domingo, 17 de março de 2024

Destinos e destinados 640B Fernando C tinha agarrado a mão do avô como se a pudesse guardar para sempre, quando ouviu dois homens vestidos de branco dizer: - Vamos ter de levar o corpo. Acompanhou a avó à sua enfermaria onde ficou instalada durante quinze dias que os separou, o que nunca tinha acontecido. Nas suas visitas o neto notava a fragilidade e preocupava-se com o seu estado de saúde., mas numa noite fatídica partiu serenamente ao encontro da paz. Fernando C sentiu-se só neste mundo de percalços onde a luta é constante que para uns traz a felicidade e para outros o desespero, a tristeza e a solidão. Tinha uma família que desconhecia, e ninguém para lhe dar afeto e carinho em momentos tão difíceis. Pela sua mente passaram soluções para acabar com tamanho sofrimento, e quando quis pôr em prática os seus intentos apareceu o seu anjo da guarda, uma das criadas que tinham resistido às tempestades, já com os seus 80 anos, tendo passado metade da sua vida a servir aquela casa, considerada e amada que retribuía. Tinha passado a noite à vela, como se adivinhasse o que iria acontecer naquele quarto onde a luz permanecia acesa e duas velas ardiam na mesinha de cabeceira onde se encontrava também um quadro com a fotografia daqueles que o criaram, mimaram e subsistiam às suas necessidades materiais. Com ela trazia uma faca de cozinha, e imediatamente cortou a corda que pendia do tejadilho, pedindo auxílio telefonicamente. – Foi só um susto o rapaz está bem, com a sua ajuda, gratidão. Estas notícias estavam expressas no jornal da manhã e o meio irmão ficou atónito deslocando-se imediatamente para o hospital. Entrou na enfermaria e silenciosamente tentou ficar a seu lado combalido e triste quando o outro abriu os olhos envergonhados pela culpa. Deram-se um apertado abraço, mas as palavras não saíam da boca de nenhum. Passaram longos minutos aconchegados um ao outro até que o culpado em voz trémula pediu que o perdoasse. Sim tens o meu perdão se me prometeres que vais lutar com a vida e tentar ser um verdadeiro homem. Desta promessa saiu uma luta constante, primeiro contra os vícios que o minavam e em seguida inscreveu-se num liceu particular para adultos pondo em prática todas as suas potencialidades intelectuais que fizeram o seu caminho e o levaram à universidade de Coimbra onde tirou um curso superior de arquitetura, com financiamento do que o Avô que tinha depositado numa conta secreta onde só o Notário teve acesso e a desbloqueou para fins necessários como dizia o testamento. Também a herdade lhe pertencia compensando Carlos, seu filho, com apartamentos rentáveis para lhe não faltar nada

sexta-feira, 15 de março de 2024

Dia de sorte complemento AB Os grandes portões de ferro abriram uma clareira por onde passou o corpo emagrecido de Francisco, com um saco cheio de nada, a vestimenta guardada havia anos, degradava-o e os pequenos passos hesitantes pareciam não acreditar, que aquele era o seu dia de reencontro com a liberdade. Olhou o céu incrédulo onde as nuvens de negro vestidas ameaçavam retirando-lhe a visão de um sol brilhante que tantas vezes imaginou no silencio de um quarto vazio e frio, na solidão que lhe martirizava o ser, na esperança que tantas vezes julgou vã, no refúgio de um manuscrito que relatava o mistério que envolvia traições, violações e morte, com o preço pago a pronto. As suas empresas tinham frutificado graças aos bons gestores que se empenharam profundamente sem preconceitos, excelentes profissionais, e uma limousine branca esperava-o à distância de alguns metros. Uma criança correu para o abraçar, talvez mandada pela mãe mais reticente onde se podia ler o pecado dos seus atos. Ele recebeu-a com um abraço que á miúda pareceu uma eternidade. – Minha filha! Murmurou entre dentes, - se soubesses o quanto te amo que por ti resisti a tudo para um dia te acariciar e amar como um verdadeiro pai. - Então porque choras? Perguntou a inocente que sabia tudo sobre os acontecimentos, que a mãe se empenhou em legá-los, sempre com fotos que a ajudaram a crescer sabendo que estava preso e que não era autorizada a visitá-lo. A mãe recebeu um beijo na fronte, confirmação de que estaria sempre com elas, independentemente do que pudesse acontecer. Dirigiram-se os três para a limousine que os conduziu a moradas diferentes, como tinha sido acordado previamente pelos adultos. Chegaram á propriedade cercada com muros altos e um porteiro esperava-os para os conduzir através de magníficos jardins onde o perfume penetrava nas narinas e o olhar vislumbrava de prazer. As escadarias dos dois lados davam-lhe uma delicadeza acolhedora, no cimo, uma criada toda de branco vestida e avental de serviço dou-lhe as boas vindas. Entraram e um cachorro fofinho veio de encontro à menina como se soubesse que seriam grandes amigas, foram distribuídos os aposentos de cada uma, passaram pela salinha confortável até chegar ao quarto da menina que ficou surpreendentemente sem voz, incrédula com o que via. Este vai ser o meu quarto? -perguntou. Sim este é o teu quarto. Gostas? - Se gosto? Como poderia não gostar? -Francisco tinha conversado na véspera com a mãe da filha deixando firmemente que entre eles jamais haveria outras relações que não fossem de encontro aos interesses da filha. Depois ausentou-se com um beijo ternurento nas bochechas da filha. Voltarei quando estiver instalado no Hotel onde tenciono descansar em paz.

