segunda-feira, 29 de março de 2021

Cai a madrugada


 Madrugada  por António Braz

Cai a madrugada! E na profundidade da paz envolvente, silenciam-se as  ruas as montanhas e o mar… adormece a dor, enquanto o vento, discreto e suave, tenta varrer a sujidade limpando as nódoas impregnadas na alexitimia marcante desenvolvida pelos seres humanos  à medida que o tempo vai passando, com subtileza perspicaz, engendrando caminhadas, pisando, saltando, menosprezando aqueles que outrora retiraram o pão da boca para lhes matar a fome, considerando-os e amando-os, amamentando-os, levando-os ao colo para que os seus pés nus e frágeis, não pisassem a lama, cansados, temerosos, implorando aos céus apenas alimentos, porque carinho e amor tinham de sobra para dividir em partes iguais.

Cai a madrugada, estão a acabar aqueles sonhos lindos que mantiveram uns olhos molhados, enquanto a noite não se fez dia, e os passarinhos dormiam serenamente, porque nem uma agulha bolía. Olho o telhado e vejo raios de sol querendo entrar? Fico triste e sem alento. Dou voltas e mais voltas na cama procurando a madrugada… não uma madrugada qualquer! Aquela que calou a dor. Que silenciou as ruas. Aquela que na sua bagagem trazia a paz o carinho e o amor. Também aqueles lindos sonhos, que me fizeram tão longe viajar por onde mais ninguém poderá andar, e muito menos roubar, aquilo que sempre fui, que me ajudou a caminhar pelas madrugadas sem fim


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