Já somos poucos os que vão á Igreja assistir à eucaristia, a
não ser quando somos obrigados por situações de falecimentos, casamento e raros
batizados! Mas devemos sempre ter em conta que um dia virá em que realmente
precisamos… É tão orgulhoso pegar nos andores em dias de festa à vista de tanta
gente, vestidos com fatinhos de gala, numa procissão majestosa, através dos
olhares curiosos, alguns vindos com a máxima devoção, outros talvez não, que se
resume a uma lição que me ficou na mente:
Pelas ruas da nossa Aldeia
Vai passando a procissão
Tamborileiros à frente
E logo atrás o condão
Mordomos da confraria
Levam os anjos pela mão
Muito grave o juiz da festa
Dá ordens ao sacristão
- O nosso sino vai ser automatizado com um relógio – Dizia o
Sr. Pe. Manuel no final da Eucaristia de Domingo; acrescentando: Não há quem
queira tocar o sino pelo que já foi elaborado um orçamento que ronda os 4000
euros para o relógio e a devida instalação elétrica.
Na minha perplexidade, e concordando com o facto de
encontrar uma alternativa, dei comigo a pensar se não vai ter de se robotizar
os portadores das lanternas e da cruz, assim como os que transportam os
andores, os que tocam a campainha, e os que levam o recipiente de água benta?
Entre outros. Que ninguém considere as minhas palavras como uma critica, muito
pelo contrário admiro e felicito os que trabalham benevolamente e incansavelmente
para podermos usufruir das belezas florais e lavagem das toalhas, passadas e
engomadas! Estar sempre ali para que tenhamos uma dignidade e beleza dentro e fora
da nossa linda igreja, não é paga com dinheiro nenhum… Quem substituirá os que desempenham estas
funções, quando sabemos que não se encontrou ninguém para tocar o sino?... Temos realmente pena, porque era uma tradição
bonita tocar os sinos como uma sinfonia, como não existia no concelho e talvez
até no distrito? Para além do transtorno que vai causar o toque todos os
quartos de hora… mas enfim!
1 comentário:
OS SINOS DA MINHA ALDEIA
Já se calaram os sinos da minha aldeia.
Ficaram belos, pintados de novo,
De braços suspensos em cabrestantes,
Tais como Cristo numa cruz,
Hibernam sonolentos sem luz.
Mas já não tocam…
Os sons do sino e da sineta,
Do campanário granítico da Igreja,
Lavavam almas, davam-nos paz.
Tiravam-nos agruras e cansaço
Uniam-nos em fraterno abraço
Mas já não tocam…
Já não se dobram os joelhos na arada húmida
Que ao som das Trindades se acomodam,
Em meditação e descanso vespertino.
Mas não,… já não tocam…
As correntes presas às suas cabeças
Apenas estão para memória,
Dos que em breve serão história…
Os badalos morrem de tédio,
E não seja um funeral clamar por eles,
E ali se mantêm…
Quietos pendurados e sem remédio.
Os sinos da minha aldeia tocam…
Dão horas e meias horas e não param
Com um robótico mecanismo
Cuja alma lhe expurgaram.
Em macabro exorcismo.
Os sinos são nossos,
E por mais que os pintem ou adornem
Permanecem na nossa vida….
Embora não toquem...
Aleluia…..
Redobrem os sinos,
Façam-nos voltar,
Porque hoje é dia de festa
E há almas a cantar…
Toquem os sinos…
Não a rebate para fogos,
Mas com o som angélico,
Que é de todos,
E de todos vai ficar…
Toquem os sinos da nossa aldeia,
..Porque eu, afinal,
Também eu vou rezar.
(Orlando Martins)
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