quarta-feira, 22 de maio de 2019

Destinos e destinados


destinos  por António Brás
Chamo-lhe destinos por acreditar que os nossos caminhos são traçados num hialino invisível, irrevelado, durante uma vida sem prazo, cuja longevidade depende exclusivamente de uma fração de segundos, sejamos ricos ou pobres, sábios ou ignorantes, protegidos ou desprezados, novos ou velhos, quando o sinal de partida surgir, para a última viagem, com bilhete apenas de ida.
Chamo-lhe destinados, aos que nasceram com caraterísticas idênticas, concebidos de formas semelhantes, paridos por uma mãe, partilhando da felicidade imposta pela ignorância, enquanto o cérebro não se desenvolve e atinge a compreensão, podendo assim fazer a distinção do bem e do mal, do bom e do ruim, do grande e do pequeno, do interessante e do insignificante, e por aí fora…
Os nove meses de gravidez das três mulheres cujos destinos foram traçados de maneira atribulada, “ com a ajuda de Carlos” chegavam ao fim, e os preparativos para a nascença das crianças tomavam rumos idênticos. Havia já certezas no género, três Rapazes, e no nome próprio que ia de encontro aos desejos expressados pelo progenitor, pequena fraqueza das mães, ou ironia do destino, chamavam-se Fernando, e eu apelidei-os dos três  FFF.
Havia apenas um mês a separar a nascença dos três FFF. O filho da Fernanda foi o primeiro a ver a luz na clinica de Arca D’água. O Sr. Félix acompanhou o parto com o carinho de um verdadeiro pai, e os olhos esbugalhados em lágrimas. Foi talvez o dia mais feliz da sua vida, sem esquecer o do casamento com a mulher que amou incondicionalmente. Quando o recém-nascido soltou o primeiro choro, agarrou com tanta força a mão de Fernanda e só a largou ao fitá-la nos olhos e aperceber-se que a estava a magoar. … Então pediu perdão, e beijou aquela mão frágil longamente como se fosse necessário provar-lhe que estava com ela de alma e coração para enfrentar as peripécias que o futuro lhe reservava, educar aquele filho que considerava seu.
Julia tinha casado com um homem que não tinha a beleza exterior do seu primeiro amor, mas era dócil, compreensivo, trabalhador, mas sobretudo amável e carinhoso. Tinha-se apaixonado por ela, e mesmo sabendo do seu passado recente amoroso, e da gravidez de um filho que jamais poderia usar o seu apelido, estava disposto a enfrentar todas as objeções, com honra, dignidade, oferecendo-lhe a felicidade de um lar… Era professor de Português e história na escola secundária de Penafiel, tinha aí uma reputação bem formada e era respeitado como homem de grandes valores. No dia em que sua esposa deu à luz o Fernando 2, velou-a toda a noite até que foi decidida uma cesariana devido a complicações do parto, por volta das três horas da manhã.  De manhã, exausto, foi procurar a primeira florista e ordenou que lhe fizessem o mais lindo ramo de flores para oferecer a uma Senhora. Entrou pelo quarto dentro, trémulo, e mudo com o olhar fixo naquele rosto dormente, lívido, mas de uma beleza singular, e foi o choro da criança que os acordou aos dois para uma realidade que os unia ainda mais. Aproximou-se do leito, e segurando ao de leve uma das suas mãos, beijou-a na fronte, enquanto uma lágrima corria e vinha refugiar-se no canto da boca.

Finalmente, Paula, a esposa legal de Carlos, entrou em parto numa clinica particular, na zona do Porto, onde deu à luz o seu filho denominado também Fernando por desejo do pai, que só visitou a mãe e o filho no dia seguinte, ordem e exigência dos seus pais, que achavam ser de uma mesquinhez invulgar o seu péssimo procedimento, perante famílias honradas e de renome. – Pode não se amar profundamente… mas, que diabo, nasceu um filho teu?
Carlos obedeceu, tal como sempre o fez, para salvar as aparências, mas, o seu coração batia por outra mulher, que também já não lhe podia pertencer, e sofria… sofria profundamente a desilusão dos seu próprios atos, o urdido em que se tinha enfiado sem ponderação nem consciência das mazelas que podia provocar, como um irresponsável, um puto mimado que se julgava com o direito de passar por cima de tudo e de todos sem refletir, e já nem sequer podia arrepender-se e voltar atrás… porque o tempo fugiu, a noite chegou e tudo escureceu.



sábado, 11 de maio de 2019

Passagens e passageiros

                       
   Passagens e passageiros: P or António Brás
Hoje acordei cedo. O dia estava lindo e os raios de sol penetravam através do cortinado da janela do meu quarto, convidativos, aliciantes ao passeio cotidiano de 5km por entre paisagens de beleza singular, um silencio apaziguador, e uma felicidade interna que me transpunha ao de lá dos tempos vividos na eufórica idade onde os sonhos são lindos, e as responsabilidades cedem o lugar ao manifesto desejo de morder a vida com todos os dentes, depressa não venha o monstro mau comê-la, por vezes inconscientemente, porque não nos ocorre reflexão, apenas viver, o presente envolvente repleto de fantásticas aventuras,  que nos movem emprenhando-nos a adrenalina da juventude, os prazeres mundanos, as vaidades que suportam o nosso ego, seguir em frente, mais longe sempre mais longe!
      Pelo caminho revejo o meu maravilhoso passado. Algumas entraves quando era puto superadas pelas maravilhosas aventuras, amorosas, desportivas, de entretinimento, aprendizagem, a autoestima, sem invejas nem rancores, lutando pelo que podia possuir, deixando aos demais a liberdade e o orgulho, do ser ou não ser…
Foram tantos os que partilharam comigo esta caminhada! Nesse tempo chamava-lhes amigos… Passageiros, de anos, meses ou apenas dias, mas que ficaram para sempre gravados na minha memória. Sei que é quase impossível, mesmo com as tecnologias que temos hoje, ter noticias vossas… Mas, gostariam tanto!... São tantos os caminhos que nos unem como os que
nos separam, e, nas encruzilhadas as placas direcionais apontam apenas para lugares! Será que nos reconheceríamos depois de tanto tempo passado? Num grande abraço reúno-vos a todos meus amigos, e a minha mente confraterniza convosco onde quer que estejais… Não podemos lamentar ou criticar o percurso da vida… é como um pequeno rio correndo veloz para desaguar ma imensidão do mar. Aí transforma-se vaidosamente com a grandeza dos oceanos, onde nadam milhares de peixes seguindo o ciclo da vida. Histórias para contar teríamos centenas, algumas alucinantes, outras ponderadas e de menos relevo, mas que fizeram parte integrante da nossa existência.
De volta a casa folheei um álbum dos anos 70, e reparei que estais como nas minhas nostálgicas recordações… faltam-me tantas fotos para recordar cenas inesquecíveis que juntos



