quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Por terras de beleza

esta foto não é minha

 Os vales

Uma terra como tantas outras, situada na encosta da serra da nogueira, isolada de tudo e de todos, mas, quem lá morou , tenho a certeza que amou este lugar singular de beleza natural, e foram poucos os privilegiados num pequeno aglomerado de quatro casas cujos residentes, dois ou três casais com filhos ainda pequenos que nunca lhes faltou pão batatas e o que davam os “cevados” para comer em dias e noites medonhas de inverno onde se ouviam os lobos uivar em tempos de nevões , bem perto do povoada, com fome, desesperados, mas o tio Raul, homem de pequena estatura já não temia, talvez por se ter acostumado, e também porque a “escopeta” estava sempre carregada e pronta para defender os seus entes queridos. Nunca cheguei a saber porque razão foi ali parar e construiu a sua casa, assim como depois os outros habitantes, a cerca de cinco ou seis km da freguesia, suponho que tenham sido as terras férteis que podia cultivar e extrair o pão nosso para cada dia embora o desconforto e a longevidade de outros aglomerados fossem fatores de risco que ele enfrentou sempre como homem de garra e luta. Não existia estrada apenas um carreirão por onde passavam

 
dificilmente os carros de vacas carregados com cereais e batata, que gastavam um dia para as levar à estação de Rossas onde eram enciladas e depois vendidas seguindo no comboio a carvão que transportava mercadorias. Era uma casa abastada, e os filhos, de quem me lembro melhor por terem apenas menos dois anos que eu, devem ter vivido um calvário em tempos escolares. Chegavam à escola todos os dias encharcados dos pés à cabeça tiritando com o frio e neve que nestes tempos eram rigorosos, onde uma braseira que a tia Benigna ou Maria Silva se esforçavam para ter à disposição dos professores, deixando o lugar por uns momentos às pobres crianças para aquecerem as mãos, e o resto do corpo ia aquecendo também por baixo das roupas ensopadas, de boa qualidade que o pai velava com ambição, e até muitas vezes veio com

eles até à ribeira para os ajudar a atravessar, por cima de umas pedras escorregadias com o coração num punho não fossem arrastado pelas águas neste tempos densas e velozes. O seu grande sonho era que os filhos tirassem um curso superior apesar das adversidades, e dois deles, inteligentes conseguiram. Levar para os vales a luz elétrica o que nunca aconteceu. Houve mais tarde um rompimento pela malhada velha onde se podiam deslocar os mais atrevidos com automóveis, mas a vida nos Vales já era. Havia também uns gémeos dos quais não me lembra o nome esses mais novos, mas que também ainda comungaram das dificuldades para se deslocarem a Rebordainhos ou a Lenção que era as aldeias mais próximas.

Quem morou neste paraíso de tranquilidade saudável não deve envergonhar-se de ter lá vivido, nem mesmo quando alguém mais atrevido lhes perguntar de onde são… pessoalmente sustento imensa admiração pelos pais e filhos que lutaram para vencer e o tio Raul deve ter partido orgulhoso com justificadas razoes. (Houve um lapso no nome da personagem que integra este texto, o qual já foi retificado com imensas desculpas aos familiares, amigos, conhecidos e leitores. Mea culpa

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