sexta-feira, 16 de março de 2012

TUDO SE VAI... COM O TEMPO

Murçós vista dos lameiros

Vale de Cavaleiro

horto do mi tonho

a construção em crise...
Uma aldeia, outrora cheia de vida, onde se cultivavam todos os cantinhos à enxada, com a força muscular,mal nutrida, mas, força de vontade, energia vinda não se sabe de onde, que os homens de então sabiam transformar positivamente em bens generosos e saudáveis. A desertificação das Aldeias, é um fenómeno desolador e penível, constringente, que atormenta ao mais alto nível o raciocínio referencial para o futuro, negro e medonho para a juventude, sem perspectivas que lhe garantam a sobrevivência familiar.

As idades avançadas dos residentes, juntamente com a fatalidade das doenças, cada vez mais mortíferas com pessoas de gerações relativamente novas, são realidades quotidianas, as quais nos trazem sofrimentos e martírios, carregados ao longo de anos, sem grandes alternativas.
Isolados, na sua velha casa, com o mínimo de conforto, e numerosas dificuldades motoras, os nossos idosos sentem-se abandonados pelos seus entes queridos, impotentes, receosos e feridos com tais situações, predestinadas, incompreensíveis aos olhos de quem vê o problema do exterior.

A Agricultura decadente e pouco rentável, é mais um factor incisivo à partida dos jovens, rumo às grandes cidades, única possibilidade de encontrar um meio de vida digna, e que possa garantir a sobrevivência dos familiares. Emigrar é outra das soluções encontradas pelos nativos de Murçós, mas, sempre que lhe é possível vem visitar parentes e amigos, recordando nostálgica mente, os difíceis, mas, adoráveis tempos passados, na escola, no café, nas festa, sempre que a disponibilidade permitia.

A construção civil, também vitima da crise, vai-se alimentando com biscatos aqui e ali, porque construir casas de raiz, seria uma perca de tempo e dinheiro, sobretudo quando se reside a 21km da cidade de Macedo de Cavaleiros, cujas perspectivas evolutivas não são as melhores.
Queixar-se não serve de nada, mesmo sabendo que dentro de poucos anos, Murçós será mais uma das Aldeias fantasmas do Nordeste Transmontano.

O Sr. " mi tonho ", como lhe chamava sua mãe de origem Espanhola, viveu, no tempo das vacas magras, com grandes dificuldades, financeiras e outras, que hoje conta, assentado junto ao café do Reis, sorridente e com humor, embora sobressaiam as sequelas deixadas pelos maus tratos, carência, e desprezo por parte das pessoas abastadas.
Nas suas histórias aparecem frequentemente parábolas de desenrasque para sobreviver. Muito jovem, foi trabalhar para as minas, onde residiam seus familiares numa velha e pequena casa. Como aconteceu com a maioria das famílias numerosa, seus pais não lhe facilitaram a existência, e, teve que comer o pão que o diabo amassou. Conta hoje elegantemente dezenas de histórias tal como: Apanhar um grande lagarto, juntamente com outros comparsas, fritá-lo e comeram-no, nem o molho ficou. Outra vez subiu a uma árvore mandado por alguém à procura de um ninho, no meio de uma Silveira, e já no alto, veio o interlocutor e cortou a árvore, caindo o pobre homem dentro... conta também uma ida a Rebordainhos com um amigo e anoiteceu, com chuva torrencial à mistura o que os impediu de voltar, dormindo no palheiro do tio António então taverneiro. Hoje, em Murçós, grandes personalidades, podiam ser homenageadas; escolhi um homem simples, por direito e justiça, pois anima actualmente, a monotonia dos momentos solitários e difíceis decorrentes no dia a dia, ainda que por vezes com sarcasmo querendo vingar-se do tempo em que era considerado miserável. Vive numa simples casa sem conforto, mas, vive feliz... Que Deus lhe conserve esse humor por muitos anos, tio mi tonho...                                                                                        
mi tonho e os seus saberes...

2 comentários:

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho

Que bonita homenagem prestaste ao sr. "Mi Tonho" e, indirectamente, ao tio António "Trocho", da taberna de cima de Rebordaínhos, que toda a vida soube oferecer um tecto e uma malga de caldo a quem deles precisava.

Beijos

antonio disse...

Os meus agradecimentos, Fátima. É verdade que o tio António da taberna de cima foi sempre um coração aberto à pobreza, nobres sentimentos, com a minha grande consideração, tal como sua irmã, a tia Emília, uma santa mulher. Que Deus os tenha em descanso no céu porque pessoas assim não podem ir para outro lugar.
Quanto ao (mi tonho), muitas mais coisas haveria para contar... mas, uma pequena homenagem, até os pobres merecem... Beijos