sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

O Reino maravilhoso

 O reino Maravilhoso
É assim que começa esta história; com um título que pertence a outras histórias, mas, tão semelhante às ocorrências reais nesta pacata e tão acolhedora Aldeia que é Murçós em tempos de recolta da azeitona.
Formam-se grupos, uns maiores outros mais pequenos, segundo as possibilidades de cada um, e logo pela manhã, ainda antes do nascer do sol, começam a ouvir-se alaridos e o roncar dos motores, dos atractores, carros carrinhas e mesmo o trotar de bestas já raras neste lugar. O nosso, intitulei-o, não dos sete, porque por vezes eramos mais, mas dos nove anões, tendo como branca de neve a geada que cobre campos, caminhos e arvoredo, com um manto branquinho e espesso derivado das baixas temperaturas durante a noite, (-3 graus) e do que por cá lhe chamam (senceno) nevoeiro. Encapuchados dos pés à cabeça, acomodados dentro de carrinhas de dois lugares, ou em cima dos reboques, lá íamos a tiritar de frio, até ao vale-grande, bicho ou jeropia, como  Schtroumfs encurralados por caminhos agrestes que o mato 
bravo vai tentando invadir. Todos os dias, à mesma hora, lá ia o casal de mais de noventa anos, agarrados à caroça puxada por um macho, dando exemplo aos menos corajosos que se ficam acomodados no conforto das suas casas, stressando, e acarretando depressões nervosas. Posso eu garantir ser uma das melhores terapias para a cura de males imaginários, de sensações de velhice e outros fatores que nos minam pouco a pouco, se nos deixarmos levar pela autodestruição moral ou física.
Chegados ao local de trabalho, retiravam-se os farrapos que pudessem impedir o desempenho das funções previamente definidos, uns com as máquinas, outros com varas e finalmente os da “lonas”. Havia entreajuda sempre que necessário, e como lobos lançávamo-nos ao derrube das oliveiras, como se diz lá para Ferreira, com coragem boa disposição, e sempre em mente o 
mais importante que era trazer para casa o maior número de kilos de azeitona para orgulho do patrão mais novo a quem vamos chamar REZINGÃO. Logo que os raios luminosos e quentes de sol apareciam, traziam com eles a boa disposição. Falava-se de tudo quanto pudesse trazer bom ambiente, troçávamos com carinho daquele que escorregava e caía naquele terreno acidentado com proporções de elevação fora do comum, do que escorregava nas lonas que pareciam lugares de patinagem, daquele que deixava escapar uma frase mais infeliz, do que se passava nos outros ranchos, recolhido como um jornal no café do Reis à noite, cantava o FELIZ oliveiras castanheiros, José Cid em inglês, e todos soltavam uma gargalhado que superava o ruido das duas máquinas, e o SABICHÂO deixava-se cair de riso, mas, logo o REZINGÂO se fazia 
ouvir chamando à ordem o pessoal; é talvez o melhor derrubador da terra com a máquina e uns bíceps que fariam inveja ao Rombo. Eu, único COTA sentia-me bem no meio da juventude, que vinte anos atrás jogaram futebol comigo, tendo tido sempre um espirito aberto na evolução dos tempos, dos meios,  e até dos juízos, mas tive os meus puxões de orelhas por parte do REZINGÂO que tinha olhos em toda a parte… Também a MIUDINHA lançava de vez em quando farpas que desapareciam de imediato porque quem tem bom coração tem tudo.
Chegado o meio dia, o SABICHÂO ia acender o fogo para os assados, e já no olival começava a cheirar a adobe do lombo que assava na grande grelha, assim como as chouriças e aleiras, que 
dias antes foram enchidas para este efeito. ATCHIM sentia o fumo entrar-lhe pelas narinas e dava uma olhadela ao relógio, porque também já a barriga dava horas. Finalmente ouve-se a ordem do rancho, e todos nos dirigimos e colocando-nos em volta da lareira, onde assavam alheiras chouriças e costela, mas sobretudo dos assados, salpicão caseiro, queijo, marmelada e frutas para sobremesa, não esquecendo o iogurte que a tia maria me mandava por saber das minhas restrições. Vinha também sempre café numa termos, e o bagaço como complemento. O ENVERGONHADO libertava-se e soltava uma piada para aqui, enquanto mastigava lentamente encostado a um canto.
Era realmente o melhor momento do dia, o da merenda, e o reino maravilhoso com paisagens fabulosas, abria-nos o coração para que os nossos olhos se deliciassem com a pureza e magnificência da natureza antes de voltar ao trabalho. Por terras de Murçós, no reino maravilhoso, viam-se finalmente pessoas por todos os lados, carros e animais. 

. ATCHIM sentia o fumo entrar-lhe pelas narinas e dava uma olhadela ao relógio, porque também já a barriga dava horas. Finalmente ouve-se a ordem do rancho, e todos nos dirigimos e colocando-nos em volta da lareira, onde assavam alheiras chouriças e costela, mas sobretudo dos assados, salpicão caseiro, queijo, marmelada e frutas para sobremesa, não esquecendo o iogurte que a tia maria me mandava por saber das minhas restrições. Vinha também sempre café numa termos, e o bagaço como complemento. O ENVERGONHADO libertava-se e soltava uma piada para aqui, enquanto mastigava lentamente encostado a um canto.
Era realmente o melhor momento do dia, o da merenda, e o reino maravilhoso com paisagens fabulosas, abria-nos o coração para que os nossos olhos se deliciassem com a pureza e magnificência da natureza antes de voltar ao trabalho. Por terras de Murçós, no reino maravilhoso, viam-se finalmente pessoas por todos os lados, carros e animais, era 
, era sorridentes para dar amor e tudo quanto a casa produz. Herança daquele maravilhoso homem, chamado tão cedo pela injustiça do destino, mas que continuamos a lembrar carinhosamente, publicitando os seu grandes dons do saber viver com humildade.
Foi o dia da “burra”, o fim da recolta que coincidiu com o aniversário dos gémeos adultos. A mesa encheu-se em volta de um festim preparado pelas mulheres da casa, com petiscos especiais que o Vítor Fernandes, como sempre traz; desta vez javali e coelhos do monte, pão- de-ló bolo rei e vinho do bom, e no calor deste exemplar lar, comeu-se e riu-se durante horas, num convívio fraternal até que o bolo chegou à mesa (com duas velas e um fachuco) e as rolhas da champanhe saltaram, a luz apagou-se, e em coro cantamos os parabéns aos aniversariantes. Este ano não ouve fogo de artificio, falha do habitual pirotécnico, por rasões que poderiam levantar polémicas, porque ele nunca falha! É um amante apaixonado da terra, considerado e respeitado pelo seu sentido de humor, carácter “coule” tal como o pai Poulo
 meu grande amigo. No seu coração não existe ganancia. Fomos varejar o seu olival; aquele que ele chama o melhor do mundo, e surpreendentemente, não se queixou de nada mesmo parecendo que tinha menos azeitona que os outros anos. Comemos o grande pão- de-ló que trouxe, carregamos as sacas e levou-as ao lagar tradicional de Ferreira. O rendimento compensou os kilos a menos, e os seus olhos luziam de felicidade, pelo liquido cor de ouro que faria feliz também mulher e filhas. Não por necessidade mas por amor à camisola. Se os homens do mundo fossem todos com tu, caro amigo não haveria tantas injustiças nem guerras na terra. Obrigado pelos bons momentos que me vais proporcionando, e pela amizade sincera um grande abraço 
Por António Brás Pereira texto e imagens





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