sexta-feira, 15 de março de 2024

Dia de sorte complemento AB Os grandes portões de ferro abriram uma clareira por onde passou o corpo emagrecido de Francisco, com um saco cheio de nada, a vestimenta guardada havia anos, degradava-o e os pequenos passos hesitantes pareciam não acreditar, que aquele era o seu dia de reencontro com a liberdade. Olhou o céu incrédulo onde as nuvens de negro vestidas ameaçavam retirando-lhe a visão de um sol brilhante que tantas vezes imaginou no silencio de um quarto vazio e frio, na solidão que lhe martirizava o ser, na esperança que tantas vezes julgou vã, no refúgio de um manuscrito que relatava o mistério que envolvia traições, violações e morte, com o preço pago a pronto. As suas empresas tinham frutificado graças aos bons gestores que se empenharam profundamente sem preconceitos, excelentes profissionais, e uma limousine branca esperava-o à distância de alguns metros. Uma criança correu para o abraçar, talvez mandada pela mãe mais reticente onde se podia ler o pecado dos seus atos. Ele recebeu-a com um abraço que á miúda pareceu uma eternidade. – Minha filha! Murmurou entre dentes, - se soubesses o quanto te amo que por ti resisti a tudo para um dia te acariciar e amar como um verdadeiro pai. - Então porque choras? Perguntou a inocente que sabia tudo sobre os acontecimentos, que a mãe se empenhou em legá-los, sempre com fotos que a ajudaram a crescer sabendo que estava preso e que não era autorizada a visitá-lo. A mãe recebeu um beijo na fronte, confirmação de que estaria sempre com elas, independentemente do que pudesse acontecer. Dirigiram-se os três para a limousine que os conduziu a moradas diferentes, como tinha sido acordado previamente pelos adultos. Chegaram á propriedade cercada com muros altos e um porteiro esperava-os para os conduzir através de magníficos jardins onde o perfume penetrava nas narinas e o olhar vislumbrava de prazer. As escadarias dos dois lados davam-lhe uma delicadeza acolhedora, no cimo, uma criada toda de branco vestida e avental de serviço dou-lhe as boas vindas. Entraram e um cachorro fofinho veio de encontro à menina como se soubesse que seriam grandes amigas, foram distribuídos os aposentos de cada uma, passaram pela salinha confortável até chegar ao quarto da menina que ficou surpreendentemente sem voz, incrédula com o que via. Este vai ser o meu quarto? -perguntou. Sim este é o teu quarto. Gostas? - Se gosto? Como poderia não gostar? -Francisco tinha conversado na véspera com a mãe da filha deixando firmemente que entre eles jamais haveria outras relações que não fossem de encontro aos interesses da filha. Depois ausentou-se com um beijo ternurento nas bochechas da filha. Voltarei quando estiver instalado no Hotel onde tenciono descansar em paz.

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