A CASA DA “ VIÚVA”
É assim que toda a gente fala em Murçós. Não fazem referência exclusiva à vivenda daquela Senhora, cujo nome era, segundo informações recolhidas: Josefina, mas, que todos lhe ficaram a chamar a “viúva”. Tal como seu nome, herdara da alta sociedade, os bons princípios, valores e dons de bondade, caridade e outros adjetivos qualificativos, que lhe assentavam como: “luvas”. Seu património era talvez o maior da Aldeia, prédios rústicos e urbanos. Dezenas de pessoas trabalharam para esta Senhora, uns por devoção, outros por obrigação, todos recebendo as devidas e justas remunerações.
- Era uma Santa mulher! Cá havia duas assim, para com os pobres…
Confidenciou-me recentemente uma pessoa, a quem a vida nestes tempos, não acordara facilidades de sobrevivência.
Suponho ter havido suspeições do autor do furto, mas para comprovar, o Sr. Cidões, mandou vir de Macedo as autoridades, e, num domingo, após a Eucaristia, ordenou à saída do adro, que se reunisse toda a população num curral próximo, a fim de serem revistados, e firmassem com as impressões digitais, pondo o dedo indicador numa folha de papel. Esta imposição provocou discórdias, indignação e ofensa, nesta gente honesta cuja honra era posta em causa, mas, quem não deve não teme, e o teste foi realizado sem sucesso, já que a dúvida prevaleceu, e o dinheiro roubado, a voar…
O Sr. Paixão, (Sargento como lhe chamava o povo) era compadre do Sr. Cidões, este último padrinho de uma filha do primeiro. Trazia consigo, da tropa, onde fora Sargento, um comportamento disciplinar de rigor, e de justiça, pelo que não perdoou ao compadre a humilhação sofrida na inspeção, e, num dia de acarreja, assentado o Sr. Cidões sobre uma pedra, junto da eira, (largo frente à casa do Avelino) com o queixo encostado a uma espalhadoura, olhava do outro lado os obreiros a carregar de trigo ou centeio, os carros, enquanto esperava. Por detrás surgiu o Sargento, silencioso com um “sacho” na mão, desferiu o golpe fatal. Conduzido a Macedo, o Sr. Cidões acabou por falecer, e o Sargento preso e condenado a 15 anos de prisão.Estes acontecimentos são hoje lamentáveis e sem moral. Não há dinheiro que pague uma vida…
A narração e o relato destes acontecimentos tem por exclusivo objectivo homenagear ama grande Senhora, personalidade da Aldeia, esperando não avivar na mente dos familiares um passado infeliz.
SE houver factos que não correspondam à verdade agradecia que me fossem comunicados para serem rectificados
4 comentários:
Tonho
É verdade que a vida não tem preço, mas também é verdade que há pessoas que não conseguem viver com a honra manchada. Claro que não estou a desculpar o "Sargento", estou só a compreendê-lo.
Beijos e obrigada por esta história que fala muito sobre quem nós somos e o modo como entendemos a vida.
Fátima: em primeiro,lugar quero agradecer-te não somente a visita como os comentários formulados segundos as tuas intuições, com franqueza e sinceridade.
Este caso, cuja narração ouço diariamente, teve graves consequências no âmbito familiar,escrevi-o mais para homenagear uma grande Senhora, e, como aparece como "viúva", julguei oportuno citar as razões.
Espero não ter ferido a sensibilidade dos familiares.
Beijos
Tonho
Longe de mim pôr-me do lado do carrasco: não posso, não devo e não quero justificar um assassínio, ainda por cima premeditado. A minha simpatia, não duvides, vai toda para as vítimas - a pessoa que foi morta e a família que, por aquilo que dizes, apesar da tragédia, conseguiu manter-se generosa.
Beijos
Fátima: não necessitavas justificar-te...tinha compreendido isso, e jamais duvidei da tua sinceridade, concebendo a todos o direito de julgamento pessoal... sei perfeitamente, de que lado nasceste e para que foste educada, com muito orgulho familiar do qual ainda me toca um " cibinho". Beijos
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