sexta-feira, 10 de julho de 2015


 De Fernando Calado

… quase poema… ou das saudades

Às vezes precisamos de lavar a vida… abrir a janela que dá para o sol nascente e esperar que as rosas vermelhas perfumem as mãos fora de tempo e tudo aconteça hoje… o amanhã não existe nesta continuidade intemporal onde o relógio parou à beira do infinito.
… tenho saudades tuas que chegues no abraço que não termina e onde cabem todas as madrugadas… e sorrias num sorriso imaterial… no fim do tempo das cerejas, ou no adivinhar do sabor doce das maçãs grávidas de Verão… sumo na boca…
… tenho saudades tuas e do segredo que se esconde atrás duma porta aberta para o desconhecido onde só se ouvia o teu coração bater no descompasso verde lima-limão da surpresa da chegada!

 … espero-te sentado à minha porta tu sabes que eu gosto de sentir o fresco da minha Serra de Nogueira… da serra da minha nossa Senhora da Serra… esperando e envelhecendo… contando os anos pela chegada das andorinhas… e pelo partir das cegonhas em voo planado que levam nas asas os sonhos dos que partem e dos que ficam.
… vem depressa… quando vieres pode ser ao anoitecer… mas vem… pode ser numa noite de lua cheia e se os meu olhos… cansados do fascínio das estrelas já não te encontrarem… afaga-me o cabelo com os teus dedos esguios e que sei de cor… aperta-me ao teu peito… e não digas nada… fica… deixa a porta aberta… e se eu te disser: - és tão bonita… e eu quero-te tanto!… é por que ainda te reconheci… na longa espera… neste amor infindo… sem tempo… nem lugar… nem condição…
… e nas mãos terei sempre a flor sol que me deste… era Verão! e sorrias!
… quando se ama espera-se… e tudo será claro e definitivo… quando vieres… esfinge que adormece rente ao desejo de te beijar…
… fecha a porta de mansinho… e não digas nada da longa espera…
… um dia falaremos… do amor… do morrer de amar!
… um dia…
… quando vieres!

... não passes pela serra; o asfalto da estrada sinuosa revoltou-se deixando visíveis as afiadas pedras que cortam... e os desavergonhados camarários estão-se nas tintas para os passantes... Alvores desavergonhados... trastes que visitam a Aldeia por suposta  cordialidade, e exigem 100 euros para a celebração da missa no Santo António... mas foi uma cerimónia linda! embora somente para os ignorantes...Uma passadeira de flores tecida e colorida, que custou à promessa 300 euros... almoço em comunidade restrita aos da mesma cor, para não haver mistura de venenos e envenenados... não houve distúrbios como receavam os manipuladores... a aldeia ficou bem-vista embora estejam a pagar caro os custos dos atos mantidos para dissimular as aparências... perdi-me neste ambiente maquiavélico, e, se é no silencio que me refugio, sinto que se despedaça estilhaçando-se todo o meu ser... os valores que me inculcaste tornaram-se granadas prestes a explodir... Sinto tanta e tamanha raiva crescer dentro de mim, mas sei que a luta foi perdida antes da batalha começar. Levanto-me, seja tarde ou cedo, entra-me pelas narinas um ar asfixiante... fecho as portas e janelas... que tumulo tão esburacado! Olho as ruas sem nome como se vagueasse pelo deserto, as portas sem número, e os cães que me olham de soslaio recatando-se pelos cantos para ladrar sem serem ouvidos... não ouso aventurar-me num passeio noturno com receio  de ser estrangulado numa esquina... e sofro tanto com este viver de presidiário que cometeu apenas o crime de ajudar os que precisavam! A ingratidão é tão malvada...molho os lábios ressequidos com água comprada porque aqui já não a há... e paga-se... e as análises revelam : imprópria para consumo. São já tantos e tão flagrantes os casos  de desvario, negligência, desprezo, abandono, que pesam na consciência, que um cálice do tamanho do "asador de vinhais" repleto de hóstias não bastaria para colmatar as falhas de cidadania e honestidade...e os sinos tocam dando sinais... quem é, quem não é? - e eu digo: mais um que não suportou as injustiças, nem aqueles que as pregam. Suicidem-se os bons que dos maus está o inferno cheio...Tentem viver harmoniosamente trancando as portas das casas... toca o telefone... tornou-se o único meio de comunicação juntamente com a net onde se pode dizer tudo e mais alguma coisa a preços acessíveis ainda que com certos riscos... volto para os meus jogos culturais... saturo-me e saio... na rua os raios solares abrasam-me, enquanto percorro as ruas: limpinhas, limpinhas... sobretudo em volta da igreja e café... pudera! O fundo de desemprego deu emprego a três carenciados e dois oportunistas por um ano... tudo passa pelo staff nazi, aquele que levará Camilo Castelo Branco a reescrever: a perdição (sem amor).Quem te cá chamou, que te "emponte"... quem não está bem muda-se... "les habilles ne font pas le moine" " les chiens oboient et la caravane passe" diz-me de onde vens e dir-te-ei quem tu és... e ouço a banda musical e o Sinatra: Strangers in the night. Vivo amargurado amaldiçoando a hora em que decidi vir para aqui... torturado com a certeza de que só abandonarei este calvário entre quatro tabuas...se pelo menos me sepultassem na terra abençoada onde nasci?


4 comentários:

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho

Tu próprio o escreveste: os cães ladram mas a caravana passa!

Desce mais vezes a serra, por iniciativa tua, vontade tua e desejo teu, porque isso das quatro tábuas será em tempo que nos não pertence e é caminho que não nos apazigua.

Um grande beijo

antonio disse...

Obrigado Fátima pelas sempre amáveis palavras. Beijos

Anónimo disse...

Tonho,

É bom voltar a ouvir-te.
Não desanimes, as cascas que nos envolvem, por mais pesadas que sejam, depressa caem, as primaveras voltam sempre e nós, enquanto quisermos e Deus nos permitir, cá estaremos para as viver.

Um grande abraço.

Orlando Martins

antonio disse...

Obrigado Orlando. Sei que és um verdadeiro amigo, e é com sinceridade que tentas incentivar-me a remar a contra-corrente, rodeado de hipocresia e manifesto orgulho de ser ou não ser inundados de egocentrismo ilusionista, falso, traidor que verga para o lado dos poderosos ao minimo fracasso desfavorável ás ambições de liderança vaidosa inútil. Amigos e familiares tudo no mesmo saco. Agradeço imenso a tua preocupação, quando talves precisasses de tantos ou mais incentivos que eu. Sei reconhecer quem finge e quem é verdadeiro no que diz ou faz, e o que me fere mais é saber que certas pessoas, conseguem voltar a seu favor manipulações e aldrabices. Como dizes, o que fica por dizer é sempre o que tem mais valor. Abração