domingo, 4 de fevereiro de 2024
Dia de sorte
Dia de sorte AB
Alfredo o amigo de José, foi largado por este e a namorada junto ao rio, a uns 300 metros de sua casa para onde correu como louco, tantas e tão grandes eram as saudades de estar com os seus entes mais queridos, que o esperavam de pés firmes e o olhar procurando vê-lo vislumbrar ao longe após o seu telefonema recebido, onde especificava a sua visita, sem mais pormenores. Seguindo viagem, para casa de Cindia, a explosão deu-se logo após a saída do outro passageiro. Se até então a rapariga se tinha mantido calada sem manifestar o descontentamento que a tinha desiludido e ao mesmo tempo ferido no seu amor próprio, revelava-se agora agressiva vaziando o saco sobre o pobre rapaz, que não encontrava argumentos que pudessem ajudá-lo, a voltar à razão aquela moça com quem tinha simpatizado, idealizado projetos, e, apesar de não sentir por ela uma grande paixão, os seus sentimentos eram honestos, embora não tivesse sabido lidar com a situação… - Perdoa-me, suplicou-a José prometendo no futuro estar mais atento aos seus deveres de namorado – mas nada resultava. Estava decidida a por fim àquela relação que mal tinha começado, o suficiente para compreender que não era o companheiro que queria para a sua vida, e muito menos ser a progenitora de um filho seu. Saiu do automóvel sem sequer se despedir, e antes de fechar a porta ainda lhe atirou ao rosto: - Não te quero ver mais, pelo que se nos encontrarmos no mesmo passeio peço-te que finjas que não me viste.
José ficou atônito, petrificado sem saber o que fazer. Ainda pensou ligar à mãe onde encontrava sempre o seu refúgio, e as soluções mais sensatas, era apenas nela que depositava inteira confiança, mas, tinha um compromisso com Alfredo, que era voltar ainda essa noite à herdade dos avós, passando por sua casa nos Arcos.
Novamente, na sua cabeça turbilhonavam descontroladamente ideologias preponderantes, conflituosas, com mais atividade divergente, atirando-o para aquele beco sem saída, do qual julgava ter saído, começando a usufruir de uma felicidade a prazo, que voltara antes de cumprir o tempo de tréguas que ninguém tinha fixado, só ele esperançado acompanhava cegamente. Tudo voltava à casa de partida, de onde não conseguia descolar, por muitos esforços que fizesse! Foi tentado a desistir, só, ali dentro daquele carro, encostado na berma daquela estrada que se tinha tornado medonha, fria, tão fria… solitária, onde as árvores lhe apontavam o dedo da culpa, e os sons lhe martirizavam os tímpanos, e, de olhos fechados revia a sua nascença, num dia de sorte, ou talvez de azar, por lhe não faltar nada, mas tinha falta de tudo o que é necessário para poder avançar ao ritmo do amor da paz e da alegria. Chorou como um miúdo num soluçar que fazia a terra tremer, que era apenas o ronronar do motor que aguardava diretivas do mestre para avançar.
Após longo tempo de ponderação, lembrou-se que Alfredo o esperava para voltarem à herdade dos avós. – Meu deus!
Arrancou fazendo os pneus cantar ao contacto do solo, olhando apenas em frente, porque estava atrasado, e Alfredo não tinha culpa dos seus problemas. Chegou ao lugar marcado em Arcos onde o esperava o amigo, estiveram ali mais pessoas que o queriam conhecer, inclusive a namorada deste, mas era já noite e José não encontrava a desculpa necessária para esta demora. Durante o resto do trajeto falaram apenas no tempo de felicidade que Alfredo viveu na companhia dos seus durante aquelas poucas horas. José que não tinha mantido qualquer espécie de desagrado, durante o trajeto, ficou subitamente silencioso. No seu rosto notavam-se dissabores e tristezas, mas o companheiro de viagem não ousava perguntar como se tinha terminado aquele incidente com a namorada. Por fim, após um longo silencio, Alfredo perguntou:
- Não se passou bem com a Cindia… suponho eu?
José levou um certo tempo a responder… pela sua mente passaram e repassaram aquelas cenas do dia, e sentia-se mal… o maior dos palermas, um irresponsável, um menino mimado que não sabia ao certo o que desejava para o seu futuro, como um brinquedo nas mãos da mãe que decidia tudo por ele, que programava o seu modo de ser e de estar na vida, sem se sociar dos seus verdadeiros sentimentos… até que por fim explodiu. Vaziou o saco. Libertou-se confiando ao amigo o que lhe ia na alma e estava martirizando o coração.
- Não posso mais, amigo… fingir durante uma vida inteira é um fardo pesadíssimo, e ninguém me pode compreender. Só, neste carro, fui tentado ao pior… e só resisti porque me esperavas para voltar à herdade.
José ficou atónito, porém sentiu que o amigo precisava de ajuda naquele momento de gravidade extrema. Começou por pedir-lhe que se acalmasse, para juntos tentarem remediar a um problema que não teria certamente a gravidade de não poder ser resolvido. Entraram numa estação de serviço e pediram dois cafés fortes e um cálice de bagaço do melhor que tivessem. José olhou para o amigo com ar interrogativo, mas já este explicava que um copinho de álcool às vezes faz milagres. Bebe é para ti, eu conduzo o carro, se me permitires claro! Fizeram o resto da viagem como dois miúdos, rindo às gargalhadas no final de uma anedota contada, no automóvel não se falou mais do caso cindia.
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