segunda-feira, 26 de novembro de 2012

OS HERÓIS DA TERRA


 Murçós é uma Aldeia com área territorial bastante extensa; 23 km quadrados, embora grande parte destas terras fosse propriedade do Estado, denominadas, em termos práticos: "baldios" cuja concessão, por Lei de administração era distribuída pelos habitantes fabricantes permanentes. Hoje grande quantidade está plantada, com diversificação de arvoredo, conferindo aos plantadores, direito de uso e fruto, vitalício das árvores.
Foi neste "termo", que várias "marras" separam do limítrofes, como dizem os mais velhos, que alguns dos heróis da terra, viveram atributados com fadigas selvagens, dificuldades extenuantes, arrastadas por impetuoso viver, sem abrigo nem refúgio...
 Vestidos com roupas várias vezes remendadas, calçados com meotes de lã que a ovelha dava, e as esposas, nos serões das horas vagas fiavam, e com duas agulhas faziam, em pontos que sabiam de cor e salteados, á luz de uma candeia a gaz, (petróleo), lacrimejando com a fumaceira que lhes entrava pelas retinas.
O tempo passou por suas vidas como um "furacão", deixando sequelas visíveis nas mãos calejadas, nos olhos molhados, nos pés gelados, mas sobretudo nos corações, os quais, pouco a pouco, foram deixando de bater ao ritmo de um relógio de sala ...
Os restos mortais, movimentar-se-iam nos sepulcros, manifestando o sentimento de revolta, se soubessem que os seus herdeiros, abandonaram tão facilmente o que eles construíram com tantas dificuldades e sacrifícios ... Nomes e apelidos sonantes, emblemáticos, de luta constante pela sobrevivência dos agregados familiares, percorreram montes e vales, com neve chuva ou calor ardente, com a única finalidade de adquirir mais uns tostões, um cantinho de terra, legados aos filhos com o intuito bem definido de uma vida melhor do que foi a deles.
As alcunhas aumentavam-lhe uma reputação já repleta de elogiosas convivências, e, propagava a honra de homem com H grande, trabalhador honesto e responsável, respeitado...
Os tempos são hoje outros, e, mesmo sendo os problemas e as dificuldades persistentes, não se pode discriminar quem quer que seja, e muito menos julgar sem conhecimento de causa... já não se dorme em palheiros mas há casos em que foram obrigados a vender suas lindas casas, que iam pagando pouco a pouco enquanto estiveram empregados... encontram-se na rua com filhos pequenos a dormir ao "relento" porque a sociedade moderna também retira direitos, infringe valores de dignidade, desrespeita deveres, mas, sobretudo ignora o termo: sensibilidade humana!
Teria valido a pena? Vale sempre a pena! Nascidos em berços dourados ou n'um "charagão" de palha, onde quer que tenhamos nascido, seja qual for a cor da nossa pele, um ser humano, será sempre um ser humano!
 A Emigração voltou. Com as dificuldades que o País atravessa, feliz daquele que consegue emprego fora, apesar do constrangimento, não é vergonhoso emigrar para governar a vida... também sou órfão de Naturalidade, por vezes até de Nacionalidade... sempre procurei integrar-me com respeito e humildade, são valores que limpam preconceitos, e nos ajudam a subir os degraus d'uma longa escada, com ou sem ajuda.
A vida nunca foi um mar de rosas, mas sim um agrupamento de espinhos, resta procura o desvio de um e o caminho do outro...
è resplandecente a paisagem que os nossos antepassados nos legaram... quase sempre voltamos às nossas raízes nem que seja por poucos minutos...

2 comentários:

Fátima Pereira Stocker disse...

Tonho

Escreveste um texto que nos faz pensar na vida que levamos e nas opções que fazemos: tanto se sacrificaram os nossos pais, por nós. A vida que vivemos criámo-la nós, se calhar, esquecidos do exemplo deles, que era o do sacrifício e o de serem capazes de viver em condições que rejeitamos para nós.

Beijos

antonio disse...

Basicamente é isso mesmo, Fátima...
muito mais haveria para desenvolver sobre o assunto, mas as circunstancias actuais também são responsáveis de certos abandonos forçados, pela fraca rentabilidade. Hoje em dia o melhor que se pode legar aos filhos é uma educação exemplar, o que nem sempre nos é facilitado! Beijos