terça-feira, 5 de março de 2013

O NOSSO CASAMENTO


Foi em 1988 que dei o nó, como se costuma dizer em linguagem do povo. Na véspera, um dia 13, sexta feira, e, dia de superstição, convidei todos os meus amigos residentes em Portugal, mais os que estavam em Rebordainhos, de férias, no mês de Agosto, para festejar a minha despedida de solteirão. Encarregou-se o Vitório dos preparativos, referentes às bebidas e alimentação que pudessem saciar por volta de quarenta jovens bocas, no café da chave, lugar célebre e bem frequentado, cuja administração e gerência estava ao encargo do pai, que, especialmente esta noite, o deixou à nossa disposição para os festejos. Compareceram numerosos e bem-dispostos, e, com o decorrer da noite, a mariscada e as bebidas, arrasaram a noite toda, n’uma algazarra ensurdecedora, lamentada e criticada pela vizinhança, a qual se preparava para ir assistir à Eucaristia, quando nós saiamos, queixando-se: da pouca-vergonha

A filmagem e as entrevistas estiveram ao encargo do Tarcísio, cuja animação, depois de barriga cheia, constituiu uma verdadeira revista à portuguesa, com cantares, citações, embaraços, risos e vivas, vistos ao vivo logo naquela noite. Saímos de lá como “parrecos” (todos molhados) numa direta que ficaria para a história…



Teria dormido uma hora e já batiam à porta do meu quarto para me preparar que o casamento estava marcado em Murçós às onze horas da manhã. Impregnado numa ressaca atroz, de olhos semicerrados, tomei um banho de chuveiro frio apressadamente, vesti o meu fato Ives S. Laurent, camisa e laço Pierre Cardin, calcei uns sapatos pretos da feira, meti-me no carro e ups… cheguei atrasado á Igreja, já o Pe. Delfim Batouxas esperava e desesperava com a falta de pontualidade. Sentou-se n’uma cadeira junto do Altar-mor, convidou-me a ajoelhar. Deduzi que se preparava para me confessar, mas, ainda estava eu acabar a confissão já ele me abençoava, dando-me três ave-marias para rezar, dirigia-se a passos largos para a sacristia, a fim de se paramentar.
 



O casamento é um ato ponderado, refletido e de grande responsabilidade. Porém, a cerimónia do meu, decorreu enquanto dormia e sonhava com a vida alegre, e a felicidade da qual desfrutei ao máximo, até aos meus 37 anos… aventuras, convívios, grandes e numerosas amizades, aprendizagem física e intelectual, liberdade, guardando sempre bem presente na minha memória, os valores morais e os princípios cívicos que me foram preconizados.
Nunca comemorámos as datas do nosso casamento. Realizou-se, como tantos outros, na terra da esposa, no meu caso em Murçós que mal conhecia, e que demorou o seu tempo a adotar, tão grande e forte é o amor à minha terra mãe…


porém, com o decorrer do tempo, integrei-me perfeitamente, e hoje, não suporto nem admito que falem mal desta terra nem desta gente, e, sempre que me é solicitado um serviço ao meu alcance, aquiesço prontamente sem restrições. Vivo aqui, como já vivi em diversos lugares do globo terrestre, e, apesar de me ser apontado o dedo como a um forasteiro, sinto-me como o peixe na água… afinal foi aqui que eu casei…




















4 comentários:

Anónimo disse...

Em primeiro lugar os meus parabéns pelas "bodas de prata".
Já levo mais dez anos adiantados e sou feliz! Sinto-me suspeita, mas adoro ser casada. Acho a vida a dois muito melhor que a vida a um, e a vida a quatro (com duas filhas) ainda melhor que a vida a dois e fico logo tentada a dizer que devemos esperar o máximo, porque é ao máximo que todos temos direito. E que bom poder contar com essa felicidade como pão fresco todos os dias à nossa mesa.
Um abraço para ambos.
Eduarda

antonio disse...

Obrigado Eduarda. Quanto ao seu raciocínio sobre a vida familiar, concordo totalmente... acrescento: que a família é a nossa principal razão de viver... os filhos e os netos alegram, e muitas vezes motificam o nosso dia a dia, quebrando a monotomia que nos apraz.
Saudoso abraço

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho

Tenho quase a certeza de que as tuas bodas de prata se celebrarão lá para Agosto. E que bom deve ser comemorar um quarto de século de vida em comum! Eu teria celebrado as minhas em 2010, mas a mofina não deixou. Apesar disso, partilho cada uma das palavras da Eduarda e das tuas, a secundá-la.

A vida em comum com a pessoa que escolhemos é uma bênção que lançamos sobre nós próprios. Assim, que Deus vos continue a bafejar!

Um grande beijo

antonio disse...

Obrigado Fátima. Apesar do destino ter sido cruel para contigo, ainda tens a coragem e o tato de felicitar os que tiveram melhor sorte... tenho a certeza que o João não esqueceria essa data... também não gostaria que ficasses triste ao recordá-la... assim sendo, alguem com poderes decide por nós... apesar de ser uma passagem para todos nós. Pelo que não vale a pena discórdias, porque a vida passa como um alustro. Beijos