam uns para os outros incrédulos ligando para o comando que tratou de tudo. Surpreendente como as crenças podem fazer mover montanhas sobretudo que não era a sua verdadeira religião. Esperava talvez um milagre depois dos erros cometidos, mas não se operou. Teria de assumir os seus atos, e como prémio uma linda menina acabava de nascer. Já meia recuperada pediu para telefonar ao futuro marido que acolheu a notícia com grande alegria e felicidade. - Vou já para aí para junto da nossa família. Fred… eu não sei como dizer-te, amo-te tanto, mas este filho não é teu. Não quero envolver-me em mentiras, como não desejava perder-te, foi um grave acidente que surgiu nem sei como, mas sabes que és o homem da minha vida! Fred, por amor de deus diz alguma coisa ou mata-me se achas que não te mereço. Eu preciso ouvir a tua voz… - E vais ouvi-la, diz-me só quem é o pai? O teu fred… Pelo rosto do rapaz passaram todas as cores de raiva, traído depois de abandonado não podia ser? - Que me dizes mulher infiel? Fred ficou destroçado como se lhe tivessem arrancado um órgão do seu corpo martirizado pela dor. Confiava cegamente na mulher que amava e foi atraiçoado por aquele de quem tentava recuperar o afeto e carinho, que esteve sempre ao seu lado nos momentos difíceis acompanhando braço no braço o drama que o atirou para a prisão que visitava frequentemente exprimindo palavras de reconforto, comportando-se como um verdadeiro filho que se transformou no farrapo mais manchado do mundo. Saiu de casa tão frustrado que não via nada nem ninguém. Vagueou pelas ruas desertas e escuras, entrou em bares e bebeu até cair num canto onde o álcool o aqueceu e adormeceu cheio de dores no coração. No dia seguinte dirigiu-se à prisão e sujo por dentro e por fora pediu para falar com o pai que não ficou surpreendido ao vê-lo, parecia que o esperava. Já tinha conhecimento do nascimento da menina e das peripécias advindas. Também estava a sofrer com a situação, mas os seus olhos derramavam lágrimas de felicidade. Disse apenas: perdoa-me filho

