quinta-feira, 24 de agosto de 2017

E quando...

E quando a terra tremer… por debaixo daqueles passos tão leves, levarei comigo a aragem; a bruma que oculta o meu ser. A pena que já não seguro nas mãos, esgueira-se por entre os dedos hirtos, crocitam os corvos voando, ouvem-se cães ao longe a uivar, adivinha-se uma desgraça, murmuram as feiticeiras invisíveis ao luar.
E quando a luz se apagar, ao longe deixe de enxergar, a silhueta da mulher que sempre amei; partirei com um peso no peito… com a paixão que me matou, com a ilusão que perdurou no fluxo que nos encontrou.
Foram tantas e tão lindas as pétalas, dos malmequeres que ambos desfolhámos, mas… foi tão madrasta connosco a vida! Poderemos voltar a encontrar-nos? Não queria desacreditar-te! Aquela oportunidade que fugiu, e para tão longe levou, nossos sonhos de encanto, nem para trás olhou… dessa corrida desenfreada, restam vestígios de dor, sequelas que jamais sararam, do que se chama grande amor.
E quando deixar de ser, aquilo que jamais fui, voltarei aos lugares prediletos, àqueles cantos e desencantos aos nossos cantinhos secretos… onde te apertava a mão, e sentia dentro de mim o bater do teu coração; adivinhava-te uma lágrima a cair por entre a escuridão, desses olhos encantadores, que te molhavam o rosto chegando ao meu coração; no firmamento corria uma estrela, sem destino nem direção, iluminava nossas noites cálidas, de ardorosos beijos ternos intermináveis, era a nossa oração…
E quando tudo acabar, e já não houver tempo para amaldiçoar, nem sequer para perdoar… Ó vida mãe! Vida doçura!... Que para nós foste madrasta dão dura… embala no teu colo nossos e vossos, teus e seus, faz a estrela brilhar naquela noite medonha escura que me conduziu à sepultura.
E… quando o “croquemort” chegar, com coroas das mais lindas flores do jardim, perfumadas de cera e incenso, não tentem gritar por mim, levem-me apenas num silêncio profundo, para junto daqueles que pertenceram ao meu mundo; a terra que tanto amei, onde estão os caminhos que pisei, os meus sonhos de homem e criança, onde nasceu a esperança, onde ninguém me olhou com desconfiança.
E quando os sinos tocarem e para a última morada me levarem, parem somente uns segundos diante da casa onde nasci, porque me quero despedir dos momentos que ali vivi tão profundos.
E…



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