terça-feira, 5 de março de 2024

assassinos à solta

Aquele dia… AB Foi num desses dias, naquela estrada que tantas vezes vimos, ladeada de acaliptos direitinhos, por onde o sol entrava e com seus raios nos cobríamos, de mãos dadas e apertadas por tudo e por nada riamos, o amor segredava-nos aos ouvidos e com beijos os cobríamos para por ninguém serem roubados nem mesmo presenciados, era o nosso mundo selvagem que a felicidade abrangente escureceu e de repente, já bem perto, as chamas galgavam consumindo o que apanhavam e em cinzas se transformavam, como se do inferno viessem, trazer o pânico semear o medo, aos que por entre o arvoredo tentavam fugir ao degredo, deixando para trás o que amavam que num canto escuro se refugiavam, e os desesperado coitados tentavam fugir para todos os lados, mas só se viam automóveis embraseados e dentro deles corpos calcinados, acudam gritavam alguns já meio sufocados, procurando por todos os lados águas que pudessem vencer um mafarrico á solta ou encomendado. Já não tinham lágrimas para derramar nem alento para continuar, era um combate vencido, porque as armas que não tinham, e tantas esperanças perdidas, martirizavam suas cabeças enlouquecidas, em cada passo que davam, erguiam os olhos ao céu e suplicavam, que os deixassem pelo menos viver, depois de tudo perder. Tudo cheirava a fumo, à morte que os alcançou, à descrença que os condenou, tornando-os mártires daquele dia sem abrigo e sem nada somente o pó da estrada, que o vento dum dia varreu, mas a borracha não apagou tanto sofrimento grande desgraça esquecimento do que passaram, que jamais alguém poderá compreender O QUE SE CHAMA SOFRER

sexta-feira, 1 de março de 2024

Reflexões

8. Soneto de fidelidade – Vinicius de Moraes De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Destinos e destinados 854 AB De volta a casa onde sua mãe o esperava preocupada, assentou-se no grande salão, pedindo à mãe que viesse para junto dele. Era um homem e como tantos outros também chorou agarrado àquele volante que o dirigia já por costume porque na sua cabeça ia tanta confusão alimentada por erros irremediáveis que se cometem enquanto adultos, recorrentes de ilações que só o perdão pode corrigir, ou a vingança agravar. Correu os seus dedos finos suavemente pelos cabelos daquela que lhe deu a vida, fixando-a com uma ternura como a imensidão do mundo, enquanto as palavras demoravam a sair, como se estivessem presas aos sentimentos que a alma manifestava silenciosamente. - Tu queres-me pedir alguma coisa tão pesada que te paralisa? - Queria apenas contar-lhe a crueldade da vida, onde toda a gente anda envolvida sem saber para que lado fica a saída. -Filho? Não me deixes em tão grande ansiedade, conta-me antes a verdade, talvez eu possa ajudar, e juntos como sempre podemos chorar, ou talvez remediar? - É a história de um dossier, que meu pai ao falecer me legou, e hoje já não sei o que fazer, conversar contigo e dar-te a mão, aquela que ele te deu, num dia triste quando te encontrou, abusada, abandonada com tanta dor, e em troca de nada te ofereceu carinho, afeto e a casa onde viveu tanta coisa em troca de nada, porque os bons seguem sempre a mesma estrada. Aqui está o teu passado esperando ser abandonado porque de que servirá a vingança? Hoje desloquei-me a casa dos teus antigos patrões para lhe pedir explicações e eles ignorantes coitados, lutavam com a vida enquanto o seu neto amado, caído no chão esfarrapado com barbas de metro e meio, alcoolizado, drogado abandonado a tremer de fome e frio, que não conseguiu abrir a porta da herdade, nem mesmo à campainha tocar pedir que alguém o viesse ajudar. O avô internado e sem nada saber, esperava apenas o neto par morrer. - Ó meu adorado filho, não tens de ser tu a carregar, coisas tão graves do passado? E Fernando A com os olhos a lacrimejar, contou á mãe o seu dia atributado. Resta-me agora mãezinha, conhecer outro irmão meu, e não guardo rancor àquele que tanto te fez sofrer, está pagando lentamente, e se um dia lhe salvei a vida, paguei como paga a gente honesta atirando para fora o que não presta. - Esse irmão já o conheces, juntos estudaram em Coimbra, embora em cursos diferentes, mas uma visita é primordial, e verás que família tão linda unida e carinhosa, e a mãe que tantas coisa sabia, escolheu o caminho da felicidade. Tenho muito orgulho de ti e abraçou-o longamente