quarta-feira, 5 de julho de 2023

destinos

Destinos Ab 630 O dia estava nublado com nuvens negras que anunciavam uma trovoada a qual não se fez esperar. Chuva e granizo rapidamente inundaram a entrada da quinta, Fernando A correu para o carro deixando o irmão que não se moveu de lugar protegendo a cabeça enquanto a água lhe descia pelo corpo todo, mas não tinha forças para se levantar e a notícia que recebeu pareceu abalar um coração de alcoólico miserável enrolado em farrapos. Fernando meteu a chave do seu automóvel na ignição para fugir o mais rapidamente possível daquele lugar onde lhe barravam a entrada. Fazia marcha atrás quando reparou que o irmão estava levando com as intempéries sem se mover e doeu-lhe o coração deixar um individuo que agora sabia ser seu irmão, naquele estado deplorável podendo até morrer. Puxou o travão de mão energicamente, abriu a porta do passageiro e correu levantar o pesado corpo do irmão com grandes dificuldades, mas meteu-o no seu carro, sujo e cheirando a álcool que dificilmente se podia respirar no interior. Por fim disse: quando isto passar levo-te a casa dos teus avós, queiras ou não… -Impossível estão os dois internados. - Então indica-me o caminho que vamos diretamente para lá. -Queres ouvir-lhe o último suspiro é isso que pretendes? Estão gravemente doentes e o que tens para lhe dizer não vai alterar nada ao que meu… pai fez. Eu conhecia uma parte da história contada pela única mulher que amei, eles não. Contudo vamos visitá-los e avaliarei o seu estado antes de mostrar o ficheiro. Meia hora depois entravam numa loja vestimentária onde Fernando A pediu se era possível vestir o amigo dos pés à cabeça e se possível lavar-se? _para a duche terá de subir ao 2º piso onde lhe será fornecido todo o material para o efeito, enquanto nós tiramos medidas para um rapaz novo. Também foi chamado um cabeleireiro para cortar o cabelo e as barbas resistindo. Não quero que vejas os teus avós nesse estado de degradação pelos quais foste o menino mimado toda a vida. Uma hora depois saiam os dois como pessoas dignas, mas Fernando A acrescentou: - vou-te cobrar tudo até ao último cêntimo não penses que vais viver com custos que não suportarei. -Está bem – respondeu o outro, mas uma cervejinha agora caía como do céu… Entraram no elevador e no 4º piso na secção medicina seguiram o corredor até à enfermaria 708. - ´´E aqui o meu avô. Dirigiu-se ao seu leito e foi beijar o moribundo como sempre o fazia segurando-lhe as mãos com medo que partisse. -Que surpresa meu filho estás tão lindo já pensavas ser o meu funeral? - Avó? Sabe perfeitamente que o amo para além de tudo… Trouxeste um amigo contigo? Mais que um amigo, um irmão. Como assim? – Avô sente-se com forças para ler o que o passado manchou? - Que queres dizer com isso? Que só serão reveladas as notícias que o meu irmão traz consigo se me prometer que tem forças para suportar, e aviso-o que são pesadas. Venham daí essas notícias que eu não fecharei os olhos antes de saber. Dos seus olhos saíam rios de lágrimas, á medida que foi lendo, as mãos tremiam, e o coração batia a um ritmo infernal. Quando terminou chamou os dois e apenas disse: Senhor perdoai-lhe que não sabem o que fizeram. Despediram-se com um terno beijo, talvez o último da sua existência…. Foram juntos abraçar o outro irmão velho conhecido de Fernando A na queima de fitas em Coimbra

quinta-feira, 29 de junho de 2023

Escrevo no gelo o frio que me corre nas veias e paraliza os movimento de um corpo verde, envergonhado e frustrado. Não atingi a celebridade por aí perdida nem o grau curricular académico que não me estava destinado, refugiei-me na simplicidade caricata que melhor vestia uma personalidade rude e terna ao mesmo tempo, sem invejas nem remorsos, guardando a identidade que me foi atribuída à nascença, na pasta educativa valores e princípios adquiridos neste mundo cruel, feroz que tenta a todo momento embarcar-nos para as trevas desastrosas da infelicidade. Resisti às tormentas, mas embarquei no comboio sem destino. Volto raramente às raízes e um beijo ou um abraço de pessoas que não avistava havia tanto tempo, nutrem as nostálgicas saudades da terra que sempre tanto amei e que guardo num coração dorido que o passado me traz de volta numa bandeja de prata. Lembro-me dos que comigo caminharam, ou apenas deram alguns passos, e nestas reflexões medonhas, o coração quase para de bater, os olhos tornam-se nascentes de rios correndo sem destino, desaguando em oceanos cheios pelas mesmas razões. Tive tantos verdadeiros amigos que me abandonaram nas encruzilhadas da vida sem mentiras nem falsidade! Guardo deles o melhor que me tomaram, e o delicioso que me legaram. Amigo é um nome pesado que nos verga com exigências e nos inaltece nos momentos penosos por onde todos passamos. É o confidente1 onde podemos depositar a confiança e os segredos, as máguas e as penas, as alegrias e a esperança, a nossa vida em mãos que jamais vacilarao, ainda que a terra trema.... Amigo está à hora certa no local marcado, não mente nem foge às responsabilidades dos seus atos, mesmo mediante a a ameaça da força. Amigo é simplesmente amigo

