quinta-feira, 1 de março de 2018

Tocam os sinos

 E que saudades, Deus meu!Há noticias que nos entristecem; e eu gostaria tanto poder dar só boas notícias! Porém, a realidade dos fatos transporta-nos, emerge-nos, deixa-nos impotentes, subjugando-nos até à perplexidade, e quem sabe à indignação… Lutar? Com que armas? As ferramentas fornecidas pelas novas tecnologias sobrepõem-se às tradições herdadas dos nossos antepassados ficando apenas nostálgicas lembranças do que foi, onde foi e como se praticava, simplesmente…
Já somos poucos os que vão á Igreja assistir à eucaristia, a não ser quando somos obrigados por situações de falecimentos, casamento e raros batizados! Mas devemos sempre ter em conta que um dia virá em que realmente precisamos… É tão orgulhoso pegar nos andores em dias de festa à vista de tanta gente, vestidos com fatinhos de gala, numa procissão majestosa, através dos olhares curiosos, alguns vindos com a máxima devoção, outros talvez não, que se resume a uma lição que me ficou na mente:
Pelas ruas da nossa Aldeia
Vai passando a procissão
Tamborileiros à frente
E logo atrás o condão
Mordomos da confraria
Levam os anjos pela mão
Muito grave o juiz da festa
Dá ordens ao sacristão





- O nosso sino vai ser automatizado com um relógio – Dizia o Sr. Pe. Manuel no final da Eucaristia de Domingo; acrescentando: Não há quem queira tocar o sino pelo que já foi elaborado um orçamento que ronda os 4000 euros para o relógio e a devida instalação elétrica.
Na minha perplexidade, e concordando com o facto de encontrar uma alternativa, dei comigo a pensar se não vai ter de se robotizar os portadores das lanternas e da cruz, assim como os que transportam os andores, os que tocam a campainha, e os que levam o recipiente de água benta? Entre outros. Que ninguém considere as minhas palavras como uma critica, muito pelo contrário admiro e felicito os que trabalham benevolamente e incansavelmente para podermos usufruir das belezas florais e lavagem das toalhas, passadas e engomadas! Estar sempre ali para que tenhamos uma dignidade e beleza dentro e fora da nossa linda igreja, não é paga com dinheiro nenhum…  Quem substituirá os que desempenham estas funções, quando sabemos que não se encontrou ninguém para tocar o sino?...  Temos realmente pena, porque era uma tradição bonita tocar os sinos como uma sinfonia, como não existia no concelho e talvez até no distrito? Para além do transtorno que vai causar o toque todos os quartos de hora… mas enfim!





1 comentário:

Unknown disse...

OS SINOS DA MINHA ALDEIA


Já se calaram os sinos da minha aldeia.
Ficaram belos, pintados de novo,
De braços suspensos em cabrestantes,
Tais como Cristo numa cruz,
Hibernam sonolentos sem luz.
Mas já não tocam…

Os sons do sino e da sineta,
Do campanário granítico da Igreja,
Lavavam almas, davam-nos paz.
Tiravam-nos agruras e cansaço
Uniam-nos em fraterno abraço
Mas já não tocam…

Já não se dobram os joelhos na arada húmida
Que ao som das Trindades se acomodam,
Em meditação e descanso vespertino.
Mas não,… já não tocam…

As correntes presas às suas cabeças
Apenas estão para memória,
Dos que em breve serão história…
Os badalos morrem de tédio,
E não seja um funeral clamar por eles,
E ali se mantêm…
Quietos pendurados e sem remédio.

Os sinos da minha aldeia tocam…
Dão horas e meias horas e não param
Com um robótico mecanismo
Cuja alma lhe expurgaram.
Em macabro exorcismo.

Os sinos são nossos,
E por mais que os pintem ou adornem
Permanecem na nossa vida….
Embora não toquem...



Aleluia…..
Redobrem os sinos,
Façam-nos voltar,
Porque hoje é dia de festa
E há almas a cantar…

Toquem os sinos…
Não a rebate para fogos,
Mas com o som angélico,
Que é de todos,
E de todos vai ficar…
Toquem os sinos da nossa aldeia,
..Porque eu, afinal,
Também eu vou rezar.

(Orlando Martins)