terça-feira, 2 de janeiro de 2024
Dia de Reis
O dia de Reis. AB
Como os dias se tornavam longos e as noites frias e desesperantes à espera do dia 6 de Janeiro onde tradicionalmente se cantavam e rezavam os Reis sob as ordens de um mordomo das almas, um quarteto de homens exibiam as quatro vozes que ecoavam nas casas serras ou vales deliciando os moradores da minha pacata Aldeia, o careto chocalheiro e os que lhe chamavam raposeiros que seguiam o cortejo radiantes fizesse frio, chuva ou neve, visitavam todas as casas ricos ou pobres, pedindo uma pequena esmola para os santos que representavam. Era a nossa tradição que supostamente jamais se perderia enquanto a evolução dos tempos não pôs um ponto final, porque as novas gerações não eram aliciadas por eventos que consideravam arcaicos, e aqueles que amaram profundamente começavam a sentir o peso da idade. O desinteresse começou a instalar-se pouco a pouco com desculpas esfarrapadas, porque vozes não faltavam para substituir um ou outro que por razões pessoais não podiam participar, e o nomeado mordomo das almas economizava o repasto para 20 pessoas. Hoje sente-se o vazio do que nos fazia vibrar nos ensaios quinze dias antes, e a avareza prevalece juntamente com a má vontade que siderou aqueles que fizeram parte do cortejo onde os interesses pessoais passam à frente de uma evidencia deixada pelo caminho ao abandono, deslocando-se aos Municípios como antigos graxistas, esperando chorudas recompensas e as tradições que vão dar uma volta… pena-me imenso que este abandono fosse fruto de atritos tendo sido abandonada nas mãos de quem participou ativamente durante anos, e quando foi nomeado mordomo deixou o barco à deriva… nesta terra que adoro foi sempre assim os mandões e os poderosos gostavam de ver o resto da população a seus pés, dispor de poderes sem a intervenção daqueles que eram considerados de segunda classe e jamais tinham voto na matéria, fossem demolições ou prorrogar as suas leis. Rebordainhos está hoje como estava Há trinta anos á espera de libertação que meia dúzia de magnatas restringem com sua própria e livre vontade, não se podendo mexer na ferida sob pena de represálias. Mostrarem-se em lugares religiosos para colmatar as aparências não é cidadania, mas ganancia que só o analfabetismo compreende. Homens honestos e valentes eram aqueles que todos davam o corpo ao “manifesto” e todos os dias saíam de cara destapada, sem preconceitos nem altercações. Voltando ao dia dos Reis, deixo aqui as quadras cantadas em quatro vozes
Ó virgem nossa senhora
Vós sois a estrela do mar
Sem a vossa proteção
Não podemos navegar
Um raminho dois raminhos
Fazem um, raminho bem feito
Vivam os donos desta casa
Esta vai a seu respeito (repetir em ré maior)
Chegaram aqui três rosas
Quatro cinco ou seis
Se os senhores nos dão licença
Vamos-lhe cantar os reis
»» duas lágrimas de orvalho
Caíram nas minhas mãos
Quando te afagava o rosto
Pobre de mim pouco valho
Pra te acudir na desgraça
Pra te valer nos desgosro
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