terça-feira, 2 de janeiro de 2018

A viagem de comboio

 Um dia de solidão, desconsolo, e lamentavelmente nublado, em que a soma de: 2+2 nunca dá 4, estendi-me junto da lareira que ardia alegremente sem se sociar dos problemas mundanos, e, no silencio que perdurava, li um livro mentalmente, que comparava a vida a uma viagem de comboio. Uma comparação extremamente interessante, quando bem interpretada. Interessante, porque a nossa vida é como uma viagem de comboio, cheia de embarques e desembarques, de pequenos incidentes pelo caminho, de surpresas agradáveis com alguns embarques e de tristezas com os desembarques. 
Quando nascemos ao embarcarmos nesse comboio, encontramos duas pessoas que, acreditamos que farão connosco a viagem até o fim: Nossos pais. Não é verdade. Infelizmente em alguma estação, eles desembarcam, deixando-nos órfãos de seus carinhos, proteção, amor e afeto. Mas isso não impede que durante a viagem, embarquem outras pessoas interessantes que virão ser especiais pra nós: nossos irmãos, amigos e amores. 

Muitas pessoas tomam esse comboio para um mero passeio. Outras fazem a viagem experimentando somente tristezas. E no comboio há, também, outras que passam de vagão em vagão, prontas para ajudar quem precisa. Curioso é considerar que alguns passageiros que nos são tão caros acomodam-se em vagões diferentes do nosso… Isso nos obriga a fazer essa viagem separados deles. Mas, não nos impede de, com grande dificuldade, atravessarmos o nosso vagão e chegar até eles. Difícil é
 aceitarmos que não podemos sentar-nos ao lado deles, pois outra pessoa ocupa esse lugar. Essa viagem é assim… cheia de atropelos, sonhos, fantasias, esperas, embarques e desembarques. Sabemos que esse comboio jamais voltará. 
Façamos essa viagem da melhor maneira possível, tentando manter um bom relacionamento com todos, procurando em cada um o que tem de melhor, lembrando sempre que, em algum momento do trajeto poderão fraquejar, e provavelmente, precisamos entender. Nós mesmos fraquejamos algumas vezes. E, certamente, alguém nos entenderá. O grande mistério é não sabermos em que estação desceremos. E fico pensar… quando eu descer desse comboio sentirei saudades? Sim. 
Deixar os meus filhos viajar sozinhos será muito triste? Separar-me dos amigos que durante esta grande viagem fiz… do amor da minha vida, será doloroso? Mas, agarro-me à esperança de que em algum momento, estarei na estação principal, e terei a emoção de vê-los chegar com a sua bagagem, que não tinham quando embarcaram. 
E… o que me deixará feliz, é saber que de alguma forma, eu colaborei para que essa bagagem tenha crescido tornando-se valiosa. Neste preciso momento, o comboio diminuirá a velocidade para que embarquem e desembarquem pessoas. Minha perspetival aumenta, à medida que o comboio vai diminuindo a velocidade.. Quem entrará? Quem sairá? 
Eu gostaria que você pensasse no desembarque do comboio, não só como a representação da morte, mas, também, como o terminal de uma história, de algo que duas ou mais pessoas construíram e que, por motivo ínfimo deixaram desmoronar. Fico feliz por saber que certas pessoas como nós, têm a capacidade de reconstruir para recomeçar. Isso é sinal de garra e de luta, é saber viver, é tirar o melhor de "todos os passageiros".

1 comentário:

João disse...

Gostei muito. Um Bom Ano com muita saúde!