terça-feira, 5 de dezembro de 2023
Dia de sorte
Dia de sorte 829 AB
Fred deixou a casa onde lhe salvaram a vida banhado em lágrimas. Fez novamente a promessa àquela desgraçada mulher, de voltar para a levar para um lugar onde pudesse viver humanamente, agradeceu, e seguiu por caminhos que não sabia onde o levariam. Na sua mente reinava o desejo de retirar-se para o mais longe possível daqueles que lhe mataram o coração. No seu percurso, ajudado por camionistas que lhe deram boleia e muitas vezes lhe mataram a fome e a sede, pensava apenas ter um futuro e poder esquecer o passado num lugar onde não fosse encontrado com muitos sacrifícios como era evidente, mas a coragem de vencer aquela luta terrível. Atravessou vários Países à procura da sua própria cura, e durante algum tempo comeu o pão que o diabo amassou. Foi em Chipre que resolveu refazer a sua vida. Depois de empregos e desempregos, de dormir ao relento, de pedinte para enganar a fome, roto e de cabelos sujos e uma barba que lhe chegava ao pescoço, já quando desesperava, encontrou uma criança perdida a quem ofereceu ajuda. A menina dos seus 6 anos, olhou-o dos pés à cabeça e parecia reticente, mas era o seu dia de sorte, e encontrou-se com o seu anjo salvador, só teve que responder a uma inocente pergunta: -Tu és mau?
- Põe a tua mãozinha na minha e talvez tenhas a resposta que desejas.
A miúda obedeceu com certas reticências, mas um largo sorriso e um olhar meigo responderam por ela. O contacto passava agora entre eles como o ecoar de palavras longínquas, afetuosas, carinhosas como a voz de quem as prenunciava. Chamava-se Eleni mas não se recordava onde morava. Veio ter àquele lugar depois de sair da escola, porque ninguém estava à sua espera como de costume. As luzes encandearam aquele olhar angélico, e o coração bateu a um ritmo que ainda tremia.
- Não tenhas medo enquanto estiveres comigo nada nem ninguém te fará mal. Juro. Sabes onde moras? A menina maneava a cabeça negativamente. – Nesse caso temos de ir participar ás autoridades locais. Sei o número de telefone do meu pai, mas não temos como telefonar-lhe…. Vamos arranjar. Vem comigo. E mão na mão caminharam uns 100 metros onde viram luz numa linda casa do campo. Tocaram a campainha e uma criada que veio abrir ia dar meia volta, quando Fred suplicou para que telefonassem aos pais daquela menina que andava perdida. -Perdida?
Ela dá-lhe o número e faça-me esse favor. – Perguntar ao patrão fiquem aí que volto já.
Pouco tempo depois apareceu o patrão, homem dos sus 80 anos forte e de cabelos brancos. – Ora digam lá então o que desejam
Apenas telefonar pode ser? Depende… - Depende de quê? Esta menina perdeu-se e os pais devem estar muito inquietos. Mostra cá a cara garota. Ah és tu os teus pais inquietam-se mais com o dinheiro… _conhece-os? Se conheço uns trastes. _por amor de Deus, podemos ou não telefonar. Daqui não mas há uma cabine a um km. Fred ficou furioso com o velho, mas tentou arranjar outra maneira, voltaram as costas e seguiram pela estrada indicada. Lembrou-se então que não possuía um cêntimo. – eu tenho dinheiro na mochila. Respondeu do outro lado da linha uma voz feminina pouco agradável e perguntou: Que deseja? – Tenho comigo a Eleni… - Meu Deus raptou-a? Nada disso perdeu-se e desejaria que o pai a viesse buscar juto da encruzilhada onde nos encontramos.
Poucos minutos depois chegou o pai num carro de alta gama conduzido pelo chofer. Aparentemente um homem da alta sociedade, bem vestido e de óculos escuros que em vez de reconfortar a filha lhe passou um sermão indigno que magoou Fred no mais íntimo de si mesmo.
- E você quer dinheiro é isso?
- Não não quero nada vindo de um homem que não tem coração, nem dignifica esta sociedade de soberbos, ingratos que apenas pensam nos seus botões. Adeus Aleni e que deus te proteja. Começou a caminhar sem direção mais uma vez ferido pela injustiça egoísta, quando o caro parou e baixando o vidro o patrão disse: onde vai dormir? Só as estrelas sabem – respondeu. Venha connosco e por muito que me custe peço desculpa e quero retribuir-lhe o que merece
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