sábado, 24 de fevereiro de 2024

Dia de sorte 829 s AB Antes de regressar a casa, depois de tão triste notícia Fred sentia-se desorientado, responsável, e para amaciar os seus tormentos, mandou construir uma capelinha para a qual foram transladados os restos mortais da mulher que lhe salvou a vida, Não reparava o erro do esquecimento, e jamais teria a paz desejada, foi apenas um gesto que simbolizava a importância que ela teve na sua vida, contratou pessoas para que as rosas brancas nunca faltassem junto do seu corpo. E prometeu vir visitá-la sempre que pudesse. Á entrada, escrito com letras douradas surgia o pedido de perdão. De volta a casa, pediu que o deixassem chorar em paz e foi a noite toda assim. Logo pela manhã tomou um duche de água fria, vestiu-se para ir trabalhar, e enquanto tomavam o pequeno almoço desvendou os acontecimentos da sua infeliz viagem. O constrangimento notava-se no rosto de todos os presentes, e a tristeza de nada poder fazer em semelhantes condições. Fred continuava com um peso grande sobre o coração, mas a vida era assim com a crueldade que a caraterizava. Tinha uma empresa para visitar, tomou o transporte mais rápido para não faltar à reunião bastante importante, já no avião que o transportava, pediu os jornais do dia. Foi um deles que requereu a sua atenção. Uma foto do pai deixando a prisão onde permaneceu encarcerado, pagando os seus erros, a mulher que fora sua com um tímido olhar, e a filha, sua irmã radiante correndo para os braços do pai. Este quadro onde se inseria, a traição, trouxe-lhe uma lágrima ao canto do olho, era aquela a sua família que o destino desviou do bom caminho que anos passaram e o rancor não tinha diminuído. Fechou subitamente o jornal, e o resto do dia foi passado como quem lhe tinha roubado a vida, projetos que foram por água abaixo, esperanças destroçadas, e a vítima fugindo do que não poderia fugir a vida inteira. A sensibilidade que o caracterizava, veio tantas vezes à tona da água, mas o sofrimento levou a melhor. Tinha subido na hierarquia, e ganho batalhas que muitos consideravam perdidas antecipadamente, com perseverança e a força de quem se bate neste mundo feroz, e não tinha visto o tempo passar. Meditou por instantes no que era e no que poderia ter sido a sua vida, faltavam argumentos que o afeto e carinho tinha enterrado, que jamais voltariam. Meditou no fato de passar o resto do seu viver afastado de caricias e amor que uma família traz ao seio de um verdadeiro lar, e não concebia um viver assim. Tinha jurado de nunca mais amar ninguém, talvez num momento de desespero, mas, os filhos que tanto gostava de ter assediavam uma esperança que apenas parecia vã... rodeavam-no pessoas capazes de fazer a sua felicidade, uma delas era a filha do patrão que só tinha olhos para ele. E o seu dia de sorte chegou no momento menos esperado. Viajava num cruzeiro quando Aline se assentou à sua mesa, pedindo educadamente se lhe era permitido. Fred ficou como um adolescente admirando aquela beleza, abstrato à resposta que a elegante e esbelta rapariga esperava com aquele olhar cativante de um verde majestoso e um lindo sorriso que se dissipava pouco a pouco receando a recusa. Finalmente, levantou-se e como um verdadeiro cavalheiro retirou a cadeira e num gesto simples disse apenas: todo o prazer será meu, congratulo-me e agradeço que me acompanhe para o resto das nossas vidas se tal for o seu desejo. Ela soltou uma gargalhada que não passou despercebida na sala, Fred, envergonhado já não podia retirar o que disse. Parecia um adolescente magoado, mas a companheira de nacionalidade Holandesa fazia esforços para na linguagem que não era sua, tentando recuperar os cacos partidos. Foi um dia maravilhoso passado no grande barco onde o beijo do amor fechou o episódio de dois adultos que á primeira vista foram invadidos pelo “coup de foudre”

domingo, 4 de fevereiro de 2024

Infortunios

Como pode um ser humano desviar-se do trilho traçado, tantos anos passados a formar uma família para em poucos segundos a destruir, deixando uma mágoa profunda nos corações que a conheciam e com ela percorreram caminhos árduos deixando tão grande manxa na pureza da alma e na brancura da neve que sobre um solo amaldiçoado caiu? As tentações maléficas levam-nos a cometer actos irreparáveis e ninguém se pode julgar ao abrigo delas. Parecemos tão fortes e somos tão fracos! Fraquejamos por coisas banais, por insignificâncias que nos arrastam para a crueldade como se fosse heroísmo, desarmando-nos do que possuímos de justos e bons para nos largarem num lamaçal de tristezas e dor que jamais sarará. Será que vale a pena percorrer tão longo caminho para chegar aqui? Sermos amados e estimados para chegarmos à conclusão desesperada e deixar que a dor e a tristeza reparem os nossos erros? Perdoai-lhe senhor que não sabe o que fazem - dizia Jesus para terminar este parágrafo. E eu apenas posso dizer dai-lhe senhor o eterno descanso. Sinceros pêsames para a família e amigos AB