terça-feira, 27 de junho de 2023

DESTINOS

Destinos e destinados por AB Cinco anos tinham passado, e na casa de Júlia e Firmino, era assim que se chamava o seu marido, situada na periferia de Penafiel, com um grande terreno de cinco hectares, onde as árvores frutíferas, a verdura, por onde se passeavam duas éguas amarelas domesticadas, para os passeios frequentes de Fernandinho, sempre acompanhado pela mãe, e um riacho correndo até uma airosa cascata, que extasiava os olhares mais insensíveis do mundo, rodeada de flores campestres em tempos de primavera, propagando um perfume e a paz de espirito, que os passarinhos festejavam com seus cantares, suaves, meigos, atraentes, tal uma sinfonia de Beethoven, “claro de la Luna”, muitas e maravilhosas coisa se tinham passado. Tinha cerca de dois anos Fernandinho, quando a felicidade lhe bateu à porta, sem programação, surpreendentemente, com agrado incontestável, ia ser mãe pela segunda vez, de uma menina, cujo progenitor era o seu marido Firmino, que quando lhe foi dada a notícia subiu aos céus de contentamento e alegria. Chamava-se Luana, de olhos azuis, cabelo encaracolado de um castanho claro doirado, umas bochechas faciais de beleza singular, sorridente e ao mesmo tempo tímida com os estranhos, mas intensamente afetuosa do mano, que apesar do carinho, tentava incutir-lhe uma extroversão moderada, tendo ela um temperamento bastante diferente do seu. Foi um dom de Deus que caiu naquele casal, que vivia já num banho de felicidade, mas, esta menina, veio apagar um passado já meio desvanecido. Era o aniversário dos cinco aninhos de Fernando, cerimónia realizada na herdade, por onde os numerosos hospedes se espalharam, após o copioso repasto, encomendado e servido por um reputado restaurante da região. Vestido com calças casaco e colete pretos, camisa branca, e um lacinho ao pescoço, sapatos a condizer, parecia um senhor, e não contrariava o fotografo, manifestando satisfação e educação, sempre que um conviva lhe dava os parabéns, respondendo com um: - Muito obrigado Firmino tinha-se esforçado muito para poder ter o conforto, que sempre sonhou oferecer à sua família. Dava aulas de dia e à noite, e fins-de-semana explicações, porque era o único salário do agregado familiar, visto que sua esposa não tinha podido trabalhar ocupando-se das tarefas da casa, e da educação dos filhos. Seus pais não eram ricos, porém, participaram com uma ajuda significante monetária para a compra a crédito da herdade que fazia a felicidade daquela briosa família. Fernandinho ia já ao infantário, e, as perspetivas eram gratificantes, inteligente, dedicado, e atencioso, diziam os professores, acrescentando: - este menino é um superdotado! Júlia não sabia como dizer-lhe que Firmino não era seu pai verdadeiro… já um dia lhe tinha sido perguntado pelo filho porque razão ele não tinha o apelido do pai… - quase todos os meus colegas falam dos nomes dos pais, mas o meu não é… - Fernando: creio ter chegado a hora de te revelar um segredo, esperava ser mais tarde quando tivesses a compreensão necessária, mas vejo que já podes compreender… -Compreender o quê mamã? - É uma história longa e complicada de adultos que cometem erros enquanto são jovens… - e a palavras não saíam… meu filho tu sabes o quanto eu e teu pai te amamos a ti e à tua irmã. - Nós também vos amamos muito… desculpa se fazemos por vezes asneiras… - Ó meu querido filho, as nossas asneiras são mais dolorosas… contudo temos de assumir os nossos atos, e antes que o venhas a saber por outros, vou contar-te: O Firmino não é o teu verdadeiro pai. - Que dizes mãe? - Tenho que te dizer a verdade, mesmo que me odeias. Foi há cinco anos, eu estava enamorada de um senhor, que casou com outra mulher. - Abandonou-te? Fui eu que desisti dele porque estava casado com outra mulher que não merecia a sua traição. Encontrei-me com o Firmino quando já te esperava, ele aceitou e até queria registar-te como filho seu mas eu recusei, porque eras meu e sempre serás. - E do pai não posso ser? - Claro que podes e deves porque ele ama-te tanto!