quarta-feira, 13 de março de 2019

Destinos e destinados

 Destinos e destinados  por António Brás
Carlos e Júlia, encontraram-se um dia, num dos locais mais belos, que serviu de testemunha, daqueles momentos mágicos de paixão, onde as palavras eram desnecessárias, e um olhar terno bastava para a cumplicidade do adultério consumado. Havia uma grande cascata onde as águas cristalinas caíam e se desfaziam tal como as lágrimas dos seus cândidos olhos, e os corpos inertes sentados na erva fresca à beira do riacho debaixo dos amieiros, que guardariam eternamente tudo quanto ali foi dito e feito.  Carlos veio amuado enquanto conduzia, adivinhava o que Júlia tinha para lhe dizer com tanta urgência… conhecia-a tão bem que chegou a recusar encontrar-se com ela, naqueles lugares que lhe pertenciam, e jamais poderiam ouvir frases que não fossem de amor… porém, também sabia as consequências dos seus atos, embora tendo a convicção de que as suas relações jamais teriam fim.
Júlia falou-lhe num tom firme irreversível, um mês após o casamento de Carlos, e já depois de lhe ter dito que esperava um filho dele…
-Tudo tem um fim, meu querido; a nossa história foi linda e ficará para sempre gravada no meu coração… contudo, somos dois adultos, pelo que devemos assumir as nossas responsabilidades, sem azedumes nem esperanças vãs… tenho já um namorado a quem contei toda a nossa história, o que segundo ele, não terá repercussões para o nosso futuro, se realmente as nossas relações tiverem um corte absoluto… queria também adotar o nosso filho quando nascesse, o que recusei, como recuso também que lhe seja dado o teu apelido… este será o meu filho que terá apenas uma mãe e dois avós que o amam já antes de nascer.
Carlos ia protestar, quando a moça lhe cortou o pio dizendo:
- Tens uma esposa a quem deves lealdade que também espera um filho teu, ela sim tem direito, eu fui apenas um brinquedo usado conscientemente, com quem brincaste aos apaixonados, mas, a partir de agora imploro-te que me deixes em paz assim como a minha família. Aqui está a encruzilhada, - e pegando num pedaço de pau que se encontrava por perto, desenhou no chão os caminhos, pelos quais teriam de seguir, fossem eles sinuosos ou não, jamais se voltariam a cruzar.


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