Teatro de ruas
Certo dia, num soalheiro do lugar, encontraram-se dois
compadres e a conversa que era de atualidade começou assim:
- Já sabe compadre?
- Isto anda tudo podre, compadre.
- É verdade… intigamente, íamos cagar atrás de uma gesta e
quando passava por perto um qualquer dzia: - olha aqui cagou um cão… oje vai
tudo a esse pnic, focboc, ou lá o qu’é, rebiram o retrato, infeitão-o mesmo que xeire mal, põe por baixo:”gosto”
- É um-a cambada de falxos, chamamles amigos! I até os á que
limpão o rabiosque antes de fazer o serviço…
- Olhe, bou fumar um atado,quer um?
- Ai n’um quero não… essa garotada xamam-le “jarro”… jato ou
outra cousa axim, que os leba à lua, mas cá p’ra mim, rompe-le é os bolxos ós
pais…
- Oh compadre… voçameçê o qu’é que dize? È um provisório…
- Atão tamãe bai de testemunha do rinhoso e da lembedeira?
- Cu demo… nem me diga nada… lá me bão dar cabo do dia! Mas
tem ke pagar a viaje e ó jantar lá no podense… ixo n’um se le scapa…
- Pois ou mandeios pro raio ki os parta… mas se o regidor m’obrigar…
já biu? No noxo tempo, dabamos um murros nos fucinhos, ou um-a sacholada e n’um
era preciso tanta balburdia…
- Isto stá podre compadre…
NO TRIBUNAL
Um dos compadres foi chamado ao Juiz e desconfiado lá foi
avançando lentamente até à barra. Olharam-se olhos nos olhos um do outro com
carrancas de quem não se quer bem, e por fim foi quebrado o silêncio.
O Juiz – Nome, profissão, data de nascimento…
- Hã?
O Juiz enfastiado virou-se para o Ministério público e
segredou: - Para minha desgraça é mouco…
- Diga lá então o que sabe deste arguido…
- de quem? – lá xamão-le o rinhoso das carbalhas.
- Responda.
- Ou só o bi a tirar uns retratos àqueles canelhos das
bestas que lá inserram, mas a lembedeira dize qu’ele andou por aí a pedir dinheiro p’ra
fazer um auzilo p’ós belhos, e depois o três pelos botou-o abaixo, i ó outro gastou-o
pr’a fazer uma barraca n’um lameireo de Macedo…
Juiz – Quer dizer que demoliram um lar antes de ser construído?
Como pode ser isso?
- isso já num xei, pergunte ó advogado k inda não abriu as
beissas…
Risos na sala, e carrancas no Juiz que acrescentou. O Sr.
que veio aqui fazer?
- Olhe bim mais por causa do ranxo que me bão pagar no
Podence.
Entrevem o advogado. Não pode falar assim…
- Contou-me o mou neto que a lembedeira falou muntro mal do
rinhoso lá no pnic ou lá o qué… e por causa d’um espelho quela mando roubar e
era do rinhoso… coitada! Eu tenho pena, quer dzer se os lubasse a todos o diabo
não era grande o prejuízo…
Juiz – Mas… porquê?
- Tudo feito da mesma massa… querem é mamar na cabritinha,
como dize o bigodes, o resto é conversa… uns dizen k fizeram, outros dizem que
fazem, mas é enquanto n’um sobem pr’o poleiro, ou atão bá lá vossemecê a ber…
pombais onde num á pombas, fontes onde não corre água,, ruas e casas belhas a
cair como nós, e bibam a merendas…
O Juiz deu por terminado o interrogatório e mandou chamar a
outra testemunha, que de andar firme e rosto imperturbável, foi à barra,
respondeu a todas as perguntas, como um propagandista nas feiras da torre.
- Pois é Sr. Dr. Juiz… estes fedelhos de agora não tem mais
que fazer, então pegam-se por tudo e por nada… n’outros tempos tudo era
resolvido no birar d’uma cadornize… e olhe que não recebiam nada! Juizo
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