sábado, 13 de junho de 2020

O diplomata

 VIVERES:  por António Braz
Ficção
Tudo começou antes da segunda guerra Mundial, nos anos quarenta, quando foi enviado do México, um jovem rapaz, que tinha terminado brilhantemente os seus estudos, como diplomata de altos cargos, para a embaixada deste País em Paris. Tinha raízes Argentinas, que o ajudaram na integração e a desenvolver conhecimentos estatutários, sociais, de conhecimentos no seio da “alta” sociedade, restritiva e compacta, onde só havia lugar para os afortunados, reputados e reconhecidos no mundo da ingratidão, hipocrisia e autoridade. Dois anos depois, numa dessas receções gigantescas, no grande salão de trezentos metros quadrados, entre por volta de trezentos convidados minuciosamente escolhidos, cujo objetivo bem definido era urdir os casamentos, segundo os critérios, convenientes, talvez herdados, onde os protagonistas nunca eram consultados, e muito menos autorizados a recusar a escolha, que era a melhor para eles, pondo de parte os sentimentos, os quais viriam com o decorrer dos tempos, o Sr. Yturbe foi apresentado a uma jovem e linda rapariga, de vinte e três anos de idade, tímida, sem maquilhagem, de olhos castanhos, vestindo um vestido com flores que lhe chegava muito por baixo dos joelhos, sapatos escuros, que ia sorrindo quando a
abordavam, mas de imediato voltava a cair num silencio abstrato, enquanto esperava pela revelação dos progenitores, que, apesar de não lhe ter sido concedido um esclarecimento, tinha bem presente no seu pensamento, as razões daquela festa em sua honra. Chegou o momento crucial, e todos os convivas fizeram silêncio para escutar os pais da rapariga, embora já soubessem do que se tratava, mas era necessário para que ficasse bem registado na mente dos presentes e oficialmente. A partir dessa noite, e depois de o rapaz ter colocado um anel de rubis no dedo trémulo da moça, e acrescentar estamos noivos, bateram-se palmas seguidas de felicitações, os encontros entre os dois, sempre em locais públicos, não podiam ser criticados pela gente de baixo nível, e eram apreciados pelos da alta sociedade. 


Um ano depois casaram, numa grande propriedade na periferia de Bayonne pertencente à família. Foi uma cerimónia de “arromba” com centenas de convidados, fogo-de-artifício, e uma banda de músicos latina para acompanhar os acontecimentos os quais surgiram nos jornais e revistas da época. Deste casamento nasceram dois rapazes, o Yves e o Miguel, com diferença de idades de quatro anos, sendo o Miguel o mais velho. Nestas famílias cristãs e praticantes com assiduidade, vivia-se segundo as regras e condições impostas pelo verdadeiro cristianismo, que jamais infringiam. O pessoal de serviço que eram: um mestre cozinheiro, Espanhol, com tendências gays apesar de ser casado, duas mulheres de limpeza, a que servia as refeições, e o chofer, andavam vestidos a rigor e alinhados como se estivessem a fazer o serviço militar. A Educação do Miguel, rigorosa, num colégio interno de freiras, foi uma grande desilusão para os pais, embora saísse de lá com habilitações necessárias para trabalhar numa instituição bancária, era um rapaz triste, inibido, solitário, que dava a impressão de viver apenas por obrigação. Vivia num prédio de quaro andares, que pertencia à família, herdado após a morte dos pais da mãe, junto da maior praça de Paris, com vista para o arco de triunfo, no primeiro subsolo, num pequeno apartamento, remodelado especialmente para ele.
 Da pequena janela do seu apartamento, que dava para a rua de Presbourg, aós as 10h da noite, podia ver as prostitutas a desfilar, subindo para os automóveis dos clientes, para ir consumar os atos sexuais em hotéis próximos, até às tantas da madrugada, ele respeitava os valores e princípios que lhe inculcaram, ou seriam outras as razões, para nunca ter sido visto com uma mulher? Bem próximo dali, na avenida Foch, onde residiam os mais famosos e ricos do País, às tantas da madrugada, juntavam-se casais para troca, (partuses) mulheres ricas e viciadas, à procuro do sexo maior e mais potente, 
Homossexuais desdenhados à procura de um novo amor, travestis Brasileiros, e logo ao lado o bosque de Bolonha onde se praticavam poucas vergonhas, enquanto não foi proibido por lei. Yves era um rapaz mais jovial, um pouco “cabeça no ar” mas tinha desejos por mulheres, embora o sistema protocolar da casa não lhe permitisse expor-se, tinha as suas saídas esporádicas , encontros discretos, e quando começou a trabalhar, já tinha para cima dos quarenta, enrrolou-se com uma mulher com a qual casou e teve uma filha. Miguel saía para trabalhar e voltava à tarde sempre de cabisbaixo, e se se cruzava com a porteira, dava a boas horas, sem olhar nem esperar resposta. Na sua mesinha de cabeceira havia sempre uma garrafa de whisky talvez para o ajudar a suportar as mágoas secretas que trazia dentro de si.
O pai tinha falecido, e apesar de ser uma família de grande fortuna, com contas na Suíça onde o Sr. Yturbe se deslocava de tempos a tempos, as despesas eram extravagantes, para manter o pessoal, impostos e restruturações do valoroso prédio, e despesas com Yves que não trabalhava, e vivia também no seu próprio apartamento dentro do prédio. O contabilista sugeriu à viúva que alugasse um ou dois apartamentos no último andar, para ajudar a suportar os custos. O apartamento do segundo andar que a viúva e o pessoal de serviço partilhavam, durante o dia, tinha por volta de 600m quadrados, e os valiosos quadros, ou réplicas, porque os verdadeiros estavam bem guardados em cofres, pendurados nas paredes tinham a assinatura dos melhores pintores da época. No grande salão de 300m quadrados, os tapetes valiosos e antigos, suportaram numerosas festas com a intenção de casar os rapazes mas nunca resultou. Dos trezentos convidados que numerosas vezes aqui jantaram cozinhados importados dos mais reputados restaurantes Parisienses, acompanhados do melhor champanhe que chegava por encomenda em grandes caixas de 50 unidades, restavam as nostálgicas recordações. Mas, a Senhora, uma mulher espetacular, educada, bondosa, e que guardava a beleza por fora e por dentro, nunca se queixava, nem comentava com ninguém, qualquer que fossem os seus problemas. No seu intimo, teria desejado do fundo do coração  que os seus filhos tivessem fundado um lar, ter netos, mas sobretudo que lhe tendessem a mão quando era ela a ter de resolver tudo com dois filhos de mais de quarenta anos? Porém, acumulava todos os porquês dentro do seu coração, e como uma mãe galinha, protegia os frutos do seu ventre… tais como eram, com virtudes e defeitos.                  
 fotos retiradas do google


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