 vivemos! Nomes que não ocorrem à minha memória, sintomas do envelhecer, da caminhada que se aproxima do fim; Mas foi tão lindo! Impregnados de amizade, fosse ela ou não passageira, demos alguns passos juntos, fizemos grandes caminhadas, chegamos finalmente ao destino traçado. Fomos filhos, fomos pais, tivemos netos, uma família que veio completar o que inicialmente começou com a nossa amizade.
Das numerosas aventuras fazem parte integrante algumas das fotos postadas. O improvisado tocador do bombo na banda do BC3, numa visita do brigadeiro…As nossas variadas atividades no mesmo quartel , no meu gabinete de transmissões radiotelegrafadas em morse, onde nos reuníamos os chamados: (doutores do BC3) por não fazermos serviços outros que a nossas
  especialidades nem formaturas; Eramos numerosos e de variadas especialidades: Criptos, enfermeiros, condutores, corneteiros, e rancheiros, onde o oficial de serviço se refugiava para comer uns petiscos ou dormir uma sonada.
No futebol de salão situado no 1º e 2º ciclo preparatório, com badges do revolucionário Vasco Loureço, Na Aldeia onde as equipas de futebol eram constituídas pelos elementos que vão tentar reconhecer. Junto do cruzeiro, com a zundap  XF17 de radiador que o Toninho tinha comprado novinha, e as amigas de longa data. No teatro improvisado na casa do povo do Outeiro… na minha rua com a cadelinha que todos adorávamos. Como me parecem longínquos estes tempos! Mas a amizade continuará para sempre no meu coração

                                                                                                                                      

quinta-feira, 2 de maio de 2019

Falecimento



Faleceu a Sra. Maria Joaquina, esposa do Celestino... mais uma guerreira lutadora, simples, amável e generosa que nos deixa enlutados. 
ESTA PÁGINA APRESENTA A TODOS OS SEUS FAMILIARES AS SUAS SENTIDAS CONDOLÊNCIAS
QUE A SUA ALMA DECANSE EM PAZ



quarta-feira, 1 de maio de 2019

O moinho do povo

Visita ao moinho do povo. Situado junto da ribeira, que hoje corria veloz, sem se sociar do acesso que se torna cada vez mais difícil, devido ao crescimento da vegetação, nem das numerosas e variadas recordações, das gerações de seis décadas, percorrendo estes caminhos sinuosos e de elevação bastante acentuada, carregando animais, burros, mulas, machos e até juntas de vacas, com cereais, (trigo, centeio e milho) e de volta trazerem uns alqueires de farinha, sustento de uma população, sujeita a privações, um trabalho árduo, mas, felizes com o pouco que obtinham com o suor e os sacrifícios que as novas gerações nunca poderão avaliar 
 ou compreender, porque hoje nasce-se em berços dourados… Já em ruínas, este moinho segundo relatos do mais velhos, moeu dia e noite, apagando a fome a numerosos seres humanos, e o moleiro improvisado, não tinha mãos a medir… era sempre a bombar! É um lugar paradisíaco, de uma beleza singular onde se pode ressentir uma paz incomparável, onde o ar puro enche os nossos pulmões, o olhar resplandece com tantas maravilhas, os ouvidos se enchem do cantar dos raros passarinhos, e o correr da água no seu percurso natural deixa-nos estupefactos de admiração. Também os raios de sol estiveram presentes, rompendo por entre 
 as árvores e dando um contraste às fotos de um colorido que supera a realidade. O perfume das urzes brancas e da giesta penetravam-nos as narinas, e uma sensação agradável vinha colmatar o lindo passeio que numa manhã de sol radiante de primavera nos convida a visitar estes lugares maravilhosos e desdenhados, em detrimento das grandes aglomerações poluentes e sem brilho quebra pelas torres em betão. Do lado de lá, o luzio, retoma o colorido verde, após a passagem do fogo destruidor. Por estes caminhos e “carreirões”, diz a minha esposa, percorreram a pés dezenas de pessoas, carregadas com uvas, figos e outros frutos que 
 a grande encosta da ribeira proporcionava aos moradores de Murçós, tal como a Reboreda de onde saiam todos os anos milhares de kilos de uvas, em carros de vacas, que dificilmente subiam este trajeto acidentado com acentuada percentagem. São lugares genuínos, lugares secretos e maravilhosos que o betão nunca poderá invadir. As “olgas” que outrora davam tanto a quem as “fabricava”, e os lameiros regados pela princesa ribeira, ficam hoje demasiado longe do povoamento, mas mantém o charme e a beleza incomparável. Lindo o nosso passeio!!!!