domingo, 24 de janeiro de 2016

A lembedeira e o rinhoso

Teatro de ruas
Certo dia, num soalheiro do lugar, encontraram-se dois compadres e a conversa que era de atualidade começou assim:
- Já sabe compadre?
- Isto anda tudo podre, compadre.
- É verdade… intigamente, íamos cagar atrás de uma gesta e quando passava por perto um qualquer dzia: - olha aqui cagou um cão… oje vai tudo a esse pnic, focboc, ou lá o qu’é,  rebiram o retrato, infeitão-o  mesmo que xeire mal, põe por baixo:”gosto”
- É um-a cambada de falxos, chamamles amigos! I até os á que limpão o rabiosque antes de fazer o serviço…
- Olhe, bou fumar um atado,quer um?
- Ai n’um quero não… essa garotada xamam-le “jarro”… jato ou outra cousa axim, que os leba à lua, mas cá p’ra mim, rompe-le é os bolxos ós pais…
- Oh compadre… voçameçê o qu’é que dize? È um provisório…
- Atão tamãe bai de testemunha do rinhoso e da lembedeira?
- Cu demo… nem me diga nada… lá me bão dar cabo do dia! Mas tem ke pagar a viaje e ó jantar lá no podense… ixo n’um se le scapa…
- Pois ou mandeios pro raio ki os parta… mas se o regidor m’obrigar… já biu? No noxo tempo, dabamos um murros nos fucinhos, ou um-a sacholada e n’um era preciso tanta balburdia…
- Isto stá podre compadre…
NO TRIBUNAL
Um dos compadres foi chamado ao Juiz e desconfiado lá foi avançando lentamente até à barra. Olharam-se olhos nos olhos um do outro com carrancas de quem não se quer bem, e por fim foi quebrado o silêncio.
O Juiz – Nome, profissão, data de nascimento…
- Hã?
O Juiz enfastiado virou-se para o Ministério público e segredou: - Para minha desgraça é mouco…
- Diga lá então o que sabe deste arguido…
- de quem? – lá xamão-le o rinhoso das carbalhas.
- Responda.
- Ou só o bi a tirar uns retratos àqueles canelhos das bestas que lá inserram, mas a lembedeira dize  qu’ele andou por aí a pedir dinheiro p’ra fazer um auzilo p’ós belhos, e depois o  três pelos botou-o abaixo, i ó outro gastou-o pr’a fazer uma barraca n’um lameireo de Macedo…
Juiz – Quer dizer que demoliram um lar antes de ser construído? Como pode ser isso?
- isso já num xei, pergunte ó advogado k inda não abriu as beissas…
Risos na sala, e carrancas no Juiz que acrescentou. O Sr. que veio aqui fazer?
- Olhe bim mais por causa do ranxo que me bão pagar no Podence.
Entrevem o advogado. Não pode falar assim…
- Contou-me o mou neto que a lembedeira falou muntro mal do rinhoso lá no pnic ou lá o qué… e por causa d’um espelho quela mando roubar e era do rinhoso… coitada! Eu tenho pena, quer dzer se os lubasse a todos o diabo não era grande o prejuízo…
Juiz – Mas… porquê?
- Tudo feito da mesma massa… querem é mamar na cabritinha, como dize o bigodes, o resto é conversa… uns dizen k fizeram, outros dizem que fazem, mas é enquanto n’um sobem pr’o poleiro, ou atão bá lá vossemecê a ber… pombais onde num á pombas, fontes onde não corre água,, ruas e casas belhas a cair como nós, e bibam a merendas…
O Juiz deu por terminado o interrogatório e mandou chamar a outra testemunha, que de andar firme e rosto imperturbável, foi à barra, respondeu a todas as perguntas, como um propagandista nas feiras da torre.
- Pois é Sr. Dr. Juiz… estes fedelhos de agora não tem mais que fazer, então pegam-se por tudo e por nada… n’outros tempos tudo era resolvido no birar d’uma cadornize… e olhe que não recebiam nada! Juizo


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